Zona Curva

Política

Uma luz para você entender um pouco sobre o imbróglio político em que o país está metido.

O Brasil despertou no movimento das Diretas Já!

Diretas Já – Depois de duas décadas de arbítrios do regime militar, o movimento das Diretas Já acordou o povo brasileiro para a urgência da participação política. Entre o final de 1983 e o início de 1984, vários comícios mobilizaram o país pelas eleições diretas para presidente da República. Em 16 de abril de 1984, o comício das Diretas Já no Vale do Anhangabaú, na cidade de São Paulo, reuniu 1,5 milhão de pessoas em uma das maiores concentrações populares da História do Brasil. O comício reuniu no mesmo palanque políticos como Lula, Fernando Henrique, Brizola, Miguel Arraes, Mário Covas, Franco Montoro (governador de São Paulo à época) e muitos outros. Do meio artístico, as atrizes Eva Wilma e Fernanda Montenegro, o cantor Walter Franco e a cantora símbolo da campanha das Diretas, Fafá de Belém, marcaram presença. A adesão à campanha pelas Diretas crescia em todo o país, o que levou o presidente Figueiredo a encaminhar um projeto ao Congresso em que o governo aceitava as eleições diretas para presidente, mas somente para o pleito de 88. O país não realizava uma eleição direta para a presidência da República desde 3 de outubro de 1960, quando foi eleito Jânio Quadros. Com a promulgação pelo presidente Castelo Branco do Ato Institucional nº 2, em 27 de outubro de 1965, o presidente e vice-presidente da República passaram a ser eleitos por maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional. Em março de 1983, o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou ao Congresso Nacional uma emenda constitucional que propunha o fim do Colégio Eleitoral e o retorno das eleições diretas para presidente e vice-presidente para as eleições previstas para 1985. No aniversário de São Paulo em 1984, no dia 25 de janeiro, uma multidão já tinha tomado a Praça da Sé em outro comício. Alinhada com a ditadura militar, a direção da Rede Globo censurou a cobertura do ato e tentou confundir os telespectadores como se a maciça presença popular na praça fosse para apenas celebrar o aniversário da cidade. O ex-vice-presidente das Organizações Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Boni, disse em entrevista ao jornalista Roberto Dávila em 2005 que a ordem de censurar a cobertura do comício veio diretamente de Roberto Marinho, fundador da emissora. O jornalista Ricardo Kotscho, que cobriu o comício pelo Jornal Folha de São Paulo, declarou em entrevista à Revista dos Bancários em 2003 que “foi o povo que acabou fazendo a cabeça da Globo”.  Em texto Zonacurva, nosso colaborador Otávio de Carvalho lembra o Comício da Praça da Sé. A liderança do ‘ex-conservador’ Teotônio Vilela Um dos fundadores da UDN (União Democrática Nacional), partido conservador criado como opositor ao governo Getúlio Vargas, o político alagoano Teotônio Vilela tornou-se uma das figuras simbólicas da luta pela redemocratização do país. Filho de um rico proprietário rural, Vilela foi um dos idealizadores do Projeto Brasil em abril de 1978 que continha, entre várias reivindicações, a restauração do habeas corpus por crimes políticos (extinto em 1968 pelo AI-5), o pluripartidarismo (na época, apenas o MDB e a ARENA atuavam na legalidade, Teotônio foi eleito senador pelo último em 74), o fim da censura à imprensa e eleições diretas para presidente e governadores. Em 1979, ano da posse do general Figueiredo na presidência, Teotônio troca a ARENA pelo MDB. Em 82, ano em que Teotônio inicia sua luta contra um câncer, o político esteve presente ao lado de Lula nas assembleias no estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. Chegou a presidir o PMDB em julho de 1983 e impulsionou a campanha das Diretas, até morrer no dia 27 de novembro de 1983. O jornalista e desenhista Henfil retratou Teotônio em charge que acabou batizando o movimento pela democratização de Diretas Já!: Saiba mais sobre o genial Henfil Fafá de Belém interpreta “Menestrel das Alagoas”, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant em homenagem a Teotônio Vilela: Mais Fafá de Belém: desta vez, a cantora debate com João Batista de Andrade o movimento das Diretas Já! no programa Metrópolis da TV Cultura:  Fonte usada: CPDOC-FGV. Henfil e as Diretas JÁ!  

