Zona Curva

Ditadura nunca mais

Textos sobre fatos e pessoas que marcaram a resistência durante o período da ditadura civil-militar no Brasil

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10 músicas contra a ditadura militar (2)

Bem-vindo ao Fatos da Zona, onde adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. O PRIMEIRO DEU TÃO CERTO QUE VOLTAMOS COM MAIS! Com a segunda lista de mais 10 músicas icônicas contra a ditadura militar (1964-1985). MÚSICAS CONTRA A DITADURA – Após a publicação do texto com 10 músicas contra a ditadura militar em julho, recebemos dos leitores algumas sugestões de outras músicas do período que desafiavam o governo autoritário. Através dessas sugestões e de pesquisa, selecionamos mais 10 canções emblemáticas do período, vamos a elas: 10º “Pesadelo” (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)- Inocentes As primeiras bandas punks brasileiras como Inocentes e Cólera só surgiram entre o final dos anos 70 e o início da década de 80 e chegaram para gritar a revolta após duas décadas de regime totalitário. No segundo disco dos Inocentes, Adeus Carne, a banda gravou sua versão de Pesadelo, escrita em 1972 por Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós que dava um recado direto ao regime da época: “você corta um verso/eu escrevo outro/você me prende vivo, eu escapo morto/de repente olha eu de novo/perturbando a paz, exigindo troco”. Punk. Paulo Cesar Pinheiro explica como conseguiu ludibriar a censura: “mandei essa música no meio de um bolo que a Odeon [gravadora musical]  sempre mandava. Era um período em que havia muito material para mandar. Tinha um disco do Agnaldo Timóteo, com aquelas canções derramadas, e outras coisas românticas. Pedi a um funcionário da casa que enfiasse Pesadelo no meio desses discos. Assim, a música veio liberada. E o MPB-4 a gravou”.    9º “Nada será como antes” (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) – Milton Nascimento e Lô Borges “Que notícias me dão dos amigos?/Que notícias me dão de você?” explicitavam os tempos de incerteza do ano em que a música foi composta: 1972. Lançada no álbum duplo Clube da Esquina que revelou uma nova safra de músicos mineiros como Milton, e Lô Borges, Nada Será como Antes homenageia aos que não esmoreciam: “resistindo na boca da noite um gosto de sol”.   8º “E vamos à luta” (Gonzaguinha) – Gonzaguinha  O cantor Gonzaguinha figurava entre os mais perseguidos pela censura do regime militar e escreveu em 1980 E Vamos à Luta como uma homenagem aos que resistiam há 16 anos os arbítrios da ditadura militar. A canção foi muito tocada no final dos anos de chumbo e no processo de redemocratização do país. A música faz parte do álbum De Volta ao Começo. Se estivesse vivo, o cantor completaria hoje 70 anos. 7º “Disparada” (Geraldo Vandré e Theo de Barros) – Jair Rodrigues Um dos compositores de Disparada, Geraldo Vandré, quase barrou Jair Rodrigues como intérprete da música no Festival de Música Brasileira de 1966. Vandré confessou para Solano Ribeiro, organizador do festival, que “Jair ia cantar esse negócio rindo”. Vandré estava enganado, a interpretação de Jair Rodrigues imortalizou a música como um dos hinos de protesto contra a ditadura militar. O cantor ainda dividiu o primeiro lugar do festival com Nara Leão, que interpretou “A Banda”, de Chico Buarque. A emblemática performance de Jair da canção que narra o despertar da consciência política de um vaqueiro que “aprendeu a dizer não” pode ser explicada pela lembrança de seu pai, Severiano Rodrigues de Oliveira, boiadeiro que segundo Jair, “morreu no lombo de um burro”.   6º “Jorge Maravilha” (Julinho da Adelaide) – Chico Buarque Pra driblar a censurar, Jorge Maravilha e outras músicas foram escritas por Chico Buarque sob o pseudônimo Julinho da Adelaide. Mesmo já desmentido por Chico, a música carrega a lenda de que o compositor a escreveu para Amália, filha do ditador Ernesto Geisel, que gostava do cantor. O verso “você não gosta de mim, mas sua filha gosta” na verdade tem relação com a filha de um contínuo do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), órgão de repressão política. Em entrevista a Folha de S Paulo em 1977, Chico explicou: “fui detido por agentes de segurança no DOPS e no elevador o cara pediu autógrafo para a filha dele. Claro que não era o delegado, mas aquele contínuo de delegado”. O público ouviu a música pela primeira vez quando Chico participou do espetáculo “O Banquete dos Mendigos”, projeto idealizado e dirigido pelo músico Jards Macalé, em 10 de dezembro de 1973 no Museu de Arte Moderna do Rio. Leia texto aqui no blog sobre Julinho da Adelaide.    5º “Primavera nos Dentes” (João Ricardo e João Apolinário) – Secos e Molhados Imagino os militares indignados com aquele “grupo transviado que desencaminhava a juventude”, mas não era só na maneira de dançar de seu líder, Ney Matogrosso, ou na roupa e maquiagem que os Secos e Molhados incomodavam o status quo. Primavera nos dentes (1973), composta por João Ricardo, integrante do grupo, e seu pai, João Apolinário é um rock psicodélico com uma letra com apenas o belo verso que grita: “quem tem consciência para ter coragem/quem tem a força de saber que existe/e no centro da própria engrenagem/inventa a contra mola que resiste/ quem não vacila mesmo derrotado/quem já perdido nunca desespera/e envolto em tempestade decepado/entre os dentes segura a primavera”.   4º “Opinião” (Zé Keti) – Nara leão, Zé Keti e João do Valle “Podem me prender, podem me bater… que eu não mudo de opinião”. Premonitória do que a juventude enfrentaria após o golpe militar, a música foi composta pelo carioca Zé Keti em 1964 e nomeou o show de teatro musical que era uma parceria entre o Teatro de Arena e o CPC-UNE (Centro Popular de Cultura da União Nacional de Estudantes). Na verdade, Zé Keti compôs a canção como resistência ao governo do Estado do Rio de Janeiro que pretendia expulsar as favelas dos morros da capital. Usada como hino de resistência à ditadura, a música foi censurada em 1968. 3º “Carcará” (João do Vale e José Cândido) – Maria Bethânia ou Nara Leão Composta pelo maranhense João do Vale e José Cândido, a música Carcará (1965) fez parte do espetáculo Opinião que marcou

