Zona Curva

Política

Uma luz para você entender um pouco sobre o imbróglio político em que o país está metido.

Extrema direita deseja a tolerância ao intolerável nas redes

O presidente Jair Bolsonaro tenta se esquivar da moderação de conteúdo na Internet com o frágil argumento da “liberdade de expressão”  Ferramenta pedestre nos corredores do poder, a mentira foi alçada à política de Estado pelo governo Bolsonaro. No último dia 24, o presidente Jair Bolsonaro teve a sua live semanal, transmitida na quinta-feira dia 21, removida das plataformas, Youtube, Facebook e Instagram. No vídeo, o presidente associava a vacina contra a covid- 19 à aids. Durante a transmissão ao vivo, Bolsonaro cita que poderia ter problemas com o vídeo, caso ele viesse a ler a suposta matéria que trazia a informação. Em março deste ano, ele já havia tido um vídeo banido por promover aglomerações, mas essa foi a primeira vez que sua tradicional live foi excluída. A moderação de conteúdo e o marco civil da internet, lei que expande a constituição para o âmbito digital relatório, vêm sendo criticados nas redes sociais. Segundo o relatório “Armadilhas e caminhos na regulação da moderação de conteúdo” realizado pelo Internetlab, esse descontentamento veio após haver interferências em publicações de líderes políticos. O presidente e seus apoiadores têm apertado na tecla da “liberdade individual”, motivados pelo inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga manifestações antidemocráticas. A máquina governamental se utiliza de disseminadores de discurso de ódio e notícias falsas como a blogueira Bárbara Destefani, que teve seu canal do Youtube desmonetizado, ou seja, ela não receberá pagamentos pelos seus vídeos publicados na plataforma.  Além dela, outros dois nomes são conhecidos nas redes sociais, o de Oswaldo Eustáquio e Sara Winter, que foram presos por ordem do STF por propagarem discursos de ódio criminosos em plataformas digitais como Twitter, Facebook, Instagram e Youtube. Criado em 2013, o aplicativo Telegram ganhou notoriedade após a reportagem do The Intercept, quando foi divulgado mensagens trocadas entre o procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz Sérgio Moro. A matéria revelou como a força tarefa da Operação Lava Jato e o ex-juiz atuaram juntos de forma antiética e delituosa para incriminar o ex-presidente Lula.    Atualmente a plataforma digital tem sido abrigo de fake news de políticos e influenciadores da extrema direita, visto que uma das funções do aplicativo é a possibilidade de comunicação com grandes grupos. Daniel Silveira, Carla Zambelli, Eduardo e Flávio Bolsonaro são alguns dos políticos que entraram na plataforma no último ano para fugir da moderação de conteúdo. O Telegram conta com canais e grupos em sua estrutura. Os canais têm capacidade ilimitada de participantes e com um link o usuário pode acessá-lo. Já os grupos têm uma quantidade máxima de integrantes, podendo comportar até 200 mil usuários. Já o concorrente Whatsapp permite apenas 256 pessoas por grupo.  O canal de Jair Bolsonaro já atingiu a marca de um milhão de inscritos no Telegram, enquanto o de Lula, apesar de ocupar o segundo lugar na plataforma entre os presidenciáveis, conta com apenas 35 mil. Isso coloca as duas personalidades em posições expressivamente distintas, e com poder de alcance desigual.  Sem responder aos contatos da justiça há mais de um ano e não tendo representação no Brasil, o Telegram tem se candidatado como o grande vilão entre as plataformas para as eleições de 2022. Considerando seu caráter permissivo em relação aos usuários da plataforma e por possibilitar mega disparos de mensagens,  Após inúmeras denúncias, o Whatsapp, aplicativo que pertence ao grupo Facebook, desenvolveu mecanismos para tentar diminuir o fluxo de notícias falsas entre os usuários. A plataforma limitou o número de contatos na hora de encaminhar uma mensagem, diminuindo assim sua possibilidade de alcance, além disso dispõe da opção de denunciar um contato caso ele te envie fake news.  Corridas eleitorais estão sendo impactadas pela falta de moderação de conteúdos, uma delas foi a brasileira em 2018, outra a norte-americana no ano passado quando o candidato Donald Trump alegou repetidamente sobre uma suposta fraude caso ele não fosse reeleito, isso fez com que sua conta no Twitter fosse suspensa por tempo indeterminado. O controle de postagens foi insuficiente e o clima de desconfiança com eleição se intensificou entre os apoiadores de Trump após a eleição de Joe Biden quando o republicano voltou à carga com acusações sem provas, o que precipitou a invasão do Capitólio em 6 de janeiro deste ano, o que ocasionou a morte de cinco pessoas.  Por outro lado, existem casos arbitrários na moderação de conteúdo, um dos casos mais comuns envolve o Facebook. A plataforma digital classifica publicações sobre a conscientização do câncer de mama como nudez e tem suspendido diversos conteúdos sobre o tema todos os anos, mesmo com as constantes críticas dos usuários. Enquanto isso, o aplicativo mantém centenas de perfis de soft porn e nudez explícita. Fatos como esse demonstram que as plataformas devem melhorar seu sistema de avaliação visando maior precisão na hora de banir conteúdos. As redes sociais precisam ser um ambiente de liberdade de expressão, mas não de liberdade de mentir compulsivamente, como faz o presidente.  De acordo com um levantamento feito pela agência de checagem “Aos Fatos”, Bolsonaro dava 50,5 declarações falsas ou enganosas por mês até março de 2020. Esse número triplicou após o início da pandemia, atingindo a média obscena de 170,9 mentiras por mês atualmente.  Fonte: Relatório “Armadilhas e caminhos na regulação da moderação de conteúdo” realizado pelo Internetlab Evento debate a estratégia da extrema direita nas redes sociais A batalha pelo controle do fluxo de notícias Os muitos dilemas da imprensa no governo Bolsonaro Pandemia negacionista Nossos dilemas diante da desinformação eleitoral Quem é o inimigo?

