Zona Curva

Cultura crítica

Críticas de obras da área cultural.

Relatos sobre o amor extremo e seus avessos

O livro Amor cruel, amor vingador abre com um brevíssimo prefácio muito sábio e esclarecedor sobre o amor e os amantes, escrito como recado ao leitor à maneira de Machado de Assis. Nele, Maria José de Queiroz alerta: “Não há como negar: os trágicos gregos diagnosticaram todos os males da alma”. Aos expoentes da literatura e das ciências que vieram depois, nos séculos seguintes, ela destaca, citando Shakespeare, Dostoiévski, Flaubert, Zola e Freud, que apenas caberia a todos eles atualizar os sintomas, porque já estava feita desde a Antiguidade Clássica a primeira anamnese, o diagnóstico de nossas paixões e vícios. Nas páginas seguintes, o leitor encontra cinco histórias curtas e requintadas, construídas com detalhes surpreendentes e reviravoltas que seduzem o paladar literário mais exigente, mas também agradam aos que buscam apenas a distração da leitura sobre tramas policiais e sobre crimes de resolução mais ou menos complicada. O que não há aqui, nas histórias de amor cruel, amor vingador, são os opostos maniqueistas que o leitor se acostumou a encontrar nos noticiários: do primeiro ao último relato, ninguém é completamente do bem ou do mal. Compreender as variações dos tons de cinza e as motivações do heroi ou do vilão, dos culpados e dos inocentes, torna-se, então, um desafio saboroso diante de cada um dos enigmas que a autora apresenta nas cinco histórias reunidas no livro. Na primeira história do cardápio, a mais extensa, feita de frases curtas, de breves diálogos e de revelações que imprimem fôlego e ritmo rápido à leitura, a trama avança pelas variações de caráter e pelas motivações ocultas nos bastidores de uma investigação policial que aparentemente terá princípio, meio e fim. A história é “O juramento”. Há um crime: o assassinato de uma viúva endinheirada; e há Pedroso, o detetive que investiga o caso, confiante no princípio de que entre a pobreza e a criminalidade não existe relação de causa e efeito. Assim como acontece nos clássicos da literatura policial, o investigador carrega seus dramas do passado, enquanto descobre as pistas e os percalços dos envolvidos. E não faltam surpresas. No desfecho, nem tudo o que reluz é ouro, mas ainda restará a sombra de uma dúvida sobre quem seria o verdadeiro culpado – dúvida que o leitor compartilha e confirma. Em “Velho com moça nova”, a segunda história, a trama tem toques de humor picaresco para contar o caso de um matuto, Antônio, envolvido a contragosto em um enredo de traição e morte. O caso começa com o protagonista a lembrar os conselhos do pai, que soavam como sina anunciada ou confissão de culpa: “Nunca pare nem aceite pousada em casa de velho com mulher moça”. Na aventura do matuto, desrespeitar o conselho foi como cair no redemoinho – ou como desafiar por acidente o anjo Gabriel com a balança do Juízo Final. A terceira história ganha pontos já a partir do título – “Iniciação ao tratado do desespero”. Entra em cena um triângulo amoroso, uma mulher e dois homens, os três jovens universitários, com a voz feminina narrando a trama entre aventuras ingênuas, algumas referências de filosofia e o tempo que passou rápido e dissolveu em definitivo a aproximação entre os três. O desfecho trágico vem através da carta de uma desconhecida, revelando uma estranha coincidência e a oportunidade para um pequeno e passageiro desespero. O trágico surge novamente com toques involuntários de humor em “Ritinha Chiquê ou A hora do carvoeiro”, a quarta história, com o caso amargo da beata que acaba seduzindo um trabalhador braçal e, em seguida, mergulha nas águas turvas e movediças da crueldade e da vingança. Na quinta e última história do livro, “A morte ao pé da letra”, o desfecho trágico é precedido pela calmaria e por promessas de felicidade em 1970 na Sorbonne, mas algo de patológico dos males da alma se instala na trama a partir da recriação de uma figura da mitologia grega, a “Antígona”, de Sófocles, e retornamos aos rompantes do amor e seus avessos. Como disse o tabelião ao detetive, ao comentar sobre a vida do principal suspeito, nas investigações de “O juramento”: “Vícios, quem não os tem?” Esta nova edição de Amor cruel, amor vingador vem suprir uma lacuna na extensa obra teórica, poética e ficcional publicada por Maria José de Queiroz, mineira de Belo Horizonte que completou recentemente cinco décadas na Academia Mineira de Letras. O livro teve uma primeira publicação pela Record na década de 1990, mas estava há anos fora de catálogo e inacessível, retornando agora em lançamento da Caravana Grupo Editorial. A prosa sofisticada que volta em nova edição tem ainda o mérito de contrariar aquele lugar comum de que não se deve julgar um livro pela capa. O detalhe de “Ghismunda”, pintura barroca do século 17 do italiano Bernardino Mei, escolhido para ilustrar a nova capa, consegue traduzir à perfeição as tramas do amor cruel e vingador que, nas mais variadas e corriqueiras situações, transformam em vítimas os amantes.  “Amor cruel, amor vingador”, de Maria José de Queiroz. Lançamento Caravana Grupo Editorial, 122 páginas. Fonseca romântico

