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Um muro na República Dominicana

Muro República Dominicana – Os Estados Unidos seguem sendo o maior exemplo para o mundo, principalmente no que diz respeito ao combate à pobreza que é criada pelos seus governos, sucessivamente. A técnica sempre é a de combater o empobrecido e não a pobreza em si. Por isso, desde há décadas fortalecem suas fronteiras com o restante da América Baixa usando soldados fortemente armados e muros. A ideia é não permitir a entrada das hordas de desesperados e famintos que fogem dos seus países acossados pelas políticas impostas por eles, evitando assim que essa gente reivindique seu quinhão. A exceção é com os cubanos que desistem de viver no socialismo. Esses são recebidos com honras e ainda recebem casa e trabalho. A ideia de muro foi reproduzida também em Israel, seu parceiro econômico e político. Lá, os sionistas invadem o território palestino e vão erguendo imensos muros para controlar a entrada e a saída dos verdadeiros donos das terras, impondo humilhação e violência. Quilômetros e quilômetros de concreto que eles julgam ser capaz de deter a fome de liberdade. Não detém! Assim como os muros da fronteira estadunidense não conseguem deter os desesperados que sonham em viver no tal “mundo livre”. Pois agora um pequeno país do Caribe decidiu adotar o mesmo exemplo dos EUA e apostar na construção de muro para impedir a entrada dos desesperados. É a República Dominicana, que faz fronteira com o Haiti. Essa semana o presidente Luis Abinader iniciou – com pompa e circunstância – essa infâmia contra os vizinhos. O muro terá uma primeira etapa de 54 quilômetros e custará um bilhão de pesos. Será um misto de concreto e estrutura metálica, com 19 torres de vigilância e 10 portas de acesso, que contarão com patrulha armada. Esta obra terá sequência num segundo momento quando serão investidos outros tantos milhões em tecnologia inteligente, com sensores de movimentos, câmeras de segurança e drones de alta capacidade. O total do muro será de 173 quilômetros, praticamente a metade da linha de fronteira que soma 391 quilômetros. O presidente diz que a medida é para evitar o tráfico de drogas e armas e controlar o fluxo migratório intenso. Atualmente vivem mais de 500 mil hatianos no país. É sempre importante lembrar que o Haiti é um país devastado desde 2004 quando os Estados Unidos decidiram depor o presidente democraticamente eleito e impuseram uma invasão que eles chamam de “ocupação humanitária”. Com soldados das Nações Unidas, liderados pelo Brasil, teve início mais um ciclo de desgraça para o povo haitiano, tudo para “manter a ordem” da desordem causada pelo imperialismo estadunidense. Ou seja, a mesma velha fórmula: eles desestabilizam para depois anunciarem a estabilização que só gera mais desestabilização e dependência. Pois a ação dos soldados das Nações Unidas no Haiti gerou exatamente o esperado e hoje, depois de anos ocupando o país, a tal da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) deixou o Haiti ainda mais destroçado, sem um governo capaz de conduzir os destinos da nação de maneira soberana e autônoma. O que resta são os títeres, muitos deles mergulhados em corrupção, que vão engordando suas contas bancárias com a ajuda internacional que, apesar de generosa, não se expressa na vida dos haitianos. Por isso, mesmo muitos deles encontram na fuga desesperada a saída para sobreviver. E a República Dominicana, por estar ali, ao alcance dos pés, é a primeira opção.  Mas, em vez de acolher os irmãos que coabitam a mesma ilha, a resposta é o muro. E tem a aprovação de grande parte da população. Conforme anunciou o presidente Abinader, a República Dominicana seguirá tendo relações comerciais com o Haiti, mas “não podemos tomar para nós a responsabilidade sobre a instabilidade política que ali existe e tampouco resolver seus problemas”. Outros políticos locais afirmam que o muro pode mandar uma “boa e poderosa mensagem” ao mundo, fazendo com que os demais países ajudem o Haiti. Que estranha solidariedade. Pelo que se sabe, ao rememorar a história dos muros, não há registros de que eles suscitem ajuda. O muro dos Estados Unidos segue sendo a cova de milhares de latino-americanos todos os anos, o muro de Israel é a prova viva do horror e outros tantos muros nas fronteiras só servem para oprimir e causar sofrimento. Não é surpreendente lembrar que apenas a queda do muro de Berlim tenha sido tão esperada e saudada. Alguém arrisca explicar por quê? https://urutaurpg.com.br/siteluis/o-caminho-da-america-latina/ Eleição de Gabriel Boric no Chile traz esperança para a esquerda da América Latina

