Zona Curva

Cultura

O jornalista e escritor Fausto Wolff escreveu: “cultura é arma de defesa pessoal”, esse é o guia dos textos aqui publicados.

Antônio Maria em Vento Vadio

Antônio Maria – Nas frases cômicas, nos textos humorísticos, Antônio Maria é como Garrincha. Imaginamos o lado para o qual ele vai dar o drible, mas ainda assim somos enganados. Porque ele é imprevisível “Com vocês, por mais incrível que pareça, Antônio Maria. Brasileiro, cansado, 43 anos, cardisplicente (isto é: homem que desdenha do próprio coração). Profissão: esperança”. Assim terminava a crônica “Evangelho, segundo Antônio”, em 23/07/1964, último ano de vida do gênio da crônica brasileira. Na frase estava também o mote do grande espetáculo “Brasileiro, profissão Esperança”, com Paulo Gracindo e Clara Nunes, que percorreu com sucesso todo o Brasil em 1973, repleto de canções de Dolores Duran e textos e canções de Antônio Maria. Mas agora, com duas boas notícias. A primeira delas é que o pesquisador Guilherme Tauil, na antologia “Vento Vadio”, reuniu 185 textos de Antônio Maria, a maioria só publicada em jornais e revistas. Para mim, é um dos melhores livros de 2021. E continua a ser neste começo de 2022 e próximos. A segunda boa notícia, ou dizendo melhor, a ótima notícia, são as próprias crônicas do escritor que cantava “sou do Recife com orgulho e com saudade, sou do Recife com vontade de chorar”. A primeira vez em que o li foi no livro “O jornal de Antônio Maria”, que conheci no ano da desgraça da ditadura em 1970. Esse era o meu volume guardado e resguardado em um quarto de pensão, com risco até de ser reimpresso em um mimeógrafo, que mal se escondia debaixo da cama. Mas desta vez, de outra maneira o encanto permanece. Na altura da leitura deste “Vento Vadio”, estamos maduros para duas ou três observações. Hoje, podemos ver que Antônio Maria envelheceu muito cedo. Quero dizer, ele escreveu como se fosse um homem da idade de mais de 70 anos sobre o Recife da sua infância e juventude. No entanto, ele estava com apenas 30 anos de idade! Nele há crônicas que são verdadeiras Evocações, como seria a imortal Evocação número 1 de Nelson Ferreira: Não à toa Antônio Maria pôs nomes nos seus lindos frevos de Frevo número 1, Frevo número 2, Frevo número 3. E um dado curioso do seu gênio: ele antecipou as Evocações de Nelson Ferreira, que compôs a Evocação número 1 em 1956, enquanto o Frevo número 1 vem de 1951. Mas aqui importa mais a sua prosa poética. Antônio Maria fez mais que evocar. Invocou para sempre: “Não se pode fazer ideia do que era o povo do Recife, solto nas ruas do Recife, após a declaração irreversível de Carnaval. Faziam parte da corte imperial mulheres morenas, que suavam, em bolinhas, na boca e no nariz. Mulheres de olhos ansiosos, presas de todos os atavismos de religião e dor, a dançar a mais verdadeira de todas as danças – o frevo. Ah, de nada serviam suas heranças de submissão, porque o despontar do Carnaval era um grito de alforria. E seus corpos, seus braços, seus pés teriam sido repentinamente descobertos, assim que os clarins do Batutas de São José romperam o silêncio a que os humildes eram obrigados. Tão louca e tão bela aquela dança! Uma verdade maior que as verdades ditas ou escritas saía dos seus quadris até então bem-comportados”. Na leitura das suas crônicas, sobe na gente uma enganosa sensação de que Antônio Maria escreveu seus melhores textos na idade de 70 anos, quando na verdade possuía menos de 40. Notem: “As pessoas quando chegam à nossa idade, perdem o direito aos receios e às aflições. É uma pena. Os medos e as agonias, tão graciosos, só são permitidos até os quarenta anos. Depois disso, apenas se nos permitem as esperanças. Qualquer esperança. Todas”. Este Vento Vadio, pelas datas que registra ao pé dos textos, revela que desde os 32, 33 anos, Antônio Maria escreveu como se fosse um autor mais idoso. Seria isso uma precognição da morte súbita aos 43 anos? Uma intuição de que sua vida terminaria em pleno vigor das forças intelectuais? O fato é que ele escrevia como um idoso pela saudade distante do Recife, uma distância que era mais do tempo sentido que separação geográfica. Um idoso pelas observações que fazia como um homem que estivesse perto do fim da vida. E estava! Nele há crônicas que devemos ler 2 ou 3 vezes, reler um mesmo parágrafo. É que existe nos textos um significado oculto às vezes, um sentido entrevisto, uma frase não escrita de modo claro, que será revelada na 3ª. leitura, se possível. Mas fica sempre um sentido de humanidade velada. Como na crônica sobre Elsie Lessa (mãe de Ivan Lessa e esposa Orígenes Lessa), ou sobre Caymmi em “O Violão”: “Caymmi está dizendo que ‘no Abaeté tem uma lagoa escura, arrodeada de areia branca’. Que ‘o luar prateia tudo, coqueiral, areia e mar’. Uma mulher, com muita razão, fecha os olhos, prende o ar da respiração, aperta com os dedos o maço de cigarros que ainda continha cigarros. Caymmi está em São Paulo, cantando num bar. Em sua volta, há um justo silêncio cometido por mulheres de olhos fechados”. São crônicas que a gente não quer parar de ler. Eu fiquei contando o que faltava no volume de 491 páginas. Retardando a marcha, a andadura. Como poderia seguir veloz diante da crônica “Joaquim e sua rua”, sobre Joaquim Cardozo, o poeta raro e discreto, a passar pela calçada? “Então, com que idade Joaquim Cardozo passeava, ‘lento e longo’, à porta da nossa casa na Rua da União? Todas as tardes, vinha da Rua da Aurora, caminhava o primeiro quarteirão da Rua Formosa, virava a esquina da venda de seu Fábio, atravessava a calçada e ia para sua casa, que era terceira depois da nossa. Tudo isso ‘lento e longo’, como descobriu João Cabral de Melo Neto. Eu o conhecia de ar e de nome, sabia-o irmão de Mariana e sempre lhe adivinhava alguma coisa dentro da vida, assim como um tesouro. Mas, como criança não sabe de nada com palavras

