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Esquerda unida contra o impeachment e Eduardo Cunha

por Fernando do Valle Dividida durante este ano, a esquerda uniu suas forças ontem contra a desfaçatez de Eduardo Cunha e o golpe preparado por setores conservadores. O protesto mobilizou milhares de pessoas nas avenidas das principais capitais brasileiras. Segundo os organizadores, 100 mil protestaram na avenida Paulista ontem, para o DataFolha, foram 55 mil.   A presença dos militantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) simbolizou a união dos movimentos sociais. Nas outras manifestações deste ano, o movimento que cresce a cada dia e mobiliza um enorme contingente nas cidades na luta por moradia, evitava participar de protestos organizados pela CUT e MST. As manifestações pelo #foracunha e #nãovaitergolpe, que aconteceram em 25 Estados e no Distrito Federal, fizeram duras críticas ao ajuste fiscal capitaneado pelo ministro Joaquim Levy, que pode deixar o governo neste final de ano. Na noite de ontem, o procurador geral da República Rodrigo Janot finalmente pediu o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara dos Deputados por utilização do cargo para “fins ilícitos”. Além disso, o ex-governador mineiro, o tucano Eduardo Azeredo, foi condenado a 20 anos de prisão por peculato e lavagem de dinheiro no chamado mensalão mineiro. Será que finalmente veremos um tucano atrás das grades por corrupção? Sobre a união das esquerdas Vídeo gravado ontem pelos Jornalistas Livres na manifestação na cidade de São Paulo:

A mensagem das ruas

por Guilherme Scalzilli O êxito das manifestações antigolpistas faz contraponto inevitável com as minguantes passeatas da direita. A diferença é óbvia, tanto na quantidade quanto na pluralidade da adesão. O projeto do impeachment perdeu de vez o argumento da força representativa. Pouco importa a previsível manipulação do noticiário, em seu desespero infantil para esconder os fatos. A desmoralização da imprensa corporativa só alimenta o belo espírito inconformista das ondas vermelhas. Elas não precisaram de investimento empresarial nem de propaganda midiática para aflorar. Antecipadas meses atrás, as curvas de comparecimento das mobilizações de esquerda e direita seguem tendências contrárias, de efeitos muito perigosos nas futuras disputas eleitorais. Cientes disso, os midiotas logo começarão a denunciar o “confronto” que os malditos petistas estariam promovendo nas ruas. Com essa narrativa de conflagração social o golpismo buscará unanimidades em torno de um pacificador que substitua Dilma Rousseff. Mas o clima de embate só assustará ainda mais os já reticentes candidatos a assumir tarefa tão ingrata. De qualquer forma, é impossível não creditar parte do impacto das passeatas legalistas à própria atuação dos defensores do impeachment. Apostaram tanto no peso das ruas que elas acabaram ganhando papel central, quiçá decisivo, nas disputas sobre o tema. Publicado originalmente no blog de Guilherme Scalzilli.