Meus Caros Amigos e a irreverência da comédia italiana

    Infância Eterna Amigos desde a juventude, Necchi (tem um bar e uma esposa que apesar de desprezada não o abandona), Perozzi (jornalista, tem um filho e uma esposa que se cansou de ambos e foi embora), Sassaroli (médico, rico, colecionador de prostitutas) Melandri (arquiteto e poeta, tem o hábito de se apaixonar “cegamente” por mulheres, sendo “salvo” várias vezes por seus amigos) e Mascetti (um nobre falido que gosta de dar trambiques até em seus únicos amigos e inventou um dialeto muito particular) são cinco homens de meia idade que vivem em Florença e passam a maior parte do tempo descobrindo maneiras de rir dos outros e de si mesmos. Sempre cantando, a maioria das traquinagens é seguida ou antecedida por uma melodia – especialmente Bella figlia dell’amore, do terceiro ato de Rigoletto (1851), ópera de Giuseppe Verdi, geralmente lembrada por Melandri. Mesmo em sua velhice, não abandonam o comportamento infantil e continuam arquitetando mil trapalhadas. Em certo ponto, Mascetti sofre um ataque que o deixa paralítico. Mas isso apenas serve de estímulo para que o bando faça da clínica geriátrica onde eles mesmos o internaram um lugar inseguro para os outros velhinhos. (imagem acima, Sassaroli se veste de diabo em mais uma armação do quinteto, Meus Caros Amigos 3). Sinal de Inteligência    Como muitas comédias italianas da década de 1970, Meus Caros Amigos (Amici Miei, 1975) se apresenta como uma série de vinhetas aleatórias, breves fatias da vida desse grupo de amigos em busca de camaradagem autêntica e alívio cômico. Assim Rémi Fournier Lanzoni define o trabalho do cineasta Mario Monicelli nos dois primeiros dos três filmes da série, explicando também que se trata da reedição da antiga arte da beffa, prática de humor cínica e cruel (ao estilo da Toscana, onde se localiza a Florença do filme) ligada às antigas raízes da farsa medieval, tão ao gosto de Boccaccio em seu Decameron ou dos fabliaux franceses. Monicelli defende a crueldade e cinismo de certas cenas de humor afirmando que “a falta de compaixão é um sinal de inteligência: é aquele que aguça a mente. Eis porque, entre o riso e a tragédia, escolhi, e continuo a escolher, o riso” (3). Suas ações acabaram tornando-se parte da cultura popular italiana, como a cena na estação de trem Santa Maria Novella – fingindo dar adeus, os cinco adolescentes de meia idade esbofeteiam os passageiros que estão nas janelas (4). “Não resta dúvida de que os filmes cômicos dos anos 1970 começaram a perder seu brilho e talento para chicotear e insultar uma sociedade que apesar de tudo foi capaz de sustentar um forte sistema de valores. Ainda que os cineastas italianos parecessem ter menos prazer em contar suas histórias, também é verdade que as comédias dos anos 1970 talvez representem as imagens instantâneas mais emocionantes desses monstros tristes (por exemplo, em Meus Caros Amigos, de Monicelli): o descolamento do tecido social da Itália; a recessão que se seguiu ao boom econômico e seus efeitos nas classes mais fracas e desprivilegiadas; o colapso dos relacionamentos tradicionais de família; o surgimento de uma nova forma de religião secular e – acima de tudo – uma nova religião sexual; a perda total de confiança no governo e nos políticos; grupos sociais inteiros retornando a condições de vida sub-humanas; depressão; uma deficiência material e emocional por toda a sociedade italiana; um colapso na comunicação social; e uma enxurrada de insegurança e medo. Muitas comédias desse período parecem ter sido contaminadas pelos filmes de terror. Não obstante, muitos cineastas ansiavam pela euforia da década anterior, as comédias realizadas durante os anos 1960 – e mesmo até 1975 – nos fornecem uma visão global que poderia ter sido utilizada num relatório anual de estatísticas sociológicas documentando a transformação na sociedade italiana”.   De acordo com Lanzoni, talvez a marca registrada do humor de Meus Caros Amigos seja representada pela invenção da arte juvenil da supercazzola, aperfeiçoada por Ugo Tognazzi (que atuou como Mascetti, o falido), num discurso em que frases sem sentido são utilizadas para confundir os interlocutores – neologismos meio inventados e palavras meio comuns em italiano compõem um discurso completo que leva a comunicação a um estado de total confusão. Outra invenção que cativou o público da época foi a zingarata (passeios ciganos ocasionais), perambulações sem destino, objetivo, planejamento ou regras. Dos muitos exemplos, poderíamos citar três. No primeiro filme, resolvem se passar por especialistas que chegam numa pequena cidade e vão marcando locais a serem demolidos. Quando todos estão em pânico, o grupo dá a missão por cumprida e desaparece. No segundo filme, eles se passam por uma equipe de manutenção da Torre de Pizza e fazem os turistas os ajudarem a impedir que a torre desabe. A seguir, resolvem participar de um concurso de canto, no qual substituem a letra original da música por conteúdo obsceno. Apesar do sucesso de público, muitos críticos condenaram o uso indiscriminado de linguagem ofensiva, ao que Monicelli respondeu: “A beffa é sempre vulgar… O toscano é vulgar… Uma comédia sem linguagem chula é impensável, na época, parte da linguagem cotidiana. Atores falando uma linguagem inventada teria atenuado a força da comédia, a qual emana do povo e transpira realidade. A vulgaridade é necessária. Ela se torna o elemento em torno do qual a amizade dos protagonistas é construída, levando-os a estabelecer um rito de camaradagem baseado numa associação sem limites” Crítica ao Infantilismo   Meus Caros Amigos, maior sucesso de Monicelli durante a década de 1970 aconteceu quase por acaso. Pietro Germi, que também estava elaborando o roteiro juntamente com ele, iria dirigir o filme, mas ficou doente e pediu a Monicelli que assumisse a direção. Após alguma hesitação, Germi admitiu que Monicelli mudasse o enredo da cidade de Bolonha para Florença, vindo a falecer no primeiro dia de filmagem. Curiosamente, acompanhando as duas sequências, que alcançariam a década seguinte (o último filme foi dirigido por Nanni Loy em 1985), nota-se que a morte é o ponto conclusivo da história. Lanzoni explica que, naquele ano de 1975, a Itália vivia uma fase de desilusão durante os anos de