América Latina e as lutas sociais

Lutas socias na América Latina – A luta de classes é definitivamente o motor da história. E nesses dias tumultuados da nossa América Latina temos visto essa batalha bem acirrada. Seja na luta dos trabalhadores contra as velhas e repetidas práticas neoliberais, seja na mobilização contra os retrocessos. No Equador, por exemplo, agora sob o comando do empresário Guillermo Lasso, as políticas de ajustes neoliberais colocaram os trabalhadores do campo em luta. No último dia 18, uma jornada nacional de luta unificou os agricultores – que a convocaram a partir de um encontro realizado no dia primeiro de outubro – com estudantes, professores e outros militantes do movimento social para protestar contra as políticas de preço do produto agrícola, bem como contra os aumentos sucessivos da gasolina que acaba impactando todos os trabalhadores. Também estiveram na pauta as lutas pela água e contra a mineração, que segue a passos largos no Equador, apesar das promessas eleitorais de Lasso. E diante das mobilizações dos trabalhadores, ele, em vez de conversar, decidiu instituir “estado de exceção” no país por 60 dias, alegando inseguridade e combate ao narcotráfico, um discurso velho conhecido que dá total liberdade para as forças policiais agirem com liberdade diante de qualquer coisa que considerem ilegais. Ou seja, as liberdades individuais estão praticamente suspensas. Não, por acaso, Lasso receberá essa semana o secretário de estado estadunidense, Antony J. Blinken. Ou seja, diante das lutas sociais, a receita é sempre a repressão. Na Colômbia, o governo militarizado de Ivan Duque também continua levantando os trabalhadores e militantes sociais em protestos seguidos. Isto porque a matança não para. Assassinatos cirúrgicos de ex-guerrilheiros, de sindicalistas, indígenas e militantes sociais são uma constante. No último dia 17, foi registrado mais um massacre, com sete pessoas assassinadas de uma só vez. O chamado processo de paz que culminou com o acordo de Havana ficou só no papel, porque o terrorismo de estado segue a todo vapor. O secretário estadunidense também vai passar por lá. Na Argentina, os peronistas foram às ruas neste dia 18 de outubro para celebrar o “Dia da Lealdade”, que marca um momento emblemático de vitória dos trabalhadores argentinos quando, liderados por Eva Perón, exigiram e conseguiram a libertação e o retorno de Juan Domingos Perón que havia sido exilado em 1945. Ele ocupava o posto de vice-presidente e ganhara o rechaço da oligarquia argentina, sendo por fim banido. Mas, por conta da mobilização popular, no dia 17 de outubro daquele ano, ele entrou triunfante em Buenos Aires nos braços dos trabalhadores para ser eleito presidente no ano seguinte, dando início a um importante momento na vida da Argentina. Agora, em 2021, os argentinos ainda esperam que o governo de Alberto Fernández mostre a que veio. A pandemia pegou uma Argentina fragilizada economicamente pelo governo de Maurício Macri e o atual governo não está conseguindo dar repostas para a crise. Um possível acordo com o FMI serve de combustível para protestos e apreensão, mas os trabalhadores que saíram às ruas nesse dia 18 ainda emprestam solidariedade e confiança a Fernández, embora esperem respostas mais efetivas para os problemas. Na Bolívia, as avançadas da direita cruceña, com suas mobilizações e com as ações dos líderes que voltam a ofender a bandeira dos povos originários também levaram os trabalhadores a grandes mobilizações em todo o país. Marchas foram realizadas, concentrações e atos de luta reforçaram a necessidade do respeito à wiphala – bandeira dos povos originários – bem como o apoio ao trabalho do presidente Luis Arce. O próprio mandatário liderou algumas das manifestações e vem denunciando sistematicamente as ações da direita que visam desestabilizar o governo. Ele também denunciou que houve uma tentativa de assassinato contra ele em outubro do ano passado quando estiveram na Bolívia os mesmos integrantes do grupo que matou o presidente haitiano Jovenel Moïse. Ou seja, as forças do atraso já agiram e seguem agindo no sentido de tirá-lo do poder. Por isso mesmo as entidades de luta da Bolívia se declararam em estado de emergência, vigilantes e mobilizadas. Todas essas mobilizações, à esquerda e à direita, mostram que o quadro de crise imposto pelo capital não parece apresentar saídas que não sejam as mesmas de sempre: mais exploração dos trabalhadores, mais arrocho, menos investimento no público. Logo, pouco resta ao progressismo,  pois boas intenções não são suficientes. Mudança mesmo, só poder vir com revolução. Outra velha verdade sempre atual. Dez anos sem Chávez Eleição de Gabriel Boric no Chile traz esperança para a esquerda da América Latina Haiti, esse desconhecido Peru: difícil começo A eleição nos EUA e a América Latina América Latina e seus dilemas