10 músicas contra a ditadura militar

Bem-vindo ao Fatos da Zona, onde os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre. Neste vídeo, apresentamos 10 músicas icônicas que se tornaram verdadeiras expressões de resistência e liberdade durante esse período sombrio. Embarque em uma jornada nostálgica e emocionante, enquanto exploramos o poder da música como forma de protesto.   Naqueles tempos bicudos da ditadura militar, a música denunciava na lata ou de forma velada os arbítrios cometidos pelo regime. O ritmo não importava, podia ser o samba, o rock, o forró, a MPB ou outro, juntos formavam um verdadeiro repertório de resistência cultural. Sem dúvida, os anos 60 e 70 foram um dos períodos de maior criatividade na música brasileira. Se o grito ficava represado na política, o canto serviu como válvula de escape catártica que nos afastava do clima insuportavelmente pesado criado pelos generais e sua repressão, tortura e censura. Aí vai a lista de 10 músicas que marcaram época no período:  10 º “Eu quero é botar meu bloco na rua” (Sérgio Sampaio) – Sérgio Sampaio A galera do desbunde, como ficou conhecido o pessoal, que seguia os preceitos da contracultura em seu comportamento, adotou essa música como seu hino contra a ditadura militar. Eu quero é botar meu bloco na rua participou do IV Festival Internacional da Canção (FIC) em 1972 e fez grande sucesso no carnaval de 1973. Contratado pela gravadora CBS no início de 1971, o músico tornou-se amigo e parceiro musical de Raul Seixas, que logo providenciou para que ele e seu irmão Jorge (Dedé Caiano) fizessem parte do coro de gravações de Renato e seus Blue Caps e outros artistas da gravadora. A música integra o disco homônimo do músico capixaba que foi produzido por Raul Seixas. Sampaio morreu em 15 de maio de 1994 no Rio de Janeiro.   9º “Perseguição” (Mais forte são os poderes do povo) (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha) – Sérgio Ricardo “Mais forte são os poderes do povo”, o grito épico de Corisco em Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de Glauber Rocha de 1964, ano do golpe civil-militar, foi premonitório da luta que se avizinhava. Os coronéis e seus jagunços agora tinham como aliados os militares. O músico Sérgio Ricardo, conhecido bossa-novista na época, foi convidado por Glauber para a realização da trilha sonora do filme. Alertado por Glauber de que a música nordestina não era sua praia, Glauber emprestou para Sérgio fitas com músicas de cantadores gravadas em feiras no interior da Bahia. A força da música nordestina, o talento de Sérgio e o a genialidade de Glauber resultaram em uma das cenas mais bonitas da história do cinema:     8º “Cálice” (Chico Buarque e Gilberto Gil) – Chico Buarque e Gilberto Gil O show Phono 73 reuniria duplas de artistas da gravadora Phonogram em maio de 1973. Para o show, Gil e Chico compuseram Cálice no apartamento de Chico em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas (“o monstro da lagoa”) bebendo fernet (“essa bebida amarga”) em uma sexta-feira da Paixão. Quando os dois tentaram cantá-la no show no Palácio das Convenções do Anhembi, o som do microfone de Chico foi cortado.  A música faz alusão à oração de Jesus Cristo dirigida a Deus no Jardim do Getsêmane: “Pai, afasta de mim este cálice”. A canção explorou o duplo sentido da palavra cálice que podia significar também cale-se, referência explícita à censura e a repressão. A censura impede que Chico e Gil cantem Cálice no show Phono 73:   Chico canta Cálice com Milton Nascimento:    7º “Sinal fechado” (Paulinho da Viola) – Paulinho da Viola Em dezembro de 1968, o AI-5 avermelhou o sinal de vez e endureceu ainda mais a censura e a repressão. No ano seguinte, 1969, Sinal Fechado venceu o V Festival da Record. A música expressa o desencontro de uma geração que luta para encontrar saídas em uma sociedade cada vez mais sufocada. A esperança que resta está em um “lugar no futuro” já que o presente era sombrio.   6º “É proibido proibir“ (Caetano Veloso) – Caetano Veloso e os Mutantes O rock psicodélico de Caetano foi considerado uma crítica ao militante tradicional da esquerda universitária da época. O título da música foi retirada das pichações dos muros parisienses nas manifestações estudantis de maio de 1968. Em setembro de 1968, Caetano Veloso e os Mutantes apresentaram a música no Festival Internacional da Canção, o FIC, no teatro TUCA, na PUC-SP, e recebem uma sonora vaia do público. Caetano peitou a galera e fez um discurso que ficou até mais conhecido que a canção:  “Mas é isso que é a juventude que quer tomar o poder? Vocês tem coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre matar o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada… Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos!” Ouça a música e o discurso de Caetano: https://www.youtube.com/watch?v=4xEz2uva_ZE   5º “Mosca na sopa” (Raul Seixas) – Raul Seixas Raulzito também meteu sua colher na sopa amarga da ditadura militar. Com humor e referências a pontos usados na umbanda e candomblé, Raul avisava aos militares que a repressão não ia calar as vozes contra o governo já que “você mata uma e vem outra em meu lugar”. A música é do disco Krig-há, Bandolo! de 1973. Em entrevista em 1988, Raul relata como foi preso e torturado em 1974.   4º “Que as crianças cantem livres” (Taiguara) – Taiguara Taiguara, em tupi, quer dizer “livre, senhor de si”. Nascido no Uruguai, Taiguara mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro e se apresentou nos festivais dos anos 60 e 70. O cantor foi um dos mais censurados pelos militares no poder, só no período entre 1970 e 1974, teve 48 canções vetadas. Que as crianças cantem livres faz parte do álbum “Fotografias”, de 1973. Na música, Taiguara revela a esperança de tempos melhores: “e