Documentário sobre Leila Diniz apresenta atriz para os jovens

Bem-vindo ao Fatos da Zona, em que adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. Neste vídeo, visitamos emocionados a memória da grandiosa Leila Diniz. Abordamos a história dessa figura icônica que enfrentou os costumes impostos pela ditadura e reformulou o que era esperado das mulheres de sua época.       “Já que ninguém me tira pra dançar”, dirigido por Ana Maria Magalhães, abriu o 54° Festival de cinema de Brasília no dia 7 de dezembro  O longa reúne entrevistas e gravações inéditas, resgatando a participação de Leila Diniz na cultura brasileira e na luta feminista durante os anos mais duros da ditadura militar. O documentário também revela seu modo libertário de ser e agir em uma época que inspirou avanços culturais e comportamentais no mundo inteiro. Leila Diniz foi porta-voz de uma geração censurada, conquistando assim o amor de muitos, mas também a desaprovação dos reacionários e os hipócritas defensores da moral, principalmente após o episódio em que Leila posou de biquíni na praia de Ipanema  grávida de oito meses. Era de fato mulher à frente do seu tempo, falava abertamente sobre tudo, incluindo sua sexualidade. Assim como as divas Janis Joplin e Amy Winehouse, Leila Diniz morreu aos 27 anos em um acidente de avião na Índia, quando voltava de um festival de cinema na Austrália, onde recebeu o prêmio de melhor atriz. “O filme mostra o modo de ser e viver dos artistas e das jovens brasileiras nos anos 60, plenos de entusiasmo e ingenuidade. As novas gerações não sabem quem foi Leila, atriz que valorizou a verdade, a liberdade e o amor, porque acreditava que as pessoas podem realizar as suas melhores potencialidades e não as piores”, diz a diretora e amiga pessoal de Leila, Ana Maria Magalhães, segundo release distribuído à imprensa. A diretora também lembrou do retrocesso que vivemos atualmente no que tange aos direitos femininos, que, apesar de serem amplamente difundidos e os protestos feministas tomarem as cidades, ainda enfrentam tempos sombrios. O longa conta com depoimentos de estrelas como Betty Faria, Cláudio Marzo, Paulo José e Marieta Severo. O filme estreia na integra no streaming da plataforma Itaú Cultural Play no dia 15 de janeiro Toda mulher é meio Leila Diniz* Viva Pagu “O grande recado da Leila era o amor”, afirma Ana Maria Magalhães      

“A língua de sinais é completa,” afirma Jadson Nunes, intérprete de LIBRAS

Colaboração de Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu no dia 2 de dezembro o tradutor e intérprete de Libras Jadson Nunes. Em um bate papo esclarecedor, ele deu uma aula sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), seu surgimento e sua importância social. Estavam presentes também o editor Zonacurva Fernando Do Valle, Luciana Rodrigues da Escola do Parlamento de Itapevi e o editor do Vishows Luís Lopes. Nunes conta que a LIBRAS surgiu no Século XIX quando D. Pedro II convidou o francês Ernest Huet para ensinar surdos no país. Assim foi criado o Instituto Nacional da Educação de Surdos, que está ativo até hoje, e é referência na língua de sinais no país. É comum que muitas pessoas confundam a LIBRAS como uma linguagem em vez de uma língua própria, explica Nunes. “A língua portuguesa, por exemplo é composta por muitas linguagens, mas não é só isso, conta com regras gramaticais, acordos ortográficos, entre outros”, completa.  Nunes afirma que a LIBRAS é uma língua completa com gramática específica e conta com sujeito, verbo e objeto, tendo suas especificidades em cada região do país, assim como os sotaques que temos na oralidade.  Mesmo a LIBRAS sendo um sinal de inclusão, é necessário compreender as especificidades das pessoas com deficiência (PCD). Há uma dificuldade para pessoas que perderam a audição ao longo da vida aprenderem LIBRAS, considerando que elas sempre utilizaram a língua portuguesa e a linguagem oral, esclarece Nunes.  Sendo assim, existe uma diferença entre surdos e deficientes auditivos. O primeiro grupo costuma se identificar com a cultura surda, se comunicar através da linguagem de sinais e interagir com a comunidade. Já os deficientes auditivos geralmente falam português e não sabem LIBRAS, segundo Nunes.  Essas especificidades também se aplicam a outros temas como os aparelhos auditivos e o Implante Coclear. Para Nunes, essas alternativas muitas vezes são vendidas como soluções milagrosas, quando na verdade não funcionam tão bem para as pessoas que já nasceram com a deficiência, considerando que, por aumentar a sensibilidade auditiva, faz com que a pessoa ouça muitos barulhos e ruídos que não eram conhecidos anteriormente.  Então, de forma abrupta, a pessoa que começou a utilizar o aparelho ou fez o implante começa a ouvir barulhos como o do relógio, o ruído dos talheres ou o soar da campainha.  Nunes também explicou sobre a importância de usarmos os termos certos. É muito comum ouvirmos a expressão “surdo-mudo” o que é um grande equívoco. “Nem todo surdo é mudo, a mudez vem do dano na corda vocal, assim ele não emite nenhum som, já o surdo consegue sim emitir som, e até falar, ele só não fala porque ainda não aprendeu” diz.  Este aprendizado vem através do trabalho com o fonoaudiólogo, e deve ser estimulado diariamente ainda quando criança. Nunes salienta que não é um caminho fácil, requer muito treino e prática, mas é totalmente possível. Outras expressões comuns são “deficiente” e “pessoa portadora de deficiência”, porém ambas são preconceituosas e capacitistas. Quando se diz “deficiente” se considera apenas a sua condição, ignorando todo o resto, como sua história de vida por exemplo. Já o termo “portador de deficiência” está incorreto pois PCDs (pessoas com deficiência que é o termo correto) não portam nada, visto que algo que é portado pode deixar de ser, e não tem como uma pessoa com deficiência deixar sua deficiência quando quiser.   BENBAR AGOSTO LARANJA  

