Zona Curva

Conversa ao Vivo Zona Curva

Os principais tópicos abordados durante o CONVERSA AO VIVO, quadro transmitido no canal do Zona Curva no Youtube.

José Falero e a literatura de combate

Colaborou Letícia Coimbra O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA do dia 15 de setembro recebeu o escritor José Falero, autor do romance “Os Supridores”, obra indicada ao prêmio Jabuti em 2021 e vencedor do prêmio Ages (Associação Gaúcha de Escritores) de livro do ano. O programa foi apresentado por Fernando do Valle, editor do Zona Curva.   Estudo dos livros de Falero nas escolas O escritor diz que, em algumas escolas, suas obras não costumam ser estudadas no ensino fundamental. Segundo ele, os professores afirmam que o livro é “violento” ou “pesado”, mesmo que no cotidiano as crianças vivenciem acontecimentos semelhantes ou piores. “Nessas escolas, os professores caíram de paraquedas ali. Ele não é dali, é um cara classe média que mora numa região de burguês e vai dar aula na periferia e não tem a bagagem cultural e intelectual daquele menino”, analisa.  Já dos professores que cresceram na quebrada, diz: “eu ouço deles que ‘o livro é pesado, mas as crianças estão vendo isso o dia todo. Como é pesado uma coisa que faz parte do cotidiano das crianças ali?”   Como se tornou escritor José cresceu na periferia de Porto Alegre e conta que só teve acesso aos livros por causa de sua irmã mais velha, Caroline, que ingressou na universidade devido às políticas públicas de educação do governo petista.   Ele diz que “não conseguia entender como um amontoado de palavras” iria competir com os videogames e os filmes. “Mas a minha irmã me convenceu da seguinte maneira: ‘não vou ficar tentando te convencer, só quero que tu entendas uma coisa, a tua opinião sobre livros não interessa porque tu nunca leste nenhum’. E eu pensei assim, cara, vou ler o livro inteiro só para ter o prazer de ir lá e dizer que li e não gostei’”.  No entanto, para sua surpresa, ele gostou tanto da literatura que nunca mais parou. “Então você se deu mal, hein?”, ironiza Fernando do Valle. “Não, cara, eu me dei bem (risos)”, rebate o escritor. José alega, porém, que é difícil viver da literatura no Brasil e que ele mesmo não vive especificamente do que escreve. “Não vivo apenas do que escrevo, mas do que a escrita me proporciona, quando o livro é traduzido, por exemplo, ou vendido para o cinema, também me chamam para um monte de eventos em que me pagam, como ainda para palestras, oficinas de escrita, rodas de conversa em eventos literários, me chamam para escrever prefácio, em jornal. É isso que tem possibilitado me manter”.  Para 2023, ele planeja publicar outro livro, dessa vez com maior enfoque nas mulheres. “Quero refletir sobre isso a partir da perspectiva do meu lugar de opressor enquanto homem. Escrever sobre como se modela essa mentalidade que tem se chamado de masculinidade tóxica, sobre como se modela no imaginário do homem, como é que isso vai acontecendo ao longo da vida de um homem”, conta ao Zonacurva.    Sobre o governo atual Ao responder o editor Zonacurva, o autor de “Os Supridores” comenta que a época em que começou a escrever o livro, 2009, a situação do país era menos pior e que a classe mais baixa estava conseguindo avanços, que foram regredidos após 2016. Ele destaca que a recuperação desse retrocesso que vivemos será lenta. “A gente começou a ter políticas públicas e uma preocupação com as pessoas mais pobres, mas isso era muito incipiente, estava começando. Os problemas que o Brasil têm na educação, na precarização do trabalho, na distribuição de renda, esses problemas não se resolvem assim em dois governos ou três, é uma coisa de décadas. A gente estava fazendo um trabalho importante, que foi cortado a partir de 2018. Na verdade, um pouco antes, eu diria a partir de 2016, do golpe contra a Dilma a gente começa a passar por uma série de retrocessos”, afirma José Falero. O escritor alega que a precarização e a violência, como a policial, sempre foram uma constante na vida da população mais pobre. “Por exemplo, agora com a ascensão fascista que temos observado, as pessoas ficam ‘nossa, a gente tem um presidente que fala em tortura, absurdo’. Claro que é absurdo, mas tortura contra as pessoas da periferia sempre aconteceu: a polícia invade tua casa sem mandado, sem nada, te bate, te mata às vezes”, revolta-se. O escritor acredita que o país precisa de um projeto de Estado em vez de um projeto de governo. Para isso, é preciso diálogo com vários espectros políticos, o que Lula faz muito bem. José afirma que é disso que a democracia é feita, e mesmo que não concorde com a direita moderada, afirma a importância de estabelecer acordos com ela. “Isso é a democracia, são as diferenças convivendo”, conclui.   Injustiça social “Eu gosto de falar ‘injustiça’ porque tem um agente promovendo essa má distribuição de renda”, diz, explicando o motivo de não utilizar o termo “desigualdade”. O escritor relaciona injustiça social e a violência urbana, afirmando que esse foi um dos motivos que o levou a escrever o livro Os supridores. A obra mostra Pedro e Marques, dois repositores (também chamados de “supridores”) de um supermercado que decidem enriquecer através da venda de maconha após se conscientizarem da exploração que sofrem no trabalho, ou seja, que não importava o quanto trabalhassem, nunca teriam ascensão social.  Saiba mais sobre o livro de José Seguindo o tom das críticas feitas no livro, José cita a criação da polícia militar, feita para reprimir a população negra e pobre, especialmente a cartilha que ela tinha para identificar criminosos se baseando em fenótipos. Ele salienta também que os governos petistas implementaram políticas públicas que diminuíram essa injustiça. No entanto, diz que o bolsonarismo surgiu em resposta a esses avanços.    A imprensa e o bolsonarismo O escritor ressalta a importância da regulamentação da mídia, Ele afirma que a mídia participou da ascensão fascista” e destaca a importância de conseguir conciliar as diferenças no âmbito político.  Segundo José, não dá para desprezar o fato da mídia ter “abraçado