Matrículas abertas para o curso online de Cinema Japonês

inscrições só até dia 6 de setembro O site Tudo Vai Bem, em parceria como Zona Curva, apresenta o Curso Online de Cinema Japonês: Do Clássico a Nouvelle Vague Japonesa, uma maneira prática, rápida e bem contextualizada de aprender e conhecer as características do cinema japonês e seus filmes que formam uma das mais importantes e brilhantes cinematografias da história. As matrículas estão abertas somente até o dia 6 de setembro (quinta-feira). Este é um curso online básico e introdutório que você pode fazer a hora que quiser, onde quiser. As 4 vídeo-aulas são ministradas pelo crítico, professor e pesquisador de cinema Fernando Oriente*, editor do site Tudo Vai Bem. O curso completo, com todas as aulas e apostila com conteúdo resumido, custa  R$ 119,90. E você pode parcelar em até 12x no cartão. As matrículas estão abertas somente até o dia 6 de setembro Conteúdo do Curso Online de Cinema Japonês: Do Clássico a Nouvelle Vague Japonesa: O curso online é composto por 4 vídeo-aulas  (com trechos de filmes comentados), totalizando 1h50, e aborda as características do cinema japonês do período Clássico por meio dos principais filmes de três mestres: Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi Akira Kurosawa Também é trabalhada a Nouvelle Vague japonesa, movimento marcante do cinema moderno mundial que revelou grandes autores e novas formas de se fazer e pensar cinema. São destacados dois de seus principais representantes, os cineastas: Shohei Imamura Nagisa Oshima O curso completo, com todas as aulas e apostila com conteúdo resumido, custa  R$ 119,90. E você pode parcelar em até 12x no cartão. As matrículas estão abertas somente até o dia 1º de agosto. Ao comprar o Curso Online Cinema Japonês: Do Clássico a Nouvelle Vague Japonesa você recebe: 4 vídeo-aulas em  linguagem objetiva e direta, com trechos de filmes para ilustrar o conteúdo Apostila de apoio em PDF com todo o conteúdo resumido  Certificado digital – que pode ser requisitado ao término do curso  Informações sobre a compra: É 100% seguro comprar o curso: As vendas são realizadas por meio de uma parceria do Tudo Vai Bem com o site Eduzz, uma plataforma de vendas de produtos digitais no Brasil totalmente segura e confiável. Logo após a efetivação da compra, você já recebe acesso imediato ao seu produto por email, enviado pela Eduzz. A entrega do seu produto digital é 100% garantida e sem riscos. Assim que você receber, é só fazer o download das vídeo-aulas e da apostila e começar o curso. A compra é totalmente protegida:  você tem opção de pagar no boleto, no cartão ou via PayPal com a tranquilidade de compartilhar suas informações de maneira 100% segura. Como comprar: Ao clicar no botão abaixo você já será direcionado para uma página vinculada ao Eduzz e lá poderá fazer a sua compra com total segurança e pode parcelar em até 12 vezes no cartão. Após o pagamento, você tem acesso imediato ao conteúdo completo do curso. Aproveite essa oportunidade para aprender de forma prática e rápida, onde você estiver e quando quiser. As matrículas estão abertas somente até o dia 1º de agosto. Descrição das aulas: Aula 1 –Introdução, características gerais do cinema japonês cinema clássico japonês: Ozu, Mizoguchi e KurosawaO cinema de Yasujiro Ozu   Aula 2 – O cinema de Kenji Mizoguchi Aula 3 – O cinema de Akira Kurosawa Aula 4 – Nouvelle Vague Japonesa: introdução, noções e conceitos o cinema de Imamura e Oshima Qualquer dúvida entre em contato conosco! tudovaibemcine@gmail.com *Fernando Oriente é crítico, professor e pesquisador de cinema. É editor e crítico do site de cinema Tudo Vai Bem – www.tudovaibem.com, além de colaborador das revistas Interlúdio e Teorema, entre outras publicações. Escreve regularmente para catálogos de mostras e festivais bem como para livros de cinema. Ministra cursos de cinema em diversas localidades como unidades do SESC, a Escola de Cinema do Maranhão – IEMA,  cinemas, cineclubes e espaços de pesquisa cinematográfica. Participa de debates e palestras em mostras, festivais e diferentes eventos ligados ao cinema e ao audiovisual. É membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) desde sua fundação. Foi um dos editores e críticos do site Cinequanon entre 2007 e 2012. Cinema no rumo certo com ‘Eles Voltam’ Mostra Internacional de Cinema começa no dia 18