Conversa ao vivo com o jovem cantor Shibas

Com colaboração de Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu o cantor e compositor pernambucano Bruno Shibas no dia 21 de novembro. O papo marcou o primeiro aniversário do programa no Youtube e contou com a presença do editor Zonacurva Fernando do Valle e do editor do Portal Vishows, Luis Lopes. Em conversa descontraída, Shibas contou sobre a sua relação com a música, suas inspirações e apresentou um pocket show.  Além de músico, o pernambucano Shibas mudou-se para Salvador para estudar no curso de tecnologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Ele expressou sua angústia em relação aos cortes feitos na universidade.  O desmonte do ensino superior realizado pelo governo federal fez com que Shibas e outros alunos, mesmo que aprovados, não conseguissem iniciar suas aulas. Outros não conseguiram nem se matricular nas matérias necessárias.  O cantor conta que durante a pandemia começou a compor, antes disso, ele sentia que tocava apenas como diversão, sem refletir sobre isso. Mas durante o distanciamento social, teve a oportunidade de experimentar e encontrou a escrita como forma de catarse naquele difícil momento. Shibas admite que o atual governo o inspira a compor, o que o ajuda a colocar para fora suas aflições. Shibas apresentou duas músicas autorais durante o Conversa ao vivo: “Mostre a que veio”, que fala sobre o valor da vida e das coisas boas que há nela, e “Mergulho no lago verdade” que aborda questões sobre autoconhecimento. O cantor também apresentou canções de outros artistas que é fã como Chico Science e Sergio Sampaio, o último ele conheceu através das músicas de Raul Seixas. Iniciado no mundo musical pela família, foi o avô, que também canta em bares em Boa Viagem em Recife, quem apelidou o cantor de Shibas pela primeira vez, já seu pai compôs músicas que foram gravadas na voz do filho em seu novo álbum que será lançado em janeiro de 2022. Jovem cantora Maluk Yeey produz músicas autorais baseadas em experiências pessoais 10 músicas contra a ditadura militar    

Clemente: o movimento punk nunca há de morrer

Com colaboração de Isabela Gama Clemente – O CONVERSA AO VIVO ZONA CURVA recebeu, no dia 25 de novembro, Clemente Nascimento, vocalista da banda Inocentes e vocalista/guitarrista da Plebe Rude. Em entrevista ao editor Zonacurva Fernando do Valle e editor do Vishows Luis Lopes, o músico afirmou que a morte de jovens negros da periferia faz parte da política pública de extermínio realizada pelo Estado brasileiro. Ele relembrou as mortes ocorridas em um mangue em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, provocadas por ação policial em vingança à morte de um sargento de polícia. Segundo moradores da região, havia marcas de torturas nos corpos que foram encontrados, já a Polícia Militar se justifica, como de costume, que todos eram envolvidos com o tráfico de drogas. Clemente afirma que tinha um “x” nas costas por ser negro e punk. “O show das bandas punk acabava quando a polícia chegava” afirma com humor e sua inconfundível gargalhada. Clemente conta que o movimento punk começou na periferia como forma de ir na contramão do rock tradicional, mas o estilo começou na raça e cresceu pela solidariedade entre as bandas. Ele conta que, ao contrário da maioria dos punks da época que foram se politizando e alargando sua formação cultural aos poucos, ele havia lido autores como George Orwell e Albert Camus. Segundo ele, foi quando o movimento punk chegou no meio universitário e na classe média que ganhou uma veia mais ideológica. Clemente explica que as bandas com integrantes de nível universitário tinham acesso a melhores equipamentos musicais e conheciam, por exemplo, em teoria o anarquismo, parte do ideário punk. Clemente relembra que o rock foi a trilha sonora para o Brasil dos anos 80 que vivia a reabertura política após 21 anos de ditadura militar. A popularidade do rock foi caindo após isso, mas Clemente não se mostrou saudosista, e diz compreender que atualmente os jovens não tenham o mesmo interesse como tempos atrás, o rap, por exemplo, é o gênero musical mais ouvido pelos jovens atualmente, e muitas de suas letras carregam tom crítico e de denúncia sobre a sociedade, assim como parte do rock fazia e ainda faz. Para ele, um dos motivos para o rock ter se mantido na bolha dos fãs mais velhos é a falta de lugares e oportunidades para que novas bandas possam se apresentar. Ele cita as rádios de rock como a 89 FM e a antiga MTV como canais importantes para a divulgação de novas bandas. Atualmente, Clemente apresenta o programa Filhos da Pátria na Kiss FM.  O beat William Burroughs e o rock Essa falta de divulgação da mídia atual faz com que Clemente e outros artistas sejam quase que inteiramente responsáveis pela divulgação de seus trabalhos, ele conta que muitas vezes é abordado como se sua banda Os Inocentes estivesse em um hiato ou acabado de vez, quando na verdade a banda continua na ativa desde os anos 80. Em comemoração ao aniversário de 40 anos dos Inocentes, completados este ano, a banda realizará um show no Studio SP, em 17 de dezembro.  60 anos e o rock’n’roll fica sex Jovem cantora Maluk Yeey produz músicas autorais baseadas em experiências pessoais Jão e os 40 anos do Ratos de Porão    