Indigenista Ricardo Rao conta como escrachou Marcelo Xavier

  Colaborou Letícia Coimbra O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA teve o prazer de receber, pela segunda vez, o indigenista Ricardo Rao, que vive exilado em Roma devido às ameaças de morte recebidas durante seu trabalho no Maranhão. O programa foi apresentado por Fernando do Valle, editor do Zona Curva, e contou com a participação do advogado Roberto Lamari e Luis Lopes, do Portal VI Shows. O indigenista comentou a ocasião em que expulsou o presidente da Funai, Marcelo Augusto Xavier, aos gritos de “miliciano” e “assassino” durante uma reunião da XV Assembleia Geral da FILAC, Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e Caribe, em Madrid. No ato, Rao acusou o Itamaraty de proteger milicianos e responsabilizou Xavier pelas mortes do servidor Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. “Este homem não pertence aqui, não é digno de estar entre vocês. O Itamaraty é uma vergonha, o Itamaraty está sendo babá de miliciano. Marcelo Xavier é miliciano. Este homem é um assassino, esse homem é responsável pela morte de Bruno Pereira, é responsável pela morte de Philips. Bandido, vai embora mesmo, vai para fora!”, bradou em uma mistura de português e espanhol. Ricardo nos contou que foi para o evento já na intenção de expor Xavier diante do mundo. O escracho foi articulado a partir do vazamento da informação de um servidor da FUNAI, amigo de Ricardo, que passou a informação da visita do presidente da FUNAI a Madri. A partir daí, Ricardo acionou sua rede de ativistas pelo meio ambiente na Europa para ajudá-lo na empreitada. Veja como foi no vídeo abaixo: Contrariando a afirmação de Bolsonaro no Jornal Nacional sobre parte das queimadas serem provocadas pela população ribeirinha, o indigenista destaca que, na verdade, as áreas queimadas ou desmatadas por eles são pequenas, além de não existirem em quantidade suficiente para que estas ações causem impacto.  Ricardo destaca que o bioma do Brasil não favorece às queimadas como os países onde ela acontece anualmente. Segundo ele, os maiores responsáveis pelas queimadas são certos grandes latifundiários. Ricardo Rao explica que não é possível generalizar já que alguns deles não cometem crimes ambientais. Novamente o indigenista reforçou seu apoio à criação de um órgão internacional que monitore as atividades na Amazônia, já que, segundo ele, o Brasil não exerce sua soberania no local, e quem o faz é o crime organizado. “A ameaça é o pão de cada dia”, diz indigenista exilado Os trabalhadores e os indígenas O Ministério dos Povos Originários