Em 1970, os Tupamaros de Mujica contra Dan Mitrione, o mestre da tortura

Mitrione – O policial norte-americano e mestre em tortura Dan Mitrione foi enviado pelo governo daquele país ao Brasil e Uruguai para ensinar seu método de tortura que consistia em “provocar dor com precisão no momento preciso e na quantidade precisa para obter o efeito desejado”. Como cobaias em suas sádicas aulas, Mitrione usava presos e mendigos para demonstrar na prática como torturar sem deixar marcas em São Paulo, Montevidéu e Belo Horizonte. Na plateia, policiais e agentes dos regimes opressores da década de 60. Em uma das cenas do filme Estado de Sítio (1972), do diretor grego Constantin Costa-Gavras e censurado pela ditadura brasileira, que conta a história o rapto de Mitrione pelo grupo Tupamaros, há uma aula de tortura com a bandeira brasileira ao fundo. No início dos anos 80, o filme foi liberado com cortes. Dan Mitrione, com o nome fantasia de Philip Michael Santore, é interpretado pelo ator italiano naturalizado francês Yves Montand. Em 31 de julho de 1970, o grupo armado uruguaio Movimento de Libertação Nacional (MLN) ou Tupamaros, que tinha entre seus dirigentes o ex-presidente Pepe Mujica, raptou Mitrione e outras autoridades. Na ação, o norte-americano foi alvejado com um tiro acidental no ombro e recebeu auxílio dos guerrilheiros no cativeiro. Com o cerco se fechando ao MLN pelo aparelho repressivo montado pelo presidente Jorge Pacheco Areco (1920-1988), os Tupamaros pretendiam trocar Mitrione e os outros raptados por 150 militantes presos. O golpe militar no Uruguai viria cerca de 3 anos depois da ação dos Tupamaros, com o discurso do presidente Bordaberry, que, em 27 de junho de 1973, com o apoio das Forças Armadas, fechou o Legislativo e implanta uma violenta ditadura. Mujica participou de expropriações e raptos nesse período, em confronto com a polícia, foi ferido e preso, amargando mais de 13 anos na prisão. No filme de Gavras, um dos outros sequestrados é o cônsul Roberto Campos (no filme, se chama Fernando Campos), na verdade, o cônsul sequestrado foi Aloisio Gomide, mas Campos, que chegou a ser alcunhado de Bob Fields, pela sua obediência aos ditames do governo norte-americano, substitui Gomide no filme. É como se Gavras fosse guiado por um desejo oculto de incluir no filme um representante legítimo de lacaio de los gringos que pululavam nos governos do Cone Sul no período. Gomide passou 205 dias em poder dos Tupamaros. Foi libertado em troca de US$ 250 mil dólares que seriam usados pela guerrilha em novas ações. Como o governo uruguaio recusou-se a libertar os presos, o pedido de resgate foi a saída encontrada para a libertação do diplomata brasileiro. A esposa de Gomide chegou a participar até do programa do Chacrinha para solicitar colaborações para o pagamento aos Tupamaros. Os telespectadores animados com o recém-conquistado tricampeonato de futebol a ajudaram. Na época, a informação era escassa e a imprensa sofria forte censura. O plano dos Tupamaros começou a fazer água no dia 7 de agosto quando a polícia descobriu um de seus esconderijos e prendeu lideranças