A luta da atriz Nicole Puzzi contra os caretas desde os anos 70

Com colaboração de Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA contou com a presença da atriz e apresentadora Nicole Puzzi no dia 12 de novembro. Em um bate-papo descontraído com o editor Zonacurva Fernando do Valle, a secretária de redação Zonacurva Lilian Dreyfuss e o editor Vishows Luís Lopes, a atriz criticou o retrocesso que o país enfrenta com o atual governo.  Ao comentar sobre sua carreira, Puzzi contou que atuou com diversos nomes de peso no cinema brasileiro como Antônio Fagundes, José Wilker, José de Abreu e Lúcia Veríssimo, mas, segundo ela, apenas ela ficou estigmatizada como a atriz de pornochanchada. Ela explica que o termo pornochanchada foi criado por dois críticos com a intenção de difamar e tirar audiência do cinema nacional. O que posteriormente deu certo, ainda hoje as obras realizadas na região da área central da cidade de São Paulo, que foi apelidada de Boca do Lixo, são tachadas de obras de baixo nível cultural. A vida artística de Nicole foi marcada pelo preconceito e o machismo, principalmente por comentários realizados por outras mulheres, que segundo a atriz, eram os que mais a machucavam. Entretanto, ela ressalta que escolheu a carreira de atriz porque sempre foi apaixonada pela profissão.  Segundo Puzzi, não havia assédio nas gravações dos filmes da chamada Boca do Lixo, mas sim na televisão, em que que situações de importunação sexual eram frequentes. Feminista desde os anos 70, a atriz, que também apresenta o programa Pornolândia no Canal Brasil, ressalta a importância da luta das mulheres da sua época para a conquista de direitos das mulheres atualmente. Ela afirma que a libertação sexual do século 21 começou com o progresso de certos direitos femininos nas décadas de 70 e 80. A pílula anticoncepcional e o ativismo da comunidade LGBTQIA+ e de figuras populares como Cazuza também ajudaram para o avanço da liberdade sexual da mulher.  Mas, Puzzi lembra, que, durante os anos 90, com a ascensão da igreja evangélica se iniciou um certo retrocesso em relação a isso e centenas de pessoas quiseram impor suas crenças sobre essas mulheres. A eleição de Bolsonaro vem nessa toada no sentido de conter o progresso obtido pelas minorias ao longo dos governo Lula e Dilma. Para Puzzi, com a eleição de 2018, a tragédia chegou e todos puderam expor seu pior lado de muito preconceito e ódio, já que agora o próprio chefe de estado representa essas pessoas. A atriz aponta que essa repulsa do governo em relação à comunidade LGBTQIA+ nada mais é do que insegurança sexual. Essa insegurança, segundo ela, leva esses homens reacionários a defenderem com veemência a heteronormatividade e a só confiarem e indicarem homens, em sua grande maioria, para os cargos públicos, colocando a mulher em papel secundário. Mário Frias, atual ministro da cultura, também foi alvo de críticas da atriz. Segundo ela, Frias é um péssimo ator e tinha pouca visibilidade no ramo artístico. O ressentimento do ator se mostrou na hora que virou secretário da Cultura e se tornou responsável pelo desmonte do apoio do governo federal ao setor. “Ele retirou as leis de incentivo à cultura”, afirma. Atualmente, a atriz faz parte do grupo de teatro Satyros e estreia a peça “Aurora” ainda esse mês, no dia 25, e tem filmado com jovens diretores. Além disso, Puzzi prossegue com seu programa Pornolândia no Canal Brasil e se diz em momento de extrema felicidade em sua carreira.  O filme que o Brasil não podia ver  