As coisas que eu sinto só por te olhar

Este é o título do livro que marca a estreia do escritor Conrado Muylaert na literatura nacional – e, diga-se de passagem, que estreia! A obra caiu em minhas mãos por uma destas felizes casualidades do destino, e me prendeu antes mesmo que eu pudesse abrir na primeira página. Porque o título em si já conta uma história, e imediatamente coloca nossa imaginação para trabalhar. As coisas que eu sinto só por te olhar fala de Luana, uma compositora francesa radicada em Londres que vive uma fase de esterilidade criativa, que a impede de trabalhar. Sentindo-se entediada e improdutiva pela completa falta de novas emoções – a matéria-prima fundamental de toda criação artística – Luana descobre fotografias que indicam a possibilidade de perseguição por alguém que misteriosamente está em todos os lugares em que ela esteve. A descoberta acaba por despertar em Luana sentimentos ambíguos, motivando-a a viajar na tentativa de se reencontrar e de se reconstruir como pessoa e artista. E é no Rio de Janeiro que ela conhece Lucas, um jovem compositor por quem se apaixona. No entanto, o tão aguardado final feliz não está tão perto como pode parecer. As coisas que eu sinto só por te olhar narra, com beleza e astúcia, toda a trajetória de um triângulo inusitado envolvendo Luana, seu perseguidor e Lucas, sua mais nova paixão. O livro se destaca em vários pontos, em especial a maneira leve e objetiva que Conrado Muylaert conta sua história. Através de rara sutileza, Conrado consegue a façanha de colocar o leitor em contato direto com a obra, e com as emoções que ela desperta, envolvendo-o intrinsecamente no seu enredo. Seus personagens também são reais e verossímeis, e por isso vibramos quando tudo dá certo, e lamentamos quando algo sai do planejado. Luana, Lucas e o seu perseguidor anônimo são gente como a gente, e assim torna-se impossível não relacionar-se intimamente com todos eles. O livro ainda traz ao leitor uma espécie de entusiasmo aventureiro, inspirado especialmente pela maneira febril, passional e criativa com que Luana encara seus próprios fantasmas e inseguranças. Ela não é uma protagonista heroica, invulnerável e emocionalmente resistente. Muito pelo contrário. Luana compartilha conosco suas incertezas, seu tédio, seu medo do futuro, e em dado momento temos a certeza de que a conhecemos de algum lugar – quiçá do nosso próprio espelho. Contudo, o que mais me atraiu e fascinou na obra foi, sem dúvidas, a conjunção íntima entre música e literatura; entre música e emoção; entre música e vida. As coisas que eu sinto só por te olhar é uma obra repleta de musicalidade rítmica e legítima. A música permeia toda a obra e é parte individual e intransferível de cada personagem. É através dela que compreendemos suas emoções e sentimentos, de modo que não seria exagero dizer que é a música quem traduz ao leitor a essência de toda a história. Talvez a música possa até mesmo ser considerada a verdadeira protagonista de As coisas que eu sinto só por te olhar. Esta parceria entre literatura e música deu certo. E eu não tenho dúvida nenhuma de que Conrado Muylaert chegou para ficar entre os fortes da literatura nacional. Porque as coisas que eu senti só por ler o seu livro de estreia foram intensas, indescritíveis e, certamente, permanentes. Leitura mais do que recomendada; leitura obrigatória para todos os amantes da boa literatura. E, claro, da boa música também.