do grupo, inclusive a principal delas, o político e advogado Raúl Sendic. Após a ação, o MLN deu um ultimato ao governo uruguaio, que simplesmente o ignorou. O filme de Costa-Gavras mostra como até o próprio Mitrione entendeu que, com a recusa do governo uruguaio de negociar e a resistência dos americanos em intervir em prol de seu cidadão, não restava outra saída para os guerrilheiros. Mitrione foi morto aos 50 anos com dois tiros em 9 de agosto de 1970. O caso mostra como o clima da guerra fria e os recorrentes abusos cometidos pelos governos da época impulsionaram o radicalismo e a prática de ações violentas. Em diálogo do filme, guerrilheiro encapuzado mostra o espírito da época: Guerrilheiro – “Preparar um golpe demora muito tempo?” Dan Mitrione (vulgo Philip Michael Santore): “Na América Latina, não”. Guerrilheiro – “Nos Estados Unidos, vocês são mais rápidos, em alguns segundos, assassinam um presidente [John Kennedy foi assassinado em 1963 em Dallas e Abraham Lincoln em 1865] ”. Os Tupamaros tinham conhecimento das ações criminosas de Mitrione na América do Sul. A trajetória do funcionário do governo dos Estados Unidos, um ítalo-americano que nasceu na Itália em 1920, explicita a interferência do “irmão” do Norte nos assuntos domésticos de seus vizinhos do Sul. Na infância, Dan Mitirone imigrou com sua família para os Estados Unidos, serviu à Marinha durante a Segunda Guerra Mundial e depois começou a trabalhar no departamento de polícia da pequena cidade de Richmond, no estado de Indiana. Em 1955, tornou-se o chefe de polícia local. O FBI o recrutou como agente em 1959, no ano seguinte, ele foi trabalhar na área de assuntos externos do Departamento de Estado. No livro Brasil Nunca Mais, o estudante Afonso Celso Lana Leite, de 25 anos, preso em Minas Gerais e transferido para o Rio, denunciou ao Conselho Militar que o interrogou em 1970, ter sido torturado para uma assistência de oficiais no quartel da PE e na Vila Militar, seu relato: “no dia 8 de outubro, na Polícia do Exército 1, posto de Segurança Nacional, quando era ministrada uma aula, na presença de mais de cem pessoas, foram trazidos para aquela aula companheiros e, nesta ocasião, passaram filmes de fatos relacionados com torturas e em seguida era confimada com a presença do denunciado, sendo, naquela ocasião também torturados; ocasião esta que coincidente com o seu depoimento; que estas torturas, ou seja, as acima descritas se repetiram na Vila Militar”. Em 1960, Dan Mitrione já operava como agente em países da América Latina sob os auspícios do Escritório de Desenvolvimento Internacional de Segurança Pública, que mais tarde, mudaria o nome para Agência de Desenvolvimento Internacional, a conhecida AID (em inglês, Agency for International Development). Atuou na República Dominicana, e foi enviado para o Brasil após o golpe de 64. Na teoria, ensinava “técnicas avançadas de contra-insurgência”, na prática, treinamento anti-guerrilha e tortura. Estima-se que Mitrione treinou centenas de policiais no uso do cassetete elétrico e sobre os lugares mais dolorosos para os choques elétricos, entre