Filme Marighella mobiliza a esquerda na volta do cinema

Marighella – Nesta quinta  (dia 4 de novembro) estreia o aguardado filme Marighella, dirigido por Wagner Moura. O filme autobiográfico do inimigo número 1 da ditadura militar, apesar de ter sido aplaudido em pé no festival de cinema de Berlim em fevereiro de 2019, foi censurado pela Ancine (sua estreia foi cancelada pela agência em setembro de 2019 pela recusa da verba que possibilitaria a distribuição do longa), e assim penou uma via-crúcis de dois anos até sua exibição nas telonas brasileiras. O filme já foi exibido inúmeras vezes em festivais de cinema nas cidades de Berlim, Seattle, Hong Kong, Sydney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo e Cairo. A previsão da segunda data estreia ficou para novembro de 2019, mas segundo a Ancine, a produção do longa não cumpriu a tempo os trâmites para a liberação da verba que já havia sido usada e precisava ser ressarcida.  A estreia então foi adiada para maio de 2020, e depois para abril deste ano, por conta da pandemia. Já em agosto deste ano, o setor de análise técnica do órgão federal, encaminhou o lançamento comercial de Marighella para arquivamento. Em ritmo frenético de lançamento, Wagner Moura tem sido entrevistado por vários veículos de comunicação. Em duas entrevistas, tanto no Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda, e no podcast Lado B do Rio, ele afirmou que o governo federal se utilizou de trâmites burocráticos para censurar o filme.  Inspirado na obra “Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo” do jornalista Mário Magalhães, o filme traz a história de Carlos Marighella (interpretado por Seu Jorge) entre o início do período da ditadura até sua morte em novembro de 1969. Em entrevista ao Brasil de Fato , Moura conta que quis trazer o momento em que o militante decide entrar na luta armada. O guerrilheiro ingressou no movimento estudantil aos 23 anos na Escola Politécnica da Bahia. Em 1937, foi preso e torturado por fazer oposição a Getúlio Vargas e depois de atuar por pouco tempo na clandestinidade, foi preso novamente, mas agora por seis anos.  Com o fim do Estado Novo em 1945, foi anistiado e, no mesmo ano, eleito deputado federal pelo PCB. O clima polarizado da guerra fria colocou o partido comunista na ilegalidade e Marighella perdeu seu mandato, voltando assim para a clandestinidade. Mas em 1967, após três anos do golpe militar, o baiano resolveu romper com o PCB, que não concordava com a luta armada, e fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN). Antes da escolha de Seu Jorge para interpretar Marighella, o cantor Mano Brown foi o primeiro cotado para o papel, o que não aconteceu pela agenda atribulada de shows dos Racionais MC’s,  banda de Brown. Participam do filme também atores como Bruno Gagliasso como o delegado Lúcio, Luiz Carlos Vasconcellos dando vida ao militante Almir, Herson Capri interpretando o jornalista Jorge Salles, Adriana Esteves como Carla e a neta de Carlos e vereadora em Salvador Maria Marighella (entrevistada pelo Zonacurva). A ANL foi inspirada na vitoriosa revolução cubana e na guerrilha anticolonial que lutou pela independência argelina, explica Magalhães em live no canal Tutaméia . O grupo rompeu com a hierarquia vertical e tradicional dos demais grupos militantes. Um exemplo disso foi o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em que os membros da ANL não avisaram Marighella da ação. Essa estrutura horizontal inspira até hoje movimentos atuais como o Passe Livre. https://urutaurpg.com.br/siteluis/acao-mais-ousada-contra-o-regime-militar/ Em entrevista ao Brasil de fato, Moura conta que Marighella tentou não entrar na luta armada, o militante foi congressista enquanto põde, esteve no PCB durante anos, mas para ele a resposta para mudar a realidade do Brasil naquele momento era a Aliança  Libertadora Nacional.  E completa que o filme vem para disputar narrativa com o governo, a história de que ditadura militar foi uma “revolução” não pode ser aceita e o longa vem para mostrar a realidade da época.  Já Magalhães comentou na live no canal Tutaméia que, a identidade de Bolsonaro com a ditadura militar não é da boca para fora ,e tem consequências concretas para o país. O revisionismo histórico do presidente enfraquece a memória e a luta de pessoas que deram suas vidas pela democracia. Além disso, confunde algumas pessoas quando propaga que apenas “bandidos” foram mortos durante o regime.  Apesar da censura que sofreu, o diretor alertou em entrevista ao Canal Brasil do perigo da autocensura nesse período tão sombrio para a cultura brasileira, pois é isso é exatamente o que o governo deseja. Segundo Moura, a arte é uma das formas de resistência ao governo brasileiro. Ainda para o Brasil de Fato, o diretor contou que as produtoras ficaram receosas com o longa já no início na produção e que ele sabia que não seria fácil, ”é um filme do petralha falando de terrorista”, brinca. Ele completa que o período em que o país vive influencia na percepção do público e que esse aspecto é primordial para a obra. Em meio a tudo que o filme já passou mesmo sem ainda ter sido lançado, Moura diz estar “preparado para a porrada” e que sabe que sofrerá ataques após todos assistirem ao longa e relata que o set de filmagem sofreu ameaça de invasão.  O primeiro pedido de liberação feito à Ancine em setembro de 2019, veio após o discurso de Jair Bolsonaro em julho do mesmo ano em que o presidente transferiu o Conselho Superior de Cinema da pasta do Ministério da Cidadania para a Casa Civil. Nesta data, Bolsonaro alegou que o financiamento federal para filmes não poderia ser destinado para filmes de “ativismo” ou como o da “Bruna Surfistinha”. Mas o diretor do filme admitiu para o Brasil de Fato que não tem medo dos “trolls” da internet, e nem das possíveis ameaças.  A estreia do filme será em mais de 300 salas de cinema em todo o Brasil no dia 4 de novembro, no 52° aniversário de morte do militante. Na semana passada, algumas capitais já contaram com a pré-estreia do longa, começando pela