China e as eleições brasileiras – Conversa ao vivo com Elias Jabbour

Colaborou Letícia Coimbra O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu no dia 30 de junho Elias Jabbour, doutor e mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP, além de escritor e professor dos Programas de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) e em Ciências Econômicas na UERJ (PPGCE). O programa foi apresentado por Fernando do Valle, editor do Zona Curva. Há 25 anos, Elias se dedica às temáticas do socialismo e da experiência chinesa. É autor de inúmeros livros a respeito, sendo “China: o socialismo do século XXI”, lançado no ano passado pela Editora Boitempo, o mais recente. Segundo ele, seus estudos sobre esses temas começaram enquanto fazia uma iniciação científica durante a graduação em 1996. Elias afirmou na entrevista que as mais variadas de forma de socialismo é o que o move enquanto pesquisador. Propriedades públicas e privadas De acordo com o professor, a propriedade pública predomina na China atual e o setor público é a locomotiva da economia que segue as diretrizes do partido comunista. Jabbour acredita que o socialismo vigente na China ainda é embrionário, ou seja, está em seu estado inicial e está sendo formatado gradualmente. “A China não é um país capitalista do ponto de vista jurídico. De acordo com a Constituição, a propriedade pública dos meios de produção é o lucro da economia chinesa, e as outras formas de propriedade são auxiliares”. O professor ressalta que, diferente do ocidente, na Ásia, a propriedade privada é concessão do Estado, podendo ser contestada pelo mesmo. Por outro lado, ele afirmou que há áreas econômicas no país controladas pelo setor privado. “Essa questão do setor privado é muito mal explicada e muito enviesada, porque nós somos muito apegados à forma privada […] No fundo, o direito do capitalismo é o direito de regular e legitimar a propriedade privada. O código civil é um elemento que institucionaliza e praticamente sacraliza a propriedade privada”. Como funciona o Partido Comunista da China Jabbour explica que para entrar no Partido Comunista é necessária a aprovação, e mesmo o líder chinês Xi Jinping conseguiu apenas na nona tentativa. E mesmo após a admissão, existe um longo processo obrigatório até “chegar no topo da pirâmide”. Segundo ele, a base que elege um deputado é a mesma que cassa seu mandato, causando maior rotatividade e impossibilitando, por exemplo, de alguém como Bolsonaro permanecer no mesmo cargo por quase três décadas como deputado.  “Eu acho que esse sistema chinês é uma democracia não-liberal, cujas possibilidades – ‘possibilidades’, não estou falando que é real – são muito maiores do que aqui no ocidente. […] Apesar de ser um partido único, as políticas da China mudam o tempo inteiro”. Relação do Brasil com China e Estados Unidos Em resposta à pergunta de Fernando se Lula seria pró-China em repercussão à reunião de Jair Bolsonaro (PL) com o presidente dos Estados Unidos Joe Biden na Cúpula das Américas, em que o presidente atual tentou o apoio norte-americano para sua reeleição com base nessa afirmação, Elias explica que o petista é um “estadista” e, portanto, tem a visão de que “o Brasil é muito grande para caber no quintal de alguém, nem da China nem dos Estados Unidos”. “O Brasil tem uma tendência histórica de se apropriar desses conflitos de hegemonia no mundo para se dar bem no final”, afirma. “O que eu vejo não é que o Lula seja pró-China, é que a China tem muito mais a oferecer para o Brasil do que os Estados Unidos”, diz o professor. Ele ressalta que é natural que a China tenha relações com o Brasil porque ambos têm interesses em comum, mas destaca que também é importante manter uma boa relação com o país norte-americano. “O Brasil sofre intervenções estrangeiras desde 2013 […] e o Lula sabe disso, tanto é que a palavra que ele mais fala em seu discurso é ‘soberania’, hoje ele é o cara da soberania nacional”. O professor explica que a relação com a China traz benefícios a longo prazo, mas as elites brasileiras se apegam muito em interesses imediatos’. “A China garante para o Brasil grandes superávits comerciais, que resolvem nosso problema a curto prazo, mas acaba com o nosso longo prazo, porque o Brasil vai se precarizando”. O professor ressalta a importância de manter acordo estratégico onde o Brasil receba, em troca, grandes investimentos em infraestrutura. Falando ainda sobre Lula, ele afirma que o petista “tomou para si a bandeira do Brasil”, se tornando um líder nacionalista, que prioriza os interesses do país independentemente dos conflitos externos.  Recentemente, Irã e Argentina fizeram um pedido de adesão aos BRICS, um bloco de países emergentes no qual fazem parte Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul. Pensando que quase metade da população mundial está inclusa nesse grupo e que países como Rússia e China são atualmente grandes influenciadores globais, o professor explica que a tendência é que mais nações façam parte dele e que sua relevância seja ainda maior que a do G7, grupo que reúne os sete países com as maiores economias do mundo. A terceira morte de Trotsky Tio Sam, ajuda aí… Soci@lismo 2.0 e a história do voto no Brasil Dos horrores do capitalismo Capitalismo é religião?

