Zona Curva

O CONVERSA AO VIVO ZONA CURVA do dia 9 de setembro (quinta) contou com a participação da pesquisadora, professora e antropóloga da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Letícia Cesarino. Ela conversou com Fernando do Valle (editor  Zonacurva) e Luís Lopes (editor Vishows) sobre bolsonarismo, a maneira pela qual esse grupo utiliza as redes digitais pra propagar seu discurso extremista e os descaminhos do atual cenário político brasileiro.

Antropóloga Letícia Cesarino (fonte: Revista Comciência)

Cesarino comentou a intensificação do caos político causado pelas manifestações antidemocráticas do presidente no dia 7 de setembro. Segundo ela, a convocação foi uma forma de manter a base aliada de Bolsonaro mobilizada.

A antropóloga analisou também a ambiguidade, sempre presente nos discursos do presidente, e as estratégias escolhidas para se manter no poder. Segundo nossa entrevistada, foi previsível a suposta mudança de postura de Bolsonaro depois da pressão contra os discursos de viés inconstitucional que Bolsonaro proferiu tanto em Brasília como em São Paulo.

Após ser criticado por lideranças políticas sobre a explícita ameaça golpista de Bolsonaro, o site do governo publicou uma nota, assinada pelo presidente e, pasmem, escrita pelo ex-presidente Michel Temer afirmando nunca ter tido “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes” e que a culpa foi “do calor do momento”.

Após quase 3 anos de governo, Cesarino explicou que as estratégias da direita bolsonarista estão ficando ultrapassadas, o que pode diminuir sua eficácia: “As táticas começam a ficar batidas e repetitivas. O próprio ecossistema deles já demonstra sinais de exaustão, observada no comportamento dos próprios seguidores”, afirmou a pesquisadora que já analisou grupos de whatsapp e telegram de “fãs” do presidente.

A antropóloga também considera que a base aliada de Bolsonaro se apoia em narrativas superficiais na tentativa de desvincular os graves problemas socioeconômicos de qualquer responsabilidade do mandatário do governo central.

Na tática falsamente antissistema do presidente, a culpa é sempre dos outros, podem ser comunistas, governadores, petistas e até do próprio povo. Com isso, o presidente, que pouco trabalha, segue levando no bico seus seguidores.

Acerca do desenvolvimento das relações sociais e políticas através das redes, a antropóloga projeta uma rearticulação de posições radicalizadas no futuro, já que a extinção da mediação é pouco provável.

“De um lado, temos o especialista tecnocrático que não está disposto a ouvir os leigos. No outro extremo, existe o populismo sem freios. Acredito que, com o tempo, haverá um meio termo nisso”, disse ela.

Cesarino explicou ainda que a estruturação das redes sociais avança constantemente de forma sistemática para aumentar o tempo de tela do usuário e sua passividade, o que diminui a capacidade de tecer pensamento crítico.

Segundo ela, grupos bolsonaristas se adequam facilmente a esse sistema midiático e o usam a seu favor. “Hoje, as notícias falsas fazem parte da estrutura da internet”, afirmou.

Ao utilizar métodos imediatistas e simplistas, que apelam ao lado emocional das pessoas, os bolsonaristas recortam a realidade a seu bel prazer nas redes para torná-la favorável ao governo. “Eles ignoram a existência de estatística e amostragem, isso não funciona naquele ambiente”, completa.

Com colaboração de Carolina Raciunas.

https://urutaurpg.com.br/siteluis/extrema-direita-nas-redes/

O universo paralelo do fanatismo bolsonarista

Mil dias de destruição e mortes

Rolar para cima