Zona Curva

Política

Uma luz para você entender um pouco sobre o imbróglio político em que o país está metido.

Eleição de Gabriel Boric no Chile traz esperança para a esquerda da América Latina

Boric -Eleito no último dia 19 de dezembro, Gabriel Boric, 35 anos, é o presidente mais jovem da história do Chile. Iniciou sua carreira política como líder estudantil do grupo “Esquerda Autônoma”, foi presidente do diretório estudantil da Universidade do Chile e se tornou deputado em 2013. Apoiou as manifestações contra as políticas neoliberais do presidente Sebástian Piñera que marcou o país em outubro de 2019 e fez parte da frente ampla que levou à convocação do plebiscito para a redação da nova Constituição. Boric representa a chamada nova esquerda, diferente da que governou a América Latina no início do milênio. O novo presidente do Chile já se declarou a favor da legalização do aborto e da maconha, além de apoiar também as pautas LGBTQIA+. Além disso, ele soube equilibrar seus ideais com outras pautas populares em seu país como segurança pública, imigração e crescimento econômico.  Seu programa propunha quatro linhas principais de atuação de seu mandato: garantia de acesso universal à saúde, pensões decentes sem o sistema atual administrado por empresas privadas, sistema educacional público gratuito e de qualidade e, por último, a preservação do meio ambiente. Assim como para a maioria dos jovens, para Boric, a pauta ambiental também é uma prioridade. Entretanto, não é só nos assuntos políticos que o próximo presidente do Chile se aproxima dos jovens, ele é o primeiro presidente assumidamente tatuado da América Latina e fã declarado da cantora Taylor Swift (conforme podemos ver na foto abaixo). O ex-líder estudantil concorreu à presidência contra José Antonio Kast, o candidato mais à direita que o Chile já viu desde a democratização nos anos 90. Kast, apesar de sua fala mansa, é um fiel admirador de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Assim como o presidente do Brasil, ele defendeu a ditadura de Pinochet, e é um negacionista, que diz não haver provas do aquecimento global.  Ao que parece, a América Latina tende a mover o pêndulo político que apontava para a direita nos últimos anos. São exemplos da guinada à direita o golpe contra Dilma Rousseff e as eleições de Maurício Macri na Argentina e Sebastián Piñera no Chile.   Além disso, os jovens também pretendem atualizar as discussões e as prioridades da esquerda que comandava o continente no início deste século. Pautas feministas, antirracistas, ambientais e da comunidade LGBTQIA+ são imprescindíveis para os jovens da esquerda na hora da escolha do candidato. No Brasil, inclusive, muito se discute se Lula, o favorito da esquerda para 2022, saberá se adequar às pautas exigidas pelos jovens. Ele tem mostrado interesse em conquistar esse público e aprender mais sobre as novas demandas.  O ex-presidente vem participando de diversos programas para conquistar o público jovem como o Podcast “PodPah”, onde sua presença reuniu quase 300 mil pessoas simultaneamente nas redes, e atualmente o vídeo da entrevista conta com mais de 8 milhões de visualizações. Lula também participou do programa da ex-BBB Thelma, vencedora da edição de 2020, que contava com a presença da cantora Linn da Quebrada e do fenômeno da internet Gil do Vigor, ambos figuras muito conhecidas entre os jovens. A eleição de Boric, dois anos após a de Alberto Fernández na Argentina, animou a esquerda brasileira para eleição de 2022. Educação de qualidade, combate ao desemprego, que atinge principalmente os jovens, e a preservação do meio ambiente são alguns dos desafios dos candidatos do campo da esquerda quando alcançam o poder. Peru: mais um ataque da direita contra o governo O golpe e a justiça na Bolívia A aposta latino-americana pela conciliação América Latina e as lutas sociais O caminho da América Latina