Beijo bi do super-homem atualiza o mito

“Quem sabe o Super Homem venha nos restituir a glória Mudando como um Deus o curso da história Por causa da mulher”. (Gilberto Gil em Super-homem (A canção)) Jon Kent – A proximidade do beijo homoafetivo do Super-homem não tornará o mundo mais suscetível, mas poderá torná-lo mais próximo da humanidade ou pelo menos, espero, congele a gravidade da Terra por um breve instante, imóvel, num sopro inefável ou enquanto se prolongue a perenidade do beijo. A DC Comics entretenimento, editora especializada em histórias em quadrinhos e mídias, subsidiária da Time Warner, a maior companhia de diversão e distração do mundo, revelará na próxima edição que o atual Superman Jon Kent é bissexual, procurando ampliar a sua representação LGBTQIA+ e o seu envolvimento em temas de relevância social. O herói Jon Kent, de 17 anos, beijará o jovem jornalista Jay Nakamura na próxima edição de dezembro (Son of Kal-El), herdeira oficial do título Superman de seu pai, Clark Kent. Isso ocorre após os eventos do chamado “crossover Future State”, que é uma reformulação mercadológica editorial, vislumbrando um universo futuro com novos heróis não-binários (pessoas que não se percebem como pertencentes a um gênero exclusivamente, o que significa que a identidade de gênero e expressão de gênero não são limitadas ao masculino e feminino). Os HQs – Quadrinhos.  Entre 2008 e 2011 a marca rival da DC, a Marvel Universo Cinematográfico, iniciou construção do projeto audiovisual responsável pela popularização de personagens, antes restritos aos espaços dos quadrinhos (HQ) e animação de desenhos, marcando forte presença no interesse de um grande contingente do público jovem. Há uma latente demanda nesse espectro social por personagens mais verdadeiros, com vulnerabilidades, fraquezas e emoções ou ainda, que parecessem existir realmente. As Histórias em Quadrinhos, grande parte tem a sua trajetória marcada pela abordagem de temas controversos e desafiadores, que ajudam os leitores a reverem a forma como entendem e se relacionam com as imagens e representações cotidianas. Lembro que folheando livros numa livraria nos fins dos anos 70 – hábito que conservo até hoje – me deparei com texto de Décio Pignatari e Augusto de Campos que discorria sobre os aspectos andrógenos e o universo masculino assexuado de alguns dos nossos heróis das HQs, homens héteros com superpoderes, cissexuais e brancos, como Fantasma, Tarzan e Batman. >Na imensa maioria dos quadrinhos, as personagens transgêneras são vítimas desses superpoderes pela invisibilidade: é uma forma de pulverizar, estilhaçar a transgeneridade pelo binarismo, imaginando o gênero e a sexualidade de forma dual na significação homem-mulher. O Universo Marvel começou em 1961 com o lançamento do Quarteto Fantástico. Mas, apenas 30 anos após sua criação, é que tivemos a oportunidade de ver pela primeira vez um herói  assumir a sua homossexualidade. Quem é esse herói? Trata-se do campeão olímpico de esqui Jean-Paul Beaubier, ou “Estrela Polar”.  Criado em 1979, como membro de um grupo de super-herois patrocinado pelo governo canadense (A Tropa Alfa), foi vetada a sua personalidade gay pelo editor da Marvel, sob o argumento do código de censura, contra a inclusão de personagens homoafetivos. Somente em 1992 pode-se dizer explicitamente “Eu sou gay”, sendo o primeiro protagonista de um casamento LGBT no mundo dos super-heróis. A “Graphic Novel” – Recentemente surgiram uma nova forma de arte gráfica, as “graphic novels”, um gênero de história em quadrinhos que trouxe temas importantes como questões de representação de gênero e sexualidade. Em 2006, a premiada cartunista americana Alison Bechdel publica “Fun home: Uma tragicomédia em família”, um marco dos quadrinhos e das narrativas autobiográficas, além de uma obra-prima sobre sexualidade, relações familiares e literatura. Nele, pouco depois de revelar à família que é lésbica, Alison Bechdel recebe a notícia de que seu pai morreu em circunstâncias que poderiam indicar um suicídio. Num trabalho muito delicado e sutil, Bechdel explora a difícil, dolorosa e comovente relação com o pai tão enigmático quanto incontornável. Já no cinema, em “Azul é a cor mais quente”, lançado em 2010, a francesa Julie Maroh conta a história de Clementine, uma jovem de 15 anos que descobre o amor ao conhecer Emma, uma garota de cabelos azuis. Através de textos-diário de Clementine, o leitor acompanha o primeiro encontro das duas e caminha entre as descobertas, tristezas e maravilhas que essa relação pode trazer. Em 2021, foi filmado pelo franco-tunisiano Abdelatiff Kechiche e ganhou a Palma de Ouro, prêmio mais importante do Festival de Cannes. Dezembro também nos reservará outra surpresa: o emblemático herói da DC Comics, o personagem Tim Drake, um dos vários personagens que assumem o papel do herói Robin nos quadrinhos, se descobre bissexual na décima edição de “Batman: Urban Legends”. Depois de 81 anos da sua primeira aparição nos quadrinhos de Batman, o menino-prodígio finalmente assumirá sua bissexualidade num “momento de iluminação” enquanto lutava para salvar o amigo Bernard das mãos do Monstro do Caos e percebe que, na verdade, está interessado nele. É nesse mundo fragmentado, entre pós-guerras e pandemias que surgirá uma geração comprometida com as transformações da sociedade, a diversidade sexual e de gênero, o reconhecimento de dívidas sociais a serem pagas com as minorias, resultante também de um avanço no reconhecimento da importância da saúde mental e da liberdade, através de personagens de HQs revelados com fragilidades, traumas temporais, desamor, violências, afetos, sentimentos, paixões. Além disso, isso abre um vasto campo para se explorar novas histórias e narrativas afinadas aos debates atuais. À medida que o tempo avança, a postura desses super-heróis se modifica, interage afora às suas identidades, a expressão de gênero e preferências sexuais. Nela há uma breve esperança, um aceno desprendido ao mundo que, enfim, após um beijo, restituirá toda paz, as garantias sociais, o combate à miséria, crises climáticas e guerras, o racismo, a fome, além da homofobia, a solidariedade aos refugiados e migrantes, em nome da liberdade e justiça. Apenas um beijo, o desejo diverso na vertigem vermelha dos dias, para muito além dos cintos de utilidades, anéis com feixes-laser e raios ionizantes, armaduras, escudos, laços espadas teias, tão somente um beijo enquanto o mundo, em rotação