“A ameaça é o pão de cada dia”, diz indigenista exilado

Colaborou Letícia Coimbra   O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA de 23 de junho recebeu Ricardo Rao, indigenista que está exilado em Roma, na Itália, devido às ameaças que sofreu quando trabalhava como agente da Funai no Maranhão. O programa foi apresentado por Fernando do Valle, editor do Zona Curva, e contou com a participação do advogado Roberto Lamari. Hostilidade a partir do governo Bolsonaro Segundo Ricardo, as ameaças feitas ao seu trabalho antecedem à gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas foi a partir daí que passaram a ser cumpridas. O indigenista acredita que antes não os atacavam devido à proteção do Estado, porém o “discurso de ódio” que o atual chefe do Executivo vocifera contra os indígenas desde 2018 funcionou como um aval para fazerem ataques deliberadamente. De acordo com ele, o presidente utiliza os indígenas como “inimigo interno”. “Nunca foi [tranquilo]. A ameaça é o pão de cada dia de quem na Funai trabalha na proteção das aldeias […] mas a gente conseguia fazer uma triagem.  E eram ameaças só, ninguém cumpria” Quando questionado por Lamari, Ricardo disse que seu trabalho não costumava incomodar as instituições governamentais, mas alegou que, após a posse de Bolsonaro, a relação entre os funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) e a polícia piorou, e muito.  “A polícia sempre teve uma participação muito relutante, era muita má vontade, e o exército também… ‘Não tem verba, não tem isso, não tem aquilo’. Mas a partir do governo Bolsonaro, passou para uma hostilidade muito grande. Hostilidade aberta ” Ameaça e exílio No início de 2019, Rao apreendeu uma moto usada por madeireiros que estavam cometendo crime ambiental. Alguns dias após a apreensão, um oficial da PM apareceu no seu local de trabalho exigindo o veículo de volta, porém o indigenista não atendeu o pedido e o destruiu, o que é permitido pela lei. A medida é autorizada para que o criminoso não recupere seu material. A partir disso, o indigenista percebeu que os órgãos governamentais estavam corrompidos e que não poderia exercer livremente sua função. Em meados daquele ano, teve uma discussão com um servidor que, segundo ele, estava sabotando seu trabalho.  Poucos dias depois, funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) apareceu na base da Funai em Imperatriz, no Maranhão, procurando por Ricardo. No dia seguinte, a Funai abriu um processo administrativo disciplinar contra ele devido à discussão, mas o indigenista alega não ter cometido delito algum. A situação ficou ainda pior depois que um investigador conhecido como  “Carioca” o ameaçou com uma pistola, dizendo que “quem fica lambendo cu de índio aqui não dura” e que “aqui namoradinho de índio morre cedo”. Após a morte de Paulino Guajajara, indígena, ativista ambiental e uma das lideranças locais, que foi morto por madeireiros ilegais em uma emboscada, o sentimento de desconfiança sobre as autoridades policiais locais aumentou. Com isso, Ricardo começou a preparar dossiê relatando as atividades criminosas, denunciando milícias, madeireiras e traficantes no Maranhão, e o encaminhou para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Partindo do princípio que a Polícia Federal não iria defendê-lo, ligou para alguns indígenas que vivem na Noruega, protocolou o dossiê na Câmara dos Deputados e foi para Oslo dois dias depois. De acordo com o indigenista, o relatório entregue não resultou em nada. “A ideia era fazer espuma naquele momento […] Um oficial da PM invadindo a sala de servidor federal, me pedindo para devolver produto de crime”, disse. “Foi muito grave o assassinato do Maxciel (servidor da Funai assassinado com dois tiros na cabeça no Amazonas em 2019), foi muito grave o assassinato do Paulino, foi muito grave a Abin indo na Funai. Eu esperava que esse dossiê criasse um escândalo que talvez tivesse evitado a morte de Bruno” Ricardo, que fez o treinamento com Bruno e esteve junto com o indigenista assassinado recentemente em algumas missões, lamenta o homicídio do colega de profissão e afirma acreditar que o relatório entregue por Bruno à PF pouco antes de seu desaparecimento no dia 5 de junho motivou sua morte.  “Tanto o Bruno quanto o Travassos (antecessor do indigenista) conheciam aqueles homens. Por que nunca houve nenhuma violência? Qual o fato novo? Eu parto do que foi divulgado pelo g1, que informou que pouco antes de ser assassinado o Bruno entregou (o relatório) no MPF e na ‘milícia federal’ […]”, afirmou Ricardo, que exaltou o trabalho feito por Bruno. “Nunca antes foram vítimas de violência. Por que agora, quando nem na Funai o Bruno estava? Eu acho que a minha teoria faz muito sentido” Ricardo acredita que a mudança virá, mesmo que distante.  “O retrocesso que Bolsonaro nos impôs é grande demais para que não haja uma reação dos oprimidos”. Queixa-crime contra Bolsonaro Atualmente Ricardo vive na região central de Roma com apenas 150 euros que sua mãe lhe envia todo mês. Junto a alguns colegas, ele está mapeando ítalo-brasileiros que morreram em decorrência da covid-19 no Brasil, a fim de montar uma queixa-crime contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) pela má condução do governo durante a pandemia. A justificativa para a ação é o precedente do coronel brasileiro Átila Rohrsetzer, que assassinou um cidadão ítalo-uruguaio durante a Operação Condor e foi julgado pela justiça italiana. Indigenista Ricardo Rao conta como escrachou Marcelo Xavier Segue o massacre aos povos indígenas Os trabalhadores e os indígenas