“O incentivo à pesquisa retrocedeu ao nível nos anos 90”, afirma Flávia Calé, representante nacional dos Pós Graduandos

  O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu nesta quinta-feira (14) a presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Flávia Calé. Em conversa com o Fernando do Valle (editor do Zonacurva), ela comentou sobre sua preocupação com o futuro da pesquisa científica no Brasil e o projeto “antinacional” do governo Bolsonaro. Publicado em março, o Orçamento da União de 2021 divulgou o menor número de recursos destinados à educação desde os anos 2000.  “A ciência brasileira retrocedeu aos patamares dos anos 90. Apenas 13% das bolsas aprovadas por mérito acadêmico poderão ser efetivadas com esse orçamento”, diz a entrevistada. Calé também aponta que o sucateamento da educação, o negacionismo científico e econômico fazem parte do plano de destruir o Brasil, que ela nomeou de “ projeto antinacional. A escolha de professores, alunos e cientistas como inimigos da nação é a cortina de fumaça necessária para que Bolsonaro siga com o seu plano. A fuga de cérebros, fenômeno que ocorre quando profissionais brasileiros vão para outro país exercer suas ocupações, e o apagão de dados também foram temas abordados pela presidenta da ANPG. “O Brasil vem sofrendo um apagão de dados com a não realização do censo do IBGE, o desmonte do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). E tudo isso impossibilita a construção de políticas públicas”, afirma Flávia Calé. Ela também alerta sobre da falta de dados e diagnósticos em relação ao impacto que tem a evasão dos cientistas brasileiros para o Brasil. Entretanto, para Calé, o fenômeno “crônico e dramático” da fuga de cérebros não é o pior para o futuro da educação brasileira. Ela aponta que a crise econômica e os desmontes dos centros de pesquisa ocasionam algo muito mais grave que é a desistência da área científica. Calé explica que a educação é uma possibilidade de mobilidade social, e que, nos últimos 20 anos, diversas economias familiares giravam em torno dos estudos de um integrante da família. Deste modo, enquanto todos da casa trabalhavam e um tinha a oportunidade de estudar em uma universidade, e assim surgiam as histórias de pessoas que eram as primeiras da família a irem para a universidade. “Acontece que, com a crise econômica, esses estudantes, que antes poderiam só estudar, agora precisam ir atrás de um emprego. Além disso, também temos milhares de estudantes endividados com o FIES, por terem perdido seus empregos” explicou a entrevistada. A crise econômica e o projeto antinacional atingem diretamente a esperança de milhões de jovens, foi assim que o Enem 2020 teve abstenção de 50% dos alunos inscritos. Calé relembra que essa desesperança coletiva entre os jovens é a mesma do ano de 1998, quando o exame estava em seu primeiro ano de aplicação. Nesta época, alunos de escolas públicas não enxergavam a universidade como possibilidade de futuro. Para Calé, a chance de superação dessa crise econômica também está na educação, “A indústria automobilística brasileira, por exemplo, está em crise por falta de insumos e novas tecnologias, sendo assim a forma de melhorar isso é justamente com o investimento nessa área e na ciência”. Em seu segundo mandato como presidente da ANPG, associação estudantil com mais de 30 anos e que vem lutando pela garantia de direitos dos pós-graduandos brasileiros, Calé e a diretoria da associação estão convocando a paralisação em defesa da ciência e pela  garantia de mais de R$ 5 bilhões para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(FNDCT),  no dia 26 de outubro. Paulo Freire, educador do mundo Paralisação dos pós-graduandos no dia 26

