Zona Curva

#Eleição2022

Meus votos a presidente

Eleições – Fiz 18 anos em 1962. A eleição presidencial tinha sido no ano anterior. Jânio Quadros vencera o marechal Lott e Adhemar de Barros. Torci por Jânio, embora meus pais tenham preferido o marechal, pois minha genealogia paterna é repleta de militares, com destaque para dois generais. Veio o golpe militar de 1964 e as eleições diretas foram canceladas. O Congresso Nacional, manipulado pela ditadura, elegeu cinco presidentes, todos militares, todos ditadores: Castelo Branco (1964), Costa e Silva (1966), Garrastazu Médici (1969), Ernesto Geisel (1974) e João Batista Figueiredo (1978). Acusado de subversão, estive preso por 15 dias sob o governo Castelo Branco e por quatro anos sob Médici. E meus direitos políticos foram cassados por dez anos. Com o fim da ditadura e o advento da Nova República, as eleições voltaram a ser diretas. Votei para presidente da República, pela primeira vez, em 1989, aos 45 anos de idade. Dei meu voto a Lula, que chegou ao segundo turno com Collor. Na véspera do debate entre os dois na TV Globo, fomos a Brasília visitar a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Ao retornar na manhã seguinte, durante o voo para São Paulo, sugeri a Lula refugiar-se em um hotel e dormir muito para chegar ao debate com a cabeça descansada. Preferiu ir para casa, em São Bernardo do Campo, onde um batalhão de repórteres o aguardava. Resultado: chegou ao debate como um goleiro estressado e deixou passar as bolas chutadas por Collor, que ganhou a eleição. Nas eleições de 1994 e 1998, que elegeram Fernando Henrique Cardoso, votei Lula de novo. E, como na campanha de 1989, atuei como assessor, embora nunca tenha sido filiado a partidos políticos. Até que, em 2002, na quarta tentativa, Lula conseguiu se eleger com quase 53 milhões de votos, quase 20 milhões a mais que o segundo colocado, José Serra. Votei Lula de novo em 2006 e Dilma em 2010 e 2014. Foram treze anos de governo do PT com políticas sociais que favoreceram a redução da desigualdade social e a inclusão dos pobres em universidades e cursos técnicos, além de tirar o Brasil do Mapa da Fome da ONU e da dependência do FMI. Foram os melhores governos de nossa história republicana. Temer, vice de Dilma, articulou o golpe parlamentar de 2016, tirou a presidenta e assomou-lhe o lugar, desbravando o caminho para a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. Naquele ano, votei em Haddad, candidato do PT. Neste ano, pela quinta vez, votarei Lula. Sou amigo dele, mas não devoto, como nunca prestei devoção a qualquer ser humano. Pelo contrário, todos os meus amigos sabem que sou uma pessoa dotada de senso crítico, sempre de modo racional e equilibrado, sem emoção ou hostilidade. Tenho por princípio: amigos se critica, inimigos se denuncia. Sobre os governos do PT publiquei dois livros de análise crítica: “A mosca azul” e “Calendário do poder”, ambos editados pela Rocco. Como não alimento nenhuma ambição, exceto a de viver o suficiente para realizar meus projetos literários e ver a derrocada do capitalismo, tenho a liberdade de expressar críticas a meus amigos que foram ou são chefes de Estado, como Fidel Castro, Lula, Daniel Ortega, Chávez, Mujica, Rafael Correa, Evo Morales, Raúl Castro e Diaz Canel. Fidel, com quem tive a mesma proximidade que tenho com Lula, escreveu no prólogo de minha biografia, autoria de Américo Freire e Evanize Sydow (Editora Civilização Brasileira): “Frei Betto impregna-se de alto sentido de lealdade e amizade. Defende com veemência Cuba e a Revolução, sem deixar de sustentar pontos discrepantes ou diferentes dos nossos. Procuramos analisá-los e discuti-los de modo construtivo entre revolucionários e verdadeiros amigos, como comprova o diálogo mantido entre nós dois, publicado por ele com o título “Fidel a e religião”. Este ano meu voto a Lula é meu voto à esperança de um Brasil livre do entulho militarista, neofascista, acumulado pela equivocada transição da ditadura à democracia, quando se evitou punir os criminosos responsáveis por tantas torturas, prisões ilegais, banimentos, exílios, desaparecimentos e cassações políticas ao longo de 21 anos de regime militar. Essa a causa de o Brasil padecer, hoje, sob o nefasto governo do Inominável. É hora de virar a página de nossa história e “incluir os pobres no orçamento e os ricos no imposto de renda”, como promete Lula. Publicado originalmente no Correio da Cidadania. Brasil avermelhou Dois toques sobre a eleição no Brasil No Brasil das maravilhas Querida democracia Retrocesso: efeitos de quatro anos de governo Bolsonaro no Brasil