Resista, Dilma

por Ivan Proença O indivíduo e joio Cunha, com o (não) caráter que Deus lhe deu, foi apenas o executor daquilo que seus cúmplices diretos ou indiretos desejavam. Entre esses, os políticos sujos e, pior, jornalistas (articulistas de fundo ou não), matérias assinadas no incorrigível O Globo, ou grande imprensa em geral, revistas não veja, fora de época e isto não é. São muitos e sistemáticos. Não raro, até, ofensas e agressões verbais à Presidenta. Difícil listar a enxurrada. Por exemplo, Nelson Motta, Noblat, Gaspari, Cora, Merval, os neodireitistas Gabeira, Aarão, Ancelmo, e os vitalícios (alguns mais fiéis escrevem também nas revistas dos Clubes Militares, ao lado de eternos apologistas ou defensores do golpe de 64 e das barbaridades cometidas ao longo dos 21 anos). Todos cúmplices sim da miséria política que envolve o impeachment. Não sou PT menos ainda lulista. Ao contrário, entrei, desde a fundação, para o PDT e ocupei cargos no governo Brizola (como faz falta hoje!).  Sempre tive sérias restrições ao PT, inclusive por uma injustificada oposição deles ao PDT e a Brizola (só um exemplo: os ataques aos CIEPS). Mas bem sei que, também, boa parte da elite econômica e da incrível classe média jamais se conformou com o fato de um metalúrgico chegar ao poder e, após, uma guerrilheira ser presidenta. Inconformismo da velha corja da política brasileira desde o segundo governo de Getúlio, a deposição de Jango, o golpe militar e civil que durou 21 anos. Vi, há pouco, a imagem do joio Cunha aclamado por Paulinho (da fraqueza sindical) e por um Bolsonaro. Como pode esse tipo de gente investir despudoradamente contra uma mulher tão digna, séria, limpa? E preparada, sim. Acusam, ainda, a presidenta de não ser boa oradora. E daí? Mussolini, Hitler, Pinochet, Lacerda (até Aécio, o neto) empolgaram e ou empolgam “seus”  públicos com oratória bizantina. Problemas econômicos, em fases, todos sabemos, se devem ao contexto flutuante do capitalismo, e no Brasil são atribuídos, ainda, aos exageros (!) na assistência aos menos favorecidos (através de bolsas, cheques família, minha casa minha vida etc): era só o que faltava para caracterizar tal oposição. Essa gente é que propõe a luta de classes. Corrupção? Claro, um horror, uma vergonha. O PT fez o que — em boa proporção — fazem outros partidos. E foi com muita sede ao pote. Errou e corrompeu. E a figura do dedo-duro (eufemisticamente, hoje, delator premiado) entra em cena e escancara o mar de lama ética e moral. Os transgressores estão sendo justamente punidos, o que não ocorria antes. Paciência, presidenta Dilma. A senhora lutou e arriscou a vida para que essa gente, que pede seu impeachment, possa expressar-se. Orgulho nosso tê-la como governante, por seu passado e sua dignidade. Desanima não. Se a excluírem, é porque não a merecem e não estão à altura de alguém com sua personalidade e sua conduta de vida. Azar o deles. Valeu, embora à distância, conhecê-la. Vida e luta continuam.

Fernando Morais: O dia da infâmia

  por Fernando Morais *  – da Agência Carta Maior Dilma não será processada por ter roubado, mentido, acobertado ou ameaçado. Será processada por manter em dia pagamentos sociais como o Bolsa Família. Minha geração testemunhou o que eu acreditava ter sido o episódio mais infame da história do Congresso. Na madrugada de 2 de abril de 1964, o senador Auro de Moura Andrade declarou vaga a Presidência da República, sob o falso pretexto de que João Goulart teria deixado o país, consumando o golpe que nos levou a 21 anos de ditadura. Indignado, o polido deputado Tancredo Neves surpreendeu o plenário aos gritos de “Canalha! Canalha!”. No crepúsculo deste 2 de dezembro, um patético descendente dos golpistas de 64 deu início ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A natureza do golpe é a mesma, embora os interesses, no caso os do deputado Eduardo Cunha, sejam ainda mais torpes. E no mesmo plenário onde antes o avô enfrentara o usurpador, o senador Aécio Neves celebrou com os golpistas este segundo Dia da Infâmia. Jamais imaginei que pudéssemos chegar à lama em que o gangsterismo de uns e o oportunismo de outros mergulharam o país. O Brasil passou um ano emparedado entre a chantagem de Eduardo Cunha – que abusa do cargo para escapar ao julgamento de seus delitos – e a hipocrisia da oposição, que vem namorando o golpe desde que perdeu as eleições presidenciais para o PT, pela quarta vez consecutiva. Pediram uma ridícula recontagem de votos; entraram com ações para anular a eleição; ocuparam os meios de comunicação para divulgar delações inexistentes; compraram pareceres no balcão de juristas de ocasião e, escondidos atrás de siglas desconhecidas, botaram seus exércitos nas ruas, sempre magnificados nas contas da imprensa. Nada conseguiram, a não ser tumultuar a vida política e agravar irresponsavelmente a situação da economia, sabotando o país com suas pautas-bomba. Nada conseguiram por duas singelas razões: Dilma é uma mulher honesta e o povo sabe que, mesmo com todos os problemas, a oposição foi incapaz de apresentar um projeto de país alternativo aos avanços dos governos Lula e Dilma. Aos inconformados com as urnas restou o comparsa que eles plantaram na presidência da Câmara – como se sabe, o PSDB, o DEM e o PPS votaram em Eduardo Cunha contra o candidato do PT, Arlindo Chinaglia. Dono de “capivara” policial mais extensa que a biografia, Cunha disparou a arma colocada em suas mãos por Hélio Bicudo. O triste de tudo isso é saber que o ódio de Bicudo ao PT não vem de divergências políticas e ideológicas, mas por ter-lhe escapado das mãos uma sinecura – ou, como ele declarou aos jornais, “um alto cargo, provavelmente fora do país”. Dilma não será processada por ter roubado, desviado, mentido, acobertado ou ameaçado. Será processada porque tomou decisões para manter em dia pagamentos de compromissos sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. O TCU viu crimes nessas decisões, embora não os visse em atos semelhantes de outros governos. Mas é o relator das contas do governo, o ministro Augusto Nardes, e não Dilma, que é investigado na Operação Zelotes, junto com o sobrinho. E é o presidente do TCU, Aroldo Cedraz, e não Dilma, que é citado na Lava Jato, junto com o filho. Todos suspeitos de tráfico de influência. Provoca náusea, mas não surpreende. “Claras las cosas, oscuro el chocolate”, dizem os portenhos. Agora a linha divisória está clara. Vamos ver quem está do lado da lei, do Estado democrático de Direito, da democracia e do respeito ao voto do povo. E veremos quem se alia ao oportunismo, ao gangsterismo, ao vale-tudo pelo poder. Não tenho dúvidas: a presidente Dilma sairá maior dessa guerra, mais uma entre tantas que enfrentou, sem jamais ter se ajoelhado diante de seus algozes. * FERNANDO MORAIS, 69, é jornalista e escritor. É autor, entre outros, dos livros “Chatô, o Rei do Brasil” e “Olga” Pubicado originalmente na Agência Carta Maior.