Só é literatura quando incomoda

Como escritora, editora e, principalmente, leitora, tenho observado um fenômeno desconcertante acometer a literatura nacional: o processo de politização obediente dos novos escritores brasileiros. Muitas vezes tenho a impressão de que a nossa produção literária cortou o cabelo, fez a barba, colocou sapatos de couro, terno, gravata, e agora é o genro que mamãe pediu a Deus. E, sabem: isso me incomoda. Profundamente. Porque, em minha opinião, a literatura que não lhe sacode; que não lhe tira do lugar onde você confortavelmente está; que não lhe faz repensar; que não desconstrói e bagunça; que não coloca o dedo na ferida e chafurda; é uma literatura inofensiva – logo, irrelevante. Os livros e autores que me conquistaram, e me fizeram compreender o poder da literatura na formação política e social de qualquer cidadão, falavam de sexo, de drogas, de dor, de vida, de desespero – e não de dragões, fadas e gnomos. Por esta razão, foi com receio – porém com uma sutil esperança – que peguei em mãos a obra O Caminho dos Excessos, do escritor gaúcho Zeka Sixx. O livro, lançado de forma totalmente independente, nada deixa a desejar em relação às publicações de grandes selos editoriais: a obra possui um projeto gráfico primoroso, impressão de extrema qualidade, e uma ilustração divina e fortemente convidativa em sua capa, de autoria do desenhista Asdrubal Fabris. No entanto, é no conteúdo que O Caminho dos Excessos mostra a que veio. O livro reúne trinta e dois contos autênticos e audaciosos, que versam sobre uma vida perturbadoramente familiar, repleta de exageros e insuficiências. As drogas, o sexo e o ímpeto (auto) destrutivo, inerente a todos os seres humanos, estão lá. Mas também há cólera, há dor, há conflitos pessoais, emocionais, sociais, e um desejo constante e irrefreável de tirar da vida o que a vida tem de melhor e mais imaculado. Aquilo que será capaz de saciar nossa fome e nossa sede de tudo o que não podemos comer nem beber. Os contos são todos escritos em primeira pessoa, de modo que se colocar no lugar dos personagens torna-se tarefa simples, apesar de desconfortável. Simples, porque reconhecer-se em seus sentimentos e aflições é natural, uma vez que nossas amarguras e pretensões são mais parecidas do que gostaríamos que fossem – por esta razão, a identificação é espontânea. Desconfortável porque O Caminho dos Excessos nos coloca em contato com um lado de nossa personalidade que nem sempre queremos enxergar; que dirá assumir. Falo daquela parte insaciável, geniosa, faminta e constantemente sedenta, que nos faz sentir um vazio dolorido todo dia. O que também colabora para que tenhamos mais indulgência no momento de questionar, e até mesmo condenar, os personagens inventados (ou deveria dizer retratados?) por Zeka Sixx. As decisões e atitudes que tomam, por mais duvidosas e cruéis que nos pareçam, poderiam perfeitamente ser as nossas atitudes e decisões – e talvez só não sejam porque ainda não tivemos coragem de olhar para dentro, fechar os olhos, e se deixar mergulhar no poço sem fundo que somos. Zeka Sixx não parece ter medo de ser julgado pelo que escreve, pelo que acredita, e muito menos pelo que vive e experimenta. O que dá vida própria para sua literatura, além de personalidade, legitimidade e força. Não há em O Caminho dos Excessos qualquer tentativa de adequação – bem pelo contrário. É a inadequação, e um certo desajuste existencial, quem dá o tom e a cadência da obra, que gera ao mesmo tempo reconhecimento e desconforto; empatia e repulsa; enternecimento e fúria. Zeka bagunça nossos sentimentos, e nos faz conhecer sensações das quais costumamos fugir. Por medo e por conveniência. O Caminho dos Excessos é uma grata e pervertida surpresa em uma época de literatura industrializada, pasteurizada e irritantemente comportada. Zeka Sixx despenteou o cabelo, rasgou o terno e a gravata, jogou os sapatos de couro no lixo, e está deixando a barba crescer outra vez. Porque ele sabe que a literatura que não confunde, que não questiona, que não sacode até os ossos, não faz a menor diferença. E Zeka Sixx simplesmente se recusa a não fazer a menor diferença. Ainda bem. Assista ao book trailer de “O Caminho dos Excessos”, criado pelo artista gráfico Eduardo Rutkowski, a trilha sonora é da banda Rosa Tattoada: Mais informações sobre o livro em http://www.zekasixx.wix.com/ocaminhodosexcessos.

