Zona Curva

#Eleição2022

Alckmin de vice é autossabotagem

Lula e Alckmin – Nem as melhores intenções do mundo justificam a proposta de tornar Geraldo Alckmin candidato a vice na chapa de Lula. O arranjo é duplamente desnecessário. Além de não fortalecer as supostas prioridades da campanha e do país, gera problemas evitáveis que só atrapalham o favoritismo e o eventual governo do petista. Alckmin desagrega. Desde que foi aventado, seu nome causa discussões entre militantes de esquerda nas redes digitais. Conflitos minoritários, talvez, mas precoces, inflamados e potencialmente corrosivos. Nesse ritmo, em semanas de campanha oficial os debates internos ficariam tomados por agressões, “cancelamentos” e cizânias rancorosas. Seria difícil abafar a memória de lutas da esquerda contra o tucanato paulista, inclusive pela óbvia conveniência dessa propaganda negativa para os adversários. E não podemos desprezar o estrago eleitoral de uma avalanche de registros sobre escândalos impunes dos governos Alckmin, ataques a professores e estudantes, amizades nefastas etc. O esforço dos defensores da ideia para torná-la menos indigesta agrava a discordância. Afinal, se até o rótulo “conservador” parece lisonjeiro em Alckmin, situá-lo no centro político beira mesmo o escárnio. Sua simpatia pela Opus Dei, que abriga também parte do fascismo judicial, denota valores incompatíveis com qualquer agenda progressista. Nunca haverá plena harmonia ideológica numa coligação, mas além de certo limite a diferença vira mau agouro. Ao contrário de José Alencar, Alckmin nutre ambições presidenciais. Embora isso não o torne conspirador, tampouco o sintoniza com os planos lulistas. Aliado relutante, inamovível, tratado pela mídia como sucessor natural de Lula, o vice representaria uma contínua ameaça de ruptura na cúpula do governo. Ao mesmo tempo, os benefícios prometidos são duvidosos. As pesquisas apontam que Alckmin levaria ganho minúsculo de votos à chapa, decerto incapaz de compensar a dissidência de esquerda no primeiro turno e irrelevante para a adesão inercial dos oposicionistas no segundo. A expectativa de reforço à governabilidade não considera o ressentimento da antiga base partidária do ex-tucano pela derrota em São Paulo. É desonesto chamar os críticos a Alckmin de sectários. A rejeição a ele vai muito além de purismos esquerdistas ou de horror a pactos moderados. Trata-se de formular estratégias aglutinadoras que não recorram a pragmatismos capengas, nem desperdicem a enorme vantagem de Lula adotando uma das piores soluções possíveis. Por que rachar a militância faltando pouquíssimo para o triunfo imediato? O comando da campanha não vê os benefícios que essa perspectiva daria ao futuro governo e às candidaturas da aliança? Que simbologia conciliadora já não foi transmitida pelos amorosos diálogos com Alckmin, com os órfãos da terceira via e até com golpistas? A obsessão em tratar a disputa eleitoral como sacrifício expiatório sugere que parte do lulismo internalizou a culpa alheia pela tragédia fascista. Vendo na escolha do vice um fardo necessário para “salvar a democracia”, o PT responde por erros que não cometeu em 2018 e assume responsabilidades que não lhe cabem agora. Essa autocrítica solidária desrespeita o próprio espírito do voto popular em Lula. É o famoso medo de ser feliz. Texto publicado originalmente no Blog de Guilherme Scalzilli. Prato do dia: Lula com Chuchu O golpe preventivo contra Lula Lula e Boulos Não há meia democracia

Será novo este ano?

