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ditadura militar

Decisão judicial inédita reconhece tortura do regime militar em certidão de óbito

João Batista Franco Drummond – Após 38 anos, a família de João Batista Franco Drummond conseguiu, na semana passada, novo atestado de óbito do militante assassinado pelo regime militar. Em decisão inédita, Tribunal de Justiça de São Paulo deferiu pedido de retificação de sua certidão de óbito. Em uma decisão de dois votos contra um, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu acatar o pedido de retificação do Atestado de Óbito de João Batista Franco Drummond, constando que ele foi morto sob tortura no DOI-Codi do II Exército em São Paulo no ano de 1976. No dia 29 de março de 2012, na 1ª instância, houve parecer favorável. A partir daí, o Ministério Público do Estado de São Paulo colocou objeção quanto à palavra “tortura”, argumentando ter “ausência de prova” para o que foi denunciado e requerido no atestado. “Esse é o primeiro caso ocorrido no nosso país em que uma família pleiteou perante o Poder Judiciário a retificação da certidão de óbito do seu ente querido. Posteriormente tivemos dois casos, ambos tramitaram na segunda Vara de Registros públicos de São Paulo que são os casos de Vladimir Herzog e Alexandre Vannuchi Leme”, detalhou o advogado da família Drummond, Egmar Santos. Desde que seu marido foi assassinado, Maria Ester Cristelli Drummond teve que se exilar com a família e mora até hoje na França, com as duas filhas, Rosa e Silvia Drummond, que conviveram desde crianças com a morte traumática do pai. Ela assinou o pedido em 2011 e detalhou para o advogado o sofrimento que se prolonga nos dias de hoje. “Maria Ester se nega a apresentar para os netos a versão da farsa [montada pela Ditadura]. A decisão da sessão de hoje é o findar de um martírio”, relatou Egmar Santos, diante dos juízes. Contradições nos documentos Os familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos do Brasil acompanham este caso e encontraram contradições em diversos documentos. O laudo falso assinado pelos médicos legistas Abeylard de Queiroz Orsini e José Gonçalves Dias, orientado por outro legista e na época diretor do IML de São Paulo, Harry Shibata, descreve que João Batista foi morto por atropelamento na Avenida Nove de Julho, esquina com a Rua Paim, bairro da Bela Vista, local distante do bairro da Lapa. O relatório do Ministério da Aeronáutica entregue ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa, em 1993, diz que João Batista “foi morto em confronto com agentes dos órgãos de segurança”. Segundo o relatório do Ministério da Marinha, Batista “foi morto num tiroteio em 16 de dezembro de 1976, no bairro da Lapa, quando a casa em que se encontrava com outros companheiros foi invadida pelos agentes de segurança”. O advogado Egmar Santos acrescentou que Harry Shibata foi cassado e expulso como médico-legista pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Restabelecimento da verdade A Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) e a Comissão Nacional da Anistia já haviam reconhecido que João Batista Drummond foi morto nas dependências do DOI-Codi em decorrência das torturas. A Lei dos Registros públicos estabelece que descreva se a morte foi natural ou violenta. O pedido da família ressalta no princípio que é preciso se estabelecer a verdade sobre todas as circunstâncias dos fatos ocorridos durante a Ditadura no Brasil. O caso de João Batista Franco Drummond faz parte da lista de 164 casos tratados pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”. O presidente da Comissão, deputado Adriano Diogo (PT), disse que a decisão obtida no caso vai ajudar no trabalho de retificação dos outros mortos e desaparecidos. Há uma negociação junto à defensoria Pública de São Paulo para ajudar na retificação de outros atestados de pessoas assassinadas pela Ditadura Militar (1964-1985). O advogado Egmar Santos afirmou que o Poder Judiciário precisa criar mecanismos para reconhecer o estabelecimento da verdade já que o poder Executivo tomou a iniciativa criando, inclusive, a Comissão Nacional da Verdade. O relator da Apelação foi o desembargador Álvaro Passos. Apenas o desembargador Giffoni Ferreira foi a favor da interposição do Ministério Público. João Batista Franco Drummond era economista, militou em diversas organizações contra o regime ditatorial, passando pela Ação Popular até chegar no Partido Comunista do Brasil (PC do B). Estava há 10 anos na clandestinidade, já tinha sido condenado pela lei de Segurança Nacional, sendo julgado pela Justiça Militar entre 1969 e 1970. Acabou assassinado na conhecida “Chacina da Lapa”, ocorrida em 16 dezembro de 1976, quando foram mortos também Ângelo Arroyo e Pedro Ventura de Araújo Pomar.