Centenário de Zé Kéti

“Podem me prender / Podem me bater Podem, até deixar-me sem comer / Que eu não mudo de opinião …Se não tem água, eu furo um poço Se não tem carne, eu compro um osso” (Zé Kéti em Opinião)   Zé Kéti é um dos mais autênticos representantes de uma genealogia de sambistas que deram à música popular brasileira, pela sublime sofisticação poética e melódica (aliada à sua representatividade social), o mais radiante destaque no cenário mundial. José Flores de Jesus nasceu em 16 de setembro de 1921, no suburbano bairro de Inhaúma, Rio de Janeiro, cercado pelo complexo do Alemão, Del Castilho, Cachambi, Pilares, embalado pelo encantamento dos seus versos de sambas e choros de uma família musical por excelência. Filho de Josué Vale de Jesus, cavaquinista e marinheiro que participou com o Almirante Negro, João Cândido, da histórica Revolta da Chibata e neto de João Dionísio de Santana, grande flautista e pianista, tinha a casa frequentemente aberta às rodas de choros, com as ilustríssimas presenças de músicos como Cândido das Neves e do mestre Pixinguinha. Como se nota, desde muito cedo, Zé Kéti desperta para a dura realidade social dos subúrbios e favelas, da luta de classe e da segregação racial e violências, que formará uma consciência política e capacidade de indignação que nutrirá a sua vida repleta de composições e lutas libertárias. Menino muito tímido, com a morte do pai em 1924, foi criado pelo avô e pela mãe, Dona Leonor, doméstica que costumava levá-lo para as festas populares e bailes de gafieira. O garoto de tão pacato, logo virou o apelido de Zé Quieto, depois modificado para Zé Quéti e no definitivo apodo artístico de Zé Kéti: um príncipe pelo refinamento, engajamento e requinte nas composições. Em 1934, teve seu primeiro contato com a chamada música do morro quando foi levado pelo sambista e compositor da Estação Primeira de Mangueira Geraldo Cunha para assistir aos ensaios da escola de samba, agremiação a qual sempre manteve uma forte presença e relação de afinidade. Passou a residir em Bangu, Piedade, Maria Clara e, a partir de 1939, em Bento Ribeiro, onde teve o encontro com a sua Escola de Samba Portela, integrando a Ala de Compositores, que logo se tornaria a fonte, depositária e impulsionadora de um movimento conceitual que ajudou a romper certo romantismo e ingenuidade do samba para recolocá-lo nos exatos parâmetros da realidade  social  e cultural brasileira. Passa a frequentar o Café Nice, reduto de grandes músicos, onde estabeleceu uma série de contatos que seriam fundamentais para sua carreira.  Gravou pela primeira vez em 1946, mas o sucesso veio somente em 1952 com “Amar é bom” e “Amor Passageiro”, na voz de Linda Batista. No início dos anos 1950, compõe um dos seus maiores sucessos: “A voz do morro”, gravada em 1955 pelo cantor Jorge Goulart, com arranjo magnífico de Radamés Gnattali. No mesmo ano, a composição é tema do filme Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos, considerado um dos marcos inaugurais do moderno cinema brasileiro e precursor do cinema novo. Além da música tema, outras canções compõem a maravilhosa trilha sonora como “Leviana”, “Rio, Zona Norte”, “Malvadeza Durão” e “Foi Ela”. Onesio Meirelles, grande escritor e sambista, conta que conheceu Zé Kéti em 1962, durante a gravação do filme Gimba, Presidente dos Valentes, no Morro da Mangueira, filme com Milton Moraes, Milton Gonçalves, Ruth de Souza, com roteiro de Flávio Rangel e Gianfrancesco Guarnieri. Zé Kéti além de compor a música tema “Gimba chegou”, atua cantando “Feio, não é bonito” ao som do violão de Baden Powell e gaita de Omar Izar. Também participou de outras produções cinematográficas como O Boca de Ouro (1962), de Nelson Pereira dos Santos; A Falecida (1965), de Leon Hirszman; e A Grande Cidade (1966), de Carlos Diegues. Em 1963, surge no Rio de Janeiro o restaurante Zicartola, reduto de samba, espaço de encontro de músicos e artistas, inaugurado por Cartola e sua esposa Zica. Das conversas entre os seus ilustres frequentadores, surge a ideia de realização de uma apresentação musical. O resultado é o espetáculo musical Opinião, de autoria de Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa e Paulo Pontes, nomeada a partir do samba homônimo de Zé Kéti. Com direção de Augusto Boal, estreia em 1964 com estrondoso sucesso no Teatro de Arena, em Copacabana, com participação de João do Vale, Ruy Guerra, Carlos Lyra, Edu Lobo, Gianfrancesco Guarnieri e Nara Leão (posteriormente substituída por Maria Bethânia). Nesse espetáculo, marco na história da música popular brasileira, Zé Kéti lança “Diz que fui por aí”, “Acender as velas” e “Opinião”. Embalado pelo sucesso da peça e valendo-se dos contatos que estabelece no restaurante do Zicartola, Zé Kéti organiza a coletânea A Voz do Morro, reunindo os melhores intérpretes e sambas do morro, com a participação Nescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho e Oscar Bigode (da Portela), Zé Cruz e Nelson Sargento (da Mangueira), Élton Medeiros (da Aprendizes de Lucas) e Paulinho da Viola. Futuramente, gravaria também o disco Roda de Samba, lançado em 1965, acrescido da participação de Nelson Sargento. Zé Kéti sempre teve uma importante ligação com o cinema novo, bossa nova, o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE) e outros movimentos políticos ligados às lutas democráticas. Com parceria de Carlos Lyra compôs o “Samba da Legalidade” pela posse do presidente da República, João Goulart, ameaçada de um golpe político-militar, gravado por Nara Leão somente em 1965. Zé Keti morreu em 14 de novembro de 1999, aos 78 anos, vítima de parada cardíaca. Cerca de 150 pessoas compareceram ao velório do grande compositor na capela Santa de Cássia, no cemitério de Inhaúma. Durante o velório o seu esquife foi coberto com a bandeira azul e branca da sua querida Escola de Samba Portela. Acompanharam o enterro amigos e compositores da velha-guarda, o cineasta Nelson Pereira dos Santos, os compositores Zé Renato, Jards Macalé, Nelson Sargento, Walter Alfaiate e Noca da Portela. Foi sepultado ao som da composição “A Voz do Morro”: “Eu sou o samba, a voz do morro sou eu mesmo sim senhor…”. 10 músicas contra a ditadura militar (2)