A pauta do golpe

por Guilherme Scalzilli A tese do impeachment perde adeptos a cada semana que passa. Nas cúpulas midiáticas, empresariais, partidárias, jurídicas e acadêmicas dissemina-se a visão de que a ideia não é apenas inviável, mas perigosa e inconsequente. Então o que explica a sua permanência nos debates cotidianos? Acontece que o prolongamento da agonia segue uma lógica de oportunismo político. A ideia é explorar ao máximo o desgaste da imagem do PT e, por extensão, de Lula. Ademais, sem a novela do golpe, outras questões importantes dominariam o noticiário. As estruturas tucanas da corrupção empresarial, por exemplo. O golpe preventivo contra Lula Essa mesmice catastrófica interessa apenas à oposição, que tenta aprisionar o governo federal na retaguarda. O eterno ramerrão do cai-não-cai mantém vivo o discurso da crise, através do qual a direita impõe seus retrocessos, impede o Executivo de propor agendas positivas e adia certas demandas populares. A obsessão atinge setores da própria blogosfera progressista, acomodada a um “piloto automático” reativo que parece não conhecer perigos além do golpismo. O antigo problema de reverberar os grandes veículos adquire um requinte deletério: mesmo a crítica ao impeachment é uma forma de preservar a sua relevância. Por isso acredito que a esquerda precisa tomar a iniciativa e dar um passo adiante, deixando as viúvas do golpe afundarem sozinhas no descrédito público. Há narrativas perniciosas sendo construídas e monopolizadas pelo jornalismo conservador, no vácuo da inação governista. É necessário combatê-las com um esforço mobilizador semelhante ao que venceu a agenda do impeachment. Começando pelos ataques a Lula, que passarão a entreter o antipetismo frustrado.

Por que só agora a Lava Jato chegou a Cunha?