Corrupção na construção da usina de Itaipu pode ter motivado a morte do embaixador José Jobim

O Instituto João Goulart encaminhou no final de novembro denúncia ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro sobre a suspeita de que o embaixador José Jobim foi assassinado por agentes da ditadura militar em março de 1979. Poucos meses antes de sua morte, o embaixador declarou para políticos em Brasília que escrevia suas memórias em que denunciaria o esquema de corrupção na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. José Jobim foi sequestrado em frente à sua casa em 22 de março de 1979. Dois dias depois, seu corpo foi encontrado no bairro do Cosme Velho, na cidade do Rio de Janeiro. Segundo a investigação do delegado Rui Dourado, Jobim se enforcou com uma corda. A hipótese é refutada pela filha do embaixador, a advogada Lygia Jobim, que busca a verdade sobre a morte do pai há 35 anos. O documentário Itaipu, a quem interessa e escuridão? fornece mais informações sobre o possível assassinato do embaixador: Em 1964, José Jobim foi enviado pelo presidente João Goulart ao Paraguai para acertar junto ao governo daquele país a compra de turbinas russas. José Jobim foi um diplomata experiente com longa carreira no Itamaraty e ocupou cargos nas embaixadas da Colômbia, Vaticano, Argélia e outras. Após o golpe civil-militar de 64, o consórcio brasileiro e paraguaio responsável pela obra cancelou as negociações com os russos e comprou equipamentos da multinacional Siemens. O projeto ‘Sete Quedas’ de João Goulart, orçado em 1,3 bilhão de dólares, foi substituído por outro que custou dez vezes mais, R$ 13 bilhões de dólares. O primeiro presidente da Itaipu Binacional foi o militar Costa Cavalcanti da linha dura entre os golpistas. Ele conspirou contra Jango, considerava branda a posição política do general Castelo Branco e foi um dos articuladores da candidatura de Costa e Silva à presidência. Votou a favor da implantação do AI-5 em 13 de dezembro de 1968, na época, ocupava o cargo de ministro de Minas e Energia. Por pressão do governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, as investigações sobre a morte de José Jobim foram reabertas em 1983. A promotora Telma Musse Diuana foi designada para cuidar do caso e solicitou novas investigações à polícia, baseando-se na “dubiedade do laudo que concluiu pelo suicídio”. Um inquérito foi finalmente instaurado, o qual considerou os fatores da morte do embaixador “todos incompatíveis com a hipótese adotada pelos legistas oficiais”. O processo acabou arquivado em 1985, sendo a morte de Jobim qualificada de “homicídio por autor desconhecido”. https://www.zonacurva.com.br/em-1970-os-tupamaros-de-mujica-contra-dan-mitrione-o-mestre-da-tortura/ Médici corrupto  