História na veia com professor Vitor Soares

Colaborou Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu no dia 26 de maio o professor de história e podcaster, Vitor Soares. Ele falou sobre seu podcast, o História em meia hora, onde explica eventos históricos em 30 minutos. Vitor foi entrevistado por Fernando do Valle, editor do Zonacurva. O História em meia hora nasceu em 2020, porém o professor conta que a vontade de produzir conteúdo em formato de áudio surgiu há quase 10 anos, quando ele retornava um dia da faculdade. Hoje, a boa repercussão do podcast fez Vitor deixar as salas de aula por um tempo, para que pudesse se dedicar ao projeto. “Sinto falta do ambiente escolar, de ter um contato direto com os alunos”, confessa. Ele planeja retornar a lecionar em escolas ou em universidades. Vitor também participa de outros dois programas: Aventuras na História e o História pros Brothers. O professor comentou sobre a tragédia envolvendo Genivaldo de Jesus, que foi morto pela polícia após ser trancado em uma viatura junto a uma bomba de gás lacrimogêneo na cidade sergipana de Embaúbas. A atitude da polícia chocou os brasileiros e muitos compararam a ação com as câmaras de gás usadas nos campos de concentração nazistas na Segunda Guerra Mundial. O professor explica que, apesar do atual governo flertar com alguns discursos fascistas como o nacionalismo exacerbado, a eleição de um inimigo comum à nação e o discurso pró armas, é importante apontar que essas ações não fazem do governo Bolsonaro diretamente fascista devido às especificidades dos dois períodos históricos. Além disso, Vitor relembra que classificar e chamar os eleitores de Bolsonaro de fascistas é uma estratégia ruim de tentar fazer política e revela um academicismo vindo da elite intelectual. Principalmente, quando isso é direcionado às classes menos favorecidas da sociedade, que encaram a política de maneira mais prática como, por exemplo, nas altas dos alimentos e da gasolina. “Chamar uma apoiadora do Bolsonaro, que mora na periferia e só quer colocar comida na mesa, de fascista é extremamente problemático” afirma Vitor. O revisionismo histórico foi também um assunto abordado na conversa. Segundo Vitor, a estratégia de Bolsonaro e seus apoiadores em dizer que a ditadura nunca existiu e que o comunismo e a esquerda vão acabar com o país são a repetição de um plano do período da guerra fria inventado pelos Estados Unidosj, justamente o país que financiou e apoiou ditaduras na América Latina entre os anos 60 e 80 do século XX. Segundo ele, um povo que teme o comunismo e suas mazelas não se rebela contra a desigualdade social, esse sim um problema grave que existe no Brasil. Sendo assim, atitudes absurdas como homenagens ao Coronel Ustra e a deslegitimação de centenas de vidas perdidas na ditadura brasileira nada mais são do que mais uma cortina de fumaça deste governo, completa o professor. Ditadura Nunca Mais com Urariano Mota A ditadura brasileira e os dois demônios