A aposta latino-americana pela conciliação

A América Latina está passando por novos processos eleitorais, conduzindo à frente dos governos das pátrias chicas políticos que dizem se posicionar mais à esquerda. Mas, ao que parece, não há em qualquer um deles alguém com a proposta de realizar mudanças estruturais capazes de efetivamente conduzir seus países às transformações significativas para os trabalhadores urbanos, camponeses e oprimidos em geral. No Peru, a eleição de Pedro Castillo, um professor de larga militância popular, parecia uma promessa significativa num país tão destroçado pela corrupção e pela dependência. Mas, desde o começo do governo, o novo presidente foi se rendendo aos avanços da direita local que imprimiu um ritmo bastante forte de pressão, fazendo, inclusive, com que o gabinete escolhido por Castillo fosse se desintegrando e abandonando o barco em nome da “governabilidade”. Assim, o governo peruano vai caminhando, tentando agradar a oposição ainda que procure abrir veredas a partir das chamadas “políticas públicas” para diminuir a miséria material dos peruanos. Ao que parece, por enquanto, não há propostas de rupturas significativas. A nova presidente eleita de Honduras, Xiomara Castro, assume o comando do país essa semana e já enfrenta uma traição gigantesca por parte dos aliados que fez para conseguir ganhar as eleições. Na semana passada pelo menos 18 parlamentares que se elegeram por apoiar Xiomara passaram para o lado dos inimigos, deixando a presidente na mão. O partido não tem maioria na Assembleia Nacional e com essa perda sofre um duro golpe, mas nem um pouco surpreendente. Ela assume o governo saudada pelos líderes da esquerda liberal do continente e também saudada pelos Estados Unidos, que espera manter boas e suculentas relações com Xiomara. Tanto que a vice-presidente Kamala Harris será figura de destaque na posse. Os Estados Unidos estão dando uma de cordeiro para impedir que Xiomara enverede para os lados da China. Resta saber como o governo do partido Liberdade e Refundação vai lidar com esse jogo de interesses que envolve os EUA, Taiwan, China e Rússia. A região da América Central é hoje um palco de disputa das grandes potências, o que torna ainda mais difícil uma transformação radical pela via eleitoral. Xiomara pega um país destroçado, com 70% da população (9,5 milhões de habitantes) vivendo na pobreza e com uma taxa de migração gigantesca. Todos os dias partem colunas de gente, fugindo, em busca de vida melhor longe do país. Isso significa que ficar no universo de “mais isso e mais aquilo” das políticas públicas  não resolverá os problemas históricos e estruturais do país, todos eles gerados justamente pela lógica de exploração e dependência imposta pelos Estados Unidos. Também no Chile assume um governo alinhado com a esquerda, mas que foi eleito a partir de um arco de alianças bem estendido. Nas declarações da última semana já se observa em Gabriel Boric um governante disposto a atuar no sentido de acender vela pra deus e para o diabo, tentando conciliar o inconciliável. Não quer assustar o mercado, não quer assustar a elite local, não quer assustar às multinacionais. A impressão que se tem é de que seguirá no rumo da socialdemocracia, ou do liberalismo, e ainda que hajam reações emocionadas com o fato de ele ter escolhido um gabinete com maioria de mulheres, isso só vai significar algo quando essas mulheres começarem a agir. Estarão comprometidas com a maioria da população, os trabalhadores urbanos, camponeses e indígenas, ou atuarão no sentido de amansar o monstro do capital? No Brasil também há os que saúdam a provável vitória de Lula nas eleições gerais. Caso isso se confirme, tal como nos governos passados do PT, provavelmente também não teremos um caminho efetivamente mais à esquerda, capaz de mudanças radicais. É bem possível que Lula atue como Boric, tentando apaziguar os inimigos. Não se nota, nos discursos de todos esses novos governantes, incluindo Ortega e Fernandez, o compromisso com o fim da dependência, com a soberania real, com o anti-capitalismo e o anti-colonialismo. Falar em socialismo ou comunismo, então, nem pensar. Aquela força radical que emanava da figura de Hugo Chávez no final dos anos 90 e que arrastou a luta por toda a América do Sul, Central e Caribe, não aparece em ninguém, sequer palidamente. Tudo parece apontar para a tentativa – sempre derrotada – de conciliação de classe. A traição dos deputados hondurenhos é a prova viva de que os filhotes da direita não abandonam seus hábitos alimentares, mesmo quando mudam o vestuário. Compor com essa gente é apostar no fracasso. Há os que dizem que somos insaciáveis, que não compreendemos a correlação de forças, que estamos carregados de ingenuidade, que não é possível fazer guinadas muito expressivas, que isso, que aquilo. Mas, por aqui ainda pensamos que o caminho para um futuro bom para todos os seres humanos ainda é o socialismo, chegando, por fim, ao comunismo. E, se, como já diziam nossos parentes aztecas, as palavras pronunciadas são as que andam, não é possível que os políticos que se dizem identificados com as bandeiras da esquerda, tirem dos seus léxicos essas nossas palavras andantes. Não sou adivinha, portanto não prevejo derrotas. Mas, estudo. E o estudo sistemático da história mostra que não há chances nessa vereda de tentar humanizar o capitalismo. Por isso, sigo, gritando as palavras, dando uma de Jeremias e acreditando que enquanto elas andarem haverá chances de que “floresçam flores nesse lugar”.   A América Latina e os Estados Unidos Dez anos sem Chávez Peru: mais um ataque da direita contra o governo América Latina e as lutas sociais Eleição de Gabriel Boric no Chile traz esperança para a esquerda da América Latina