Perdemos o bonde da história

Capitalismo humanizado – Quando no começo dos anos 2000 surgiu o Fórum Social Mundial, em contraponto ao Fórum de Davos, já nas primeiras edições, uma coisa ficou bem clara: estavam em disputa ali duas concepções de luta. Uma, que apontava a possibilidade da convivência pacífica com o sistema capitalista (o capitalismo humanizado) e outra que negava veementemente isso, mostrando que é impossível um mundo melhor dentro do capitalismo. Com o andar da história, o que se viu foi a vitória da primeira visão. A recusa ao poder, o democratismo, as lutas segmentadas e particularistas, a proposta de inclusão, o ecologismo sem dentes. Isso foi se impregnando nos movimentos sociais e acabou sendo o mote para a ascensão dos  chamados “governos progressistas” que se seguiram. Novos nomes para uma velha receita: o liberalismo. E no campo político a socialdemocracia. Essa falácia de mais isso e mais aquilo, como se fosse possível vencer o sistema apenas com uma pitada de “mais”. Ora, um sistema tem de ser rompido, destruído, demolido, para que surja o novo. As pautas radicais sumiram do mapa. Apenas a Venezuela de Chávez ousou um pouco mais, aproximando-se da proposta cubana de autonomia e socialismo. Mas  o Chávez morreu e o que se seguiu foi a mesma velha tentativa de caminhar na corda bamba acendendo vela para deus e para o diabo ao mesmo tempo. Romper com o sistema não está nos planos. Cuba segue solitária, capengando. Aqui no Brasil tivemos a experiência dos 14 anos de PT no governo federal. E por ali tampouco tivemos propostas de mudança das estruturas. Apenas a ideia liberal de mais isso e mais aquilo para os pobres. Mais isso e mais aquilo para os grupos particulares. O sistema incólume. Banqueiros lucrando, fazendeiros ganhando, aposta na inovação, reformas contra os trabalhadores, recusa da auditoria da dívida, frouxidão com as igrejas caça-níqueis. Nada de novo no front. Aí veio o bode na sala. A experiência bolsonara, fruto do cansaço dos trabalhadores, do avanço das pautas morais e da desinibição da direita. A política dominada por temas tangenciais enquanto que as grandes questões nacionais ficaram de lado. E, enquanto os bandos se digladiavam nas redes sociais, o governo ultraliberal foi passando tudo o que era de interesse da classe dominante local e internacional, com o apoio seguro do legislativo federal. As centrais sindicais se apagaram e restou a uns poucos sindicatos combativos a luta pontual e singular. Os trabalhadores foram se adequando à ideologia dos “novos tempos” e das “novas formas de emprego”, sem organização e sem luta. As perdas foram grandes e continuam anestesiando a maioria. Agora vêm aí as eleições outra vez. E na população vai crescendo a ideia de que é preciso tirar o bode da sala, o que é óbvio. Sacar do governo aquele que personifica o mal. A proposta é singela: sair do ultraliberalismo e voltar para o liberalismo. Apenas isso. Nada mais profundo ou radical a ponto de não importar que se façam alianças de conciliação de classe. Chegamos ao absurdo de ver lideranças populares irem aos Estados Unidos pedir ajuda a Biden para garantir a democracia tupiniquim. Essa mesmo foi de cair os butiás do bolso. Nada de falar em recuperação do Banco Central ou de auditoria da dívida, ou de revogação das reformas que aniquilaram com os trabalhadores e os velhos. Não importa que haja acordos com banqueiros, fazendeiros e até com o embaixador dos Estados Unidos. Tudo vale para tirar o bode da sala. “Depois a gente vê”. Bom, já vimos esse filme. Assim que o dia dois de outubro não reserva surpresas. Pelo menos não para os trabalhadores. Ao que parece os brasileiros simplesmente tirarão o bode da sala, entregando um cheque em branco para os liberais. Há uma longa estrada de reconstrução das lutas para os trabalhadores e o primeiro passo talvez seja reconhecer que a ideia do “capitalismo humanizado” venceu, e que ela não é boa. Mas não é mesmo. Ideologias como a do empreendedorismo e a do faça-se a ti mesmo pelo mérito estão aí mostrando suas chagas, suas rachaduras. Não há saídas dentro do capitalismo. É da natureza do sistema se expandir e ir destruindo tudo ao seu redor. Não há como humanizá-lo. Não há. Essa compreensão é fundamental para que as lutas voltem a se fazer por propostas definitivamente radicais, que mudam a vida, para melhor. A vida de todos e não só de alguns. A eleição poderá tirar o bode, mas, será suficiente? Um dia na Ocupação Manoel Aleixo, em Mauá Dois toques sobre a eleição no Brasil No capitalismo, o governo é dos ricos Não há direito à comunicação e à informação veraz no capitalismo

Por que tanto medo?