Esse novo ano ainda tem cara de velho. Teremos de aguentar um genocida negacionista no poder até 31 de dezembro. Não vai ser fácil! E tudo isso agravado pela Covid-19, que muitos pensam ser possível erradicar, com medidas paliativas e a vacinação de apenas uma parcela da população mundial, quando tudo indica que o vírus, que não faz distinção de classe ou etnia, não deixará de nos contaminar enquanto houver quem não tenha sido vacinado. Ano de comemorar o bicentenário da independência do Brasil. Escrevi comemorar, e não celebrar ou festejar. Comemorar significa avivar a memória, resgatar o passado e livrá-lo das peias que nele imprimiram o selo do equívoco. Que independência é essa se ainda somos colonizados pelos EUA e os países da União Europeia? Se a nossa economia depende das importações da China? Como celebrar a independência se as nossas autoridades e os próceres do mercado vivem clamando aos céus que venham investimentos estrangeiros? Num país em que políticos não se envergonham de defender a privatização do patrimônio público, como falar de independência? Somos, sim, dependentes do capital estrangeiro, da tutela estadunidense, da tecnologia estrangeira, da mentalidade subserviente com que miramos as nações prósperas. E pensar que, ao final da Segunda Grande Guerra, a China e o Japão eram mais subdesenvolvidos que o Brasil! Tínhamos tudo para ser uma nação altamente desenvolvida, sem bolsões de pobreza. Temos um imenso oceano e uma bacia hidrográfica invejável. Figuramos entre os cinco maiores produtores de alimentos do mundo, e apenas de frutas contamos com cinco mil variedades. Como observou Caminha, aqui, “em se plantando, tudo dá”. Possuímos abundantes riquezas minerais e a maior floresta tropical do planeta. O Brasil quase não é afetado por catástrofes naturais. Nada de vulcões, furacões e terremotos de grandes proporções, nada de secas prolongadas e tornados frequentes, nem grandes extensões territoriais cobertas por neve. Mas não temos governo! Mais da metade de nossa população vive na pobreza. Hoje, 19 milhões de brasileiros passam fome e 106 milhões sobrevivem em insegurança alimentar. Chega a 13 milhões o número de desempregados e 40,6% dos trabalhadores atuam na informalidade (Pnad/IBGE). Cresce também a desigualdade social. A renda média dos 10% mais ricos é 29,25 vezes maior que a dos 50% mais pobres (Relatório do Laboratório de Desigualdade Mundial). Os 10% mais ricos detêm em mãos 59% da renda nacional, e os 50% mais pobres ficam com apenas 10%. Hoje, apesar do Auxílio Brasil, a desigualdade aumenta devido à inflação, o aumento do preço dos combustíveis, o desemprego e a desarticulação do ensino público durante a pandemia, por força das restrições sanitárias e da falta de apoio do governo federal aos mais vulneráveis. Aqui, a desigualdade tem cor. Os brasileiros brancos, homens e mulheres, que integram o seleto grupo dos 10% mais ricos somam 8,6 milhões de pessoas (6,9% da população), e abocanham 41,6% da renda nacional. As pessoas negras, que são 53,8% da população, ficam com apenas 35% da renda total (Dados Made). Os adultos brancos são sete vezes mais ricos que os negros (Oxfam Brasil). A grande esperança para o nosso país neste ano de 2022 reside nas eleições de outubro. É hora de tirarmos este governo nefasto, necrófilo, que defende a “pátria armada, Brasil”, e elegermos Lula presidente com um programa de reformas estruturais que favoreçam a maioria da população. Mas isso não basta. É preciso renovar radicalmente o Congresso Nacional, eleger deputados federais e senadores mais comprometidos com as pautas populares e ambientais. E também eleger governadores progressistas. Há muito a fazer para que este ano seja realmente novo! Mundo à deriva Que venha 2022, a última live do ano Aceite ser manipulado: tenha ódio de política

Que venha 2022, a última live do ano

  A última live política ZONACURVA do ano foi ao ar no dia 15 de dezembro e trouxe previsões e especulações sobre os acontecimentos políticos de 2022, ano que será marcado por eventos como a Copa do Mundo e as eleições, e que sofrerá os impactos da crise econômica, política e sanitária que vivemos nos últimos anos. O bate-papo contou com a presença do editor ZonaCurva Fernando do Valle, o advogado Roberto Lamari e o editor do VIShows Luis Lopes. Apesar das pesquisas eleitorais terem apontado Lula como o candidato favorito, é importante ficar atento ao clima de “já ganhou” de Lula, observou o editor Fernando do Valle. Lopes relembra a possibilidade do segundo governo de Lula repetir a história de Getúlio Vargas nos anos 50, que voltou ao governo após o Estado Novo e tentou um governo mais conciliador, o que não deu certo. Segundo o editor Zonacurva, a elite brasileira se acostumou a não abrir mão de seus privilégios no governo Bolsonaro e isso pode dificultar um novo mandato do petista. “Será que a elite vai permitir que os jovens da periferia retornem às universidades e que o extinto Bolsa Família seja reabilitado e distribuído como antes? ”, questionou Valle. Foi debatido também que Lula talvez esteja ciente das dificuldades em 2023 se vencer ao cogitar o ex-tucano Geraldo Alckmin como vice de sua chapa. A tal “terceira via”, tão incensada pela mídia corporativa. também foi alvo de especulação dos participantes da live. Após Ciro Gomes anunciar – e depois voltar atrás – que não seria mais candidato à presidência, o ex-juiz Sérgio Moro cresceu nas pesquisas de intenção de voto.  No último mês, o ex-juiz Sérgio Moro, tornou-se o queridinho de parte da mídia conservadora e tenta conquistar os votos dos anti-petistas arrependidos do voto em Bolsonaro em 2018. Mesmo inexperiente em cargos políticos e julgado como juiz suspeito pelo STF, Moro aparece em terceiro lugar em intenção de voto, em empate técnico com Ciro, nas últimas pesquisas.  No dia da live (15 de dezembro), Ciro Gomes e seu irmão Cid Gomes tiveram suas casas invadidas pela Polícia Federal. A justificativa foi a apuração de irregularidades e um suposto esquema de desvio de verbas na construção da Arena Castelão, o principal estádio do Ceará. Ciro revoltou-se com a operação e acusou Bolsonaro de utilizar a PF como arma política. Lamari aponta que Moro é quem ganha com a operação contra Ciro Gomes. Já Fernando, aponta que a base que ainda apoia Bolsonaro é formada por evangélicos neopentecostais, militares e parte da elite econômica. Com isso, segundo o editor do Zonacurva, o que resta ao presidente atual, em sua estratégia para 2022, será a disseminação do pânico moral. Deste modo, Valle reforça a importância da retomada das ruas por protestos de esquerda no início do próximo ano para que não haja espaço para que Bolsonaro inflame seus apoiadores com discurso golpista, assim como ocorreu em no dia 7 de setembro deste ano. https://urutaurpg.com.br/siteluis/ha-vida-fora-do-realismo-capitalista/