Nem só as mães eram infelizes na ditadura militar

“Cabelo comprido e minissaia. Se tivéssemos proibido, se todas as mães do mundo tivessem proibido essa liberdade quando começou, protegido os corpos de nossos filhos, se nós tivéssemos proibido que eles se juntassem para aquelas danças de uns anos atrás eles não estariam assim, loucos, se nós tivéssemos proibido a pílula, proibido que se falasse em pílula nos jornais, meu Deus, se eu tivesse uma filha eu acho que morreria de preocupação, ficava doida, ter de olhar dentro da bolsa, ler as cartas escondidas, ouvir as conversas, proibir certas leituras, isso sim, se os jornais não pudessem falar de sexo, se tivéssemos proibido que tirassem a roupa nos teatros, nos cinemas, nas praias, esses hippies sem-vergonha fumando maconha e fazendo sem-vergonhices pelados na frente dos fotógrafos, isso deveria ser proibido publicar, é nossa obrigação defender os olhos dos nossos filhos contra essas liberdades, a gente deveria ter obrigado todos eles a cortarem o cabelo, agora é tarde, estão aí pelas ruas, correndo e gritando, brincando com fogo, fumando maconha, Carlinhos não, Deus me livre, até se ofendeu quando eu perguntei: “tá por fora, mãe, a minha é outra”, outra?, que linguagem é essa?, você quer o que na vida?, “tudo”, disse ele, “nós queremos tudo”” — trecho do capítulo Preocupações (de uma senhora mãe de um rapaz) do livro A Festa, do jornalista e escritor mineiro Ivan Ângelo, em que uma mãe reacionária está aflita com  o engajamento de seu filho Carlinhos no movimento estudantil na ditadura militar. O livro A Festa, de 1976, foi um dos primeiros  livros a retratar os conflitos políticos do período. Para isso, o escritor monta um caleidoscópio com contos que narram supostos acontecimentos da época. Reunidos, os textos podem também formar um romance. Com o livro, Ângelo venceu o Prêmio Jabuti de 1976.  

50 anos do golpe militar: Instituto Moreira Salles revive o clima cultural de 64

O Instituto Moreira Salles (IMS) do Rio de Janeiro dedica boa parte de sua programação deste ano a eventos relacionados ao clima cultural de 1964, ano do golpe militar, que completa 50 anos no próximo mês. O projeto denominado Em 1964 conta com uma exposição que faz o visitante reviver o momento do golpe militar de 1964. Com base em seu extenso arquivo fotográfico e documental, o instituto criou um site especialmente para o evento, acesse! Imagens, textos e crônicas, trechos de filmes, depoimentos da época, entre outros, e mais material produzido hoje completarão a experiência numa espécie de túnel do tempo para o ano do golpe. Leia mais sobre os 50 anos do golpe militar Em 1964 propõe uma imersão neste momento decisivo para o país a partir do ponto de vista de artistas e intelectuais cujos acervos estão sob a guarda do IMS ou que têm vínculos diretos com suas atividades. O instituto irá organizar outros shows ao longo do ano (um deles dedicado à obra de Baden Powell), além de debates e encontros. Como parte do evento, o instituto pretende lançar em março o DVD do filme Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho (1933-2014), com material inédito produzido pelo documentarista nos últimos anos. Serviço Em 1964 Instituto Moreira Salles (Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea). Entrada franca. Visitação de terça a domingo, das 11h às 20h. Até novembro de 2014.