    Medo da violência política – Nas campanhas políticas anteriores, desde a redemocratização em 1985, adesivos e cartazes de candidatos eram vistos afixados em veículos, lojas e domicílios. Havia bandeiras de partidos expostas do lado de fora de apartamentos e à frente de casas. Carreatas percorriam as principais vias das cidades exibindo propaganda dos candidatos. Agora, quem ousa afixar em seu carro um adesivo eleitoral, exceto em atos com grandes concentrações? O que resta é a propaganda eleitoral no rádio e na TV e nos comícios de candidatos majoritários. Nem parece que o destino de 215 milhões de brasileiros será decidido em poucos dias por 156 milhões de eleitores. Os candidatos ao Legislativo ousam mostrar a cara, promover eventos de campanha, sair às ruas em busca de votos. Querem ser cada vez mais conhecidos. Mas o fazem cercados de cuidados. Sabem que correm o perigo de agressão física e, quase sempre, entre aplausos e apoios, escutam uma ofensa ou injúria. Mas não lhes resta alternativa senão enfrentar o risco. Os candidatos a cargos majoritários são mais cautelosos. Contam com a proteção de forças policiais e adotam esquemas profissionalizados de segurança. Em concentrações públicas, o público é revistado e a segurança reforçada. Fora momentos de campanhas e propaganda radiotelevisiva, há poucos indícios de que o Brasil irá às urnas em poucos dias. As pesquisas indicam que o eleitorado já sabe em quem votar, e o número de brancos e nulos tende a decrescer. Mas o eleitor parece retraído quando se trata de batalhar por seus candidatos. Nas redes digitais, as campanhas correm soltas e o clima de guerra se acentua, agravadas pela avalanche de fake news e tentativas de ridicularizar adversários. O espaço virtual se aquece; o presencial arrefece. Esse clima eleitoral inusitado se deve à cultura miliciana que paira sobre a população brasileira como uma nuvem densa e pesada a ameaçar dilúvio. O ar que respiramos está impregnado de belicismo. Teme-se, não uma palavra ofensiva do adversário, mas uma facada ou um tiro. É a banalização do mal. Ou melhor, a bolsonarização da violência. Esta é a campanha eleitoral do medo. O medo é uma reação involuntária em prol de nossa sobrevivência. Temos medo de assalto e, por isso, não caminhamos solitários por determinadas ruas à noite; o medo de atropelamento nos faz esperar o sinal fechar; o medo de um cão nos impede de entrar em uma casa enquanto ele estiver solto. Nosso medo é que o Inominável seja reeleito e, assim, acelere o desmonte do Estado brasileiro e fortaleça o comércio de armas, o garimpo ilegal, a impunidade a quem desmata nossas florestas. Medo de um arremedo de democracia militarizada, de forças de segurança agindo ao arrepio da lei, de mulheres, negros e indígenas prosseguirem vulneráveis à ação cruel da supremacia machista e racista. Medo de que a fome prospere e a desigualdade social se agrave. O medo é uma sensação de insegurança, pavor ou repúdio diante de uma pessoa, um objeto ou uma situação. Quando temos medo, nosso cérebro produz substâncias que disparam o coração, tornam a respiração ofegante, contraem os músculos. Como perder o medo? Só conheço um antídoto: quando aquele ou aquilo que se ama tem, a nossos olhos, um valor acima de nossas próprias vidas. Pode ser uma pessoa, uma causa, um ideal ou até mesmo uma utopia. É o que imprime coragem frente uma situação de ameaça. E o que está em jogo nesta eleição não é a minha vida, é a vida de um povo, a independência de um país, a soberania de uma nação, a conquista da democracia. No 7 de setembro o bicentenário de Independência foi jogado para escanteio e o que se viu foi um escandaloso uso da máquina pública, com dinheiro do contribuinte, para tentar alavancar o candidato que ora ocupa o Planalto. Ele, que tanto prometeu golpe na data, recuou. Faltaram-lhe apoios internacional e do grande capital nacional. Restringiu-se a aglomerar supostos apoiadores (sei de funcionários que votam Lula, mas embolsaram calados o dinheiro extra dado pelo patrão e compareceram) e suscitar em coro um refrão chulo digno de cervejada miliciana: “Imbrochável!”, enlameando a família brasileira que ele diz tanto defender e respeitar. Chegou a hora de dar um Basta! Pelo voto haveremos de manifestar nossa vez e voz em prol de um Brasil sem medo de ser feliz. Publicado originalmente no Correio da Cidadania. Meus votos a presidente Governar pelo medo Sobre a democracia e o voto

Eleições: por que vencem as mentiras (fake news)?