Aceite ser manipulado: tenha ódio de política

Ódio de política – Há uma tradicional maneira de caçar ratos: basta colocar um pedaço de queijo dentro de uma armadilha. O roedor sente o cheiro da iguaria e, ágil, corre para devorá-la. Ao se aproximar, comete um erro involuntário que lhe custa a vida: pisa no mecanismo que fecha, automaticamente, a ratoeira, aprisionando-o. É o que faz o populismo de direita para neutralizar potenciais adeptos das teses progressistas. Apregoa o ódio à política. Alardeia que todos os políticos são corruptos! (Inclusive seus adeptos…). Substitui as pautas sociais pela de costumes. Reforça o moralismo farisaico. Assim, convence muitas pessoas a ter aversão à política. Quem tem ódio da política é governado por quem não tem. E tudo que os maus políticos querem é que tenhamos bastante nojo da política para, então, dar a eles carta branca para fazerem o que bem entenderem. O que mais temem é que participemos da política para impedir que seja manipulada por eles. Não existe neutralidade política. Existe a doce ilusão de que podemos ignorar a política, abdicar do voto e ficar recolhido ao nosso comodismo. Ao agir desta forma, nos tornamos o rato que come tranquilamente o saboroso queijo, sem ainda se dar conta de que perdeu a liberdade e, provavelmente, a vida. Ninguém escapa dos dois únicos modos de fazer política: por omissão ou participação. Ao ficar alheio à conjuntura política, ignorar o noticiário, evitar conversas sobre o tema e nos abster nas eleições, assinamos um cheque em branco à política vigente. A omissão é uma forma de adesão à política e aos políticos que, no momento, dirigem a política do país no qual vivemos. O outro modo é a participação, que tem duas faces: a dos que apoiam a política vigente e a dos atuam para mudá-la e implantar um novo projeto político. As forças políticas de direita, que naturalizam a desigualdade social, acusam muitos políticos de corruptos (às vezes, com razão!). Mas não propõem ignorarmos a política. Propõem substituir os políticos por empresários, dentro da lógica capitalista de privatização do espaço público e do Estado. Foi o caso do governo fracassado de Macri, na Argentina, e de muitos outros exemplos mundo afora. Em tudo há política A política não é tudo, mas em tudo há política. Desde a qualidade do café que tomamos todas as manhãs até as condições humanas (ou desumanas) de nossas moradias. Tudo na vida de cada um de nós depende da política vigente no país: a qualidade de nossa educação escolar, o atendimento à saúde, a possibilidade de emprego, as condições de saneamento, transporte, segurança, cultura e lazer. Não há nenhuma esfera humana alheia à política. Inclusive a natureza depende dela – se as florestas são ou não preservadas, se as águas são ou não contaminadas, se os alimentos são orgânicos ou transgênicos, se os interesses do capital provocam ou não desmatamentos e desequilíbrio ambiental. A qualidade do ar que respiramos depende da política vigente. Um dos recursos que a direita utiliza para dominar a política é a manipulação da religião, em especial no continente americano, onde a cultura está impregnada de religiosidade. A modernidade logrou estabelecer uma saudável distinção entre as esferas política e religiosa. Isso após longos séculos de dominação da política pela religião. Hoje, em princípio, o Estado é laico e, na sociedade, a diversidade religiosa é respeitada e tem seus direitos assegurados, tanto no âmbito privado (crer ou não crer), quanto no público (manifestação de culto). Atualmente, os religiosos fundamentalistas querem confessionalizar a política. Usar e abusar do nome de Deus para enganar os incautos. Ora, nem a política deve ser confessionalizada, pois tem que estar a serviço de crentes e não crentes, nem a religião deve ser partidarizada. A Igreja, por exemplo, deve acolher todos os fieis que comungam a mesma fé e, no entanto, votam em candidatos de diferentes partidos políticos. Isso não significa que a religião é apolítica. Não há nada nem ninguém apolítico. Uma religião que acata a política vigente está, de fato, legitimando-a. Toda religião tem como princípio básico defender o dom maior de Deus – a vida, tanto dos seres humanos quanto da natureza. Se um governo promove devastação ambiental ou privilegia os ricos e exclui os pobres, é dever de toda religião criticar este governo. Sem pretender ocupar o espaço dos partidos políticos, como, por exemplo, apresentar um projeto de preservação ambiental ou de reforma econômica. Em sua missão profética, cabe às confissões religiosas abrir os olhos da população para as implicações éticas da política deletéria do governo. No caso dos cristãos, entre os quais me incluo, é sempre bom frisar que somos discípulos de um prisioneiro político, Jesus de Nazaré. Ele não morreu de acidente nas escadarias do Templo de Jerusalém, nem de doença na cama. Foi perseguido, preso, torturado, julgado por dois poderes políticos e condenado a morrer assassinado na cruz. Foi considerado subversivo por defender os direitos dos pobres e ousar, dentro do reino de César, propor outro reino, o de Deus, que consiste em um novo projeto civilizatório baseado no amor (nas relações pessoais) e na partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano (nas relações sociais). Portanto, não há como alguém escapar da política. Estamos todos imersos nela. Se a política que predomina hoje em nosso país e no mundo não nos agrada, busquemos meios para alterá-la. A realidade atual de nosso país e do mundo resulta da política adotada nas décadas precedentes. Cabe a cada um de nós se decidir: acatar ou transformar? Um dos exemplos mais curiosos de que tudo tem a ver com a política é este: o último mês do ano é dezembro, que equivale ao numeral dez. Antes dele, novembro, nove. Atrás, outubro, oito. Precedido por setembro, sete. E quantos meses tem o ano? Doze! Eis a política: na Roma antiga o ano compreendia 304 dias e tinha 10 meses: martius, aprilis, maius, junius, quintilis, sextilis, september, october, november e december. Mais tarde foram acrescidos os meses de janus e februarius. Para homenagear os