Documentário revive as origens do golpe militar

O documentário 1964, um golpe contra o Brasil, do jornalista Alípio Freire, recria o clima da época do golpe militar de 1964. Lançado em março de 2013, o documentário foi realizado em parceria entre o Núcleo Preservação da Memória Política e a TVT – Televisão dos Trabalhadores. Leia texto sobre o “O dia que durou 21 anos”, filme que também aborda o golpe de 64  O escritor e jornalista baiano Alípio Freire, que foi preso político entre 1969 e 1974, explica que a motivação para a realização do filme veio da falta de informação dos mais jovens sobre o início do regime militar brasileiro. Ele declarou ao blog Viomundo: “o Núcleo [de Preservação da Memória Política] pensou em um vídeo capaz de informar aos mais jovens o que foi o pré-golpe e o golpe para que se entendam os interesses de classe em jogo no Brasil naquele momento”. O fime narra os acontecimentos entre a renúncia de Jânio Quadros e a posse do general Castelo Branco, em 1964. O ministro do Trabalho do governo João Goulart, Almino Afonso, prova como Jânio tentou um golpe com sua renúncia em 1961. Afonso lê trechos do livro A História do Povo Brasileiro, que Jânio escreveu ao lado de seu ministro das Relações Exteriores, Afonso Arinos. O livro revela como a mente delirante de Jânio funcionava: sua renúncia “deixaria o país acéfalo” e com Jango em viagem oficial na China, Jânio, que já tinha acordo e apoio dos ministros militares, voltaria ao poder ‘dentro de novo regime institucional’. Leia texto Zonacurva sobre o papel de Brizola na posse de Jango após a renúncia de Jânio Quadros   O filme também retorna à polêmica sobre a ‘frágil’ reação de Jango diante do avanço dos militares golpistas. O presidente gaúcho temia que tomássemos o rumo de Coréia e Vietnã, que mergulharam em sangrenta guerra civil e foram divididos em dois. O livro Jango, a vida e morte no exílio, do jornalista e professor Juremir Machado da Silva, cita trecho do livro João Goulart: recuerdos en su exilio uruguayo, sobre a ida de Jango ao Uruguai poucos dias após o golpe. Com a palavra, o presidente exilado João Goulart: “Eu me senti isolado do resto do país em Porto Alegre e desolado diante da única perspectiva que tinha pela frente: uma guerra fratricida”. [O senhor foi repetidamente rotulado de comunista e…]  “Não sou nem nunca fui comunista. Minha política foi eminentemente nacionalista. Foram os monopólios nacionais e estrangeiros que fomentaram a revolta, preocupados com as leis de nacionalização do petróleo e da reforma agrária…” Alípio Freire explica as motivações para a realização do documentário: Fontes: Blog Viomundo e livro Jango, a vida e morte no exílio, de Juremir Machado da Silva (editora L&PM, 2013). O grito da Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar

Senado devolve simbolicamente mandato de Jango

O Senado Federal tentou reparar sua conivência com o golpe militar de 1964. Hoje, o presidente João Goulart recebeu, de forma simbólica, o mandato de presidente da República em sessão solene. Jango foi destituído do cargo pelo golpe militar em 2 de abril de 1964. A devolução do mandato veio por meio do projeto dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que anulou a sessão de 2 de abril de 1964, na qual o então presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República. Leia texto sobre a investigação da morte de Jango  Estiveram presente à solenidade a presidenta Dilma Rousseff, o filho de Jango, João Vicente Goulart, os ministros da Aeronáutica, Marinha e Exército. João Vicente recebeu o diploma de presidente da República a que seu pai, João Goulart, tinha direito.