Todos à rua no #forabolsonaro do dia 2

#forabolsonaro – Centrais sindicais (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST, CSB, CSP-Conlutas, Intersindical e a Pública) estão convocando manifestações no dia 2 de outubro (sábado) para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Inicialmente organizado pela esquerda, o movimento busca receber partidos e pessoas de quaisquer posicionamentos políticos, desde que sejam pelo impedimento de Bolsonaro. No início de setembro, os representantes dos trabalhadores publicaram nota convocando a população para participar das manifestações.  “Vamos ocupar às ruas em protesto contra o caos que representa, ao país, ter o mitômano Jair Bolsonaro na Presidência da República: desemprego recorde, fome, carestia, inflação, corrupção, retirada de direitos, desmonte dos serviços públicos e das estatais, ataques à democracia, à soberania e às liberdades, atropelo da ciência e desprezo à vida”. Os sindicatos afirmaram também a insatisfação com a conduta do presidente diante da crise sanitária, afundando o país em outras crises que diminuem a qualidade de vida dos brasileiros. Segundo eles, as manifestações são essenciais à democracia e devem pressionar pela responsabilização de Bolsonaro pelos atos ilícitos que pratica. “A voz das ruas tem que ser ouvida, e nós seremos essas vozes no 2 de outubro e em todas as datas que vierem, até que Bolsonaro seja afastado para ser julgado pelos crimes que cometeu e comete diariamente contra os brasileiros, até que ele responda pelo genocídio que tirou as vidas de quase 600 mil pessoas na pandemia de Covid-19, pelo desemprego que atinge 100 milhões e pelo desalento que causa miséria e fome”, diz a nota Antes dispensando a participação de movimentos como o MBL, que colaboraram para o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, os partidos de esquerda esperam atrair o apoio de todos que possam contribuir na luta contra o desgoverno de Jair Bolsonaro. Com a participação de toda a massa insatisfeita com a gestão do governo, as centrais sindicais enxergam maior possibilidade de obter resultado positivo no afastamento de Bolsonaro da Presidência da República. As manifestações estão previstas para todo o Brasil e até em outros países, organizadas por, além das centrais sindicais, outras 80 entidades representadas por Frentes Brasil Popular, Povo Sem Medo, Frente Nacional Fora Bolsonaro e alguns partidos como o PT e o PSOL. A previsão é de que ocorra pela manhã na maior parte do Brasil, e no período da tarde na Avenida Paulista. Locais e horários das manifestações de 2 de outubro São Paulo – SP: Masp (13h) Salvador – BA: Campo Grande (9h) Fortaleza – CE: Praça da Bandeira (8h) Belo Horizonte – MG: Praça da Liberdade (15h30) Rio de Janeiro – RJ: Candelária (10h) Brasília – DF: Museu Nacional (15h30) Florianópolis – SC: Largo da Alfândega (15h) Teresina – PI: Praça do Rio Branco (8h) Porto Alegre – RG: Largo Glenio Peres (15h) Recife – PE: Praça do Derby (9h)   Com colaboração de Carolina Raciunas La vai o Brasil descendo a ladeira Acender uma vela pelo Brasil    

Governo Bolsonaro agrava o fosso da desigualdade

Desigualdade social – O compromisso do governo federal com o 1% dos brasileiros mais ricos e o desprezo pela vida intensificaram nosso crônico problema da desigualdade social. Levantamento publicado no ano passado pelo banco suíço UBS mostra que o aumento da riqueza acumulada por bilionários foi de 99%, em comparação com 2009. A desigualdade se reflete no prato vazio do brasileiro. Segundo o estudo “Efeitos da Pandemia na Alimentação e na Situação da Segurança Alimentar no Brasil”, coordenado por pesquisadores da Universidade Livre de Berlim e colaboração da Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade de Brasília, cerca de 59% da população brasileira vive em situação de insegurança alimentar. Esse termo abrange desde casos de fome extrema até insuficiência nutricional, causadas pelo baixo poder de compra. A extinção do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) e do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ambos em 2019, demonstra a falta de compromisso do governo Bolsonaro com os mais pobres. Com o aumento dos preços de itens básicos do dia a dia, a população mais carente enfrenta, todos os dias, dificuldade para manter o padrão de vida conquistado no governo Lula. Os gastos com os combustíveis estão pesando ainda mais no bolso do brasileiro durante a pandemia. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), só em 2021, houve nove aumentos no preço da gasolina, com acúmulo de 27% no preço de janeiro a julho. Em algumas regiões do país, o litro já ultrapassou R$7,00. Em recente live, o presidente Jair Bolsonaro relacionou os aumentos ao ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), mas, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o valor administrado pelos estados se manteve na média dos últimos anos, não contribuindo significativamente para alteração do valor dos combustíveis. Além do preço da comida e da gasolina, outra conta aumentou e tem preocupado grande parte dos brasileiros: a da energia elétrica. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) definiu o novo valor da tarifa extra que será cobrada. A bandeira vermelha, que definia R$9,49 a cada 100KWh, chegará a R$14,20 a partir desse mês. Esse aumento, segundo a Agência, está relacionado à crise hídrica que acomete o país. O vice-presidente Hamilton Mourão declarou que medidas de racionamento estão sendo cogitadas. Um estudo feito pela organização Oxfam Brasil mostrou que, em 2018, a distribuição de renda estacionou pela primeira vez no país desde 2000. A grave crise econômica que estamos mergulhados desde 2015 atinge os brasileiros de diferentes formas, conforme o gênero, a cor e a classe social. Segundo o estudo, entre 2016 e 2017, os brancos mais ricos tiveram ganhos de rendimentos de 17,35%, enquanto os negros obtiveram menos que a metade, apenas 8,1%. De acordo com o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Pedro Herculano de Souza, a concentração de renda no topo da pirâmide é quase constante, e as pioras mais profundas no grau de desigualdade econômica acontecem em momentos de graves crises. A crise sanitária e a inação do governo federal estão proporcionando o aumento da inflação que não foi acompanhado por um proporcional reajuste no valor do salário-mínimo. Só em julho, por exemplo, o IPCA mostrou que a inflação teve seu maior avanço no mês desde 2002, chegando a 0,96%. Desde o ano passado, mais 67,7 milhões de brasileiros buscam se manter com o auxílio emergencial, enquanto isso, cerca de 42 pessoas lucraram mais que todo o valor destinado à população em maior situação de vulnerabilidade econômica no país durante a pandemia de Covid-19, segundo o relatório “Quem Paga a Conta? – Taxar a Riqueza para Enfrentar a Crise da Covid na América Latina e Caribe”, da Oxfam. Souza identifica três períodos de agravamento da desigualdade do país: o fim da República Velha e o Estado Novo (em primeiro), entre 1926 e 1945, o início da ditadura de 1964, e a crise econômica e política dos anos 1980, período marcado pela hiperinflação. Conforme a análise de Souza, entre 1942 e 1943, o 1% mais rico da população pulou de 20% para 30% da arrecadação de toda a renda nacional. Isso ocorreu principalmente porque a elite pouco se opôs ao governo autoritário de Getúlio Vargas, ampliando seus privilégios durante o regime vigente. Dessa forma, houve maior enriquecimento dos que se encontravam no topo da pirâmide, enquanto a população mais pobre perdia direitos e vivia em condições ainda mais difíceis. Ainda segundo o pesquisador, durante a ditadura militar (1964-1985), foi rompida a tendência de queda na concentração de renda que estava acontecendo nas duas décadas anteriores. Norte e Nordeste voltam a ser esquecidos no faminto Brasil de Bolsonaro Essa evolução na distribuição que estava em curso foi fruto de políticas como a do aumento do salário-mínimo em 100%, proposta pelo então ministro João Goulart, em 1953 (leia mais sobre o mandato de Jango como ministro de Vargas no texto de Fernando do Valle aqui no Zonacurva). Com condições trabalhistas mais favoráveis, os proletários passaram a viver um momento de maior participação econômica, o que diminuiu o déficit em relação aos mais ricos. Já nos primeiros anos da segunda metade da década de 1960, o 1% mais rico da população passou de 17% a 26% no acúmulo de renda nacional. Esse aumento é consequência de uma das medidas econômicas vigentes no período: a redução de 30% no valor do salário mínimo. Essa diminuição deixou a classe trabalhadora em situação desfavorável, deixando-os mais pobres e impedindo a evolução da distribuição de renda. Além disso, a repressão a sindicatos e atividades de mobilização popular impossibilitou a classe mais pobre de reivindicar seus próprios direitos e lutar por melhoria na qualidade de vida. Depois disso, no período de transição democrática dos anos 1980, que ficou conhecido como “década perdida”, 30% da renda nacional ficou concentrada no 1% mais rico do país. Uma pesquisa mostrada no artigo “A history of inequality: Top incomes in Brazil, 1926–2015”, publicada pelo pesquisador Pedro Herculano Souza, compara a concentração de renda do topo da pirâmide socioeconômica,