Que venha 2022, a última live do ano

  A última live política ZONACURVA do ano foi ao ar no dia 15 de dezembro e trouxe previsões e especulações sobre os acontecimentos políticos de 2022, ano que será marcado por eventos como a Copa do Mundo e as eleições, e que sofrerá os impactos da crise econômica, política e sanitária que vivemos nos últimos anos. O bate-papo contou com a presença do editor ZonaCurva Fernando do Valle, o advogado Roberto Lamari e o editor do VIShows Luis Lopes. Apesar das pesquisas eleitorais terem apontado Lula como o candidato favorito, é importante ficar atento ao clima de “já ganhou” de Lula, observou o editor Fernando do Valle. Lopes relembra a possibilidade do segundo governo de Lula repetir a história de Getúlio Vargas nos anos 50, que voltou ao governo após o Estado Novo e tentou um governo mais conciliador, o que não deu certo. Segundo o editor Zonacurva, a elite brasileira se acostumou a não abrir mão de seus privilégios no governo Bolsonaro e isso pode dificultar um novo mandato do petista. “Será que a elite vai permitir que os jovens da periferia retornem às universidades e que o extinto Bolsa Família seja reabilitado e distribuído como antes? ”, questionou Valle. Foi debatido também que Lula talvez esteja ciente das dificuldades em 2023 se vencer ao cogitar o ex-tucano Geraldo Alckmin como vice de sua chapa. A tal “terceira via”, tão incensada pela mídia corporativa. também foi alvo de especulação dos participantes da live. Após Ciro Gomes anunciar – e depois voltar atrás – que não seria mais candidato à presidência, o ex-juiz Sérgio Moro cresceu nas pesquisas de intenção de voto.  No último mês, o ex-juiz Sérgio Moro, tornou-se o queridinho de parte da mídia conservadora e tenta conquistar os votos dos anti-petistas arrependidos do voto em Bolsonaro em 2018. Mesmo inexperiente em cargos políticos e julgado como juiz suspeito pelo STF, Moro aparece em terceiro lugar em intenção de voto, em empate técnico com Ciro, nas últimas pesquisas.  No dia da live (15 de dezembro), Ciro Gomes e seu irmão Cid Gomes tiveram suas casas invadidas pela Polícia Federal. A justificativa foi a apuração de irregularidades e um suposto esquema de desvio de verbas na construção da Arena Castelão, o principal estádio do Ceará. Ciro revoltou-se com a operação e acusou Bolsonaro de utilizar a PF como arma política. Lamari aponta que Moro é quem ganha com a operação contra Ciro Gomes. Já Fernando, aponta que a base que ainda apoia Bolsonaro é formada por evangélicos neopentecostais, militares e parte da elite econômica. Com isso, segundo o editor do Zonacurva, o que resta ao presidente atual, em sua estratégia para 2022, será a disseminação do pânico moral. Deste modo, Valle reforça a importância da retomada das ruas por protestos de esquerda no início do próximo ano para que não haja espaço para que Bolsonaro inflame seus apoiadores com discurso golpista, assim como ocorreu em no dia 7 de setembro deste ano. https://urutaurpg.com.br/siteluis/ha-vida-fora-do-realismo-capitalista/

Adeus 2021, sem saudade

Retrospectiva 2021 – O ano que passou, no Brasil, foi um tempo de terror. E não foi só por conta do coronavírus, visto que o andamento da vacinação, ainda que lento, foi baixando os casos e as mortes. Apesar de todo o trabalho que o governo federal fez para impedir a imunização massiva da população, mesmo entre os apoiadores do governo, o chamado da vida foi mais forte e as pessoas foram buscando a vacina. Isso deu um respiro para a nação uma vez que o combate ao novo vírus só pode ser feito com a imunização coletiva da maioria da população. Ainda assim, nada está bem. As mortes continuam – passamos dos 600 mil óbitos  – e o negacionismo também, a tal ponto de o presidente da nação insistir em criticar a imunização em crianças, tão logo a Anvisa liberou, mesmo que os dados apontem que grande parte dos internados nas UTIs são jovens não vacinados. E, agora, no final do ano, hackers invadiram o sítio do Ministério da Saúde e apagaram dados sobre a vacinação e sobre a saúde dos brasileiros. Um “mistério” do realismo mágico. A quem interessaria destruir as informações sobre esse tema? Um pirulito para quem adivinhar. A maior taxa de terror veio mesmo por parte do governo federal, como tem sido recorrente desde 2019, quando assumiu o país esse agente da morte. Cumprindo suas promessas de campanha, Jair Bolsonaro deu sequência ao processo de destruição do país em todas as áreas. Não houve engano, tudo já estava claro desde o começo. Mas, a responsabilidade dessa destruição não é unicamente do presidente. O Congresso Nacional, com raríssimas exceções dentro dele, tem respaldado cada ação e cada proposta do governo federal. Destruíram direitos dos trabalhadores e abriram os cofres para o desmando e a corrupção. Não bastasse isso ainda aprovaram um tal de “orçamento secreto”, que não dá transparência sobre recursos federais entregues aos deputados. Uma vergonha nacional que é noticiada como se nada tivesse de absurdo. Em 2021, seguiu forte e sem parada o ataque aos povos originários, com o aumento sistemático da violência e do roubo das terras. A proposta do governo é acabar com eles. Incêndios e desmatamentos arrasando territórios inteiros e nossos biomas mais importantes. Igualmente recrudesceram os ataques da polícia militar, em praticamente todos os estados, contra a população negra e pobre. O extermínio da juventude virou política de estado, a ponto de acontecer um massacre com 26 mortos em Minas Gerais, sem que o tema rendesse qualquer debate nacional. Até hoje não se sabe o que de fato aconteceu na cidade mineira de Varginha. Nada além da acusação de “suspeitos” e “bandidos”. Provas de bandidagem? Nenhuma. O governo também continuou com o processo de desmonte na educação brasileira, retirando recursos de todos os níveis. A pandemia e a falta de uma política de acesso fizeram com que aumentasse o número de desistências, a taxa de analfabetismo encostou nos 7% e o analfabetismo funcional chega a quase 30% da população. Não bastasse isso, o negacionismo diante do coronavírus fez com que vários estados obrigassem os professores ao retorno presencial, gerando sofrimento mental e mais doença na categoria. O governo federal também estraçalhou com o Enem – porta de entrada para a universidade dos empobrecidos – a tal ponto de fazer com que a juventude da periferia desistisse dele, bem como do ensino superior, com redução de inscrição no vestibular. E, agora, quer garantir mais vantagens para os ricos no sistema do Prouni (programa de bolsas para garantir permanência) afastando ainda mais os empobrecidos da universidade, já que disputarão as já poucas bolsas com quem não precisa delas. No campo da saúde assistimos aparvalhados a CPI da Covid no Congresso Nacional que levantou não apenas os crimes cometidos por agentes do governo, bem como pelo próprio presidente da nação, além dos horrores que acontecem dentro dos hospitais privados geridos por planos de saúde, que simplesmente mataram os velhos com medicamentos inúteis para evitar gastos. Meses e meses de apresentação de provas e testemunhos sobre esses desmandos que, ao fim, deram em nada. Um ano inteiro sangrando sem que nem a Justiça nem os parlamentares fizessem qualquer coisa para punir os criminosos. Muito provavelmente tudo isso acabará em pizza ou arrastará processo por anos, que se findarão por inanição. O drama de milhões nas mãos dos bandidos tampouco conseguiu produzir qualquer comoção popular, além da sensação momentânea de estupor. Vivemos um crescendo do preço da gasolina – com mais de 50% de aumento no ano – causando a alta dos preços de todas as mercadorias, inclusive as da cesta básica. A fome, que tinha sido banida do nosso país, voltou com força e não poderia ser diferente, pois todo o apoio governamental está voltado para os fazendeiros, mineradores e multinacionais. A indústria brasileira agoniza, bem como os pequenos produtores e pequenos comerciantes. E as estrelas da mídia ensinando como economizar gás, cozinhando com lenha, ou como trocar a carne por sopa de ossos. Uma perversidade sem tamanho. O desemprego – conforme dados do IBGE – está na casa de 14 milhões de brasileiros e mais de seis milhões sequer buscam ocupação, pois já não tem esperança, o que dá uma soma de 20 milhões de seres sem ter como ganhar a vida nesse país. Mas, se formos atrás de outros dados, como os do “Mapa da exploração dos trabalhadores no Brasil”, do Ilaese, que usa outra metodologia, o número de desempregados passa dos 50 milhões. Nesse contexto, aumenta também a violência e o desespero. A classe média baixa que ainda tinha a chance de juntar um dinheirinho, apostando na poupança, historicamente o único investimento possível, está à deriva também. A caderneta, que valorizava em parco 1% agora só vai render 0,5%, ou seja, absolutamente nada. A inflação de 10% ao ano come tudo o que puder render. Ou seja, só perdas. A classe média, protagonista da ascensão dessa gente que hoje governa o país, pouco se manifesta e quando o faz é