As novas tecnologias têm sido denunciadas como um grande entrave para a democracia e, em muitos casos, são apontadas como responsáveis pela eleição de alguém, como foi no Brasil, ou pelo rechaço de algo, como foi no Chile. As correntes no uatizapi, a enxurrada de mentiras nas redes sociais, a manipulação nas plataformas, a alienação em outras. Bom, isso pode ser a aparência da coisa, mas seguramente não é a essência. Como já apontou Álvaro Vieira Pinto, todas as épocas são tecnológicas e não são as tecnologias que mudam o mundo. O que move o mundo são as pessoas. A tecnologia potencializa uma ou outra coisa, mas é o sistema organizativo da sociedade, e sua ação concreta na realidade, que orienta rumos. Portanto, culpar a internet pelo resultado da vida política não tem qualquer sentido. A menos que se queira esconder os reais motivos que fazem uma sociedade caminhar para aqui ou ali. Quando, em 2018, o candidato Jair Bolsonaro começou a “bombar” nas redes, usando o artifício da mentira, grande parte da esquerda brasileira ficou surpreendida. Como pode uma pessoa acreditar na existência de uma mamadeira de piroca nas escolas? Por que acreditam que o filho do Lula é dono da Friboi ou de mansões? Como puderam cair no conto da Lava Jato? Então, no estupor do momento, a culpa foi direcionada para o fato de que as novas tecnologias agora permitirem a comunicação sem mediação. Grupos de família se comunicando, grupos de amigos, redes democráticas. Ora, é certo que essas redes potencializaram a mentira, mas seriam elas as responsáveis pela ascensão da mentira como elemento central da política? Obviamente que não. No Brasil, assim como em grande parte dos países da América Latina, já faz muito tempo que a formação da população saiu de pauta nas organizações partidárias. De uma maneira geral, os partidos de esquerda ou progressistas não trabalham mais – ou trabalham pouco – na organização de base. Isso ficou por conta dos movimentos sociais que, em função de suas pautas particulares, muitas vezes não conseguem trabalhar com a totalidade da realidade. Isso lentamente foi reduzindo a capacidade de compreensão do todo. Da mesma forma, dentro dessas organizações, não há a formação de vanguardas capacitadas para disseminar o conhecimento na base. Não é à toa que os partidos perderam credibilidade. Além disso, no campo da educação formal, a população também foi perdendo ferramentas de compreensão crítica a cada nova reforma, sempre trabalhada no sentido de barrar a apreensão da totalidade. Ensino técnico, retirada das humanidades, educação bancária. E isso não foi coisa que aconteceu do nada. Não. Teve planejamento. É a classe dominante determinando o caminho. A luta pelo socialismo é um caminho generoso que aponta uma sociedade nova, capaz de emancipar o humano em todas as suas dimensões: a mulher, o indígena, o negro, o sem-casa, o sem-teto, o ecologista e assim por diante. O particular não é negligenciado, mas o universal é o foco. E o socialismo é uma organização que está absolutamente voltada para a maioria das pessoas, ou seja, os trabalhadores, aqueles que efetivamente constroem a riqueza de um país e do mundo todo. É por isso que o socialismo e o comunismo causam tanto medo àquele 1% da população que hoje detém o controle da riqueza e dos meios de produção. Porque se vier essa sociedade, eles terão de se submeter aos que hoje eles dominam. Então, como o que vivemos é uma guerra de classes, eles – os que conformam o 1% – armam armadilhas o tempo todo visando desorganizar e desestruturar a luta pelo socialismo. Cabe aos trabalhadores conhecer o sistema e identificar as armadilhas. Sobre como nasce e como se organiza o sistema capitalista, o alemão Karl Marx já deu a dica. Ler seu livro luminoso chamado “O Capital” já abre uma infinidade de portas para a compreensão da realidade bem como para a necessidade de mudar a totalidade do processo que nos domina. Não há “empoderamento” da mulher, do indígena, do negro, do sem-terra ou qualquer outro dentro do capitalismo, sem a destruição das estruturas todas. Não há. O machismo não se acaba com decreto. A compreensão sobre o indígena também não. Muito menos o racismo. E distribuir uma terrinha aqui ou acolá também não muda a estrutura fundiária de um país. É preciso que tudo seja derrubado. Tudo ao mesmo tempo, agora. Obviamente que as demandas particulares precisam ser organizadas e lutas devem ser travadas visando as mudanças. Por isso, os movimentos sociais são fundamentais. Mas, precisa ter o horizonte da transformação geral, a revolução de tudo. Senão, não há poder. A realidade material da maioria da população é a que precisa ser o centro da atenção. Comida na mesa, para viver saudável. Educação de qualidade para compreender criticamente a realidade. Saúde preventiva e acessível a toda gente, economia do país voltada aos interesses da maioria, patrimônio público nacional e riquezas servindo aos trabalhadores. Segurança para viver feliz e em paz. Cada pessoa no Brasil ou em qualquer canto do mundo quer isso. Esses são os temas que mexem com a cabeça e o corpo. São temas que exigem radicalidade, no sentido de ir à raiz das coisas. Quando uma população vive sem saúde, sem comida na mesa, sem escola para os filhos, sem posto de saúde para suas dores, sem proteção da violência, é certo que fica vulnerável à mentira. Como um trabalhador vai estudar e compreender a realidade se ele precisa matar 300 leões para garantir um mínimo de pão? A sociedade capitalista, com sua pedagogia da sedução – se tu te esforçares, consegue – embota o sentido, engana, coopta. Ela é danada. E para combatê-la é preciso garantir aos trabalhadores instrumentos para ver a realidade. Formação, organização e um objetivo que alcance toda a gente. O poder para os trabalhadores. Feito isso, as particularidades começam a ser resolvidas e, aí sim, vem o empoderamento. Porque a palavra já diz tudo: poder. E quem tem poder é quem define o caminho. Isso não