América Central: a luta ainda vibra

Independência América Central – Os governos da América Central (Guatemala, Nicarágua, Honduras, El Salvador e Costa Rica) celebram, nesse mês de setembro, o bicentenário de independência da colônia espanhola, quando, em 1821, esses países criaram a União das Províncias da América Central. Integravam-se assim ao furacão revolucionário que tomava toda a América Latina e, como acontecia no México e na América do Sul, igualmente expulsaram os espanhóis do mando, buscando vida melhor para toda a gente. Foi uma independência curta, visto que um ano depois eram anexadas pelo então Império do México, mas tão logo o México tornou-se república, em 1823, e esses países aproveitaram para voltar a constituir a União das Províncias, aí sim livres e autônomas, sem mais vínculos com a Espanha ou México. A união das Províncias chegou a participar do Congresso Anfictiônico do Panamá, promovido por Simón Bolívar em 1926, justamente para dar consequência ao que ele chamava de constituição da Pátria Grande. Aquele foi um sonho que embalou muitos dos libertadores. Mas, tal qual aconteceu na América do Sul, onde os oligarcas regionais resolveram trair a ideia da Pátria Grande e fatiar o continente em pequenas repúblicas, nas quais cada um pudesse exercer o seu poder, a União das Províncias da América Central também se desfez em 1838, quando a Guatemala decidiu sair do bloco. Logo em seguida, uma a uma, as demais províncias também foram se separando e acabou o sonho de uma América Central unificada. A partir dessa balcanização, a águia do norte decidiu fincar as garras no lugar e foi quando os Estados Unidos passaram a ocupar a região, começando pelo Caribe. E o resto é história. Nunca mais esses países conseguiram sair da esfera de influência dos Estados Unidos, que mantêm o processo de dependência e de subdesenvolvimento sempre firme, resguardando seus interesses geopolíticos e econômicos. Não é sem razão que é da América Central que saem milhares de pessoas em fuga, todos os anos, em colunas de migrantes, buscando sair do círculo de miséria, fome e violência que grassa nos países da região. Basta uma olhada na história de cada um desses países para se deparar com ditaduras sanguinárias, ocupações militares, genocídios, etnocídios e extrema exploração dos trabalhadores, o capitalismo dependente e com todos os ingredientes autoritários. O que fez, inclusive, com que as populações buscassem, durante anos de guerras civis e revoluções de libertação nacional, a verdadeira independência. Uma independência que não aconteceu. Justamente por isso que nesse mês de setembro, quando começaram a pipocar as celebrações do bicentenário da libertação de Espanha, as gentes dos países da América Central não deixaram por menos. Na semana do dia 15 de setembro, manifestações, atos de protesto e marchas foram realizadas na região. Os trabalhadores sabem muito bem que nada está bem e que pouco há para celebrar, portanto não se vincularam às festas governamentais. Na Guatemala, os camponeses e os indígenas (que na verdade se misturam) lembraram o massacre do povo maia e a guerra sem fim que tem sido imposta à população governo trás governo, a tal ponto de obrigar famílias inteiras à fuga constante. Isso sem falar na sangria de riqueza através da corrupção endêmica da classe dominante. Em El Salvador também aconteceram massivas marchas de protesto exigindo a verdadeira independência e o fim do governo antidemocrático de Nayib Bukele. Na Nicarágua. os protestos no dia de independência se somaram à rejeição ao que denominam governo autoritário de Daniel Ortega. Trabalhadores do campo e da cidade de Honduras também realizaram manifestações de protesto: nada a celebrar. E até mesmo na Costa Rica, ainda que não tenham acontecido protestos massivos, foram registradas manifestações, principalmente desde os partidos políticos de esquerda, por uma independência real. Assim, para além dos discursos governamentais ufanistas, as gentes que padecem a vida real, nos campos e nas cidades, os trabalhadores que não encontram mais como reproduzir a vida, os indígenas massacrados, os camponeses expropriados, as mulheres, as crianças e os velhos empobrecidos pela exploração capitalista dependente, seguem lutando – cotidianamente – para garantir a vida boa e bonita que um dia foi vislumbrada pelos sonhadores da Pátria Grande soberana e popular, verdadeiramente livre da opressão e da dependência. A luta não esmorece na América Central e mesmo aqueles que, sem saída, decidem migrar, carregam com eles o desejo de ver um mundo novo para os seus. Ainda há muita estrada para trilhar até a liberdade e os lutadores estão de pé. https://urutaurpg.com.br/siteluis/como-augusto-sandino-enfrentou-os-estados-unidos/ América Latina e as lutas sociais Unasul: golpeada a proposta de um bloco na América Latina América Latina e seus dilemas  