Jango no comício que mudou o destino do país

JANGO – Em 13 de março de 1964, o presidente João Goulart reuniu 150 mil pessoas no Comício da Central do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em prol das chamadas reformas de base de seu governo. Carlos Lacerda, governador da Guanabara e um dos principais opositores de Jango, teve a ideia de decretar feriado no dia 13 de março acreditando que, com isso, os trabalhadores não iriam ao comício. A tentativa não deu resultado. Organizado por uma comissão de líderes sindicais, o comício mostrou aos opositores o apoio popular às reformas propostas pelo governo, que pretendiam modernizar a estrutura do país em vários setores como o agrário, bancário, administrativo e eleitoral. João Goulart discursou por cerca de uma hora. No início, atacou os “democratas” e sua “democracia anti-povo e anti-reforma”. Jango os acusou de defender “uma democracia dos monopólios nacionais e internacionais”. Mais adiante, ele propôs a revisão da Constituição de 1946, “que legaliza uma estrutura socioeconômica já superada” e a necessidade de “colocar fim aos privilégios de uma minoria”. Jango defendeu também a extensão do direito de voto aos analfabetos, soldados, marinheiros e cabos, assim como a elegibilidade para todos os eleitores. Escute trecho do discurso de Jango: Leia também texto sobre a busca da causa da morte de Jango Quinze oradores precederam o presidente da República. O mais aplaudido foi Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e deputado federal pelo PTB carioca, que exortou o presidente a “abandonar a política de conciliação” e instalar “uma Assembleia Constituinte com vistas à criação de um Congresso popular, composto de camponeses, operários, sargentos, oficiais nacionalistas e homens autenticamente populares”. As propostas que levaram a elite brasileira ao desespero As propostas de Jango mexiam em interesses poderosos e arraigados há séculos no país. Entre elas, o presidente pretendia desapropriar terras com mais de 600 hectares, além de áreas que ladeavam rodovias e ferrovias nacionais. Para realizar uma reforma educacional, o governo utilizaria 15% da receita tributária brasileira. Entre os projetos nessa área, constava uma ampla reforma de erradicação do analfabetismo, baseada nas experiências pioneiras do educador Paulo Freire. Na economia, Jango propunha um controle da remessa de lucros das empresas multinacionais para o exterior e o imposto de renda seria proporcional ao lucro pessoal. Com relação à Petrobrás, afirmou que assinara pouco antes o decreto de encampação de todas as refinarias particulares, que passavam a pertencer ao patrimônio nacional.  ” A reforma agrária é também uma imposição progressista do mercado interno, que necessita aumentar a sua produção para sobreviver. Os tecidos e os sapatos sobram nas prateleiras das lojas e as nossas fábricas estão produzindo muito abaixo de sua capacidade. Ao mesmo tempo em que isso acontece, as nossas populações mais pobres vestem farrapos e andam descalças , porque não têm dinheiro para comprar… (A reforma agrária) interessa, por isso, também a todos os industriais e comerciantes. A reforma agrária é necessária, enfim à nossa vida social e econômica, para que o país possa progredir, em sua indústria e no bem-estar do seu povo”. (trecho do discurso de Jango) O livro Jango, a vida e a morte no exílio, do professor Juremir Machado da Silva, descreve a entrega pessoal de Jango ao comício: “Sai exausto. Quase desmaia no carro, para desespero de Maria Thereza. Ao chegar ao palácio, amassado e sem os botões da camisa, o velho Braguinha pergunta: — Que foi que aconteceu, presidente, o senhor parece que está vindo de uma guerra. Está mesmo. Chega vitorioso. Acaba de travar a sua mais franca batalha, de peito aberto, corpo exposto aos inimigos. Essa vitória terá o seu preço. A conta chegará logo”. Pelo que já se sabe, a ofensiva dos setores conservadores do país não demorou a acontecer. Em 19 de março, dia de São José, considerado o padroeiro da família, milhares de paulistanos saíram às ruas na Marcha da Família com Deus pela Liberdade. O pânico incutido por quase toda a mídia (a exceção mais conhecida era o Última Hora, jornal de Samuel Wainer) na classe média contra a “ameaça vermelha” levou, duas semanas depois, ao golpe militar. Leia a matéria da Folha  (dica da jornalista e blogueira @cynaramenezes) claramente favorável  sobre a marcha conservadora em São Paulo. Fontes: livro Jango, a vida e a morte no exílio de Juremir Machado da Silva, CPDOC-FGV e Folha de São Paulo. O renascimento do Jango antropofágico https://urutaurpg.com.br/siteluis/como-ministro-de-getulio-jango-revelou-entranhas-brasil/