Sobre a democracia e o voto

Democracia e voto – A democracia, já sabemos com Lenin, não pode ser um termo abstrato. Ela precisa ser adjetivada. Por isso que falar em democracia serve a todos. Como se só ao pronunciar essa palavra mágica já se compreendesse liberdade, participação etc… Não é assim. Basta a gente ver o que entende por democracia o governo dos EUA, por exemplo: para ele, democracia é o que está alinhado com seus interesses, aos interesses de sua classe dominante. O mesmo acontece no Brasil. Quando a gente ouve os políticos falarem em democracia é preciso perguntar: que democracia? A que serve ao capital? Aos grandes empresários? Às transnacionais? Ao agronegócio? Aqui no nosso país as pessoas entendem a democracia como sinônimo de votar. Ora, essa é uma das facetas da democracia. Mas não é só isso. Votar a cada dois anos em pessoas que nos representarão nos espaços legislativos e executivos não significa liberdade e participação. E por que eu digo isso? Porque o resultado é nítido na formação das bancadas e dos governos. O que temos por aqui é a ditadura do capital. É o poder econômico que determina a formação desses espaços. E isso fica bem claro quando a gente reconhece, por exemplo, que existe uma Bancada do Boi (que representa o agronegócio), ou uma Bancada da Bíblia (que representa os interesses dos pastores das igrejas neopentecostais) e assim por diante. Cadê a bancada dos trabalhadores? Não tem. É um ou outro lá dentro do Congresso que defende os interesses da maioria da população. O restante está a serviço da classe dominante e seus interesses. Hoje, ouvindo a propaganda política no rádio ouvi um candidato a senador dizer: “Eu vou representar os interesses do Estado de Santa Catarina”. Eu pensei. Bom, esse, pelo menos não mente. Diz logo que vai representar os interesses do Estado e não das pessoas. E o que é o Estado? É o balcão de negócios da burguesia! Logo, ele não vai para Brasília defender os nossos interesses, de trabalhadores. Não. Vai defender os interesses dos empresários, dos fazendeiros, dos ricos. E há os que falam em defender os interesses da família. Esses também são honestos. Defendem os interesses de suas famílias. Vocês devem conhecer bem os tipos aí… Por isso que nessa hora de votar – que é só um dos momentos dessa nossa democracia manca – a gente deveria ter mais cuidado. Observar as promessas. A pessoa vai defender o quê mesmo? Qual é a sua prática cotidiana? Se já foi parlamentar ou governante, o que defendeu e o que fez? E vejam bem, não basta terem feito grandes obras. Há que ver o que fizeram para tornar a vida da maioria dos trabalhadores melhor. O que fizeram pela educação das massas, pela saúde, pela segurança, pelo direito de morar dignamente, pelos direitos dos trabalhadores? Hoje, com a internet, as informações estão bem aí. Basta dar um tempinho do tiktok e procurar no google. Existem palavras que escondem outros sentidos, tais como a democracia, por exemplo. Mas os atos são limpos como a água da fonte. A pessoa votou como na hora de defender os direitos dos trabalhadores? E votou como na hora de defender o patrimônio público nacional? E votou como na hora de decidir sobre o pagamento da dívida externa?  Os atos gritam. Siga o grito… Não é sem razão que os chamados “democratas” têm tanto medo da ditadura do proletariado. Porque ela significa que quem manda é a maioria trabalhadora, 99% da população. Enquanto que na ditadura do capital, quem manda é o 1%, uma fatia muito pequena da população que se apropria da riqueza e joga a maioria na escassez.  Vejam que aí a ditadura também precisa ser problematizada. Então, o que podemos fazer nessa nossa democracia fraca, que só nos permite o voto a cada dois anos, e ainda totalmente comandado pelo poder financeiro, é prestar bem atenção em quem vamos colocar nos espaços de poder. Alguém que vai defender o estado? Os grupos tradicionais de poder, a classe dominante? Os empresários? Os fazendeiros? Os pastores? Ou vamos votar em quem está verdadeiramente do lado da maioria, dos trabalhadores, dos oprimidos, dos desvalidos, dos 99%? A democracia participativa é mais do que votar. É participar de tudo o que diz respeito à vida das cidades, dos estados, do país, com poder de decisão. Isso, claro, só se consegue com luta, com revolução. Mas, enquanto ela não chega, o mínimo que podemos fazer é garantir que dentro dos atuais espaços de poder – onde mandam os interesses da classe dominante – tenha uma grande bancada nossa, dos trabalhadores, para fazer barulho, para fazer pender a balança a nosso favor.  Hoje,  tanto nas Câmaras de Vereadores, quanto nas Assembleias, Câmara de Deputados e Senado, estamos muito fracos. Mas muito fracos mesmo. Sem qualquer chance de fazer estremecer o poder dos grandotes. Isso tem de mudar. Então pensa bem na hora de colocar seu voto na urna. Vais votar em quem te ferra? Ou vais votar em quem realmente te representa e defende os teus interesses? Seria bonito ver os trabalhadores tendo uma poderosa bancada. Já basta de defender patrão. Já basta de defender fazendeiro, banqueiro, pastor.  É hora de virar o leme na direção de uma vida digna para a maioria dos trabalhadores. Breve crítica da democracia louvada As eleições e as opções dos trabalhadores Por que tanto medo?