Ditadura Nunca Mais com Urariano Mota

  Colaborou Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu no último dia 5 de maio o escritor e jornalista Urariano Mota, colaborador há mais de 7 anos do ZonaCurva, e autor, entre outros, do livro “Soledad no Recife”, que conta a trajetória da paraguaia Soledad Barrett, militante nos anos da ditadura militar brasileira.  A conversa contou com a participação do editor Zonacurva Fernando do Valle e tratou, em boa parte do tempo, sobre a tragédia política, econômica e social que a ditadura militar representou para os destinos do país e sua relação com o momento político atual. Urariano relembrou os anos de chumbo, época em que fazia parte da resistência ao governo militar. O escritor relatou os crimes de Cabo Anselmo, agente infiltrado do governo no grupo de resistência Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Anselmo condenou à morte seis opositores à ditadura, incluindo sua companheira Soledad Barrett Viedma, grávida de quatro meses, quando decidiu entregá-los a Sérgio Fleury, conhecido torturador da ditadura, em 1973.  Urariano é autor de diversos textos sobre a luta contra a ditadura militar aqui no ZonaCurva.  Segundo ele, Anselmo sempre mentia sobre os fatos nas entrevistas que deu após a ditadura, e, na sua visão, o agente nunca tinha sido devidamente entrevistado corretamente, visto que os jornalistas dos veículos que conversavam com o cabo não se preparavam adequadamente para entrevista e eram enredados por suas mentiras. Porém, na opinião do escritor, a nova série da HBO+ Em busca de Anselmo traz uma nova perspectiva, onde se questiona a narrativa construída por Anselmo há décadas, trazendo mais veracidade, e contando corretamente as histórias da época. O processo de escrita de seu livro “Soledad no Recife” também foi explicitado por Urariano, que comentou sobre a importância de ser verdadeiro com os seus leitores, e com a história de seus personagens.  Em seu livro, a história de Soledad é narrada em primeira pessoa, e Urariano confessou sua paixão platônica pela militante, visto que o escritor e Soledad não chegaram a se conhecer. Urariano considera a lei de anistia uma insânia ao perdoar torturados e torturadores. “Perdoar pessoas como Fleury e Ustra é equiparar seus crimes com os atos de resistência e luta pela liberdade dos militantes da época”, declarou. História na veia com professor Vitor Soares Cabo Anselmo na série “Em busca de Anselmo” Cabo Anselmo no seu obituário

Jão e os 40 anos do Ratos de Porão

O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu Jão, guitarrista da banda Ratos de Porão, no dia 25 de março. A conversa foi gravada no bar La Borraxteria, mantido por Jão e seus sócios., que fica no bairro de Pinheiros em São Paulo. O bate-papo contou com a presença do editor Zonacurva Fernando do Valle e Luis Lopes do portal Vishows. Após esses dois anos de pandemia, o processo de retomada das apresentações ao vivo do Ratos coincidiu com o aniversário de 40 anos da banda, o que tornou o reencontro entre banda e público ainda mais especial.  Jão conta que o tempo de isolamento social o ajudou a compor e novas músicas. Em 13 de maio, o Ratos de Porão lança seu novo álbum, Necropolítica. O último álbum da banda, Século Sinistro, foi lançado em 2014. O novo álbum do Ratos de Porão trará diversas críticas ao atual governo. “As letras são anti-bolsonarristas até o talo. Eu sei que tem gente do metal que gosta do Bolsonaro, mas não dá para defender esse verme ”, afirma o guitarrista.  A atualidade das letras compostas nos anos 80 e 90 também foi alvo da entrevista. O editor Zonacurva Fernando do Valle ironizou: “parece que aquelas letras foram escritas ontem!”. Jão, compositor de maioria delas, afirma: “músicas que escrevi no final dos anos 80 fazem mais sentido hoje porque na época ainda tinha o anseio pelas Diretas Já”. Jão relembrou o sucesso internacional da banda com shows espalhados pela Europa em países como Portugal, Espanha, França e Itália. O Ratos participou de diversos festivais de punk pelo continente de forma independente. Ele conta que “muitas vezes nós mesmos alugávamos uma van e saíamos andando com os mapas dos países em que íamos tocar”. Clemente: o movimento punk nunca há de morrer O beat William Burroughs e o rock    