Pussy Riot escancara os abusos do governo Putin

A banda Pussy Riot mostrou que a temporada na prisão não esmoreceu sua luta contra o governo Putin. Elas escolheram a cidade de Sochi, onde são realizadas as Olimpíadas de Inverno, para a execução de sua nova música/protesto e foram recebidas a chicotadas pela polícia. As músicas da banda foram presas em março de 2012 e libertadas em dezembro de 2013 sob a acusação pela justiça russa de vandalismo e incitação ao ódio religioso após a gravação de um clipe em igreja de Moscou. Enquanto tentavam gravar o clipe da nova música com o singelo título “Putin te ensinará a amar a Pátria-mãe” nesta semana, as integrantes foram duramente agredidas pela polícia e um fotógrafo, que registrava o momento, teve seu nariz quebrado. A saia-justa pela divulgação do vídeo e com o mundo de olho na Rússia devido à realização das Olimpíadas de Inverno, o governo se viu obrigado a dar satisfação sobre as cenas absurdas vistas no vídeo. Dmitry Kozak, vice-primeiro-ministro da Rússia, declarou, sem maiores detalhes, que os policiais agressores serão punidos. As integrantes da Pussy Riot levaram a um novo patamar o gênero música de protesto. De certa forma, a banda materializou o sonho de Jello Biafra e seu Dead Kennedys. Na década de 80, Biafra cantava aos quatro ventos as atrocidades da política norte-americana e arrebatou milhares de fãs, mas a Pussy Riot conseguiu ir além. Explico: através da música (não esqueçamos que elas formam uma banda), tornou-se a principal opositora de um governo. Sem dúvida, a truculência do governo Putin e a prisão delas colaboraram para a “divulgação” da banda. Mas e a música do Pussy Riot? O alcance da polêmica causada pela Pussy Riot é tamanha que esquecemos de enxergá-las como uma banda, e como toda banda, produz canções. As músicas são rápidas, quase no estilo DRI (Dirty Rotten Imbecils), banda norte-americana dos anos 80, que chegava a ter músicas com duração de apenas alguns segundos. O alvo preferido das letras é o presidente Vladimir Putin, no resto, as Pussy Riots não diferem de toda boa banda punk: iconoclastas e anti-quase tudo. A música mais recente: Putin te ensinará a amar a Pátria-mãe (com as imagens da truculenta polícia de Sochi com a banda) Death of jail freedom of prot (título em inglês da música) Putin coloca mais lenha na fogueira (tradução livre)  Punk prayer, gravada na igreja, que as levou à prisão   A prisão das Pussy Riot As integrantes da banda passaram uma temporada na prisão após a gravação do clipe de duas músicas na Catedral Cristo Salvador, em Moscou. Acusadas de vandalismo (“qualquer semelhança com fatos conhecidos por brasileiros NÃO é mera coincidência”) e incitação ao ódio religioso, foram presas e condenadas a dois anos de prisão em março de 2012. A indignação da opinião pública mundial e até a possibilidade de boicote de alguns países às Olimpíadas de Inverno em Sochi pressionou o governo russo a libertá-las em dezembro do ano passado. Livres, as integrantes não mudaram o tom do discurso contra o governo e disseram que tal medida não “passava da publicidade”. https://www.zonacurva.com.br/doido-mesmo-foi-rasputin/

Luther Blissett de olho na grande mídia brasuca

Luther Blissett – A mentira e a manipulação de mentes menos atentas virou o padrão do trabalho diário de grande parte da midiazona. Em busca de seus objetivos comerciais, políticos e ideológicos, ela incentiva o pânico (quando lhe convém), entorpece os sentidos e teme o debate igualitário e a reflexão coletiva. As exceções só confirmam a regra. Cansados de situação similar a que passamos por aqui, um grupo de escritores criou na Itália em 1994 Luther Blissett, misto de bandido, heroi e humorista virtual, que pregou trotes na grande mídia daquele país entre 1994 e 1999. Os escritores e ativistas italianos Roberto Bui, Giovanni Cattabriga, Luca di Meo e Federico Gugliemi criaram Luther Blissett que, segundo o site do coletivo Wu-Ming, idealizado por eles, “é um pseudônimo multiusuário, uma ‘identidade em aberto’, adotada e compartilhada por centenas de hackers, ativistas e operadores culturais em vários países, desde o verão (no hemisfério Norte) de 1994″. A Wu Ming Foundation (@Wu_Ming_Foundt) mantém um blog, infelizmente só em italiano. Artistas, ativistas e muitos outros organizaram zombarias, passaram notícias falsas à mídia, coordenaram heterodoxas campanhas de solidariedade a vítimas da repressão, entre outras ações no espírito de Blissett. O ativista Stewart Home explica que “Blissett coloca abaixo as noções ocidentais de identidade, individualidade, valor e verdade”. O nome do Robin Hood da era da informação foi retirado de um jogador inglês de origem jamaicana, que jogou durante as décadas de 70 a 90 no pequeno clube de Watford, da cidade de Hertfordshire, próxima a Londres. Contratado pelo Milan da Itália, foi considerado uma das piores contratações do clube e devolvido ao clube inglês onde continuou a carreira.   