Combater a fome e o veneno na alimentação

Fome – A alimentação é o direito humano número 1. No Brasil, 19 milhões de pessoas (9% da população) padecem de fome crônica, agravada pela pandemia, o desemprego, o aumento dos preços dos alimentos (o maior desde 2003) e, sobretudo, o desgoverno Bolsonaro. A insegurança alimentar moderada e grave afetou 21,5% da população em 2004; 10,3% em 2013; e em 2020 chegou a 20,5% (Rede Penssan – Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania Alimentar e Nutricional). Hoje, 116 milhões de pessoas no Brasil se encontram em insegurança alimentar, ou seja, não sabem o que haverão de comer no dia seguinte ou não têm acesso a uma alimentação que contenha nutrientes essenciais. Em 2004, a pobreza atingia 21,5% da população brasileira. Dez anos depois (2014) foi reduzida para 8,4%. Subiu para 11% na recessão de 2015-2016, e para 16% no primeiro semestre de 2021. A Ação Coletiva Comida de Verdade, rede integrada por 13 movimentos comprometidos em promover segurança alimentar, identifica 310 iniciativas de sistemas alimentares inclusivos e sustentáveis no Brasil, de hortas comunitárias a cooperativas e campanhas de financiamento coletivo. Dessas 310, 58,9% se dedicam à comercialização, como feiras agroecológicas e distribuição de cestas da agricultura familiar. E 31% são ações solidárias destinadas a facilitar o acesso a alimentos de grupos vulneráveis; e 7,5% resultam de políticas públicas. Desde o lançamento do programa Fome Zero, no governo Lula, se propõe às prefeituras cancelar o IPTU de lotes e terrenos baldios que forem cedidos por seus proprietários ao cultivo de hortas comunitárias. Em 1950, segundo censo do IBGE, 2/3 da população brasileira (64%) viviam na zona rural. No último censo, de 2010, eram 84% nas cidades e 16% na zona rural. Isso se traduz em favelas, desemprego, violência e, sobretudo, consumo de alimentos industrializados de pouco valor nutricional. O MST é, hoje, o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, isto é, sem insumos como adubo químico e agrotóxico. Aliás, esses produtos encareceram na pandemia, afetando o preço dos alimentos. No MST, o pacote de 1kg de arroz custa de R$ 7 a 8. No Rio Grande do Sul, o movimento espera colher, para a safra de 2022, 300 mil sacas. No início de 2021, foram 248 mil sacas, no valor de R$ 20 milhões, e 130 mil continuam em estoque, pois a maior dificuldade é escoar a produção, já que o principal comprador é o governo, a Conab e o Programa Nacional de Alimentação Escolar. E em se tratando de produtos do MST… a Conab não tem aberto leilões para adquirir produtos da agricultura familiar. Nem o governo federal se mostra interessado em manter estoques reguladores. O Brasil é o terceiro país do mundo a utilizar agrotóxicos, atrás da China e dos EUA (FAO). Em 2019, foram vendidas no Brasil 620 mil toneladas de agrotóxicos (Ibama). Desse total, 38,3% são “altamente ou muito perigosos”, 59,3% “perigosos” e apenas 2,4% “pouco perigosos”. O governo Bolsonaro flexibilizou o registro dos agrotóxicos. Desde a lei de 1989, se evitava aprovar qualquer um que contivesse substâncias que causam distúrbios respiratórios graves, câncer, mutação genética, má formação fetal, Parkinson, além de alterações hormonais e reprodutivas. O decreto de 7 de outubro deste ano (10.833/2021) aprovou o “pacote de veneno”. Reduz o prazo de aprovação dos agrotóxicos, aumenta a participação do Ministério da Agricultura e cria “limites seguros” para que substâncias antes proibidas sejam aprovadas. As entidades contrárias à medida dizem que o Brasil tem grande potencial de produzir biodefensivos, mas o governo as ignora. De janeiro a setembro de 2021 foram liberados no Brasil 1.215 agrotóxicos (Diário Oficial). Entre 2005 e 2015 o ritmo de aprovação era cerca de 140 por ano. Este ano já foram liberados 345. Dos produtos usados no Brasil, 30% possuem substâncias ativas proibidas em países europeus, como atrazina, acefato e paraquate. Este último herbicida, utilizado em plantios de algodão, milho e soja, foi vetado em 2017, mas se permitiu usar o estoque até julho deste ano. Está proibido em 37 países. Provoca Parkinson nos agricultores. Desde 1997, os agrotóxicos recebem incentivos fiscais do governo. Ao permitir a desoneração de até 60% do ICMS no comércio dos venenos, os estados deixam de arrecadar R$ 6 bilhões por ano! Uma das principais fontes de venenos na alimentação são os ultraprocessados. O governo deveria regular a publicidade, elevar os impostos e obrigá-los a estampar rótulos de advertência, como no cigarro. A partir de outubro de 2022, produtos com alta concentração de sódio, açúcar e gorduras saturadas deverão expor os índices em suas embalagens. A dieta in natura é mais cara que consumir ultraprocessados, cujo maior custo decorre de embalagem, transporte e propaganda. Os ultraprocessados são feitos, não para alimentar, e sim para incentivar o consumo excessivo. Refrigerantes, por exemplo, não se destinam a matar a sede, e sim viciar o consumidor. Favorecem a obesidade, a hipertensão e o diabetes. E o pior: aqui são incentivados pelo governo. Refrigerantes fabricados na Zona Franca de Manaus recebem subsídios na forma de créditos tributários. Em setembro, o Idec denunciou que 59,3% dos produtos ultraprocessados apresentam resíduos de agrotóxicos. Entre 27 produtos, mais da metade continha resíduos de glifosato ou glufosinato – dois herbicidas muito usados em plantações de soja, milho e algodão. Segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS), o glisofato causa câncer. Aparece em salgadinhos, bisnaguinhas, biscoitos de água e sal, bolachas recheadas, cereais, pães de trigo e bebidas de soja, itens muito consumidos por crianças e adolescentes. A Anvisa, que controla o índice de agrotóxicos em produtos orgânicos, não o faz quando se trata de industrializados. O agronegócio reconhece que, nos últimos 30 anos, a área de plantio no Brasil cresceu apenas 50% e, graças ao uso de agrotóxicos, a produção de grãos aumentou em 360%! (CropLife Brasil). Salva-se a bolsa, danam-se as vidas! Publicado originalmente no Correio da Cidadania. Tá osso! Norte e Nordeste voltam a ser esquecidos no faminto Brasil de Bolsonaro