Lula promete investimentos na educação em evento na USP

No dia 15 de agosto, o ex-presidente Lula participou da “Aula aberta: Universidade Pública e Democracia”, evento realizado pelo Coletivo USP Pela Democracia. O encontro também contou com a presença de personalidades como Fernando Haddad, Ermínia Maricato  e Marilena Chauí. Durante seu discurso, Lula destacou algumas realizações da sua gestão, como a diminuição da dívida pública, redução da inflação para 4,5% e investimento nas universidades. Em seguida, ele afirmou que o financiamento estudantil deveria ser maior, e que mesmo que algumas pessoas não consigam pagar o governo imediatamente, no futuro pagarão, melhorando a capacidade produtiva no país. “Nós temos que começar a perguntar quanto custou não fazer as coisas no tempo certo nesse país”, discursou. “Quanto custou não alfabetizar esse país na década de 30 ou 40? Quanto custou não fazer a urbanização quando começou a evasão do campo para a cidade? Quanto custou a esse país a gente não ter feito a reforma agrária quando foi feita no mundo inteiro? Fica muito mais caro”, questionou. Lula alegou ter deixado o Brasil bem encaminhado como a sexta economia do mundo e ainda em ascensão. O petista alegou que esperava que na segunda década deste século, o país estivesse entre os melhores, superando até mesmo a Inglaterra e França, disputando a quarta posição na economia mundial. “Eu trabalhava com esse sonho”, afirmou. “E o que aconteceu? Esse país que chegou a ser a sexta economia do mundo e agora é a décima terceira. Esse país que era motivo de orgulho em todos os continentes, virou pária”, disse. Encaminhando para o final, o ex-presidente pediu que a juventude não parasse de acreditar em si mesma e votar nos políticos que acredita e destacou: “não desanime da vida ou da luta, se a gente não luta enquanto a gente é estudante, a gente vai lutar quando a gente tem 70 (anos) ou 80 (anos)?”, perguntou. “Eu só vou sossegar quando o filho de uma empregada doméstica puder sentar no mesmo banco da universidade que a filha da sua patroa e disputar a mesma vaga em igualdade de condições e para isso nós temos que garantir emprego, comida e salário para as pessoas. Quando todo mundo tiver as mesmas condições para disputar uma vaga, a gente vai ver quem é inteligente e quem não é”, completou. Necessidade de diálogo com a população A escritora, professora e filósofa Marilena Chauí deu início ao evento relembrando as mais de 681 mil vítimas da covid, 33 milhões de famintos e 22 milhões de desempregados, e se referiu a essa atual situação brasileira como “crueldade”. “Um filósofo há muito tempo atrás escreveu que a covardia é a mãe da crueldade”, destacou. “O covarde, como é medroso, precisa sem cessar exibir signos e sinais de força: armas, milícias, mortes”, disse. Segundo Chauí, o Brasil vive no ódio e cinismo, mas salienta a necessidade de “recuperar a República”. Segundo ela, para isso, é preciso institucionalizar todas as áreas do poder executivo, refazer todo o campo dos direitos sociais e encontrar um caminho “pelo qual a reforma política libere o legislativo do peso que lhe cabe e recupere a independência do judiciário, que desde a Lava Jato se tornou uma questão de luta para nós… é preciso refazer o Brasil”.  A filósofa chamou a atenção para a forma como a direita opera nas redes sociais, e destaca que os recursos da esquerda são menores. De acordo com ela, existem duas tarefas necessárias. A primeira é conversar com as pessoas, no dia a dia, a respeito da atual situação política do Brasil. “Conversar com as pessoas explicando que esse Auxílio Emergencial só foi possível porque as esquerdas votaram, senão não sairia… isso a população precisa saber”. A segunda tarefa é fazer a população compreender que a mudança terá um ritmo lento diante do que será deixado por Bolsonaro. Chauí ressalta a importância da recuperação da economia para que os direitos sociais sejam “recuperados e refeitos”, sendo imprescindível para a democracia. “Onde nós estivermos, a nossa voz tem que ser ouvida, ela tem que se espalhar por todo o Brasil” Questão urbana Já a arquiteta, urbanista e ativista Ermínia Maricato chamou a atenção para a questão urbana do Brasil: “85% do que se constrói nesse país não tem a participação nem de arquitetos, nem de engenheiros, como se isso fosse luxo” e exigiu que a pauta seja levada à agenda nacional. Segundo ela, a maior parte dos domicílios brasileiros é informal, sem tratamento de esgoto. Durante seu discurso, Maricato alertou para a falta de acesso à moradia formal e de qualidade, e pediu reforma urbana. De acordo com a professora, a Constituição de 88 assegura esse direito, mas o Estado não está cobrindo, apesar do dever.   Questão racial A geóloga e professora Adriana Alves se referiu aos problemas causados pelo atual governo como “uma possibilidade de reconhecer os erros do passado” e construir um futuro em que as mudanças ajudem a consolidar uma democracia que supere as injustiças.  Alves falou sobre a questão racial, chegando a citar a menção de Bolsonaro ao peso de negros como “arroba”, medida que costuma ser usada para animais. Ela destacou o fato do Brasil ser um dos últimos países a abolir a escravidão, e mesmo o fazendo, abdicou de políticas públicas, causando desigualdade a enorme desigualdade racial na política.  “Na atual conjuntura política, nós somos 16% de senadores e senadoras, 24% de deputados e deputadas, 32% de prefeitos e prefeitas e 47% de vereadoras e vereadores. […] Tais números significam que várias das políticas públicas voltadas a nossa população são formuladas a partir de um lugar de branquitude e de concessão dessa branquitude.” A professora também citou o índice no judiciário: apenas 12% dos magistrados são negros, em um país cujos negros são 67,7% da população carcerária. “Eu não consigo não pensar em uma relação de causa e efeito desses números”, alegou. “Nós vamos juntar os diferentes para vencer os antagônicos”, diz Lula   Lula no covil do pato Lula se compromete com melhorias no

A grande mídia irá apoiar Bolsonaro nas eleições de 2022?

  Colaborou Letícia Coimbra No dia 20 de junho foi realizada a LIVE POLÍTICA DE SEGUNDA, cujo tema principal foi o possível apoio da grande mídia ao  Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. O programa foi apresentado por Fernando do Valle, editor do Zona Curva, e contou com a participação do advogado Roberto Lamari e de Luis Lopes, editor do Portal Vi Shows. Fernando abriu a live afirmando que, apesar da grande imprensa ter perdido parte de seu poder, ainda influencia muito o debate nas redes sociais. Segundo ele, algumas emissoras de televisão como o SBT e a Record são aliadas do atual presidente, mas os grandes jornais criticam sua política e concordam com o ultraliberalismo de Paulo Guedes, o que gera um posicionamento esquizofrênico por parte dos barões da mídia.  O jornalista ressalta, porém, que caso houvesse um esforço maior e a grande mídia investigasse os escândalos do atual governo, a imprensa teria conseguido a aprovação de um processo de impeachment tal como houve com a ex-presidente Dilma Rousseff. Lamari concorda com a fala de Fernando a respeito da influência da mídia hegemônica, e ressalta que 70% dos assuntos reproduzidos nas redes sociais têm origem na mídia tradicional. Além disso, afirma  que não vê apoio a Bolsonaro, mas críticas, mesmo em jornais conservadores. De acordo com ele, parte da falta de apoio se dá pelas críticas do presidente à grande mídia e acredita que a possibilidade maior é de neutralidade no pleito deste ano. “Não acredito que a imprensa embarque na campanha do Bolsonaro”, afirmou o advogado. Já Luis discorda, relembrando as eleições de 2018, quando mesmo diante das ameaças e notícias falsas ditas pelo atual presidente, a imprensa não reagiu e ressalta seu receio da mídia deixar as fake news e “barbaridades” passarem ilesas para manipular a eleição. Pensando em 2022, ele destaca que os principais veículos de imprensa concordam com a política econômica do atual governo em relação à Petrobras e, devido a isso também, falta pluralidade de ideias.  “Bolsonaro está numa campanha explícita de vender a Petrobras e está cooptando as elites financeiras e econômicas da qual a mídia é um puro porta-voz porque essas empresas não ganham mais dinheiro com empresa de mídia. Elas ganham dinheiro com outras empresas que elas têm no grupo”, disse o editor do Portal Vi Shows. Em relação a isso, o editor ZonaCurva ressalta a importância de diferenciar os jornalistas (funcionários) dos donos dos meios de comunicação porque os últimos têm “espírito de classe” e às vezes possuem segundas intenções por trás da notícia. Segundo Fernando, caso a candidatura de Simone Tebet (MDB), candidata da terceira via que tenta estabelecer maiores chances de competir com o ex-presidente Lula (PT) e Bolsonaro nas eleições deste ano, não dê frutos, a grande mídia irá focar em ferir a imagem do petista, o atual candidato do Partido dos Trabalhadores à presidência da República. O editor ainda menciona o relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, que revela que 54% dos entrevistados brasileiros dizem evitar o noticiário de propósito. Segundo ele, esse é um fator que torna essas pessoas vulneráveis à propagação de desinformação. Já Luis Lopes acredita que o alto índice é, na verdade, uma consequência das fake news. Meus votos a presidente Golpe como cortina de fumaça A terceira via morreu?