por Guilherme Scalzilli Os indícios de que Eduardo Cunha possui contas no exterior são conhecidos pela Justiça há meses. As investigações começaram já em abril na Suíça, e poderiam ter ocorrido antes, se as autoridades brasileiras tivessem reagido às primeiras suspeitas. Enquanto os réus da Lava Jato e seus familiares eram presos com uma afoiteza que até prejudicou inocentes, Cunha seguiu ocupando o terceiro cargo da sucessão presidencial do país. Podendo movimentar suas fortunas. Eis que ele cai em desgraça justo agora, na fase crítica dos planos golpistas. Não antes, prejudicando as manifestações promovidas pela mídia conspiradora. Nem depois, no recesso parlamentar ou na paralisia do ano eleitoral. Claro que não se trata de mero acaso. O cerco ao deputado é uma forma de forçar a sua derradeira investida contra o governo. Acuado pelo noticiário negativo e incapaz de fazer acordos salvadores, ele não teria saída senão apressar os ritos do impeachment. A estratégia consiste em mantê-lo refém dos investigadores, prestando serviço ao roteiro traçado para a Lava Jato. Prática adequada, aliás, aos métodos coercitivos de Sérgio Moro: sob ameaça de ver parentes presos por sua causa, a vítima faz tudo que os meganhas ordenarem. Estes são os verdadeiros bastidores das vicissitudes de Cunha, e que a mídia golpista se esforça tanto para ocultar. O teatro punitivo não muda a essência do arranjo. Desmoralizam o sujeito, bloqueiam suas contas, expõem seus familiares, mas ele preserva o poder de alavancar a cassação da presidente da República. Sugiro, portanto, certa parcimônia comemorativa com o indiciamento de Cunha. O episódio mancha para sempre a memória dos seus aliados, mas também ilustra a força do conluio institucional que patrocina o impeachment. Não será sob aplausos crédulos que o Congresso ou Judiciário barrarão o ataque final do golpismo. Publicado originalmente no  Blog de Gulherme Scalzilli.

Não parece golpe, mas é

por Guilherme Scalzilli A oposição espalha artigos e depoimentos pretensamente “esclarecidos” para reforçar a imagem democrática de um possível impeachment de Dilma Rousseff. Como estratégia militante, é simplória e previsível. Como exercício intelectual, resvala na desonestidade. Uma característica histórica da propaganda antidemocrática é a alegação da defesa de princípios constitucionais. Não por acaso, os discursos pseudolegalistas de hoje repetem os dos golpismos do século passado, particularmente de 1964. Especialistas em diversas áreas acadêmicas têm demonstrado isso com alarmante eficácia. Nem a narrativa moralista se sustenta, contudo. Inexistem motivos razoáveis para a deposição de Dilma, o que fica óbvio nas filigranas jurídicas brandidas pelos puxadores de tapete. Se esses critérios servissem para derrubar mandatários, não sobrariam gestores públicos no Brasil. A começar pelo FHC do suborno reeleitoral e pelo Geraldo Alckmin dos cartéis metroviários e do colapso hídrico. Adotando-se os rigores que tentam aplicar a Dilma, aliás, talvez sequer os protagonistas do impeachment ainda pudessem comandá-lo. E sem Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Augusto Nardes, Gilmar Mendes e respectivos asseclas dificilmente haveria espaço para tamanha desfaçatez na agenda nacional. A natureza arbitrária de uma eventual deposição suplanta quaisquer eufemismos e subterfúgios retóricos. Evitando chamá-la pelo único nome que a descreve, os tais “analistas” realçam aquilo que tentam esconder sobre si mesmos. Publicado originalmente no  Blog de Gulherme Scalzilli.