Peru: mais um ataque da direita contra o governo

Pedro Castillo – O mandato do presidente Pedro Castillo, no Peru, vem sendo sistematicamente atacado desde o dia da posse. Primeiro foram as acusações de fraude nas eleições, como se isso fosse possível a um candidato que estava totalmente alijado das estruturas do poder, considerado, inclusive, como um azarão. Ainda assim, o tumulto foi grande e atrasou a posse. Depois, vieram as sanções aos nomes dos ministros, que precisam ser aprovados pelo Congresso. Muitos deles acabaram pedindo para sair, como foi o caso do ex-guerrilheiro Héctor Béjar, para evitar maiores confrontos e permitir que o presidente começasse logo a governar. E outros foram trocados por Castillo, também visando garantir governabilidade. Decisões questionáveis, pois, quando mais o governo vai cedendo, mais a direita vai avançando no sentido de pressionar o presidente contra a parede. Foram mais de cem dias para ter o gabinete aprovado. Nesta semana, a oposição no Congresso decidiu mais uma vez tentar inviabilizar o trabalho de Castillo. Foi apresentada uma moção de vacância presidencial – destituição – contra o presidente alegando que ele não tem capacidade moral para dirigir o país. O pedido  apresentado pela deputada Patricia Chirinos (Avanza País) tem 28 assinaturas, mas são necessárias 52 para que o Pleno possa admitir o debate. Na proposta de mais de 200 páginas as acusações são de que a coligação Peru Libre teria usado fundos públicos do governo regional de Junín na campanha eleitoral e que o presidente não poderia ter designado funcionários vinculados ao “terrorismo”. Com mais esse ataque, outra vez o governo terá de trabalhar para apagar o incêndio dentro do Congresso, uma batalha institucional que coloca de novo toda a equipe na defensiva. Nas redes sociais e nos meios de comunicação – cuja maioria está vinculada à direita – a campanha sobre uma possível incapacidade de governar é marcante. Os parlamentares incitam a população a sair às ruas para parar o que chamam de “caos”, embora o tal caos não seja visivel a não ser a partir das turbulências no Congresso. Apesar de toda a campanha da direita peruana e dos ataques pontuais contra o governo, Pedro Castillo segue trabalhando na perspectiva de uma inversão de prioridades, tentando atender a maioria da população historicamente deixada para trás, investindo em programas de educação, saúde, energia, agricultura e moradia. Mas, a pressão dos grandes capitalistas – nacionais e estrangeiros – principalmente no que diz respeito ao setor de mineração tem feito com que Castillo aponte investimentos também nessa área. É uma queda de braço permanente. Peru: difícil começo A mídia, é claro, não dá destaque para o trabalho que vem sendo feito nas comunidades e no interior do país, e diariamente movendo suas baterias contra o governo.  Portanto, essa é uma batalha que precisa ser travada principalmente pela população, com os poucos instrumentos que têm. Se não houver um movimento forte, nas ruas, de apoio ao governo, a direita vai continuar avançando, buscando, esta sim, o caos. Por outro lado, cada vez que o governo cede às chantagens e às provocações da direita igualmente vai perdendo credibilidade junto aos seus aliados. São pouco mais de quatro meses de governo e Castillo precisa tomar uma decisão: ou aponta seu governo para um rumo de participação popular e mudanças estruturais, chamando a população para defender os câmbios, ou vai ser minado pouco a pouco até ser expulso do governo ou virar mais um triste exemplo da tentativa da esquerda liberal em servir a dois senhores, o que resulta sempre em desastre. O enfrentamento a mais esse ataque da direita será decisivo. O drama dos peruanos e de toda América Latina Pedro Castillo e os dramas da política A aposta latino-americana pela conciliação Eleição de Gabriel Boric no Chile traz esperança para a esquerda da América Latina