O AI-5 mergulhou o país na escuridão

AI-5 – Em 13 de dezembro de 1968, o governo militar do Marechal Costa e Silva baixava o Ato Institucional número 5, o infame AI-5. Entre as resoluções do AI-5, o governo fechou o Congresso Nacional, deu-se a prerrogativa de suspender os direitos políticos de qualquer cidadão por 10 anos, cancelou o habeas corpus para crimes políticos e proibiu atividades e manifestações. Quem se atrevesse, sofreria severas penalidades. Para garantir a “ordem”, os quartéis mantiveram-se em rigoroso regime de prontidão, e as Polícias Federal, Militar, Civil e a Guarda Civil foram mobilizadas em todo o seu contingente. O ato foi a resposta do regime militar às mobilizações populares de 1968, “o ano que não terminou”. O pretexto para a promulgação do AI-5 veio do duro pronunciamento do deputado Márcio Moreira Alves no dia 2 de setembro no quase vazio plenário da Câmara em resposta à violência do regime na ocupação da Universidade de Brasília. Alves pediu aos pais que não levassem seus filhos aos desfiles de 7 de setembro e aconselhou às mulheres dos militares a não “estabelecerem relações” com seus maridos até que a democracia fosse restaurada. Os deputados governistas pediram sua cassação e, no dia 12 de dezembro, o Congresso negou o pedido. O próprio Márcio Moreira Alves explica seu discurso: “foi um discurso de cinco minutos baseado na história de Lisístrata que era uma peça sobre as mulheres de Atenas … foi aí que me deu a ideia de fazer essa provocação, mas era uma coisa sem importância”   A peça teatral Lisístrata, do grego Aristófanes, a que o deputado refere-se, estava sendo encenada em São Paulo pela atriz Ruth Escobar. Lideradas pela ateniense Lisístrata, as mulheres decidem instituir uma greve de sexo até que seus maridos parasseem a luta e estabelecessem a paz. No final, graças às mulheres, as duas cidades celebram a paz. A anti-memória de Costa e Silva Em uma homenagem às avessas ao ditador Costa e Silva, hoje pela manhã, o Colégio Estadual Costa e Silva, em Nova Iguaçu (RJ) abandonou o nome e passou a se denominar Colégio Estadual Abdias do Nascimento, em homenagem ao artista e ativista negro.   O documentário “AI-5, o dia que não existiu” Em 2011, com produção da TV Cultura, o jornalista Paulo Markun lançou o documentário AI-5, o dia que não existiu, que narra o dia de 12 de dezembro de 1968 em que a Câmara dos Deputados desafiou à ditadura e negou a cassação do deputado Marcio Moreira Alves. O filme conta com depoimentos de Marcio, Mario Covas, Jarbas Passarinho, entre outros. A ideia do documentário surgiu quando Markun teve contato com os arquivos do dia 12 que tinham desaparecido dos registros da Câmara. A papelada histórica do dia foram preservados graças à funcionária pública na época, Ana Lúcia Brandão, que os divulgou em 2010. Assista ao teaser do documentário: Como a ditadura chegou ao 5 No detalhado trabalho de pesquisa de Beatriz Kushnir no livro Cães de Guarda —jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988, entendemos os outros atos institucionais do regime militar: O AI-1, de 9/4/1964, que nasceu para ser o único e foi apenas o primeiro … permitiu ao Estado que casasse 378 políticos, reformasse 122 policiais, exonerasse cerca de 10 mil funcionários públicos e interrogasse aproximadamente 40 mil pessoas. Em 27/10/1965, o AI-2 baixou 36 atos complementares e puniu 309 políticos. Após a retumbante derrota eleitoral dos candidatos governistas nos pleitos de Minas Gerais e da Guanabara, onde a oposição venceu as eleições disputadas em 1965, veio o AI-3 em 5/2/1966, que estabeleceu pleitos indiretos para governadores, cabendo a estes nomear o prefeito das capitais e dos municípios, transformados em áreas de segurança nacional. A constituição de 1967 teve como meta incorporar os atos de exceção e, no palco das encenações que também é a arena política, apresentar as diretrizes pós-1964 devidamente ordenadas, fazenda da restrição a regra. Pelo AI-4, de 7/12/1966, o Congresso foi reaberto para institucionalizar e sagrar a nova carta. Fontes: livro Cães de Guarda —jornalistas e censores , do AI-5 à Constituição de 1988, de Beatriz Kushnir (editora Boitempo), blog de Mario Magalhães e Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas. Ministério Público de São Paulo denuncia legista Harry Shibata por ocultar assassinato da ditadura Exposição Ai-5 50 ANOS no Instituto Tomie Ohtake  