Impeachment não é recall

Ainda que em baixa nas pesquisas, a presidenta foi eleita pelo voto dos brasileiros. Um impeachment não pode se fundar na ‘teoria do domínio do boato’   por Antonio Lassance Publicado originalmente na Agência Carta Maior   IRRESPONSABILIDADE DE QUEM ACUSA Quais as chances reais de impeachment da presidenta? O principal trunfo de Dilma Rousseff na atual conjuntura é o fato de que levar um presidente a ser afastado pelo Congresso não é uma tarefa trivial. Os fundamentos devem ser claros e relacionados diretamente a atos praticados pelo próprio presidente da República, como foi no caso de Collor, denunciado pelo próprio irmão, pelo motorista e por uma operação de lavagem de dinheiro, que ganhou o apelido de Operação Uruguai, feita em nome do próprio Collor para justificar reformas na famosa Casa da Dinda. As pessoas que repetem que “Collor caiu por muito menos” e atribuem o impeachment ao reles Fiat Elba, ou têm a memória curta ou estão afetadas pelo mal do julgamento seletivo. Para afastar um presidente por crime de responsabilidade é também preciso um mínimo de responsabilidade de quem acusa, e não o uso inconsequente do que o grande jornalista, Mauro Santayana, bem classificou de “teoria do domínio do boato”. Não se afasta um presidente da República com base em suposições. De todo modo, é verdade quando dizem que o processo de impeachment é fundamentalmente político, e não penal. A começar, é preciso o apoio de uma supermaioria de deputados (dois em cada três) para a instauração de processo pela Câmara. É estranho como alguns dos que reclamam da política como o palco do vale-tudo se regozijam agora ao repetir, feito papagaios, que “o processo é político e não penal”. Quando lhes interessa, a política como vale-tudo é o melhor dos mundos. No entanto, embora o governo esteja muito fragilizado, conseguir um apoio mínimo é algo que ainda está ao seu alcance. O preço que os demais partidos cobram é o de reduzir o peso do PT, com ou sem o pretexto do corte de ministérios. Manter parlamentares insatisfeitos na base custa mais caro ao Executivo. Eles deixam de ver o governo como uma zona de conforto e querem apenas um condomínio de partidos em pé de igualdade, guardadas suas devidas proporções. Ao invés de clamar por liderança, a base quer autonomia. Exige que uma parte relevante da agenda do país nasça e se resolva no Legislativo, e não no Executivo. Até o momento, o governo dá todos os sinais de que está disposto a fazer o que for preciso para sobreviver. O quadro, nu e cru, é este: o governo considera que sobreviver já é uma grande vitória. Conta a favor de Dilma que o principal adversário de seu governo,o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vive seu pior momento. O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, reconduzido ao cargo para mais um mandato, prepara a denúncia que levará Cunha ao cadafalso do Supremo Tribunal Federal. Seja ou não finalmente decapitado da política pelo STF, o fato é que a formalização da denúncia deixará o presidente da Câmara em situação vexatória que até alguns aliados avaliam como insustentável. Alguns deputados do PMDB ligados a Cunha, até então, já procuraram o vice, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, para anunciar que preferem ser vinculados ao PMDB do Senado. Contra a presidenta está o voto secreto dos deputados na hora de autorizar ou rejeitar o processo. Ninguém saberá, ao fim e ao cabo, quais honraram a palavra e quais se mantiveram contrários ao afastamento. A rigor, quem afasta um presidente não é a Câmara, mas o Senado, quando este instaura o processo, se previamente autorizado pelos deputados. Na prática, porém, se a Câmara o autoriza, o Senado não tem mais nada a fazer a não ser automaticamente afastar o presidente.   AS PEDALADAS DO TCU A questão que mais fragiliza a presidenta no atual momento sequer é o presidente da Câmara, mas o julgamento, pelo TCU, das contas de seu mandato. O risco é de condenação pelas chamadas “pedaladas” fiscais, o uso de expedientes contábeis que, ao contrário da praxe do Tribunal na apreciação das contas de governos anteriores, agora podem vir a ser reprovados. Pior do que a condenação seria se ela ocorresse por unanimidade ou por uma goleada germânica do tipo 7 x 1, lembrando-se que o TCU tem nove membros, e o presidente do Tribunal só precisa votar em caso de empate – portanto, 8 votos. O adiamento da decisão do TCU, com a perspectiva de que isso ocorra em fases e pelo menos até setembro, permitiu ao governo não apenas ganhar tempo como reagir em um momento mais favorável. A aprovação das contas, hoje, tem possibilidade reduzida. Mesmo que a culpa das “pedaladas”, no julgamento do Tribunal, recaia sobre os, à época, ministro da Fazenda e o secretário do Tesouro – Guido Mantega e Arno Augustin, respectivamente -, uma goleada emblemática pela reprovação e condenação de ambos, ainda assim, é um grande problema para Dilma. Há fortes razões para se crer que o julgamento não será por unanimidade (nem favorável, nem desfavoravelmente) e que mais de um ministro pode, com veemência, apontar o casuísmo e o risco institucional sistêmico que acarretaria um julgamento nessa linha, para vários governos (estaduais e prefeituras), sem que antes se sinalize claramente que o Tribunal pretende firmar uma mudança de entendimento sobre o assunto. No fundo, o que alguns ministros do TCU querem contra Dilma não deixa de ser uma pedalada que contraria a forma como o órgão sempre agiu.   IMPEACHMENT NÃO É RECALL A palavra final sobre o impeachment é dos parlamentares. Casuísmo ou não do TCU, se vier a condenação das contas, caberá àqueles que são leais ao governo o antipático encargo de “limpar a barra” e contrariar seu órgão de controle de uma forma igualmente inédita, para esse tipo de caso. Seria um desgaste que, em um período de crise e de ataques constantes à chefe do Executivo, amplificados pela imprensa

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