Lula e Boulos

Boulos e Lula – Tenho visto com muita preocupação militantes petistas afirmarem com veemência que não apoiarão a candidatura de Guilherme Boulos ao governo de São Paulo. Será que a esquerda não aprendeu nada com o que aconteceu no Brasil nos últimos anos? Não aprendeu a identificar qual o lado, o compromisso de cada um e a importância de ao menos uma frente ampla? Boulos tem sua trajetória construída ao lado dos sem-teto, um dos segmentos mais excluídos deste país, coibido no direito essencial à moradia. Diversas vezes tive oportunidade de presenciar sua abnegação. Foi viver na periferia e lutar com o povo mais sofrido. É uma liderança com pé no barro, e faz o que prega. A coerência é valor fundamental para todos nós que queremos mudar a sociedade. Boulos esteve ao lado de Lula nos momentos mais difíceis, quando muitos não queriam estar com medo de prejudicar sua imagem frente à opinião pública. Foi às ruas defender Dilma contra o golpe. Esteve em São Bernardo, junto com milhares de sem-teto, para lutar contra a prisão injusta do ex-presidente. Visitou Lula no cárcere de Curitiba. O próprio Lula já me manifestou sua admiração e carinho por Boulos. Na eleição para a prefeitura de São Paulo, Boulos mostrou ser uma grande liderança da nova geração de políticos progressistas críticos ao neoliberalismo. E parece que isso incomodou, em especial setores da esquerda que ainda não se abrem às novas lideranças jovens. A esquerda precisa ter a capacidade de se renovar, de abrir espaço para os que chegam, de mostrar caras novas. E Boulos representa muito bem essa renovação. Na atual e trágica conjuntura em que o Brasil se encontra é triste ver que ainda há quem se apega a diferenças menores e enxerga inimigos onde eles não existem. São os fantasmas de Shakespeare. Guimarães Rosa, pela boca de Riobaldo, em “Grande Sertão, Veredas”, afirma que, ao longo da vida, a pessoa perde aos poucos o medo de viver e de morrer, o medo maior, então, é de “nascer”. Nascer ali significa viver situações inéditas, escolhas diante das encruzilhadas da vida, fatos que simbolizam novos surgimentos esperançosos como a figura política de Boulos. Não há que ter medo desta nova liderança. Tenho absoluta certeza de que Lula é a pessoa mais preparada para derrotar Bolsonaro e tentar reconstruir o país. E ele sempre soube fazer isso valorizando seus aliados. Boulos tem todo o direito de lançar sua candidatura ao governo de São Paulo, principalmente após a bela campanha que fez na capital, ao lado de Luiza Erundina. Considero inclusive a melhor chapa: Lula para presidente e Boulos para governador. Seria um grande sinal de abertura para a renovação. Se o PT tomar outra decisão, paciência, está também em seu direito. Mas acredito que o momento histórico cobra de nós unidade. E caso não haja acordo, o mínimo que se espera é respeito. Ataques e falta de generosidade aos que sempre estiveram do mesmo lado, junto com desconfianças de traição, não é um bom caminho, exceto para a direita, que torce pelo fracasso da esquerda. Em minha trajetória, aprendi a valorizar mais o compromisso social do que a filiação partidária. Essa bússola me permite manter-me firme com os valores que abracei, tendo em vista o sonho de uma sociedade justa e solidária. Espero votar, ano que vem, em Lula e Boulos. E que os partidos da esquerda tenham discernimento para construir um ambiente de respeito e unidade, focando suas críticas naqueles que, de fato, são adversários e inimigos da maioria do povo brasileiro. Publicado originalmente no Correio da Cidadania. Alckmin de vice é autossabotagem Que venha 2022, a última live do ano   Lula ganha no primeiro turno, segundo IPEC   A candidatura do Lula Guilherme Boulos mobiliza a esquerda com lançamento de livro  