JK foi assassinado, afirma Comissão da Verdade de SP

A Comissão da Verdade da Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo afirmou no dia 10 de dezembro de 2013 que o presidente Juscelino Kubitschek foi assassinado em 22 de agosto de 1976. Segundo a versão oficial, JK foi vítima de acidente na Dutra. As suspeitas de assassinato em complô armado pela ditadura militar sempre cercaram a morte do ex-presidente. “Há indícios incontestáveis de que o motorista do carro do ex-presidente fora atingido por um projétil antes do carro colidir contra um caminhão que vinha do lado contrário da Dutra. Toda aquela história de que o Opala onde estava Juscelino e o motorista dele fora atingido por um ônibus da viação Cometa é armação”, afirmou o presidente da comissão, o vereador Gilberto Natalini (PV). As  causas da morte de Jango também têm sido investigadas, saiba mais. A grande novidade da investigação da comissão é o depoimento de Ademar Jahn, que dirigia um caminhão na rodovia Dutra. Segundo matéria do jornal Folha de São Paulo  (11 de dezembro), Jahn declarou que viu “o motorista de JK, Geraldo Ribeiro, debruçado, com a cabeça caída entre o volante e o automóvel, não restando dúvida de que se encontrava desacordado e inconsciente, e já não controlava o veículo antes do impacto”. Outras duas histórias (já de conhecimento público) foram alvo de investigação da comissão. A primeira trata do artefato e o buraco encontrados no crânio do motorista do ex-presidente, Geraldo Ribeiro. O perito criminal Alberto Carlos de Minas relatou que, na exumação de Ribeiro em 1996, foi impedido por agentes do Estado de fotografar o crânio do motorista. A Comissão pediu à Justiça mineira por uma nova exumação do motorista e aguarda uma resposta. Especula-se que o artefato tenha desaparecido. A segunda história tem como protagonista Josias Nunes de Oliveira, o motorista do ônibus que teria colidido na traseira do Opala que viajava JK. Ele sempre negou que tenha causado o acidente. Mais 9 passageiros do ônibus ouvidos pela comissão negaram a colisão. Nunes ainda relatou que foi procurado por dois homens que passando-se por repórteres de um jornal lhe ofereceram uma mala de dinheiro para que assumisse a culpa pelo acidente.  “JK era sobretudo um homem dotado de uma simpatia irradiante, um calor humano excepcional, extremamente bom, generoso, tolerante e liberal”,  jornalista Samuel Wainer no livro “Minha razão de viver”   Juscelino e a Operação Condor Em entrevistas recentes, em ocasião do lançamento de seu livro “O essencial de JK”, o jornalista, escritor e biógrafo de JK, Ronaldo Costa Couto, afirmou que Juscelino estava na lista da Operação Condor. A Condor uniu a CIA e as ditaduras da América do Sul na repressão aos opositores dos regimes da época. A comissão apontou ligações entre a morte de JK e a de Orlando Letelier, na época ex-chanceler do Chile. Letelier foi morto num atentado a bomba na capital norte-americana Washington, em 21 de setembro de 1976, menos de um mês após a morte de Kubitschek. As investigações da comissão basearam-se em carta do coronel chileno Manuel Contreras Sepulveda, chefe do DINA, centro de informações chileno. Na carta de Sepulveda a João Baptista Figueiredo, diretor do SNI (Serviço Nacional de Informações) do Brasil, lê-se: “o plano proposto por você para coordenar nossa ação contra certas autoridades eclesiásticas e conhecidos políticos social democratas e democratas cristãos da América Latina e Europa conta com o nosso decidido apoio”. A união da esquerda progressista em prol de um projeto nacional de desenvolvimento

Palestra “A importância da Comissão da Verdade”

  Promovida pelo Diretório Acadêmico do campus da UFABC de São Bernardo do Campo, a palestra A importância da Comissão da Verdade acontece em 18 de novembro, às 16h30, no auditório A003 do campus SBC. O Deputado Estadual do PT-SP Adriano Diogo, presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, e o ex-líder sindical Raphael Martinelli, presidente do Fórum dos ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo serão os palestrantes. SERVIÇO Local: Auditório A003 do Bloco Beta – Campus SBC  (rua Arcturus, 03) Quando: 18 de novembro, das 16h30 às 18h30 Entrada franca    