Alguns trotes de Luther Blissett na mídia italiana No final do anos 90, como relata o site da Fundação Wu Ming, Luther Blissett trapaceou descaradamente com a mídia italiana em busca de questionar o aparvalhamento dos sentidos dos espectadores e leitores, seguem três exemplos:  Em 1994, jornais de Bolonha começaram a receber uma série de cartas informando que entranhas de animais haviam sido deixadas em lugares públicos da cidade. A imprensa cobre o caso (sem checar devidamente) e publica várias matérias sobre o absurdo e o horror do acontecimento. Meses depois, Luther Blissett reivindica a autoria das cartas. Em junho de 1995, Loota, uma fêmea de chimpanzé, vítima de experiências de um laboratório farmacêutico e resgatada por ambientalistas, iria participar da Bienal de Veneza com suas pinturas. Alguns jornais publicam a notícia. Mais uma de Luther. Também em 1995, um programa italiano chamado Quem o viu?, especializado em encontrar pessoas desaparecidas, recebe uma carta informando o sumiço de um certo Harry Kipper, artista residente na Itália. A produção manda uma equipe verificar a história e colhe os depoimentos de vários “amigos de Harry Kipper”, que dão informações sobre sua personalidade e levam a equipe a lugares frequentados pelo desaparecido, de Bolonha a Londres. Minutos antes de a reportagem ir ao ar, a fraude é desmascarada: os depoimentos eram falsos, prestados em combinação pelos arquitetos do trote. A foto de Kipper passa a ser o rosto “oficial” de Luther Blissett, obtida através de montagem com retratos dos anos 20 de parentes de um dos criadores de Blissett, Roberto Bui. “A guerrilha midiática é um método homeopático de defesa da ingerência/presença da mídia no imaginário coletivo e em nossa vida. Voltando contra a mídia suas próprias armas e dando uma margem maior de fama à coisa, propaga-se  uma nova forma de usufruir da mídia, interativa e paritária, na qual o poder dos grandes meios de comunicação de massa é redimensionado, ridicularizado, e a babaquice dos operadores do setor mostra-se evidente” (extraído de A Guerrilha Psíquica , de Luther Blissett) Os livros em copyleft e o seppuku de Luther Blissett Luther Blissett ‘lançou’ dois livros: Q, o caçador de hereges (1999) e Guerrilha Psíquica (2001), ambos publicados no Brasil pela Conrad e com edições esgotadas. O primeiro, um catatau de quase 600 páginas relata uma intricada trama com dezenas de personagens em lutas no século XVI e chegou a vender mais de 200 mil exemplares na Itália. Em 2002, um dos autores do livro, Roberto Bui, esteve no Brasil e explicou a trama do romance ao site Carta Maior: “em nosso romance Q, o protagonista real é a multidão. Há mais de cem personagens que não são secundários. Não é o esquema clássico, onde há o protagonista e personagens secundários. Para nós, os personagens secundários são o verdadeiro protagonista. Eles formam uma multidão de histórias, de experiências e de trajetórias que representam a verdadeira estrutura de nosso romance. Ou seja, o verdadeiro personagem é a multidão”. No lançamento do livro, a mídia italiana chegou a cogitar que o escritor Umberto Eco tivesse participado do projeto, Luther manteve-se calado sobre a especulação. Já o livro Guerrilha Psíquica reúne as ideias do coletivo sobre cultura, mídia, ativismo, identidade e uma variada gama de assuntos. Em 2007, o vocalista do Radiohead, Thom Yorke, declarou sua paixão por Q,  que lhe foi apresentado pela sua namorada. O cantor disse que, entre seus projetos, está a versão cinematográfica do livro. Conheça o terrorismo poético de Hakim Bey Em 2006, estive presente em debate em livraria na zona oeste de São Paulo sobre propriedade intelectual em que um dos fundadores do coletivo Wu Ming declarou: “os autores utilizam-se das experiências que trocam com os outros no cotidiano para a elaboração das obras, então, seria um contra-senso eles serem detentores dos direitos dessas mesmas obras”. Todo o material produzido pela Fundação Wu Ming utiliza o copyleft, forma de direitos autorais que retira as barreiras à utilização, difusão e modificação de uma obra. Em 1999, Luther Blissett liderou seu Seppuku (suicídio ritual japonês) coletivo. “O suicídio é a demonstração prática da renúncia de Blissett à sobrevivência como lógica da identidade e do território”, explica Luther em Guerrilha Psíquica. Mas Luther Blissett ainda sobrevive nas frestas da web e seu renascimento depende do inconformismo nosso de cada dia. Fontes: livro A Guerrilha Psíquica, de Luther Blissett, site Carta Maior e site da Wu Ming