Norte e Nordeste voltam a ser esquecidos no faminto Brasil de Bolsonaro

    Fome – A intensificação da crise econômica durante o governo Bolsonaro fez o Brasil retornar aos patamares de insegurança alimentar obtidos em 2004, ano em que o programa “Fome Zero” começou a vigorar. A segurança alimentar apresenta níveis caóticos em todo o país e as desigualdades regionais intensificam ainda mais a situação da fome. Segundo o Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), as regiões Norte e Nordeste apresentaram queda de 40% e 30% respectivamente, na segurança alimentar das famílias, isso ocorre quando a família tem alimentos garantidos para suas refeições. Já a insegurança alimentar grave, a fome propriamente dita, cresceu 18,1% na região Norte e 13,8% no Nordeste. Juntamente a esses números, a inflação, a crise sanitária e um governo relapso em políticas públicas contribuem para a intensificação da fome no Brasil. Jair Bolsonaro ignora os 19 milhões de brasileiros que passam por essa situação quando declara aos seus fiéis eleitores do cercadinho  que “a esquerda fala que a gente não come arma, come feijão, quando alguém invadir a tua casa, você dá tiro de feijão nele”.   Enquanto sua gestão extingue ferramentas importantes para o combate à fome no Brasil como o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) e o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ela sugere a compra de armas de guerra para uma população onde cerca de 14% dos domicílios vivem com uma renda per capita de até meio salário mínimo, o equivalente a 596 reais por pessoa.  Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas ,itens básicos para o dia a dia como o arroz e o feijão, alimento principal no prato dos brasileiros, tiveram alta de mais de 60%, até mesmo o café, que foi o carro chefe da exportação durante décadas, está mais caro. A desigualdade social é um mal que assola o Brasil desde sua colonização, mas a fome e a extrema pobreza eram assuntos prioritários das políticas governamentais até o final do primeiro governo Dilma em 2014, ano em que o país deixou o Mapa da Fome da ONU.  A ascensão da extrema direita e seu descaso com os pobres deixaram pautas importantes para o Brasil como o combate à fome e a desigualdade social em alguma gaveta perdida do Ministério da Economia, Por outro lado, houve crescimento dos bilionários no país, conforme pode ser lido no texto abaixo. Governo Bolsonaro agrava o fosso da desigualdade A disparidade regional, que vinha sendo combatida com programas como o Bolsa Família e a transposição do rio São Francisco, se intensificou desde então. O acesso restrito à água e a densidade domiciliar auxiliaram na transmissão da Covid-19 nas regiões mais carentes do país. De acordo com o relatório da Rede Penssan, o fornecimento irregular de água ou a falta de água potável atinge cerca de 40% dos domicílios da região norte. Além disso, o mesmo percentual de moradias na região conta com um cômodo per capita, o que dificulta o isolamento social. O desemprego também é maior nessas mesmas localidades. Na região norte, 20% dos entrevistados pelo estudo tiveram um membro do lar dispensado de suas ocupações, e cerca de 55,3% tiveram que realizar cortes em despesas essenciais. Quando olhamos para a região nordeste, os dados são mais assustadores, apesar do número de desempregados ser quase o mesmo (20,4%), 61,4% dos entrevistados pelo estudo tiveram que reduzir gastos vitais. Em meio ao caos em que vivem milhões de brasileiros por incompetência do governo federal, coube à sociedade civil se organizar para combater a fome. O Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) construiu 16 cozinhas solidárias em 10 estados, incluindo Alagoas, Sergipe, Ceará, Rondônia e Sergipe, com o objetivo de servir ao menos uma refeição gratuita por dia. Já o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) doou mais de 5 mil toneladas de alimento para as populações mais carentes, além de um milhão de marmitas. Fonte: Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional   Fome per capita do Brasil e Jonathan Swift Fome, outra pandemia Desigualdade social: Ricos ganham 36 vezes mais que os pobres no Brasil, segundo IBGE