Eleição de Gabriel Boric no Chile traz esperança para a esquerda da América Latina

Boric -Eleito no último dia 19 de dezembro, Gabriel Boric, 35 anos, é o presidente mais jovem da história do Chile. Iniciou sua carreira política como líder estudantil do grupo “Esquerda Autônoma”, foi presidente do diretório estudantil da Universidade do Chile e se tornou deputado em 2013. Apoiou as manifestações contra as políticas neoliberais do presidente Sebástian Piñera que marcou o país em outubro de 2019 e fez parte da frente ampla que levou à convocação do plebiscito para a redação da nova Constituição. Boric representa a chamada nova esquerda, diferente da que governou a América Latina no início do milênio. O novo presidente do Chile já se declarou a favor da legalização do aborto e da maconha, além de apoiar também as pautas LGBTQIA+. Além disso, ele soube equilibrar seus ideais com outras pautas populares em seu país como segurança pública, imigração e crescimento econômico.  Seu programa propunha quatro linhas principais de atuação de seu mandato: garantia de acesso universal à saúde, pensões decentes sem o sistema atual administrado por empresas privadas, sistema educacional público gratuito e de qualidade e, por último, a preservação do meio ambiente. Assim como para a maioria dos jovens, para Boric, a pauta ambiental também é uma prioridade. Entretanto, não é só nos assuntos políticos que o próximo presidente do Chile se aproxima dos jovens, ele é o primeiro presidente assumidamente tatuado da América Latina e fã declarado da cantora Taylor Swift (conforme podemos ver na foto abaixo). O ex-líder estudantil concorreu à presidência contra José Antonio Kast, o candidato mais à direita que o Chile já viu desde a democratização nos anos 90. Kast, apesar de sua fala mansa, é um fiel admirador de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Assim como o presidente do Brasil, ele defendeu a ditadura de Pinochet, e é um negacionista, que diz não haver provas do aquecimento global.  Ao que parece, a América Latina tende a mover o pêndulo político que apontava para a direita nos últimos anos. São exemplos da guinada à direita o golpe contra Dilma Rousseff e as eleições de Maurício Macri na Argentina e Sebastián Piñera no Chile.   Além disso, os jovens também pretendem atualizar as discussões e as prioridades da esquerda que comandava o continente no início deste século. Pautas feministas, antirracistas, ambientais e da comunidade LGBTQIA+ são imprescindíveis para os jovens da esquerda na hora da escolha do candidato. No Brasil, inclusive, muito se discute se Lula, o favorito da esquerda para 2022, saberá se adequar às pautas exigidas pelos jovens. Ele tem mostrado interesse em conquistar esse público e aprender mais sobre as novas demandas.  O ex-presidente vem participando de diversos programas para conquistar o público jovem como o Podcast “PodPah”, onde sua presença reuniu quase 300 mil pessoas simultaneamente nas redes, e atualmente o vídeo da entrevista conta com mais de 8 milhões de visualizações. Lula também participou do programa da ex-BBB Thelma, vencedora da edição de 2020, que contava com a presença da cantora Linn da Quebrada e do fenômeno da internet Gil do Vigor, ambos figuras muito conhecidas entre os jovens. A eleição de Boric, dois anos após a de Alberto Fernández na Argentina, animou a esquerda brasileira para eleição de 2022. Educação de qualidade, combate ao desemprego, que atinge principalmente os jovens, e a preservação do meio ambiente são alguns dos desafios dos candidatos do campo da esquerda quando alcançam o poder. Peru: mais um ataque da direita contra o governo O golpe e a justiça na Bolívia A aposta latino-americana pela conciliação América Latina e as lutas sociais O caminho da América Latina