Um passo à frente contra a ameaça fascista

Bom dia, Vietnã !! Do outro lado do mundo, fica fácil enxergar o Brasil, sem a contaminação midiática que domina os corações e mentes quando estamos no país. A luta política, em qualquer nação ou sistema de governo, sempre se justifica, mas o que mostra a qualidade e objetivos da disputa, são as ferramentas que cada grupo utiliza ao buscar uma posição de poder. No Brasil, as tradicionais forças políticas criaram um espaço comum a partir dos anos 80, quando a realização de eleições periódicas, a nova constituição de 1988, o respeito à divisão de poderes e a valorização das “instituições” garantiram a alternância de poder, o impeachment político de Collor, bem como a introdução das reformas econômicas e sociais, que marcaram os ciclos PSDB/PFL/PMDB e PT/PMDB. Há 30 anos, o Comício das Diretas acontecia em São Paulo, governada então pela ala do PMDB, que hoje integra majoritariamente o PSDB. O evento marcou um grande entendimento político que levou PMDBistas, Brizolistas, Petistas, Comunistas, USPianos, Católicos, Socialistas, Sindicalistas diversos, Advogados, Atletas, Jornalistas e alguns meios de comunicação a apoiar e divulgar o evento. A Globo foi uma triste exceção ao mostrar ao vivo a Praça da Sé em rede nacional, quando 300 mil pessoas pediam pela primeira vez juntas eleições diretas para presidente, mas colocando no texto a mensagem que era a Festa de Aniversário de São Paulo, uma das últimas armas para a manutenção do falido regime, mas não deu certo… O ano era 1984, e sintomaticamente o presidente João Figueiredo, último general de plantão, forçou a eleição no Colégio Eleitoral, mas não conseguiu impedir que Maluf fosse o candidato da envergonhada Arena, que rachou e gerou um Centrão que se incorporou uma década depois ao espólio do PMDB pós-cisma tucano. Assim nasceu o regime político partidário atual, onde os militaristas e fascistas de toda ordem foram praticamente expurgados do debate político. No Brasil, apesar da anistia política ter sepultado os crimes praticados pelo Estado brasileiro, realizados com o apoio incondicional da realpolitik norte-americana, ninguém mais ouvia ou apoiava qualquer aventura personalista e anti-democrática. Estavam sim impunes, mas calados, o que parecia valer a pena pagar como preço pelo fim do ciclo totalitarista na terra brasilis. A Globo e a mídia em geral entrou de cabeça na “Festa Democrática“, assim que o quadro efetivamente mudou, afinal o poder havia migrado de uma aristocracia fascistóide para uma sociedade civil mais moderna, plural e representativa dos interesses complexos de um país como o Brasil. Mas por que então chegamos a um quadro em que os reacionários de diversas matizes saíram do armário? Como é possível ter colunistas semanais que só se interessam em ser o Anti-PT, Anti-Lula, Anti qualquer coisa que seja proposto por um governo que acerta e erra como todos, mas que pode mostrar conquistas diversas? Como a mídia virou torcida de futebol, revistas que são sempre pró (mesmo ao criticar o governo), e aquelas que são sempre a voz do “Copo Vazio”? Por que o debate político foi envenenado? E as únicas pautas são aborto, casamento gay, comunismo no Brasil, ódios e preconceitos diversos? Uma das possíveis explicações encontra-se na realidade fora do Brasil. A política nos Estados Unidos se mostra uma guerra quase santa, entre personagens da direita de Wall Street, Chicago e Boston como Obama e os Clintons, tidos como “liberais”, pelo colegiado texano/libertário/cristão e fundamentalista, que enxerga “A América” destinada a iluminar a humanidade, mesmo que, para isso, deva ser imposta a mentira e a guerra. São os John McCains, os pastores evangélicos de direita, ultra defensores do sionismo, do medo aos “latinos e asiáticos” e até dos “comunistas” como Obama. Claro que são os senhores da guerra que bancam esses malucos. Assim, perderam contato com a realidade do mundo que eles mesmo criaram e agora querem se impor ao mundo via o poder midiático e com a política do medo e do policiamento global, usando da Ameaça Terrorista, da Guerra ao Islã, banalizando a Invasão Cotidiana do indivíduo e da sua privacidade na Internet. Esse anacronismo chegou com força ao nosso país com o ex-candidato Serra, que rasgou a própria biografia, quando no auge do desespero, se abriu a essas forças extremas de um sentimento apolítico e fascistóide. Trouxe consigo figuras que agem no submundo da intolerância e sectarismo contra qualquer ativismo igualitário que tenha como foco o ser humano e a igualdade. Fenômenos como a revolta reacionária contra o casamento gay, a política de cotas, os médicos cubanos, o apoio sem repressão na cracolândia, a antagonização à cultura urbana das periferias (funk não é cultura e rolezinhos), e principalmente a criminalizaçao de toda classe política (político não presta, saudades da ditadura), geram um mostro de cara e nome conhecidos. Dizer não à manipulação midiática, não se contaminar por coxinhas e seu orgulho Não Vai Ter Copa, é essencial para elevar o debate e conduzir a sociedade a um futuro que leve em conta os desejos de todos os atores nacionais. Vamos sim conversar sobre política e não banalizar e rechear o discurso com ideologias importadas de um Tea Party, que na real não existe no pais. Nesse sentido, o que é “bom” atualmente para a América do Norte, não é “bom” nem para os próprios norte-americanos, imagina então para o resto do mundo. O que acontece com a manipulação antidemocrática e midiática no Egito, Turquia, México, Honduras, Paraguai, Sudão, República Centro Africana, Síria e até na Ucrânia, não são coincidências, mostram o lado obscuro da queda inevitável do Império. É chegada a hora de discutirmos a política novamente no Brasil, e que seja um rearranjo que garanta a transparência e o caráter participatório que a tecnologia proporciona à sociedade do século 21, onde a política se reforme garantindo as bases democráticas para mais 30/40 anos de luz e participação democrática, e que o espírito da distensão política que existiu nos anos 80 possa inspirar os atores e afastar o ódio e o fascismo reacionário do horizonte nacional. A palavra é sua, faça sua parte. Chico Science dizia: Um passo a

Senado devolve simbolicamente mandato de Jango

O Senado Federal tentou reparar sua conivência com o golpe militar de 1964. Hoje, o presidente João Goulart recebeu, de forma simbólica, o mandato de presidente da República em sessão solene. Jango foi destituído do cargo pelo golpe militar em 2 de abril de 1964. A devolução do mandato veio por meio do projeto dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que anulou a sessão de 2 de abril de 1964, na qual o então presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República. Leia texto sobre a investigação da morte de Jango  Estiveram presente à solenidade a presidenta Dilma Rousseff, o filho de Jango, João Vicente Goulart, os ministros da Aeronáutica, Marinha e Exército. João Vicente recebeu o diploma de presidente da República a que seu pai, João Goulart, tinha direito.