A busca pelo fim do mistério sobre a morte de Jango

Morte de Jango – Ontem, dia 1º de dezembro de 2014, a equipe de peritos coordenada pela Polícia Federal informou que não encontrou veneno na perícia nos restos mortais de João Goulart. Porém, a análise que durou cerca de um ano pode ser considerada inconclusiva já que a passagem do tempo pode ter apagado os vestígios de um possível envenenamento. A família de Jango não está satisfeita com o resultado e diz que continua na busca pelos motivos da morte do ex-presidente. Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 e, há 38 anos, não há resposta conclusiva para uma das perguntas mais intrigantes da recente história brasileira: o ex-presidente João Goulart foi envenenado por agentes da ditadura brasileira? Jango morreu na cidade de Mercedes, na Argentina, no exílio. Desde 2007, a família de Jango pedia a exumação do corpo, já que não houve autópsia na ocasião da morte e sua certidão de óbito indica como causa: enfermidad. Em novembro do ano passado, os restos mortais do ex-presidente foram exumados e transportados pela Força Aérea Brasileira (FAB) para Brasília no dia 14 de novembro, quando foi realizada uma cerimônia com honras de chefe de Estado. Após os exames necessários, o corpo de Jango voltou para sua cidade natal em 6 de dezembro. O documentário Dossiê Jango (lançado em julho de 2013), de Paulo Henrique Fontenelle, conta como a presença de Goulart incomodava a ditadura argentina e investiga a teoria de envenenamento do presidente deposto em operação dos governos do Brasil e da Argentina, com o auxílio da CIA. O filme reconstrói a história do golpe de 64, que completa 50 anos. O documentário O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares, também abordou o golpe civil-militar de 64. Leia texto sobre o filme. O filme de Fontenelle tenta esclarecer outra dúvida histórica: por que Jango não resistiu ao golpe militar? O ex-governador baiano Waldir Pires, que ocupou o cargo de consultor-geral no governo Jango, afirma que “Jango temia muito uma divisão do Brasil como aconteceu na Coréia e Vietnã”. O filho de Jango, João Vicente, faz coro, orgulhoso da sensatez paterna: “meu pai evitou uma guerra civil no Brasil”. João Vicente protagoniza o clímax de Dossiê Jango quando, sob o disfarce de repórter da TV Senado, revela sua real identidade ao ex-agente uruguaio da Operação Condor (ação conjunta dos governos militares do Cone Sul na caça aos opositores), Mario Barreiro Neira. O último afirma que participou da espionagem e do cerco a Jango na Argentina e revela que Jango foi envenenado por ordem direta do presidente militar Ernesto Geisel. Neira atualmente está preso no Brasil por roubo e contrabando de armas. O envenenamento de Jango teria sido feito por meio da troca de medicamentos que Jango tomava por sofrer de problemas cardíacos. O filme mostra a terrível coincidência da morte de 16 pessoas que, de alguma forma, tiveram conexão com o assassinato. O filme ainda aborda a improvável coincidência das mortes consecutivas de Lacerda, Juscelino e Jango em circunstâncias suspeitas.   E se Jango foi assassinado? Em exercício de futurologia, imaginemos o que ocorrerá caso as suspeitas revelem-se verdadeiras. No mínimo, outras perguntas ficarão no ar: quem são os culpados pelo envenenamento? eles serão punidos? quem foi o responsável pela ordem de assassinar o presidente deposto? Uma coisa é certa: no mínimo, existirá a necessidade de reimpressão dos livros de História. A exumação de Jango acontece em momento curioso. A um ano da eleição presidencial, os ânimos entre direitistas e esquerdistas transformaram a web e, em particular o twitter, em ambiente conflagrado. A investigação da morte de Jango deve acirrar ainda mais as opiniões contrárias. O diretor Silvio Tendler, autor do documentário Jango, de 1984, foi vítima de um episódio que demonstra o retorno de uma certa truculência no debate político. Em março do ano passado, houve um tumulto entre policiais e manifestantes no protesto contra a ‘celebração’ do aniversário do golpe no Clube Militar do Rio de Janeiro. Tendler foi intimado a prestar depoimento na delegacia em queixa-crime movida pelo Clube Militar. O surreal do episódio é que Tendler não estava presente no protesto, estava em casa recuperando-se de uma cirurgia. Há quase um ano, o diretor está em uma cadeira de rodas. A única atitude do documentarista relacionada ao protesto foi a gravação de um vídeo de apoio ao ato.   Jango, por Tendler O documentário Jango, de Tendler, mostra em quase duas horas uma verdadeira biografia cinematográfica de João Goulart. Tendler já abordou em seus documentários figuras ímpares como Glauber Rocha (Glauber, o filme – Labirinto do Brasil, de 2003) e Juscelino Kubitschek (Os anos JK, de 1980). Em entrevista à jornalista Eleonora Lucena, o diretor lembra como surgiu a ideia de realizar seu filme. “Li no jornal que o Raul Ryff, que tinha sido secretário de imprensa do Jango, estava com umas cópias de filmes de visitas do Jango a China e a URSS. Telefonei para ele – eu não o conhecia – e pedi para vê-las … Ele me convidou para jantar e atacou de bate-pronto: ‘Por que não fazes um filme sobre o Jango?’” O filme lotou as salas durante o período das Diretas Já e chegou a um milhão de espectadores. Inclusive a música “Coração de Estudante”, que acompanha o final  do documentário, foi a música que simbolizou a luta pelas eleições diretas para Presidente. Assista ao filme na íntegra: [su_youtube_advanced url=”https://youtu.be/1O4SZQZ-ikk”]   (texto atualizado em 2 de dezembro de 2014) No enterro de Jango, o começo de uma caminhada