Peru: mais um ataque da direita contra o governo

Pedro Castillo – O mandato do presidente Pedro Castillo, no Peru, vem sendo sistematicamente atacado desde o dia da posse. Primeiro foram as acusações de fraude nas eleições, como se isso fosse possível a um candidato que estava totalmente alijado das estruturas do poder, considerado, inclusive, como um azarão. Ainda assim, o tumulto foi grande e atrasou a posse. Depois, vieram as sanções aos nomes dos ministros, que precisam ser aprovados pelo Congresso. Muitos deles acabaram pedindo para sair, como foi o caso do ex-guerrilheiro Héctor Béjar, para evitar maiores confrontos e permitir que o presidente começasse logo a governar. E outros foram trocados por Castillo, também visando garantir governabilidade. Decisões questionáveis, pois, quando mais o governo vai cedendo, mais a direita vai avançando no sentido de pressionar o presidente contra a parede. Foram mais de cem dias para ter o gabinete aprovado. Nesta semana, a oposição no Congresso decidiu mais uma vez tentar inviabilizar o trabalho de Castillo. Foi apresentada uma moção de vacância presidencial – destituição – contra o presidente alegando que ele não tem capacidade moral para dirigir o país. O pedido  apresentado pela deputada Patricia Chirinos (Avanza País) tem 28 assinaturas, mas são necessárias 52 para que o Pleno possa admitir o debate. Na proposta de mais de 200 páginas as acusações são de que a coligação Peru Libre teria usado fundos públicos do governo regional de Junín na campanha eleitoral e que o presidente não poderia ter designado funcionários vinculados ao “terrorismo”. Com mais esse ataque, outra vez o governo terá de trabalhar para apagar o incêndio dentro do Congresso, uma batalha institucional que coloca de novo toda a equipe na defensiva. Nas redes sociais e nos meios de comunicação – cuja maioria está vinculada à direita – a campanha sobre uma possível incapacidade de governar é marcante. Os parlamentares incitam a população a sair às ruas para parar o que chamam de “caos”, embora o tal caos não seja visivel a não ser a partir das turbulências no Congresso. Apesar de toda a campanha da direita peruana e dos ataques pontuais contra o governo, Pedro Castillo segue trabalhando na perspectiva de uma inversão de prioridades, tentando atender a maioria da população historicamente deixada para trás, investindo em programas de educação, saúde, energia, agricultura e moradia. Mas, a pressão dos grandes capitalistas – nacionais e estrangeiros – principalmente no que diz respeito ao setor de mineração tem feito com que Castillo aponte investimentos também nessa área. É uma queda de braço permanente. Peru: difícil começo A mídia, é claro, não dá destaque para o trabalho que vem sendo feito nas comunidades e no interior do país, e diariamente movendo suas baterias contra o governo.  Portanto, essa é uma batalha que precisa ser travada principalmente pela população, com os poucos instrumentos que têm. Se não houver um movimento forte, nas ruas, de apoio ao governo, a direita vai continuar avançando, buscando, esta sim, o caos. Por outro lado, cada vez que o governo cede às chantagens e às provocações da direita igualmente vai perdendo credibilidade junto aos seus aliados. São pouco mais de quatro meses de governo e Castillo precisa tomar uma decisão: ou aponta seu governo para um rumo de participação popular e mudanças estruturais, chamando a população para defender os câmbios, ou vai ser minado pouco a pouco até ser expulso do governo ou virar mais um triste exemplo da tentativa da esquerda liberal em servir a dois senhores, o que resulta sempre em desastre. O enfrentamento a mais esse ataque da direita será decisivo. O drama dos peruanos e de toda América Latina Pedro Castillo e os dramas da política A aposta latino-americana pela conciliação Eleição de Gabriel Boric no Chile traz esperança para a esquerda da América Latina