JK foi assassinado, afirma Comissão da Verdade de SP

A Comissão da Verdade da Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo afirmou no dia 10 de dezembro de 2013 que o presidente Juscelino Kubitschek foi assassinado em 22 de agosto de 1976. Segundo a versão oficial, JK foi vítima de acidente na Dutra. As suspeitas de assassinato em complô armado pela ditadura militar sempre cercaram a morte do ex-presidente. “Há indícios incontestáveis de que o motorista do carro do ex-presidente fora atingido por um projétil antes do carro colidir contra um caminhão que vinha do lado contrário da Dutra. Toda aquela história de que o Opala onde estava Juscelino e o motorista dele fora atingido por um ônibus da viação Cometa é armação”, afirmou o presidente da comissão, o vereador Gilberto Natalini (PV). As  causas da morte de Jango também têm sido investigadas, saiba mais. A grande novidade da investigação da comissão é o depoimento de Ademar Jahn, que dirigia um caminhão na rodovia Dutra. Segundo matéria do jornal Folha de São Paulo  (11 de dezembro), Jahn declarou que viu “o motorista de JK, Geraldo Ribeiro, debruçado, com a cabeça caída entre o volante e o automóvel, não restando dúvida de que se encontrava desacordado e inconsciente, e já não controlava o veículo antes do impacto”. Outras duas histórias (já de conhecimento público) foram alvo de investigação da comissão. A primeira trata do artefato e o buraco encontrados no crânio do motorista do ex-presidente, Geraldo Ribeiro. O perito criminal Alberto Carlos de Minas relatou que, na exumação de Ribeiro em 1996, foi impedido por agentes do Estado de fotografar o crânio do motorista. A Comissão pediu à Justiça mineira por uma nova exumação do motorista e aguarda uma resposta. Especula-se que o artefato tenha desaparecido. A segunda história tem como protagonista Josias Nunes de Oliveira, o motorista do ônibus que teria colidido na traseira do Opala que viajava JK. Ele sempre negou que tenha causado o acidente. Mais 9 passageiros do ônibus ouvidos pela comissão negaram a colisão. Nunes ainda relatou que foi procurado por dois homens que passando-se por repórteres de um jornal lhe ofereceram uma mala de dinheiro para que assumisse a culpa pelo acidente.  “JK era sobretudo um homem dotado de uma simpatia irradiante, um calor humano excepcional, extremamente bom, generoso, tolerante e liberal”,  jornalista Samuel Wainer no livro “Minha razão de viver”   Juscelino e a Operação Condor Em entrevistas recentes, em ocasião do lançamento de seu livro “O essencial de JK”, o jornalista, escritor e biógrafo de JK, Ronaldo Costa Couto, afirmou que Juscelino estava na lista da Operação Condor. A Condor uniu a CIA e as ditaduras da América do Sul na repressão aos opositores dos regimes da época. A comissão apontou ligações entre a morte de JK e a de Orlando Letelier, na época ex-chanceler do Chile. Letelier foi morto num atentado a bomba na capital norte-americana Washington, em 21 de setembro de 1976, menos de um mês após a morte de Kubitschek. As investigações da comissão basearam-se em carta do coronel chileno Manuel Contreras Sepulveda, chefe do DINA, centro de informações chileno. Na carta de Sepulveda a João Baptista Figueiredo, diretor do SNI (Serviço Nacional de Informações) do Brasil, lê-se: “o plano proposto por você para coordenar nossa ação contra certas autoridades eclesiásticas e conhecidos políticos social democratas e democratas cristãos da América Latina e Europa conta com o nosso decidido apoio”. A união da esquerda progressista em prol de um projeto nacional de desenvolvimento