Para crianças que leem

A Pequenina e o Fantástico Baile Estelar, novo livro de Tael de Araújo, pergunta aos pequenos leitores: você está disposto a lutar pelos seus sonhos? Certa noite, Tael de Araújo, pseudônimo do escritor goiano Israel Teles, percebeu que sua filha observava atenta o móbile, com a lua e algumas estrelas, que girava sobre seu berço ao som de uma melodia. Foi quando surgiu a ideia que alguns meses depois resultaria no livro A Pequenina e o Fantástico Baile Estelar, lançado recentemente em formato e-book. Voltada ao público infantil, a obra conta a história de Zazá, que observa do seu berço a noite pela janela de seu quarto, enquanto tenta descobrir um jeito de alcançar a lua e as estrelas. Sem encontrar uma solução, mas sem desistir do que quer, a pequenina acaba adormecendo, e é sonhando que consegue o que parecia impossível até então. Zazá adentra um salão, onde a lua e as estrelas a recepcionam e a convidam para um fantástico baile estelar. As ilustrações da obra, também de autoria de Tael de Araújo, possuem traços simples, nada perfeccionistas, que se aproximam e criam uma identidade imediata com o leitor, que reconhece seus próprios traços nos traços do autor. Interessante a maneira como Tael de Araújo escreve para um público muito jovem  sobre a importância de não desistir do que se quer, utilizando o sonho como uma alternativa viável para alcançar nossos objetivos. Se for verdade o que diz aquele ditado – “Se podemos imaginar, então podemos realizar” – o caminho parece ser este mesmo. Outro mérito do livro é a linguagem simples, porém honesta e direta, com a qual o autor conversa com seus leitores. Ao contrário de muitos livros infantis que já tive a oportunidade de ler, Tael de Araújo respeita a capacidade de raciocinar que toda criança possui. A obra instiga a pensar, a imaginar, colocando o pequeno leitor no lugar de Zazá. Eu acredito, e creio que Tael de Araújo também acredite, que é na infância que arraigamos princípios e conceitos que levaremos pela vida inteira. E estas verdades permearão nosso futuro, nossas escolhas, e as pessoas que seremos: eis a importância da infância, e de passar aos pequeninos valores que, ao invés de um fardo, serão uma libertação. A literatura possui um papel importante nessa formação de personalidade individual. É o combustível e a mola propulsora que ativa as engrenagens de nosso cérebro, e nos ensina a pensar com a nossa própria cabeça. E quando a literatura deixa de ser somente entretenimento, e passa a ser motivo de reflexão, de indagação, de imaginação, ela cumpre integralmente seu papel, e promove mudanças reais na vida do leitor. Mudanças talvez imperceptíveis, mas fundamentais para a evolução da espécie. E daí não importa se o leitor tem sete ou setenta anos: a literatura deve tirá-lo do lugar onde ele confortavelmente se encontra. O primeiro e-book de Tael voltado ao público infantil, A Incrível Fábrica de Lagartos, tal qual A Pequenina e o Fantástico Baile Estelar, também interage e trata o leitor com respeito e honestidade. Instiga os pequenos a pensar, e cria com eles uma conexão natural e amistosa. O fato de o livro ser lançado em formato digital, e possuir booktrailer, trilha sonora, e uma série de possibilidades de intercâmbios sociais, somente facilitam esse vínculo, estimulando o leitor de diferentes maneiras. A tecnologia se torna aliada da literatura, e passa a acrescentar na relação leitor/autor e obra – como deve ser. O e-book está disponível para download gratuito no site www.taeldearaujo.com.br. Seu booktrailer pode ser visto em http://youtu.be/CpY2AUmkmb0. Já a música da obra, assim como sua animação, pode ser conferida em https://youtu.be/CpY2AUmkmb0.

Contos de Autoajuda para Pessoas Excessivamente Otimistas: um nocaute por página

Livros de autoajuda são destinados a um público bastante específico: o leitor melancólico, com tendências pessimistas e dificuldades para encontrar sozinho motivos para sorrir – ou simplesmente para não morrer de desgosto. Daí o nome: autoajuda. Você se (auto) beneficia lendo frases otimistas, cheias de esperança e reconforto. “Ser feliz só depende de você”, “Nunca desista dos seus sonhos”, “Sorria perante as dificuldades”. São conclusões simples e talvez até simplórias, mas que, quando consumidas por um leitor mais sorumbático, possuem um efeito transformador. E assim, livros deste gênero costumam figurar entre as obras mais vendidas do país. Justamente por isso, o livro de estreia do escritor mineiro Luís Fernando Amâncio chamou minha atenção já no título: Contos de Autoajuda para Pessoas Excessivamente Otimistas (Ed. Literacidade, 2014, R$25.90). Ora, por que raios pessoas otimistas precisam de um livro de autoajuda? Foi o que eu pensei. Afinal, estas obras existem para que pessoas excessivamente pessimistas se tornem, na medida do possível, excessivamente otimistas. Correto? Sim e não. Pois conforme o autor deixa claro já nos primeiros contos de seu livro, o excesso de otimismo pode ser tão nocivo e doentio quanto o excesso de pessimismo. O que faz sentido. Contos de Autoajuda para Pessoas Excessivamente Otimistas reúne contos e microcontos que tratam da condição humana vista sob uma nova ótica: a do sarcasmo e a da descrença. Levantando temas cotidianos e situações aparentemente comuns, Luís Fernando mergulha com habilidade e desenvoltura no lado sombrio e ambíguo da nossa psique, mostrando que, não importa quantos livros de autoajuda sejam vendidos: o ser humano ainda se mantém agarrado em sua origem patética e essencialmente egoísta. Fica claro em cada uma das 56 páginas da obra que Luís Fernando Amâncio é um observador atento e perspicaz – e como todo bom observador, percebe a beleza e a leveza da vida, das coisas e das pessoas. Mas também apreende suas nuanças questionáveis, seus recalques, seus traumas, seus medos e sua impertinência. O cômico e o trágico – irmãos gêmeos que são – passeiam livremente pelos 28 contos que compõem a obra, e tornam suas histórias temperadas, instigantes e, acima de tudo, convincentes. Sua narrativa é curta e certeira – um nocaute por página. Não sobra e nem falta nada em seus contos. A escrita de Luís Fernando flui em um ritmo veloz e divertido, e em cada história há um lugar para o leitor. Sabendo que não se faz literatura sozinho, o autor divide com seu leitor as rédeas de sua obra. Ademais, Luís Fernando possui uma característica que, pessoalmente, admiro e respeito muito: o humor e a fina ironia – que não são para quem quer, mas para quem sabe. E é através desta índole literária debochada que Luís passeia livremente, ora flertando com o otimismo, ora com o pessimismo. Neste espaço entre o positivo e o negativo o autor encontrou o seu compasso, e a medida exata e sensata de suas palavras. E é por isso que Contos de Autoajuda para Pessoas Excessivamente Otimistas não é um livro apenas para pessoas excessivamente otimistas. Trata-se de uma obra para todos que apreciam a boa literatura, sem frescuras nem enfeites. Para quem sabe que o ser humano é complexo e caótico demais para ser convertido apenas com palavras bonitas e inspiradoras. Afinal, é exatamente esta complexidade e este caos que nos tornam interessantes. E ignorar os mecanismos que forjam nossa personalidade seria ignorar a riqueza de nossa individualidade, empobrecendo o que nos torna humanos. E únicos. Luís conhece e reconhece esta complexidade e este caos, pois emergiu deles. E através de seu livro de estreia levanta mais perguntas do que respostas, induzindo seu leitor a avaliar se é o otimismo ou o pessimismo que pode nos colocar frente a frente com a nossa própria natureza. Um livro para quem não tem medo de mergulhar na mente humana, nos seus exageros, nas suas contradições e caprichos. Por que pessoas excessivamente otimistas também precisam de um livro de autoajuda para não se esquecerem de quem são, e de onde vieram.   * Adquira seu exemplar no site www.doproprioautor.lojaintegrada.com.br/contosdeautoajuda.