Mídia livre e a crise política brasileira

  Colaborou Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu no dia 16 de março a jornalista e coordenadora do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé Ana Flávia Marques para discutir com o editor ZonaCurva Fernando do Valle sobre mídia independente e a crise midiática brasileira.  Para Ana Flávia, é necessário que haja uma união dos veículos independentes, principalmente nas eleições deste ano. Segundo ela, os veículos de mídia livre precisam ajudar a desmentir as fake news, e a propagação de informações mentirosas pelos políticos, explicitando assim as reais intenções dos candidatos. A jornalista se mostrou confiante em relação aos resultados das eleições, mas ressalta que não será fácil vencer as mentiras e a máquina de ódio instalada nas redes pelo atual governo. Segundo Ana Flávia, historicamente, o desafio de um veículo de imprensa independente era a falta de grana, que impossibilitava sua divulgação. Agora, com o avanço das redes sociais, a distribuição de material jornalístico tornou- se mais acessível para a mídia livre, porém, é necessário não ceder aos algoritmos das big techs para que o conteúdo obtenha maior alcance e um bom número de leitores, em detrimento da qualidade. O editor ZonaCurva, Fernando do Valle, ressaltou que a busca desenfreada em obter bons resultados de audiência nas redes sociais não deve sobrepujar o interesse público na produção de material jornalístico.  A lógica dos algoritmos das plataformas digitais gira em torno do engajamento da sua publicação, sendo assim indiferente se os comentários são positivos ou não.  A problemática deste modo de viralização é que o discurso de ódio e as fake news se apropriam disso para se propagarem, visto que funcionam como clickbait  (“isca de cliques/”caça-cliques”) para as redes sociais.  Um exemplo foi o tweet do ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles, que publicou uma suposta matéria da CNN que apontava Jair Bolsonaro como o agente que impediu o conflito entre Rússia e Ucrânia. Apesar da publicação ser desmentida logo em seguida, a repercussão e o engajamento de Salles beneficiaram o campo político bolsonarista, mesmo sendo um conteúdo falso. Sem mídia democrática não há democracia Da mídia de consenso à de conflito

A guerra e o Brasil

Colaborou Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA de 10 de março (quinta) recebeu novamente a mestranda em Relações Internacionais Giovana Branco. Desta vez para discutir os impactos do conflito russo no Brasil. O bate-papo contou com a presença do editor Zonacurva Fernando do Valle e Luis Lopes do portal Vishows. Os impactos do conflito russo para o Brasil são muitos e a alta do preço da gasolina é o mais relevante. Apesar do Brasil ser considerado autossuficiente em petróleo com suas enormes reservas do pré-sal e a alta produtividade da Petrobrás, a política entreguista de Bolsonaro, que vende as refinarias brasileiras a preços baixos ao capital estrangeiro, coloca o Brasil em uma situação vulnerável no refino e abastecimento de combustíveis. Por isso, houve um aumento da gasolina de quase 20% em 10 de março. Giovana relembra que a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita, e que a guerra influenciou na alta do barril que chegou a 140 dólares, mais alto valor em uma década. É importante considerar que a importação de derivados de petróleo é realizada em dólar, e a inflação brasileira corrói o poder de compra do real, complementando os motivos que levam a gasolina a alcançar preços exorbitantes para o consumidor final. A pesquisadora afirma que o Brasil não é o mais afetado pela crise energética ocasionada pelo conflito. A situação dos países da Europa Ocidental é ainda mais complicada. A Alemanha é um dos países mais dependentes da energia russa, mais da metade do gás natural vem do país vizinho. Ambos os países terminaram de construir o Nord Stream 2 (gasoduto com 1230 quilômetros entre Rússia e Alemanha) no final do ano passado e que ainda não entrou em funcionamento. Com a guerra, o gasoduto foi bloqueado como sanção à Rússia. O desespero do governo alemão, que corre o risco de falta de gás para o aquecimento das casas às vésperas do inverno europeu, o levou a fechar acordo às pressas com o Catar para fornecimento de gás. A pesquisadora afirma que, na sua visão, essas sanções são egoístas, pois não levam em consideração a situação dos países da Europa. “As medidas parecem muito mais decisões unilaterais tomadas pelos Estados Unidos do que uma conversa com seus aliados”, afirma Giovana. Ela explica que, para os membros da União Europeia, a rivalidade com a Rússia não é benéfica, nem econômica ou politicamente, “são os norte-americanos que se sentem ameaçados com a presença russa”, completa. Outro ponto abordado na live foram as notícias que surgiram nas últimas semanas sobre empresários russos com seus bens bloqueados ao redor do mundo. Um exemplo foi o de Roman Abramovich, proprietário do time inglês de futebol Chelsea, que foi proibido de vender o time, como forma de retaliação à invasão russa na Ucrânia, considerando que o bilionário tem ligações próximas a Putin.  Giovana explica que os ataques aos oligarcas russos não vão ter o efeito que a comunidade internacional espera, visto que as relações entre o governo e esses empresários são diferentes do que estamos acostumados. “É como se houvesse um acordo, enquanto Putin não interfere na economia e nos negócios da elite russa, esses empresários não opinam nas atitudes do presidente”, explica. A paz é possível? A inevitável escalada da guerra nas fronteiras russas   5 perguntas sobre o conflito Rússia x Ucrânia