A busca pelo fim do mistério sobre a morte de Jango

Morte de Jango – Ontem, dia 1º de dezembro de 2014, a equipe de peritos coordenada pela Polícia Federal informou que não encontrou veneno na perícia nos restos mortais de João Goulart. Porém, a análise que durou cerca de um ano pode ser considerada inconclusiva já que a passagem do tempo pode ter apagado os vestígios de um possível envenenamento. A família de Jango não está satisfeita com o resultado e diz que continua na busca pelos motivos da morte do ex-presidente. Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 e, há 38 anos, não há resposta conclusiva para uma das perguntas mais intrigantes da recente história brasileira: o ex-presidente João Goulart foi envenenado por agentes da ditadura brasileira? Jango morreu na cidade de Mercedes, na Argentina, no exílio. Desde 2007, a família de Jango pedia a exumação do corpo, já que não houve autópsia na ocasião da morte e sua certidão de óbito indica como causa: enfermidad. Em novembro do ano passado, os restos mortais do ex-presidente foram exumados e transportados pela Força Aérea Brasileira (FAB) para Brasília no dia 14 de novembro, quando foi realizada uma cerimônia com honras de chefe de Estado. Após os exames necessários, o corpo de Jango voltou para sua cidade natal em 6 de dezembro. O documentário Dossiê Jango (lançado em julho de 2013), de Paulo Henrique Fontenelle, conta como a presença de Goulart incomodava a ditadura argentina e investiga a teoria de envenenamento do presidente deposto em operação dos governos do Brasil e da Argentina, com o auxílio da CIA. O filme reconstrói a história do golpe de 64, que completa 50 anos. O documentário O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares, também abordou o golpe civil-militar de 64. Leia texto sobre o filme. O filme de Fontenelle tenta esclarecer outra dúvida histórica: por que Jango não resistiu ao golpe militar? O ex-governador baiano Waldir Pires, que ocupou o cargo de consultor-geral no governo Jango, afirma que “Jango temia muito uma divisão do Brasil como aconteceu na Coréia e Vietnã”. O filho de Jango, João Vicente, faz coro, orgulhoso da sensatez paterna: “meu pai evitou uma guerra civil no Brasil”. João Vicente protagoniza o clímax de Dossiê Jango quando, sob o disfarce de repórter da TV Senado, revela sua real identidade ao ex-agente uruguaio da Operação Condor (ação conjunta dos governos militares do Cone Sul na caça aos opositores), Mario Barreiro Neira. O último afirma que participou da espionagem e do cerco a Jango na Argentina e revela que Jango foi envenenado por ordem direta do presidente militar Ernesto Geisel. Neira atualmente está preso no Brasil por roubo e contrabando de armas. O envenenamento de Jango teria sido feito por meio da troca de medicamentos que Jango tomava por sofrer de problemas cardíacos. O filme mostra a terrível coincidência da morte de 16 pessoas que, de alguma forma, tiveram conexão com o assassinato. O filme ainda aborda a improvável coincidência das mortes consecutivas de Lacerda, Juscelino e Jango em circunstâncias suspeitas.   E se Jango foi assassinado? Em exercício de futurologia, imaginemos o que ocorrerá caso as suspeitas revelem-se verdadeiras. No mínimo, outras perguntas ficarão no ar: quem são os culpados pelo envenenamento? eles serão punidos? quem foi o responsável pela ordem de assassinar o presidente deposto? Uma coisa é certa: no mínimo, existirá a necessidade de reimpressão dos livros de História. A exumação de Jango acontece em momento curioso. A um ano da eleição presidencial, os ânimos entre direitistas e esquerdistas transformaram a web e, em particular o twitter, em ambiente conflagrado. A investigação da morte de Jango deve acirrar ainda mais as opiniões contrárias. O diretor Silvio Tendler, autor do documentário Jango, de 1984, foi vítima de um episódio que demonstra o retorno de uma certa truculência no debate político. Em março do ano passado, houve um tumulto entre policiais e manifestantes no protesto contra a ‘celebração’ do aniversário do golpe no Clube Militar do Rio de Janeiro. Tendler foi intimado a prestar depoimento na delegacia em queixa-crime movida pelo Clube Militar. O surreal do episódio é que Tendler não estava presente no protesto, estava em casa recuperando-se de uma cirurgia. Há quase um ano, o diretor está em uma cadeira de rodas. A única atitude do documentarista relacionada ao protesto foi a gravação de um vídeo de apoio ao ato.   Jango, por Tendler O documentário Jango, de Tendler, mostra em quase duas horas uma verdadeira biografia cinematográfica de João Goulart. Tendler já abordou em seus documentários figuras ímpares como Glauber Rocha (Glauber, o filme – Labirinto do Brasil, de 2003) e Juscelino Kubitschek (Os anos JK, de 1980). Em entrevista à jornalista Eleonora Lucena, o diretor lembra como surgiu a ideia de realizar seu filme. “Li no jornal que o Raul Ryff, que tinha sido secretário de imprensa do Jango, estava com umas cópias de filmes de visitas do Jango a China e a URSS. Telefonei para ele – eu não o conhecia – e pedi para vê-las … Ele me convidou para jantar e atacou de bate-pronto: ‘Por que não fazes um filme sobre o Jango?’” O filme lotou as salas durante o período das Diretas Já e chegou a um milhão de espectadores. Inclusive a música “Coração de Estudante”, que acompanha o final  do documentário, foi a música que simbolizou a luta pelas eleições diretas para Presidente. Assista ao filme na íntegra: [su_youtube_advanced url=”https://youtu.be/1O4SZQZ-ikk”]   (texto atualizado em 2 de dezembro de 2014) No enterro de Jango, o começo de uma caminhada

Marighella: a execução do inimigo número 1 da ditadura militar

  “A única coisa que parece não deixar dúvidas é a decisão dos altos escalões militares, àquela altura sob a hegemonia da linha dura, de que Marighella não deveria ser preso, deveria ser executado”.  (trecho do livro Carlos Marighella, o inimigo número um da Ditadura Militar, do jornalista Emiliano José) Marighella – No momento em que o regime militar recrudescia, a morte de Marighella (conhecido como ‘inimigo número 1 da ditadura militar’) era crucial para o governo. A posse de Médici em 30 de outubro de 1969 e a decretação do AI-5 quase um ano antes (13 de dezembro de 68) marcavam o início de um dos períodos mais vergonhosos e sangrentos de nossa História. Em uma emboscada na Alameda Casa Branca, na capital paulista, em 4 de novembro de 1969, Carlos Marighella foi assassinado por 29 agentes da ditadura militar. Ele estava desarmado. No comando da ação, o líder do chamado esquadrão da morte, o delegado do DOPS Sérgio Paranhos Fleury.  “Havia o desejo de receber o bônus da ditadura por ter eliminado o seu inimigo número um. Fleury não abria mão disso, daí ter conseguido a condição de executor da operação (sem tomar nenhum tiro, enquanto o coordenador acabou ferido). Marighella era um troféu precioso demais e Fleury deu um jeito de ficar com a fama de ter sido o homem que o matou, mesmo não reivindicando a autoria do tiro de misericórdia.”  (trecho do livro de Emiliano José) https://urutaurpg.com.br/siteluis/filme-marighella-mobiliza-a-esquerda-na-volta-do-cinema/ Ao lado de 7 irmãos, o comunista baiano Marighella foi filho de um anarquista italiano e uma negra do Recôncavo Baiano. Ele lutou contra duas ditaduras, a do Estado Novo e a ditadura militar. Poeta, foi autor também do “Manual do Guerrilheiro Urbano”. Marighella, imortal no Tempo, nas vozes de Whitman, Maiakovski, Neruda, Shakespeare e Nietzsche A sobrinha de Marighella, Isa Grinspum Ferraz, dirigiu o documentário Marighella, lançado no ano passado. Veja na íntegra, vale a pena: ‘Marighella’ leva oito estatuetas no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2022 A caçada a Lamarca