Marighella: a execução do inimigo número 1 da ditadura militar

  “A única coisa que parece não deixar dúvidas é a decisão dos altos escalões militares, àquela altura sob a hegemonia da linha dura, de que Marighella não deveria ser preso, deveria ser executado”.  (trecho do livro Carlos Marighella, o inimigo número um da Ditadura Militar, do jornalista Emiliano José) Marighella – No momento em que o regime militar recrudescia, a morte de Marighella (conhecido como ‘inimigo número 1 da ditadura militar’) era crucial para o governo. A posse de Médici em 30 de outubro de 1969 e a decretação do AI-5 quase um ano antes (13 de dezembro de 68) marcavam o início de um dos períodos mais vergonhosos e sangrentos de nossa História. Em uma emboscada na Alameda Casa Branca, na capital paulista, em 4 de novembro de 1969, Carlos Marighella foi assassinado por 29 agentes da ditadura militar. Ele estava desarmado. No comando da ação, o líder do chamado esquadrão da morte, o delegado do DOPS Sérgio Paranhos Fleury.  “Havia o desejo de receber o bônus da ditadura por ter eliminado o seu inimigo número um. Fleury não abria mão disso, daí ter conseguido a condição de executor da operação (sem tomar nenhum tiro, enquanto o coordenador acabou ferido). Marighella era um troféu precioso demais e Fleury deu um jeito de ficar com a fama de ter sido o homem que o matou, mesmo não reivindicando a autoria do tiro de misericórdia.”  (trecho do livro de Emiliano José) https://urutaurpg.com.br/siteluis/filme-marighella-mobiliza-a-esquerda-na-volta-do-cinema/ Ao lado de 7 irmãos, o comunista baiano Marighella foi filho de um anarquista italiano e uma negra do Recôncavo Baiano. Ele lutou contra duas ditaduras, a do Estado Novo e a ditadura militar. Poeta, foi autor também do “Manual do Guerrilheiro Urbano”. Marighella, imortal no Tempo, nas vozes de Whitman, Maiakovski, Neruda, Shakespeare e Nietzsche A sobrinha de Marighella, Isa Grinspum Ferraz, dirigiu o documentário Marighella, lançado no ano passado. Veja na íntegra, vale a pena: ‘Marighella’ leva oito estatuetas no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2022 A caçada a Lamarca

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