A paz é possível?

Colaborou Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA de 3 de março (quinta) recebeu a mestranda em Relações Internacionais Giovana Branco para discutir sobre o atual conflito entre Rússia e Ucrânia. O bate-papo contou também com a presença do editor Zonacurva Fernando do Valle e Luis Lopes do portal Vishows. Giovana explica que a Rússia está tentando se reafirmar como uma potência mundial no cenário internacional pós-guerra fria, mas o saudosismo da época de glória da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) não é o suficiente para que o país retorne ao prestígio obtido após a segunda guerra mundial.  “É importante compreender que a Rússia atual é muito distinta da União Soviética, apesar das políticas de Putin lembrarem a de outros líderes lendários russos”, afirmou a pesquisadora, que escreve a dissertação As Relações Rússia-Ocidente: da Cooperação ao Conflito. As Mudanças na Política Externa Russa na Era Putin sob orientação do professor Luís Alexandre Fuccille no programa de pós-graduação de Relações Internacionais San Tiago Dantas. O que despertou o interesse de Giovana pela Rússia foi a leitura dos grandes escritores russos como Fiódor Dostoiévski. Como estudiosa da trajetória do líder russo, Giovana relata que Putin sempre mostrou admiração, e até um certo saudosismo, pelo regime socialista soviético, que foi desmantelado no início dos anos 90. O ex-agente da KGB, serviço secreto russo, defendeu a URSS enquanto pôde, e até o momento conta com forte apoio popular. O nome do filósofo russo Alexander Dugin, apontado por muitos como o “influenciador de Putin” foi trazido à baila por Luís Lopes. “Dugin sempre foi visto como muito radical para o meio acadêmico, mas com a tomada da Criméia em 2014, ele ficou popular por embasar as decisões políticas de Putin” afirma Giovana.  A pesquisadora relembra que o avanço da OTAN sobre o “território de influência russo” gerou a ocupação da Geórgia (antiga república soviética) em 2008 pelos russos, assim como ocorreu com a Ucrânia neste ano. A pesada máquina militar russa tomou Tiblissi, capital da Geórgia, em apenas cinco dias.  Um ponto questionado à Giovana pelo editor Zonacurva Fernando do Valle foi a posição da China no conflito. Por enquanto, a nação tem se mostrado neutra, apesar de ter mantido as relações comerciais com a Rússia. A mestranda acredita que essa suposta neutralidade tenha vindo como um reflexo das severas sanções econômicas impostas pelo ocidente.  Mas, não resta dúvida, de que a Rússia não invadiria seu vizinho sem apoio, mesmo que velado, do gigante chinês. Sobre a ascensão de grupos neonazistas em todo o território da Ucrânia, Giovana explica que na sua visão o governo ucraniano fechou os olhos para o surgimento desses grupos paramilitares. Segundo ela, eles são uma consequência da onda de extrema direita que assolou diversos países do mundo nos últimos anos. Luis ainda reclamou sobre a absurda “normalização” desses grupos, “foi como se brigadas paramilitares se tornassem constitucionais dentro de um determinado país”, afirma o editor do Vishows.  5 perguntas sobre o conflito Rússia x Ucrânia