“Obama é uma víbora”

  Crítico frequente da política externa norte-americana, o diretor Oliver Stone declarou em entrevista recente no Japão: “Obama é uma víbora e nós temos que nos voltar contra ele”, referindo-se aos escândalos de espionagem do governo norte-americano. Na última semana, o jornal britânico The Guardian revelou que 35 líderes mundiais foram alvos de escutas do governo norte-americano. A fonte mais uma vez foi o ex-agente da inteligência dos Estados Unidos, Edward Snowden. Ao jornal uruguaio El País, Stone declarou que “Snowden é um heroi que se sacrificou para o bem dos Estados Unidos”. O interesse do diretor norte-americano pela política internacional, em particular a latino-americana, vem de longa data. O seu primeiro longa-metragem, Salvador, o martírio de um povo (1986) discute a ingerência de los gringos na sangrenta guerra civil salvadorenha. A política interna dos States foi abordada em filmes como Nixon (1995) e JFK (1991). O seu maior sucesso de bilheteria, Platoon (1986), reflete sua experiência como combatente no Vietnã. Com Platoon, Stone ganhou o Oscar em 1987 derrotando cineastas como David Lynch e Woody Allen, que concorriam com Veludo Azul e Hannah e suas Irmãs, respectivamente. Na entrega do prêmio, apresentado por Elizabeth Taylor, o cineasta dá a letra em discurso antibelicista. Veja: Salvador inspira-se na história de Richard Boyle, fotojornalista e roteirista que cobriu os conflitos salvadorenhos na década de 80 e assina o roteiro do filme com Stone. Interpretado pelo ator James Wood, Boyle pertence à estirpe dos correspondentes de guerra que não se refugiam em hotéis cinco estrelas. O fotógrafo cobre a guerra no meio do povo salvadorenho em uma das mais sangrentas guerras civis da História das Américas (75 mil mortos). Stone retrata com realismo e sem cortes o conflito entre o governo de direita e o movimento guerrilheiro Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN). Boyle conta com dois parceiros no filme, o fotógrafo John Cassady (interpretado por John Savage), o personagem foi baseado no experiente fotógrafo em zona conflagradas como Líbano e Nicarágua, John Hoagland. O alcoólatra Doutor Rock, em magistral interpretação de James Belushi, também acompanha Richard Boyle na dura rotina salvadorenha. Acusado de comunista e amigo dos guerrilheiros por um funcionário do governo americano, Boyle assume que é de esquerda. Em uma das cenas antológicas do filme, Rock dopa antes de uma entrada ao vivo a arrogante repórter de TV, loira e WASP, que cobre a guerra segundo as versões oficiais da CIA. Stone filma também sua versão do assassinato do arcebispo de San Salvador, Óscar Romero. Romero só foi aceito como arcebispo pelo governo por seu perfil conservador. Com o tempo, passou a ser um intransigente defensor dos Direitos Humanos. Romero foi assassinado durante uma missa por um atirador do exército salvadorenho. O fato recrudesceu o conflito. A política latinoamericana em South of a border O interesse de Oliver Stone pelo novo cenário político latino-americano o levou a filmar o documentário South of the border, lançado em 2009. Nele, o cineasta entrevista vários líderes da região: o venezuelano Hugo Chávez, o paraguaio Fernando Lugo, os argentinos Néstor e Cristina Kirchner, o equatoriano Rafael Correa, o boliviano Evo Morales, o cubano Raúl Castro e Lula. A ironia do documentário é como na época das filmagens de South of the border, Oliver Stone tinha reais esperanças em mudanças substanciais na política externa norte-americana com a eleição de Barack Obama para a Casa Branca. Com duras críticas à mídia norte-americana: o reacionarismo e ignorância ianque de âncoras e ‘jornalistas’ de redes de TV como CNN e FOX News beira o tragicômico. O filme retrata o ódio uterino de parte dos norte-americanos aos presidentes de esquerda da América do Sul. Stone explica o que o motivou na realização do documentário em 2009: “acho Hugo Chávez uma figura extremamente dinâmica e carismática, um personagem fascinante. Mas quando volto aos Estados Unidos não paro de escutar essas histórias de terror sobre o ditador, o cara mau, a ameaça à sociedade americana. Acho que o projeto começou a partir da demonização de líderes latinos pela mídia americana”. O escritor e cientista social paquistanês Tariq Ali, voz crítica às políticas neoliberais e estrela das edições do Fórum Social Mundial de 2003 e 2005, serve de guia ao espectador em meio aos depoimentos dos governantes latino-americanos. Kirchner lembra de sua luta contra as políticas neoliberais do FMI e confessa uma estarrecedora conversa que teve com George Bush em uma reunião em Monterey, no México. Segundo o argentino, Bush disse que as guerras historicamente sempre fizeram bem aos Estados Unidos e impulsionaram o crescimento econômico daquele país. Veja Salvador, o martírio de um povo dividido em 8 partes: parte 1 parte 2 parte 3 parte 4 parte 5 parte 6 parte 7 parte 8