Jovem cantora Maluk Yeey produz músicas autorais baseadas em experiências pessoais

  O CONVERSA AO VIVO ZONA CURVA do dia 30 de setembro (quinta) contou com a participação da jovem musicista Maluk Yeey de 17 anos. Ela conversou com Fernando do Valle (editor Zonacurva), Luís Lopes (editor Vishows) e o advogado Roberto Lamari sobre música, ativismo jovem, política identitária e suas próximas produções como cantora. Nascida no Rio de Janeiro, Maluk começou a ter aulas de teclado logo quando criança e já se apaixonou pelo mundo da música. Depois, ela aprendeu a tocar ukulele e violão, além de dar início as suas composições já na cidade de São Paulo, onde mora hoje. “Comecei a escrever logo quando criança, me inspirei muito na minha avó e na minha bisavó que escreviam. Meu pai também sempre ouviu muita música, o que me influenciou”, contou. Ainda incerta sobre o estilo musical que segue, ela já gravou 18 músicas autorais, sempre seguindo um ritmo mais calmo em uma mistura de mpb, pop e rock. Suas principais inspirações são de cantores brasileiros como Rita Lee e Tim Bernardes, com quem sonha em fazer uma parceria. A cantora contou que as letras de suas composições são baseadas em experiências pessoais. Um exemplo disso é a música “Amigx”, publicada em 2019. “Eu fiz essa música pensando em como eu me sentia diferente, e como meninos em geral me tratavam diferente de outras garotas, como se eu fosse um garoto! E eu me questionava sempre onde era o erro, onde era o ponto, elas são bonitas? Mas é comigo que você conversa quando você precisa! E eu não queria ser vista como um amigo, e sim como uma amiga”, explicou Maluk na legenda de seu vídeo no YouTube. https://youtu.be/DQoqyDiMMW4 Sobre o uso das redes para divulgar seu trabalho, ela contou que a internet é uma ótima ferramenta e facilita o reconhecimento de suas criações: “Hoje em dia é muito fácil colocar as músicas na rede. Descobri algumas plataformas digitais que funcionam como distribuidoras online e publicam as minhas produções”. É possível encontrar suas músicas no YouTube e no Spotify. Durante a live, Maluk também falou sobre como os jovens enxergam a política e debatem temas que antes não eram amplamente discutidos como identidade de gênero. Além disso, ela demonstrou indignação com a postura do presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de “repugnante” e suas declarações preconceituosas: “Para nós, é tudo muito simples, não dá para entender a dificuldade de respeitar”, completou. https://urutaurpg.com.br/siteluis/sem-pensar-no-amanha-mostra-alceu-valenca-em-estado-puro/ CAVIC lança novo ep autoral sobre experiência de transição para a fase adulta   Conversa ao vivo com o jovem cantor Shibas Exposição homenageia Rita Lee no MIS Leandro Franco aposta em rock e charges para resistir contra o governo

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