A terceira via morreu?

Colaborou Isabela Gama Na Live Política de segunda do ZonaCurva do dia 16 de maio, recebemos novamente o  advogado, publicitário e membro da executiva estadual do Partido Verde de São Paulo, Kiko Campos para conversar sobre a terceira via (apelidada dessa forma a candidatura de centro-direita incensada pela mídia) .O bate-papo contou com a presença do editor Zonacurva Fernando do Valle, Luis Lopes do Canal Vishows e também do advogado Roberto Lamari. Um assunto que se destacou durante a live foi a carta escrita por João Dória destinada ao presidente do PSDB Bruno Araújo. A carta tratava do acordo firmado entre os tucanos, MDB, Cidadania e o União Brasil com a intenção de lançar uma chapa única, que tivesse capacidade de se colocar como uma alternativa tanto a Lula como a Bolsonaro.  Lamari, que já realizou trabalhos para o PSDB e conhece bem a estrutura partidária dos tucanos, explicou que, nas diretrizes do Partido Social Democrata Brasileiro, a candidatura de Dória é quase obrigatória, visto que ele foi escolhido através das prévias do partido e houve um gasto de verba dos filiados para a realização do pleito, e é justamente isso que o ex-governador reivindica, e afirma que tomará as medidas necessárias caso não seja o escolhido. Kiko ressalta que os resultados ínfimos de Dória nas pesquisas são o reflexo da política de “moer” reputações realizada por Bolsonaro e seus apoiadores. O trabalho a favor da vacina e da ciência, indo na contramão do governo federal durante a pandemia e se colocando quase como inimigo de Bolsonaro, não foram suficientes para colocar Dória como candidato viável no páreo presidencial. No último dia 23 de maio, João Dória retirou a sua candidatura à presidência. E, em seu discurso, deixou claro que a decisão foi tomada pelo PSDB e que ia em sentido contrário a sua vontade pessoal. Kiko afirma que a terceira via não vai emplacar, e que está patinando ainda, tentando se estabelecer para um perfil do eleitorado. Segundo ele, Ciro Gomes é um nome antigo no cenário eleitoral que vem tentando se apresentar como uma opção viável. Mas também não obteve resultados promissores nas pesquisas.  Luís afirma que os desgastes das pré-candidaturas são prejudiciais à democracia, visto que empobrecem o debate eleitoral, impossibilitando a discussão de propostas de políticas públicas. Prato do dia: Lula com Chuchu Golpe como cortina de fumaça  

Prato do dia: Lula com Chuchu

No dia 9 de maio, estreou aqui no Zonacurva o nosso novo programa semanal Live Política na Segunda, para discutirmos o cenário político até a eleição de 2 de outubro. O primeiro encontro contou com a presença do editor Zonacurva Fernando do Valle, Luis Lopes do portal ViShows, o advogado Roberto Lamari e o convidado especial Kiko Campos. advogado e membro da executiva estadual do Partido Verde de São Paulo. No sábado anterior à live, dia 7 de maio, ocorreu o lançamento oficial da candidatura da chapa Lula-Alckmin. Líder nas pesquisas eleitorais, Lula se juntou a outros partidos sendo eles o PSB, PC do B, Solidariedade, PSOL, PV e Rede Sustentabilidade no lançamento da sua candidatura. Lula concorre à presidência em busca de seu terceiro mandato e as expectativas sobre o possível novo governo de Lula dominaram o debate durante a live. Kiko afirma que durante o seu primeiro mandato que se iniciou 2003, o sindicalista pegou um Brasil relativamente equilibrado economicamente pelo governo Fernando Henrique. Ele acredita que, apesar da “herança maldita” de FHC, o cenário socioeconômico brasileiro era mais promissor do que o atual. Apesar dos diversos fracassos do atual governo, o antipetismo e a polarização política também serão obstáculos a serem enfrentados por Lula, consenso entre os debatedores. Luis Lopes relembra que, com a eleição de Lula, o bolsonarismo não desaparecerá de forma imediata. E Kiko reforçou que o Brasil é sim um país conservador, principalmente quando olhamos o eleitorado do centro-sul do país e parte da elite, que ainda concordam com algumas pautas propostas pelo atual presidente. O editor Zonacurva Fernando do Valle questiona a futura posição da chapa Lula-Alckmin nas questões ambientais, que atualmente é uma pauta de importância mundial, e que o Brasil tem relevância inegável. Durante o lançamento da campanha, esse tema não foi citado, mas Kiko afirma que o partido de qual é integrante, o PV, e a Rede Sustentabilidade, irão cobrar medidas urgentes na área em um possível governo de Lula.  Kiko ressaltou que Marina Silva, presidente do Rede, tem duras críticas à abordagem ambiental durante os quatro mandatos do PT, como, por exemplo, sobre a construção da Usina de Belo Monte, que prejudicou o meio ambiente e a população vizinha da hidrelétrica. Houve também a especulação sobre a ida de Bolsonaro aos debates, para Lamari, é improvável que o presidente participe dos debates de primeiro turno, já os de segundo turno, ainda são uma incógnita. Fernando expôs a sua vontade de assistir um debate onde a direita venha com alguma proposta.   Lula se compromete com melhorias no SUS em conferência A próxima visita de Lula a Pernambuco Alckmin de vice é autossabotagem Lula ganha no primeiro turno, segundo IPEC Lula e Boulos