Artesão das Palavras: um livro escrito para o leitor e pelo leitor

Já li muitos livros de crônicas, dos mais diferentes escritores, das mais distintas nacionalidades. E algo que percebi, em grande parte deles, foi a forma impositiva e até agressiva de alguns autores ao apresentarem suas ideias e opiniões. Como se, quem pensasse diferente, não fosse digno sequer da honra de lê-los; que dirá de ter do escritor respeito e consideração. Este detalhe sempre me incomodou em obras que compilam crônicas. Pois acredito que o papel do escritor é levantar temas importantes, sim, e dar sua opinião também, é claro; mas nunca impor suas ideias e percepções ao leitor de maneira impetuosa e quase violenta, coagindo-o a engolir seus pensamentos, mesmo que na marra. Sob o meu ponto de vista, a intransigência em suas opiniões apenas afasta o escritor de seu principal objetivo: tocar quem se dispõe a ler sua obra, e fazer de fato diferença em sua vida. Por isso, foi com certa ressalva que iniciei a leitura da obra Artesão das Palavras, do escritor paulista Luiz Valério de Paula Trindade (www.luizvalerio.com.br), que reúne crônicas versando sobre os mais variados temas cotidianos, como felicidade, escolhas, inspiração, lágrimas, beleza, vida digital e  envelhecimento. No entanto, o que encontrei nas 122 páginas que integram sua obra foi um escritor que soube, como poucos, desenvolver empatia pelas pessoas, pelos leitores, e pelos problemas e questões que os afligem. E foi por conta desta empatia e sensibilidade que a obra Artesão das Palavras me conquistou já nas suas primeiras páginas: ela nada impõe; apenas apresenta, e assim alcança a façanha de estabelecer com o leitor um diálogo consistente e interessante. Luiz Valério de Paula Trindade não escreve para si mesmo, com o único objetivo de convencer-se do que diz, ou de reafirmar suas convicções. Muito menos tenta persuadir o leitor, impondo contundentemente o que acredita e o que deixa de acreditar. Pelo contrário. Fica claro que seus textos foram construídos para o leitor, mas, principalmente, pelo leitor. E talvez venha daí a impressão de que, ao invés de apenas engolir as opiniões do autor, conversamos com ele. Há, ainda, uma certa humildade e benevolência na forma como Luiz Valério apresenta suas opiniões, sempre deixando um espaço para contestações e novos pontos de vista, o que demonstra uma personalidade literária alicerçada pela percepção e compreensão das aflições humanas, que fazem parte de todos nós. E é por isso que seus textos não terminam após o ponto final. Eles continuam a crescer e florescer na cabeça do leitor, permitindo que cheguem a novas conclusões, acrescentando e enriquecendo o texto original. Ademais, existe um otimismo perseverante que permeia toda a obra. Todavia, não se trata de um otimismo fantasioso, irreal e oco, mas um otimismo que nasce da observação do próximo, e da maneira como interpretamos e digerimos a vida que complica-se e descomplica-se para todos nós, dia após dia. No entanto, não se engane! Nada de confundir a obra Artesão das Palavras com um livro inocente e ingênuo, beirando a auto-ajuda. Nada disso! Luiz Valério não foge de temas mais complexos e indigestos, como as relações virtuais que estabelecemos, e que parecem sobrepor-se aos nossos relacionamentos reais e cotidianos; o materialismo; a busca frenética, dolorosa e irracional pela perfeição; e até a maneira cruel como, muitas vezes, julgamos a vida e os outros pela embalagem. O autor ainda realiza uma crítica social sobre os nossos comportamentos e atitudes como cidadãos, e parece não temer quem discorda ou pensa diferente. Ao contrário: chama-os para a conversa. É, aliás, impressionante como o autor conseguiu reunir em sua obra temas de cunho tão diferentes, capazes de tocar e interagir com pessoas de personalidades distintas e até opostas. Luiz Valério, sem dúvidas, é alguém capaz de analisar e interpretar a vida de maneira singular e generosa, e – mais do que isso – de transpor essas ideias para o papel de forma clara, objetiva e criativa, permitindo alcançar leitores tão diferentes quanto os temas que abordou em seu livro de estreia. É visível e perceptível o esmero e o cuidado do autor ao escrever cada texto. E talvez seja justamente por isso que seu livro chama-se Artesão das Palavras. A ideia de artesanato contrapõe o conceito de produção em série, irracional e automatizada, acelerada e superficial que, infelizmente, percebe-se em muitas das obras literárias que vemos atualmente. Como se não houvesse tempo para refletir, apenas para escrever. Por conta disso, todos os dias temos acesso a textos que, claramente, não passaram por qualquer avaliação crítica do próprio autor, e onde as palavras parecem apenas despejadas no papel, sem nenhum aprimoramento. Artesão das Palavras não se trata de um livro bruto. É, sim, um livro profundo e cuidadosamente lapidado. Uma obra que conversa com o leitor, e cria com ele uma conexão imediata.