O caminho da América Latina

Nuestra América está, como sempre, em ebulição, buscando encontrar um caminho para o bem-viver. Mas, não é fácil. E o principal obstáculo é, sem lugar a dúvidas, a incapacidade dos governos ditos progressistas de fazer as mudanças necessárias, esperadas pelos trabalhadores. É um eterno retorno. Vêm as eleições, as promessas, e quando chega a vitória, tudo se esboroa no andar da carruagem. No geral a culpa sempre recai na crise econômica ou na ação desintegradora dos Estados Unidos. De fato, esses são elementos importantes, mas não são os decisivos para que as mudanças não ocorram. O que realmente falta é coragem para fazer os câmbios estruturais e romper com o modo de produção capitalista. A esquerda liberal quando no poder segue defendendo a propriedade privada e acreditando que é possível dar uma cara humana ao capitalismo. Ora, isso é o que leva a retrocessos gigantescos nos quais quem vai de roldão é sempre a maioria da população. Não há promessa que se sustente sem uma viragem radical. Expor a farsa da dívida externa, nacionalizar as riquezas, investir nas gentes, na educação libertadora, na ciência necessária, romper com a ciranda bancária, quem se atreveria? Até agora, ninguém. Excetuando Cuba, não há qualquer país de nossa Abya Yala palmilhando esse caminho. Por isso mesmo Cuba mal consegue sobreviver. Não tem parceria. Ainda assim, ancorada em sua soberania tem garantido sua sobrevivência há seis décadas. É sempre importante lembrar que Cuba é uma ilha, pequena e com poucos recursos capazes de sustentar sua gente. A base material da existência cubana vem quase toda de fora. Não há geração de energia suficiente, não há produção de comida suficiente. Ou seja, não pode viver sozinha. O incrível é que ainda assim, vai caminhando, soberana. Quase um milagre. Agora imaginem os países que têm mais recursos, o que poderiam fazer? E se atuassem juntos, em parceria e comunhão, um auxiliando o outro naquilo que lhes falta? Trocando produtos, cooperando na ciência e na tecnologia? Certamente não produziriam figuras nefastas e bizarras como um Jeff Bezos ou um Elon Musk, capazes de amealhar, sozinhos, quase toda a riqueza do mundo. A nossa Pátria Grande sonhada por Bolívar, e que deu alguns passos, tímidos, quando Hugo Chávez ainda vivia, ainda está longe de ser uma realidade. É certo que os Estados Unidos fizeram muito para destroçar a possibilidade de uma união da Nossa América, eles sempre o fazem, defendendo o império que conseguiram inventar. Mas muito dessa impossibilidade veio da incapacidade dos governos chamados de progressistas em promoverem as mudanças desejadas pela população. Há que olhar para eles com criticidade. Há que apontar os erros, há que seguir sinalizando o caminho. A Argentina passou por eleições legislativas, o governo perdeu. E não poderia ser outro o resultado. As promessas não vingaram. A Venezuela passou por eleições agora no domingo também. A direita avança, porque a esquerda se liberaliza. O Peru elegeu um professor, um cara de luta, mas que se afoga nas tramas da direita acreditando ser possível governar sem quebrar os ovos. O Chile vai viver eleições presidenciais. Há chances para a esquerda, mas será, de novo, uma esquerda liberal? E se for, como poderá avançar se vai tropeçar nos seus limites cheios de bom-mocismo. No Brasil vemos a nossa esquerda liberal vibrar com o fato e o candidato do PT ser recebido com honras pelos capitalistas da Europa. Acreditam também na cara humana do capital. É um eterno retorno, uma espécie de efeito borboleta político, que parece não ter fim. A nós cabe a tarefa histórica de sempre. Seguir revelando que o rei está nu. Seguir desvelando a sangria do capital. E anunciando o mundo novo. Peru: mais um ataque da direita contra o governo América Latina e as lutas sociais Nossas veias ainda não cicatrizaram