Não há meia democracia

Na democracia, assim como na gravidez feminina, não há meio termo. Não há meia democracia. É ou não é. Assume-se ou rejeita-se. Mas a imprensa parece ignorar esse fato e tenta conviver com um governo que adota princípios que negam na prática o compromisso democrático. A indefinição é o grande dilema da mídia brasileira às vésperas de um pleito que vai definir o futuro do país pelos próximos anos. Desde 2018, estamos assistindo à ruptura do consenso democrático surgido após o fim da ditadura militar e assumido pelo establishment político/empresarial, incluindo a grande imprensa brasileira. Foram justamente os jornais e a TV os primeiros a sentirem na carne os efeitos da ascensão do populismo autocrático. O governo Bolsonaro mostrou, desde o seu início, um olímpico menosprezo pelos princípios básicos da democracia, como a transparência pública, o respeito às decisões de justiça, a opção preferencial pela solução pacífica e negociada de conflitos, a recusa da tortura, censura e violência física. A imprensa não percebeu, ou não quis perceber, que o debate público migrou para outro espaço político a partir de 2016, quando da derrubada do governo Dilma Rousseff. Até então, a luta política acontecia dentro do campo democrático, mas a partir da eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, ela passou a ser entre quem segue os princípios da democracia e os adeptos do autoritarismo populista de viés fascista (1). O descuido da imprensa O professor Eugênio Bucci definiu com perfeição o dilema atual da imprensa brasileira na sua intervenção na live dos 20 anos de fundação do PROJOR ( Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) ao afirmar que “houve um descuido da maioria das redações em identificar a natureza da candidatura que acabou vitoriosa em 2018…era uma candidatura antidemocrática porque havia elogios a torturadores, uma certa idolatria do golpe de 1964, …. e um discurso machista, misógino e racista”. Bucci acrescenta ainda: “… se houvesse (hoje) na Alemanha uma candidatura nazista… ela seria denunciada (legalmente) porque o culto do nazismo é incompatível com a ordem democrática alemã, assim como o culto da ditadura, da tortura, da censura à imprensa é incompatível com o pacto nacional que gerou a democracia na qual tentamos sobreviver aqui” (2). A relativa impunidade do viés fascista assumido pelo governo Bolsonaro se alimenta de vários fatores entre os quais destacam-se a erosão interna do pacto democrático provocada pelo exercício do autoritarismo e a falta de um compromisso mais claro e contundente da imprensa com a defesa da democracia em todas as plataformas de comunicação social que estão sob seu controle. Não é um compromisso fácil porque a imprensa vive também uma crise no seu modelo de negócios, nas suas estratégias editoriais e no relacionamento com o público. Mas isto não anula o fato de que ela precisa estruturalmente da democracia para cumprir com sua responsabilidade na curadoria dos fluxos noticiosos que permitem às pessoas formar opiniões e tomar atitudes. Uma democracia tipo “meia boca” tem como corolário uma circulação também “meia boca” de notícias e informações, o que favorece a proliferação das ideias e iniciativas de viés fascista. As evidências são nítidas, mas boa parte da população brasileira ainda não se deu conta de que nas eleições de outubro próximo, a escolha será entre democracia e não democracia. Não é só entre dois candidatos, como se eles fizessem parte de um mesmo compromisso institucional, porque um deles se situa dentro do marco democrático e o outro incorpora um viés fascista que nega a democracia. O sistema político vigente no país tem os recursos constitucionais para enquadrar as tendências não democráticas, mas a falta de uma clareza sobre o antagonismo visceral entre democracia e não democracia leva muitos parlamentares, magistrados e jornalistas a não perceberem a natureza da escolha a ser feita nas urnas. Ilegalismos autoritários A erosão interna no pacto democrático nacional é uma das consequências da incapacidade da imprensa de mostrar aos seus leitores, ouvintes, telespectadores e usuários da internet a inexistência de meio termo quando se trata de exercício da democracia. Estamos hoje diante do que o professor Conrado Hubner Mendes chamou de “ilegalismo autoritário” (3), ou seja, o avanço gradual do desmanche das normas legais que garantiam a democracia brasileira através da Constituição de 1988. As indecisões da imprensa permitem que as tendências políticas de viés fascista encontrem espaço na opinião pública para promover uma “castração” da democracia brasileira. Este texto foge ao padrão adotado até agora na imprensa. Não é mais possível ser um mero observador do que acontece no país quando o sistema político que garante o exercício da nossa profissão pode sucumbir ante a ameaça do autoritarismo. (1) Preferimos usar a expressão viés fascista porque o fascismo clássico está associado a uma conjuntura italiana nos anos 30 e 40. O projeto bolsonarista mantém várias semelhanças com o modelo político do ditador italiano Benito Mussolini, como o autoritarismo, a militarização, o machismo e as motociatas, mas não é a mesma coisa. (2) Trechos da fala de Eugênio Bucci (ver íntegra em https://fb.watch/cqB-AgLFXe/) foram abreviados e levemente editados em favor da clareza e concisão. (3) Ver artigo “Ilegalismo autoritário é obra de juristas”. A democracia em risco Breve crítica da democracia louvada Sobre a democracia e o voto A terceira etapa do nazi-fascismo no Brasil não poderá ser derrotada somente nas urnas

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