Zona Curva

Curtas na curva

Textos breves sobre uma gama variada de assuntos.

Di-Glauber na web

Di-Glauber – “Juntos, bebemos champagne, mescal, uísque, e Paraty, juntos, sorrimos e cantamos no México e em Paris…” Os versos frenéticos de Glauber Rocha fazem parte de sua insólita homenagem ao amigo e pintor, Di Cavalcanti. Di-Glauber foi rodado no velório do pintor em 26 de outubro de 1976 no MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio de Janeiro. Lançado em 1977, o curta-metragem foi interditado por Elizabeth Cavalcanti, filha adotiva do pintor, em 1981, que alegou danos morais. Em tese de mestrado defendida na ECA-USP (Escola de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo), o advogado José Mauro Gnaspini questiona a proibição. Segundo ele, a filha de Di moveu ação contra a Embrafilme, detentora dos direitos comerciais. “O cineasta não poderia transferir o seu direito a ninguém, só ele tinha condições de defender o seu filme. O direito do autor é inalienável”, explica Gnaspini. Leia mais no jornal da USP em http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2003/jusp659/pag13.htm À sua maneira, Glauber exalta as qualidades do artista plástico carioca, o chamando de mestre e irmão. Em viagem onírica, Glauber encara a morte de Di como celebração à arte. A imagem de Di Cavalcanti no caixão exala um pouco de morbidez e talvez tenha motivado o processo da filha do pintor. Antônio Pitanga sambando, trilha sonora com Pixinguinha e “Nega do Cabelo Duro”, Di-Glauber é o prenúncio da busca da vanguarda absoluta por Glauber que desemboca na piração de Idade da Terra (1980), seu último filme. A Estetyka do Sonho de Glauber Rocha

Documentário Surplus investiga o consumismo

  O documentário Surplus (2003) contrapõe o consumismo ao ‘Ahorre, consuma solo lo necesario’ (placa oficial que aparece de relance em uma rua de Cuba). Dirigido pelo italiano radicado na Suécia Erik Gandini, o conteúdo do filme, embalado em uma edição rápida, baseia-se em paradoxos como a escassez de um supermercado cubano e a chuva de propaganda norte-americana. Uma das traduções para surplus é supérfluo. Na mosca. Vivemos em um mundo em que somos diariamente convencidos de que o inútil é necessário e, com isso, alimentamos nossa sede infinita por novidades. O resultado é visto em um horizonte de milhares de pneus usados. As rodas de borracha em metamorfose substituem árvores e vegetação e formam uma espécie de paisagem da ‘natureza artificial’. Mas existe uma pequena ilha em que o consumismo é atacado pelo chefe-mor em discursos intermináveis. Surplus encontra duas adolescentes cubanas que escaparam das vistas do comandante e surtam em supermercados e Burger Kings. O deslumbre das duas com a abundância do ‘primeiro mundo’ nos recorda de como as tentações seduzem corações e bolsos, fortes ou fracos. Além de Fidel, figuras emblemáticas de uma década atrás como Bush e Berlusconi estrelam o filme. Hoje, são cada vez mais personagens do passado. Berlusconi tenta voltar ao jogo de qualquer forma, Bush foi praticamente esquecido e Fidel sofre com a saúde debilitada. O irmão gêmeo Corporation e o primitivo Zerzan Ao lado de outro documentário, Corporation (também lançado no ano 2003), Surplus previu, de uma certa forma, a crise de 2008. O descontrole do mercado financeiro e o Estado ajoelhado perante às companhias multinacionais ia dar no que deu. Outras duas figuras que habitam dois planetas completamente distintos são o filósofo anarquista John Zerzan e o descontrolado Steve ‘Microsoft’ Ballmer e seu mantra ‘I love this company’. Crítico severo da busca da felicidade em uma carreira, Zerzan levava sua ideologia às últimas consequências e sobrevivia de doações de seu próprio sangue. Corta! Ballmer surta no palco de um auditório lotado e indica que a saída para todos está no amor neurótico à empresa em que você trabalha. Para o niilista Zerzan, inventor do chamado anarcoprimitivismo, as promessas de bem-estar material são muito vazias. Segundo ele, “há dois milhões de anos, não existiam guerras e as pessoas tinham tempo livre, isso é inspirador”. Para Zerzan, se praticamente tudo deu errado, porque não começarmos tudo de novo. Sob o domínio das corporações

Curta na curva – Veja mente

Carta na manga Em segunda semana seguida na Carta Capital, Mino Carta aponta sua metralhadora giratória em direção à revista Veja.  O jornal dos Marinho agora também recebe chumbo grosso, após editorial em defesa da revista da Abril: “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”  Em aperitivo, Mino diz: “os barões midiáticos detestam-se cordialmente uns aos outros, mas a ameaça comum, ou o simples temor de que se manifeste, os leva a se unir, automática e compactamente” e por aí vai.  O texto do Globo chega a comparar Roberto Jefferson a Garganta Profunda, principal fonte do escândalo Watergate. Patético!

Curtas na curva

Mico ano II? Depois do papelão do SWU no ano passado com Zack de la Rocha do Rage mudo por minutos em pleno palco e o público tratado como gado sem capim/comida no meio do mato/plateia (leia http://tinyurl.com/8ybw9s7), o ECAD (vá lá, entidade não muito confiável) afirma que a produtora responsável pelo SWU deve mais de 1 milhão de reais de direitos autorais dos shows do ano passado e entra com ação para o cancelamento dos três dias de música. Detalhe: a dois dias do início do festival. Esse SWU não toma jeito, como diria José Simão, vai indo que eu não vou! (sorte para quem já comprou, enjoy!) Kd a Europa que estava aki O grego entra cabisbaixo na sala. A alemã com seu tailleur apertado e seu nariz adunco o ignora. O italiano já de malas prontas olha o decote da menina do café. O francês preocupado com o rebento que acaba de nascer fala ao celular com sua musa-cantora. Ao sentar-se na ponta da mesa, o grego percebe que todos olham para ele com ar de reprovação. Com a força de Eurípides, Sófocles e Platão, o grego levanta: “a dívida é minha, a crise é minha e vão todos para o inferno” e bate a porta em retirada.

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