Bolsonarismo em xeque

O CONVERSA AO VIVO ZONA CURVA do dia 9 de setembro (quinta) contou com a participação da pesquisadora, professora e antropóloga da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Letícia Cesarino. Ela conversou com Fernando do Valle (editor  Zonacurva) e Luís Lopes (editor Vishows) sobre bolsonarismo, a maneira pela qual esse grupo utiliza as redes digitais pra propagar seu discurso extremista e os descaminhos do atual cenário político brasileiro. Cesarino comentou a intensificação do caos político causado pelas manifestações antidemocráticas do presidente no dia 7 de setembro. Segundo ela, a convocação foi uma forma de manter a base aliada de Bolsonaro mobilizada. A antropóloga analisou também a ambiguidade, sempre presente nos discursos do presidente, e as estratégias escolhidas para se manter no poder. Segundo nossa entrevistada, foi previsível a suposta mudança de postura de Bolsonaro depois da pressão contra os discursos de viés inconstitucional que Bolsonaro proferiu tanto em Brasília como em São Paulo. Após ser criticado por lideranças políticas sobre a explícita ameaça golpista de Bolsonaro, o site do governo publicou uma nota, assinada pelo presidente e, pasmem, escrita pelo ex-presidente Michel Temer afirmando nunca ter tido “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes” e que a culpa foi “do calor do momento”. Após quase 3 anos de governo, Cesarino explicou que as estratégias da direita bolsonarista estão ficando ultrapassadas, o que pode diminuir sua eficácia: “As táticas começam a ficar batidas e repetitivas. O próprio ecossistema deles já demonstra sinais de exaustão, observada no comportamento dos próprios seguidores”, afirmou a pesquisadora que já analisou grupos de whatsapp e telegram de “fãs” do presidente. A antropóloga também considera que a base aliada de Bolsonaro se apoia em narrativas superficiais na tentativa de desvincular os graves problemas socioeconômicos de qualquer responsabilidade do mandatário do governo central. Na tática falsamente antissistema do presidente, a culpa é sempre dos outros, podem ser comunistas, governadores, petistas e até do próprio povo. Com isso, o presidente, que pouco trabalha, segue levando no bico seus seguidores. Acerca do desenvolvimento das relações sociais e políticas através das redes, a antropóloga projeta uma rearticulação de posições radicalizadas no futuro, já que a extinção da mediação é pouco provável. “De um lado, temos o especialista tecnocrático que não está disposto a ouvir os leigos. No outro extremo, existe o populismo sem freios. Acredito que, com o tempo, haverá um meio termo nisso”, disse ela. Cesarino explicou ainda que a estruturação das redes sociais avança constantemente de forma sistemática para aumentar o tempo de tela do usuário e sua passividade, o que diminui a capacidade de tecer pensamento crítico. Segundo ela, grupos bolsonaristas se adequam facilmente a esse sistema midiático e o usam a seu favor. “Hoje, as notícias falsas fazem parte da estrutura da internet”, afirmou. Ao utilizar métodos imediatistas e simplistas, que apelam ao lado emocional das pessoas, os bolsonaristas recortam a realidade a seu bel prazer nas redes para torná-la favorável ao governo. “Eles ignoram a existência de estatística e amostragem, isso não funciona naquele ambiente”, completa. Com colaboração de Carolina Raciunas. https://urutaurpg.com.br/siteluis/extrema-direita-nas-redes/ O universo paralelo do fanatismo bolsonarista Mil dias de destruição e mortes