Lula e Boulos

Boulos e Lula – Tenho visto com muita preocupação militantes petistas afirmarem com veemência que não apoiarão a candidatura de Guilherme Boulos ao governo de São Paulo. Será que a esquerda não aprendeu nada com o que aconteceu no Brasil nos últimos anos? Não aprendeu a identificar qual o lado, o compromisso de cada um e a importância de ao menos uma frente ampla? Boulos tem sua trajetória construída ao lado dos sem-teto, um dos segmentos mais excluídos deste país, coibido no direito essencial à moradia. Diversas vezes tive oportunidade de presenciar sua abnegação. Foi viver na periferia e lutar com o povo mais sofrido. É uma liderança com pé no barro, e faz o que prega. A coerência é valor fundamental para todos nós que queremos mudar a sociedade. Boulos esteve ao lado de Lula nos momentos mais difíceis, quando muitos não queriam estar com medo de prejudicar sua imagem frente à opinião pública. Foi às ruas defender Dilma contra o golpe. Esteve em São Bernardo, junto com milhares de sem-teto, para lutar contra a prisão injusta do ex-presidente. Visitou Lula no cárcere de Curitiba. O próprio Lula já me manifestou sua admiração e carinho por Boulos. Na eleição para a prefeitura de São Paulo, Boulos mostrou ser uma grande liderança da nova geração de políticos progressistas críticos ao neoliberalismo. E parece que isso incomodou, em especial setores da esquerda que ainda não se abrem às novas lideranças jovens. A esquerda precisa ter a capacidade de se renovar, de abrir espaço para os que chegam, de mostrar caras novas. E Boulos representa muito bem essa renovação. Na atual e trágica conjuntura em que o Brasil se encontra é triste ver que ainda há quem se apega a diferenças menores e enxerga inimigos onde eles não existem. São os fantasmas de Shakespeare. Guimarães Rosa, pela boca de Riobaldo, em “Grande Sertão, Veredas”, afirma que, ao longo da vida, a pessoa perde aos poucos o medo de viver e de morrer, o medo maior, então, é de “nascer”. Nascer ali significa viver situações inéditas, escolhas diante das encruzilhadas da vida, fatos que simbolizam novos surgimentos esperançosos como a figura política de Boulos. Não há que ter medo desta nova liderança. Tenho absoluta certeza de que Lula é a pessoa mais preparada para derrotar Bolsonaro e tentar reconstruir o país. E ele sempre soube fazer isso valorizando seus aliados. Boulos tem todo o direito de lançar sua candidatura ao governo de São Paulo, principalmente após a bela campanha que fez na capital, ao lado de Luiza Erundina. Considero inclusive a melhor chapa: Lula para presidente e Boulos para governador. Seria um grande sinal de abertura para a renovação. Se o PT tomar outra decisão, paciência, está também em seu direito. Mas acredito que o momento histórico cobra de nós unidade. E caso não haja acordo, o mínimo que se espera é respeito. Ataques e falta de generosidade aos que sempre estiveram do mesmo lado, junto com desconfianças de traição, não é um bom caminho, exceto para a direita, que torce pelo fracasso da esquerda. Em minha trajetória, aprendi a valorizar mais o compromisso social do que a filiação partidária. Essa bússola me permite manter-me firme com os valores que abracei, tendo em vista o sonho de uma sociedade justa e solidária. Espero votar, ano que vem, em Lula e Boulos. E que os partidos da esquerda tenham discernimento para construir um ambiente de respeito e unidade, focando suas críticas naqueles que, de fato, são adversários e inimigos da maioria do povo brasileiro. Publicado originalmente no Correio da Cidadania. Alckmin de vice é autossabotagem Que venha 2022, a última live do ano   Lula ganha no primeiro turno, segundo IPEC   A candidatura do Lula Guilherme Boulos mobiliza a esquerda com lançamento de livro  

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