A Mão de Celina e a maturidade literária de um jovem escritor brasileiro

Era 11 de junho de 2014 e o escritor gaúcho Jeremias Soares se preparava para o lançamento de seu segundo livro, que aconteceria durante a 30ª Feira do Livro de Canoas/RS, a segunda maior do estado. Enquanto a maioria dos brasileiros se ocupava com a abertura da Copa do Mundo, que ocorreria no dia seguinte, Jeremias só pensava em como seria a recepção e a reação dos leitores em relação à sua nova obra, A Mão de Celina (Ed. Os Dez Melhores, 248 páginas, R$35). Afinal, após o lançamento bem-sucedido de seu primeiro livro, O Sobrado da Rua Velha, publicado em 2012 – e que já vendeu mais de 300 exemplares – as expectativas eram grandes, como tinham de ser. E hoje, menos de 120 dias após o lançamento de seu segundo livro, Jeremias tem motivos para comemorar. E muito. Quase um terço da tiragem inicial já foi comercializado, e as perspectivas continuam lá em cima. A obra recebeu excelentes críticas de blogs literários, como Leitor Sagaz, Letras In. Verso e Re. Verso, La Parola, Livros Românticos, The Serial Reader, e-Cult e ABCD dos Livros. Além de tudo, não se passou um dia desde seu lançamento em que pelo menos um exemplar do livro não fosse vendido. O romance A Mão de Celina conta a história de Edu, Celina e Jana, três jovens que se envolvem formando um triângulo amoroso cáustico e problemático. E não haveria nada de novo nesta história, caso este romance não fosse um romance sobrenatural, e caso um dos três lados deste triângulo não estivesse morto. Por que Celina, após ser fatalmente vitimada por uma doença grave e sem cura, resolve voltar da morte para assombrar a nova história de amor de seu ex-namorado, Edu. Esta mistura de paixão, morte e assombração caiu no gosto dos leitores – especialmente do público fã da literatura young adult (ou jovem/adulto, também conhecida como YA-Lit). A literatura young adult, aliás, vem crescendo e se popularizando no Brasil ano após ano, e se diferencia da literatura infantojuvenil por deixar de lado a ingenuidade dos protagonistas, concentrando-se em temáticas mais maduras e controversas. E este talvez seja um dos maiores méritos do autor: Jeremias Soares conseguiu contar uma história de terror e suspense que entretém, mas, ao mesmo tempo, aprofunda-se em questões complexas como a vida após a morte, o suicídio, a violência doméstica e, principalmente, o nosso medo em relação ao desconhecido. Se em seu primeiro livro, O Sobrado da Rua Velha, o autor deixou bem claro qual o espaço que pretende ocupar no cenário literário e editorial brasileiro, em A Mão de Celina, Jeremias consolida-se como um nome forte e relevante para o futuro da literatura nacional: – Neste intervalo, amadureci como pessoa e autor. Os comentários positivos que O Sobrado da Rua Velha recebeu me encheram de confiança para prosseguir. Já os comentários negativos foram anotados e usados para me aprimorar. Mas ainda tenho muito para evoluir. Mantenho os dois pés no chão, e sei que quem vai julgar o meu trabalho são os leitores – afirma o autor. E é justamente através desta clareza, e de sua sensibilidade e percepção, que Jeremias Soares está construindo, de maneira sólida e legítima, sua carreira. Para o futuro, os planos já estão definidos: – Trabalhar muito em cima da divulgação de A Mão de Celina, e dar vida a uma história que está em minha cabeça. Ela deve reunir o melhor dos meus primeiros dois livros. Vamos ver o que vai sair. De nossa parte, Jeremias, só nos resta dizer boa sorte.    

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