Peru: difícil começo

Pedro Castillo – No Peru, as eleições parecem não ter acabado. Ainda que Pedro Castillo tenha vencido e assumido o cargo, a oposição, a mídia e os inimigos de qualquer proposta mais à esquerda agem como se o novo presidente não tivesse qualquer capacidade para governar. Os ataques têm sido sistemáticos, e a luta de classes se apresenta nas ruas, nos gabinetes, na vida cotidiana. Mas, o confronto não vem só da direita tradicional, a batalha por cargos entre os aliados e a necessidade de atender as alianças realizadas para vencer as eleições também trazem prejuízos para o novo governo. Além de lidar com os inimigos, há que rebolar para não perder apoio. A primeira queda de braço de Pedro Castillo foi indicar o sociólogo e ex-guerrilheiro do ELN, Héctor Bejar, para o Ministério das Relações Exteriores. A gritaria da direita foi grande, e imediatamente a imprensa passou ao ataque, inclusive divulgando entrevistas antigas de Bejar, nas quais ele falava sobre a ação da Marinha peruana na escalada do terrorismo no país, comentando o ataque feito a barcos pesqueiros peruanos em 1977. Pronto. As declarações viraram prato do dia para fritar o ministro. Os militares se levantaram em protesto e o discurso contra o comunismo – que já fora uma arma de campanha – voltou à baila. Acusado de terrorismo, Bejar acabou renunciando ao cargo sem completar sequer um mês no ministério. É importante registrar que o Exército de Libertação Nacional não foi uma célula terrorista, mas uma organização de luta, articulada com vários outros movimentos de libertação que existiram na América Latina nos anos 1960 e 1970. A demissão do ministro não apaziguou as forças armadas, nem a direita. Pelo contrário. Sentiram que a pressão poderia funcionar e a lógica tem sido desgastar cada membro do novo gabinete de governo, a ver se causa o mesmo efeito. Não bastasse isso, seguem organizando marchas e manifestações contra Pedro Castillo, acusando seu governo de comunismo e que, por conta disso, vai destruir o país. Não tem sido muito fácil governar, porque a cada minuto há um incêndio para apagar. Para piorar a situação, o Congresso, que tem 15 diferentes forças e é dominado pela direita, igualmente tem feito de tudo para paralisar o governo. Em 15 dias de governo, apresentou 19 moções questionando pelo menos sete ministros nomeados. O chamado “Coletivo Cidadão pela Democracia” chamou uma manifestação para quinta-feira (26) visando defender o Congresso do terrorismo, ou seja, um inimigo totalmente inexistente, a menos que se possa chamar de terrorismo o que a mídia e a direita estão fazendo. E aí, no caso, não deveriam estar lutando contra eles mesmos. A intenção é tumultuar ainda mais o processo e apoiar os deputados de direita que querem desconhecer a legitimidade do gabinete de governo. A maneira de agir da direita peruana segue a fórmula já manjada de Steve Bannon, que é bastante usada no Brasil pelo presidente atual, que é de criar factoides diários para manter a população distraída. Por outro lado, as forças aliadas ao presidente Pedro Castillo não estão paralisadas e também estão convocando o povo às ruas para o mesmo dia, 26 de agosto, visando disputar o discurso no mano-a-mano. Eles devem sair em marcha exigindo que o Congresso pare de obstruir o governo, e em luta pela nova Constituição, pedra de toque do novo governo e desejo da população. Resta agora ver como Pedro Castillo e sua equipe vão reagir aos ataques que partem de todas as direções. Até mesmo o jornalão direitoso El País, que tem boa inserção na América Latina, vem se somando ao discurso de que Pedro está fazendo um governo tíbio, e que as incertezas tomam conta do país. A mídia, como sempre, age como um braço armado poderoso. Enquanto o Congresso obstrui as pautas e a mídia grita, o presidente tem feito a sua parte. Já realizou encontros com os empresários locais tentando amarrar acordos, e por conta do disparo da inflação, aprovou um bônus, o Yanapay (que quer dizer solidariedade em quechua), que garante de imediato 350 soles (85 dólares) para famílias com mais de um adulto e 700 soles para as que têm apenas um provedor. Isso vai beneficiar mais de 13 milhões de peruanos que vivem na pobreza. As marchas do dia 26 vão servir de termômetro para que o governo avalie como seguir atuando. De qualquer forma uma pesquisa recente dá conta de que mais de 56% dos peruanos querem que o Congresso aprove o gabinete de governo e deixe o presidente trabalhar. Cabe a Pedro e sua equipe definirem a quem vão ouvir.