O vexame brasileiro na COP26

Ecossocialista Mariana Martins comenta sobre a inexistência e defasagem de propostas climáticas pelo governo federal   Com colaboração de Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu na última sexta-feira (dia 5), a ecossocialista Mariana Martins para comentar sobre o vexame brasileiro na COP 26, reunião organizada pela ONU na cidade escocesa de Glasgow, onde líderes de mais de 200 países discutem o caos climático.  Às vésperas da reunião, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o Programa Nacional de Crescimento Verde, alegando que pretende estimular a sustentabilidade, mas não comenta como irá fazer isso. Para a ativista, o Plano Verde deve levar esse nome por não estar maduro. A falta de propostas eficientes e claras dificultam o olhar otimista sobre o tema, afirma a entrevistada para o editor Zonacurva Fernando do Valle, o advogado Roberto Lamari e o editor do Vishows Luís Lopes. Martins explica que o ecossocialismo é uma forma de entender o marxismo respeitando os limites do planeta, revisando o consumo exagerado. “Para o sistema, tirar o lucro como o objetivo principal da sociedade e almejar o bem-estar comunitário é incompatível. Não dá para continuar vivendo no capitalismo achando que também dá para cuidar do meio ambiente”  A COP 26 veio com o objetivo de atualizar e reorganizar as propostas vigentes no Acordo de Paris, assinado por vários líderes mundiais em 2015. Dentre os diversos desafios ambientais que as nações do mundo enfrentam encontramos a política ambiental do atual governo brasileiro que agravou os problemas ambientais, tanto nacionais como mundiais. O Brasil saiu de vítima em 2015 para se tornar o vilão climático em 2021. Os problemas ambientais do país não se limitam apenas às queimadas frequentes na floresta amazônica, mas também às práticas antiambientais de boa parte do agronegócio, que é o grande emissor de metano do país.  Para a ativista, o caráter exploratório do agronegócio o impossibilita de viver em harmonia com a sustentabilidade, afinal seu objetivo é lucrar com a exportação, e não o de alimentar pessoas. Na verdade, os brasileiros dependem da agricultura familiar para seu sustento. O acordo firmado entre o estado e as empresas de exportação de alimentos gerou esses problemas. E, nitidamente, ambos vêm aplicando uma política de desmonte dos órgãos de defesa do meio ambiente como Ibama e Icmbio, deste modo, ambientalistas, indígenas e a sociedade civil que se revoltam ao ver o governo “passando a boiada”, se tornam inimigos do governo. Martins explica que o ataque de Bolsonaro aos povos originários é uma tentativa de cumprir os acordos com o agronegócio. “Bolsonaro fala que os povos originários querem terra, mas quem quer terra é grileiro”, diz a ecossocialista. Ela completa que, para os povos indígenas, a terra não é deles, a terra é a natureza. Inclusive dentro das aldeias, há compostagem e cada um tem responsabilidade com seu próprio lixo. A catástrofe climática que o mundo enfrenta já tem dado seus sinais. Em julho deste ano, ondas de calor jamais vistas anteriormente atingiram a costa oeste do Canadá e dos EUA. Segundo a polícia de Vancouver, mais de 130 óbitos ocorreram por mal súbito na cidade em apenas um dia.  Já nos EUA, o calor foi tão intenso que chegou a derreter os cabos elétricos em Portland. Para a ativista, caso situações extremas como essas ocorram no Brasil, safras de alimentos serão comprometidas. Mariana afirma que a crise de abastecimento poderá se intensificar, afetando as populações mais carentes. Geração Z sofre com eco-ansiedade, medo da destruição ambiental Mil noites no Brasil

O rabo que abana o cão

Vivemos uma conjuntura social e política anacrônica onde os acontecimentos se sucedem entre espasmos de hipocrisias, preconceitos, ódios e o fascismo descarado de uma elite – desculpe-me –, de uma burguesia liberal que emoldura e transforma o Estado numa distopia amorfa. Nesse caso, o Estado enquanto entidade ficcional jurídica é a representação de um país totalmente disforme, distorcido de institucionalidade, soberania e à margem dos parâmetros democráticos, lançado ao esgoto infecto da autocracia miliciana, ditatorial, de um pária funesto. Distopia, etimologicamente, é composta pelo prefixo “dis” (doente, anormal, anomalia ou mal funcionamento) mais “topos” (lugar, região). Há certa complacência, um verniz de convívio polido nos alicerces do presente governo autoritário do Brasil com a chamada grande mídia hegemônica, a estrutura judicial de dominação, o grande empresariado e banqueiros de ocupação militar, o parlamento capturado de cooptação, etc., numa gravitação varejeira na defesa de interesses mercantis de desestatização, destruição e entrega do patrimônio público e violência explícita à população e entidades de representação civil. A democracia, para estas forças conservadoras que adularam o golpe iniciado em 2013, passou a ser um valor essencialmente perigoso para o seu projeto liberal-reformista como também descartável para uma elite que, peneirando a luz do sol, se exprime avessa a todo e qualquer tipo de utopia, como se esta fosse essencialmente perigosa e necessariamente descartável. As distopias problematizam os danos prováveis e ameaçadores desses projetos/programas conservadores, contra a massificação cultural, a defesa da liberdade e das pautas de identidade, as lutas indígenas e da terra, buscando impedir o avanço de tendências contrárias ao retrocesso em que estamos imersos. Talvez por isso enfatizem tanto uma narrativa decadente, insubmissa e radicalmente crítica a qualquer mudança nas atuais corporações centralistas de Estado. O recente passeio, vadiação do presidente da República na Itália, apenas serviu como palco e vitrine para o seu discurso e a prática dos métodos do terror neofascista e barbárie antidemocrática. Lembremos que no último relatório publicado em abril/2021 das Variações da Democracia (V-Dem), do instituto de mesmo nome da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, o Brasil é o 4º país que mais se afastou da democracia em 2020 num ranking de 202 países analisados, atrás dos governos autoritários e autocráticos da Polônia, Hungria e Turquia. Segundo os pesquisadores, os processos de Índia, Turquia e Brasil, apesar de estarem em estágios diferentes, seguem um mesmo roteiro: “Primeiro, um ataque à mídia e à sociedade civil, depois o incentivo à polarização da sociedade, desrespeitando os opositores e espalhando informações falsas, para então minar as instituições formais“. A luta em defesa da democracia se impõe de forma irremediável e urgente, ante a iminência de um retrocesso civilizatório de um golpismo intramuscular, do calamitoso dejeto de um desgoverno municiado e armado por uma horda miliciana, ora de fraque, ora de farda, forçando um progressivo fechamento dos espaços de civilidade e o abrupto cerceamento das liberdades e garantias fundamentais. As eleições presidenciais de 2022 já nos reservam lances da barbárie escatológica bolsonarista que se avizinha, com a mesma participação dos agentes paraestatais, ataques cibernéticos sofisticados, a hackerização sob a complacência dos órgãos judiciais, da mesma casta siamesa do lavajatismo, do enxerto midiático das grandes mídias que embalam ou abanam os seus mesmos ícones mercadológicos e as bandeiras da vassalagem e submissão do Estado democrático. Bolsonaro contra o Brasil Extrema direita deseja a tolerância ao intolerável nas redes Vai ter golpe?

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