América Latina e as lutas sociais

Lutas socias na América Latina – A luta de classes é definitivamente o motor da história. E nesses dias tumultuados da nossa América Latina temos visto essa batalha bem acirrada. Seja na luta dos trabalhadores contra as velhas e repetidas práticas neoliberais, seja na mobilização contra os retrocessos. No Equador, por exemplo, agora sob o comando do empresário Guillermo Lasso, as políticas de ajustes neoliberais colocaram os trabalhadores do campo em luta. No último dia 18, uma jornada nacional de luta unificou os agricultores – que a convocaram a partir de um encontro realizado no dia primeiro de outubro – com estudantes, professores e outros militantes do movimento social para protestar contra as políticas de preço do produto agrícola, bem como contra os aumentos sucessivos da gasolina que acaba impactando todos os trabalhadores. Também estiveram na pauta as lutas pela água e contra a mineração, que segue a passos largos no Equador, apesar das promessas eleitorais de Lasso. E diante das mobilizações dos trabalhadores, ele, em vez de conversar, decidiu instituir “estado de exceção” no país por 60 dias, alegando inseguridade e combate ao narcotráfico, um discurso velho conhecido que dá total liberdade para as forças policiais agirem com liberdade diante de qualquer coisa que considerem ilegais. Ou seja, as liberdades individuais estão praticamente suspensas. Não, por acaso, Lasso receberá essa semana o secretário de estado estadunidense, Antony J. Blinken. Ou seja, diante das lutas sociais, a receita é sempre a repressão. Na Colômbia, o governo militarizado de Ivan Duque também continua levantando os trabalhadores e militantes sociais em protestos seguidos. Isto porque a matança não para. Assassinatos cirúrgicos de ex-guerrilheiros, de sindicalistas, indígenas e militantes sociais são uma constante. No último dia 17, foi registrado mais um massacre, com sete pessoas assassinadas de uma só vez. O chamado processo de paz que culminou com o acordo de Havana ficou só no papel, porque o terrorismo de estado segue a todo vapor. O secretário estadunidense também vai passar por lá. Na Argentina, os peronistas foram às ruas neste dia 18 de outubro para celebrar o “Dia da Lealdade”, que marca um momento emblemático de vitória dos trabalhadores argentinos quando, liderados por Eva Perón, exigiram e conseguiram a libertação e o retorno de Juan Domingos Perón que havia sido exilado em 1945. Ele ocupava o posto de vice-presidente e ganhara o rechaço da oligarquia argentina, sendo por fim banido. Mas, por conta da mobilização popular, no dia 17 de outubro daquele ano, ele entrou triunfante em Buenos Aires nos braços dos trabalhadores para ser eleito presidente no ano seguinte, dando início a um importante momento na vida da Argentina. Agora, em 2021, os argentinos ainda esperam que o governo de Alberto Fernández mostre a que veio. A pandemia pegou uma Argentina fragilizada economicamente pelo governo de Maurício Macri e o atual governo não está conseguindo dar repostas para a crise. Um possível acordo com o FMI serve de combustível para protestos e apreensão, mas os trabalhadores que saíram às ruas nesse dia 18 ainda emprestam solidariedade e confiança a Fernández, embora esperem respostas mais efetivas para os problemas. Na Bolívia, as avançadas da direita cruceña, com suas mobilizações e com as ações dos líderes que voltam a ofender a bandeira dos povos originários também levaram os trabalhadores a grandes mobilizações em todo o país. Marchas foram realizadas, concentrações e atos de luta reforçaram a necessidade do respeito à wiphala – bandeira dos povos originários – bem como o apoio ao trabalho do presidente Luis Arce. O próprio mandatário liderou algumas das manifestações e vem denunciando sistematicamente as ações da direita que visam desestabilizar o governo. Ele também denunciou que houve uma tentativa de assassinato contra ele em outubro do ano passado quando estiveram na Bolívia os mesmos integrantes do grupo que matou o presidente haitiano Jovenel Moïse. Ou seja, as forças do atraso já agiram e seguem agindo no sentido de tirá-lo do poder. Por isso mesmo as entidades de luta da Bolívia se declararam em estado de emergência, vigilantes e mobilizadas. Todas essas mobilizações, à esquerda e à direita, mostram que o quadro de crise imposto pelo capital não parece apresentar saídas que não sejam as mesmas de sempre: mais exploração dos trabalhadores, mais arrocho, menos investimento no público. Logo, pouco resta ao progressismo,  pois boas intenções não são suficientes. Mudança mesmo, só poder vir com revolução. Outra velha verdade sempre atual. Dez anos sem Chávez Eleição de Gabriel Boric no Chile traz esperança para a esquerda da América Latina Haiti, esse desconhecido Peru: difícil começo A eleição nos EUA e a América Latina América Latina e seus dilemas

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