O Império às claras

Afeganistão – Ouvi ontem a fala do presidente dos Estados Unidos sobre a retirada do “seu” pessoal do Afeganistão. Ele informava à nação sobre a evacuação do país e sobre quem eles tinham decidido salvar. Tranquilo e sem pejo, ele disse que 28 mil afegãos tinham sido resgatados, aqueles que, durante esse tempo de ocupação, haviam colaborado com os Estados Unidos. “Fizemos isso, porque é assim que somos. Cuidamos dos nossos”. Pois bem, 28 mil pessoas e ponto final. Os demais que se virem. Foram lá e destruíram um país, então esse descaso com as gentes não é novidade. “Só se dá bem quem é nosso amiguinho”. E provavelmente a audiência aprovou sem destaques a decisão. O presidente disse ainda que não havia mais o que fazer no Afeganistão. Eles tinham ido pra lá para pegar Osama Bin Laden e destruir a Al-Qaeda. Isso já estava feito. Então, nada mais havendo a tratar, encerramos essa etapa. Foram 20 anos para ver que nem Osama estava lá, nem a Al-Qaeda. Mas, Julian Assange, o homem que o governo estadunidense quer encarcerar e destruir, já havia dito há anos atrás: não se trata de vencer, se trata de manter a máquina de guerra. Tudo o que há é o business. Tudo que se quer é manter a economia girando. E, depois, o mundo é tão grande. Há tantos países para destruir. Mas, não se preocupem, quem ficar do nosso lado, a gente resgata. Essa foi a mensagem. Assim, apaziguados e certos de terem sido solidários com os seus amiguinhos, os estadunidenses devem ter ido dormir em paz. Provavelmente haverá algumas campanhas de denúncias por conta da situação das mulheres e depois, em alguns dias, o assunto sai das manchetes e tudo segue seu curso. Tampouco se falará que o Talebã é cria do serviço não tão secreto dos EUA. Pouco sei do Afeganistão, sobre sua cultura e sua forma de viver. Mas, ao longo desses 20 anos, sempre estive do lado daqueles que defendiam o direito do país se autodeterminar. Dizem alguns que lá é um emaranhado de clãs, dominado por tradições arcaicas e que é dever do mundo ocidental, civilizado, impor sua maneira de viver a isso que consideram um atraso. Bem, nós, em Abya Yala, sabemos de cor e salteado sobre o que acontece quando alguém se arvora em ser “a” civilização. No caso específico do Afeganistão, nós pudemos acompanhar via satélite: os crimes, os massacres, o terror, a tortura, tudo o que foi imposto pelas armas estadunidenses em nome da “democracia e da liberdade”. Provavelmente isso só foi bom para uma minoria que encheu os bolsos. De novo, o que deve ter pesado foram os negócios, o dinheiro, o lucro. Assim que os fatos se apresentam sem disfarces para todos nós. Quem tiver olhos para ver, que veja. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça. Enquanto o que dominar o mundo for o interesse de uma classe minoritária, as coisas serão assim. ASSISTA A LIVE ZONACURVA SOBRE A CRISE NO AFEGANISTÃO A tomada do poder pelo Talebã no Afeganistão  

As mortes negras e o Estado racista

A socos e pontapés às vésperas das comemorações do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, João Alberto Freitas, um homem negro de 40 anos foi violentamente espancado até à morte por seguranças do Supermercado Carrefour, na zona norte de Porto Alegre. A socos e pontapés, com balas de fuzil ou revólver, nos terrenos baldios ou nos estacionamentos dos shoppings, os negros são expostos nas estatísticas de carne e sangue, executados pela brutalidade insana e o ódio racista mais abjeto. Não estamos diante de fatos isolados, mas de um cruel e criminoso cotidiano de uma política de Estado racial e fascista estruturada no desmonte das inúmeras políticas públicas e que, diariamente, criminalizam indígenas, mulheres, negros, nordestinos, homossexuais; não apenas criminalizam, matam. Relatório da Rede de Observatórios da Segurança, que analisou a violência nos cinco maiores estados brasileiros, demonstra que os negros (pretos e pardos) são 75% dos mortos por policiais. Entre as vítimas de feminicídios, 61% são negras. Enquanto a taxa geral de homicídios no Brasil é de 28 pessoas a cada 100 mil habitantes, entre os homens negros de 19 a 24 anos, esse número sobe para mais de 200. Segundo o Atlas da Violência 2020, a taxa de homicídios de negros no Brasil entre 2008 a 2018 aumentou 11,5%. A ocupação da presidência da Fundação Palmares por Sérgio Camargo, um militante governamental declaradamente racista, se notabiliza pela vileza dos ataques às lideranças históricas do movimento negro (a começar por Zumbi de Palmares) e a dezenas de atores, intelectuais, políticos, sambistas, qualquer cidadão negro que tenha se destacado na promoção e preservação dos valores culturais, sociais e econômicos, influenciando a formação da sociedade brasileira. João Alberto Freitas está morto pelo ódio racista. João Pedro, 14 anos, negro, atingido dentro de casa com mais de 70 tiros, em São Gonçalo/RJ, está morto. Morto também Evaldo Rosa, músico, negro, que teve o seu carro perfurado por mais de 250 tiros de fuzil por militares do exército, em Guadalupe/RJ. Nossas orações, as mesmas, sufocadas e repetidas, contra o racismo abjeto e covarde, à perseguição e massacre pelo ódio nos crimes de gênero, raça, opção sexual, credos… Estas histórias se repetem e nelas pulsamos para que não esqueçamos do pesar, a inclemência e resistência, como um hino, onde um dia “a terra se dissolverá como neve”, sem haver paz. https://urutaurpg.com.br/siteluis/a-revolta-do-escritor-lima-barreto-contra-o-racismo/ Violência contra pessoas negras denuncia a gravidade do racismo Não existem raças, existe racismo 13 de maio Feira Preta celebra 20 anos com o tema ‘Existe um futuro preto e ele não se constrói sozinho’  

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