Fausto Wolff – Gaúcho de Santo Ângelo e carioca por opção, o jornalista e escritor Fausto Wolff era o pseudônimo de Faustin von Wolffenbüttel. O seu amigo e sempre preciso Millôr Fernandes o definiu assim: “Fausto Wolff, em toda parte, procurou e conviveu com os da sua estirpe – escritores, cineastas, poetas e grã-finas. E com os da sua laia – bêbados, putas e brigões”. Lembro de seu discurso no lançamento da revista Bundas, em bar na zona oeste de São Paulo, em 1999. Com as bochechas vermelhas após várias doses de uísque, Wolff discursou com sua voz grave sobre a luta por uma imprensa livre e a escrita como resistência política e cultural. Após a fala, saiu cambaleante em busca do primeiro táxi. A revista Bundas durou pouco, mas o discurso ficou para sempre na memória. Wolff começou sua carreira aos 14 anos de idade como repórter policial do jornal Diário de Porto Alegre. Aos 18, mudou-se para o Rio de Janeiro onde construiu sua carreira jornalística de mais de cinco décadas. Como jornalista, Wolff trabalhou no Pasquim e foi colaborador de publicações como Jornal do Brasil, Tribuna da Imprensa, Diário da Noite, entre outras. Autor de mais de duas dezenas de livros, Wolff escreveu um pouco de tudo: romances, infanto-juvenis, contos, crônicas, poemas, além de ter trabalhado como tradutor. Veja aqui uma lista de suas obras publicadas. Fausto Wolff morreu em 5 de setembro de 2008, aos 68 anos. Nasceu em 8 de julho de 1940. Fausto verteu do inglês para o português um livro que combina com seu espírito: Detonando a Notícia: como a Mídia Corrói a Democracia Americana, do jornalista norte-americano James Fallows. O livro questiona o funcionamento da mídia e dá uma aula sobre os mecanismos da indústria jornalística. Na introdução, lemos: “quanto mais importante se torna uma estrela jornalística mais ela é forçada a abrir mão da essência do verdadeiro jornalismo, que se resume na busca da informação a serviço do interesse público”. O panfletário e o steinheger Em matéria publicada na extinta revista Aplauso realizada pela jornalista Marta Batalha em 2000, Wolff assumia o título de panfletário com orgulho. Considerado como uma ofensa por alguns, Wolff dizia: “alguém tem de ser panfletário neste país, desde que o discurso esteja psicologicamente bem inserido na construção dos personagens. Shakespeare, Molière, Stendhal, Dostoievski e até Proust e Kafka foram panfletários. Eu escrevo com paixão e com compaixão.” Para Wolff, as convicções eram inegociáveis: “a boa literatura sempre foi uma literatura contra o status quo no sentido de mudá-lo, acho que o mundo é mutável, sim.” O cartunista Jaguar, amigo de Wolff, conta causo que ilustra bem o espírito beberrão de Wolff: “num boteco em Curitiba, depois de incontáveis rodadas de cerveja e steinheger, deixou um enorme polaco desmaiado em coma alcoólico. Enquanto seus desolados torcedores o arrastavam para fora, Fausto pegou a grana das apostas. – Agora vamos beber socialmente – disse.” Wolff foi grande amigo do fundador da Banda de Ipanema, Albino Pinheiro, e participou como entrevistado e entrevistador do documentário, do diretor Paulo César Saraceni, sobre a banda. Durante anos, a banda foi uma espécie de braço bem-humorado da resistência à ditadura militar. Autodidata e dono de uma cultura enciclopédica, a literatura de Wolff tem o signo da revolta, indignação e de um humor cáustico como em seu livro o ABC do Fausto Wolff – tudo o que você sempre quis perguntar sobre sexo, humor e política e nunca teve coragem para saber, de 1988. No livro, cada verbete é explicado como um verdadeiro dicionário clandestino. Vamos ao tema da impotência: “…a verdade mesmo é que, cedo ou tarde, todo mundo dá a sua broxada, principalmente, depois de derrubar duas garrafas de uísque ou fumar uma chaminé da chamada erva maldita ou cheirar aquele pozinho que custa 10 dólares a grama…” Entre seus livros de contos, em O Homem e seu algoz (1997) e O Nome de Deus (1999), Wolff mostra o domínio da narrativa em histórias curtas. Nos romances, Wolff escreveu dois catataus, àqueles que conseguem parar em pé sozinhos. O primeiro foi À mão esquerda, de 1996. No livro, Wolff narra a saga de 300 anos da família von Traurigzeit em misto de autobiografia, ficção, memória e história. O romance confunde-se com a história da família de Fausto, pobre no Brasil, mas de origem aristocrática na Alemanha. Em trecho de À mão esquerda, Wolff resume nossa primeira década pós-ditadura militar: “O primeiro presidente civil, depois de vinte e um anos de ditadura militar, seria eleito pelo Congresso e assassinado lentamente num hospital. Não por ser perigoso ao sistema, pois não se conhece uma boa ação que tenha cometido em sua longa vida política, mas por pretender um pouco de autonomia. Seu substituto, um poeta quilômetros abaixo da linha da mediocridade, roubaria em cinco anos o equivalente ao orçamento de várias nações sul-americanas. O povo a essa altura já estaria tão alienado pela televisão e pela fome, que elegeria em seguida, pelo voto direto, um jovem psicopata, produto de laboratório como a criatura do doutor Frankenstein, que acabaria sofrendo impeachment por querer roubar mais que os seus criadores. O ano de 1995 encontraria à testa da Nação um sociólogo, filho de general, homem de esquerda que porém mudaria de ideia para governar com a direita para a direita, ou seja, para 5% da população. E isso com a conivência de uma imprensa burguesa, pós-moderna, neoliberal, combatida apenas pelas vozes isoladas de alguns velhos amigos meus.” O segundo catatau, como diria Leminski, veio 9 anos depois, em 2005, com a publicação da Milésima segunda noite. Nele, Wolff escreve em 1001 trechos sobre tudo e mais um pouco. 11 de setembro, mulheres, política, religião etc. Wolff transmuta-se em Xerazade às avessas narrando nossas mazelas ao tomar um tremendo porre em boteco da Lapa. Exílio, Brizola e a candidatura a deputado Devido à censura e perseguição da ditadura militar, em 1968, Wolff exilou-se na Europa e trabalhou como professor de literatura brasileira nas universidades de Copenhague (Dinamarca) e