Romeu Tuma Jr. depõe no caso do sumiço de Edgar Duarte

por Thais Barreto Edgar Duarte – Na tarde de terça-feira (30/9) aconteceu mais uma sessão da Ação Penal n.º 0011580-69.2012.403.6181, movida pelo Ministério Público Federal, que apura o desaparecimento de Edgar Aquino Duarte. O militante passou pelo DOI-Codi e foi visto pela última vez no prédio do DOPS do centro de São Paulo, em junho de 1973. São réus os delegados de polícia Carlos Alberto Augusto — o “Carlinhos Metralha” — e Alcides Singillo, além do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra. Embora arrolado anteriormente pela defesa de dois réus, Tuma Jr. prestou depoimento como testemunha do juízo, de acordo a magistrada Adriana Delboni Taricco, que também ouviu o delegado de polícia José Sanches Severo. Um documento que relata como foi a sessão realizada nos dias 27 de março, 1º e 2 de abril deste ano revela detalhes do andamento da ação penal. Alcides Singilo não compareceu à sessão do primeiro semestre. A defesa alegou que o réu estava com problemas de saúde, internado em uma UTI. Foi requisitada nova sessão, para que Singilo pudesse acompanhar os depoimentos.   O documento diz: “Dada a palavra às partes foi dito que, as defesas pediam reconsideração ao indeferimento da oitiva do sr. Romeu Tuma Júnior e das testemunhas arroladas pelo sr. Alcides Singillo ouvidas sem a presença dele”. Os depoimentos desta terça foram acompanhados pelo procurador da República Márcio Schusterschitz da Silva Araújo. O primeiro a ser ouvido foi José Sanches Severo, através de videoconferência transmitida desde Araçatuba, no interior de São Paulo, onde ele exerce cargo de delegado de polícia. O procurador da República perguntou se Severo havia exercido alguma função pública entre 1964 e 1985. A juíza federal perguntou se ele conheceu Edgar de Aquino Duarte. Para as duas indagações, o delegado respondeu que não. Disse ainda que ingressou na polícia em 1986, fora do período coberto pela investigação do desaparecimento de Edgar, objeto da ação do MPF. Severo afirmou também que não trabalhou no DOPS — o Departamento de Ordem Política e Social — de São Paulo e que conheceu Alcides Singilo apenas em 1995. No depoimento de Romeu Tuma Jr., a juíza federal Adriana Delboni Taricco disse que ele estava na sessão como “testemunha do juízo”. Outra ata a que tivemos acesso indica que Tuma Jr. também foi arrolado pela defesa do réu Carlos Alberto Augusto. “Tendo em vista que há prazo e lapso de tempo suficiente, não me oponho a oitiva de Romeu Tuma Júnior, caso a defesa de Carlos Alberto Augusto apresente endereço atualizado, visando evitar futuras nulidades”, diz o documento. Na sessão, a juíza Adriana determinou à defesa que as perguntas a Romeu Tuma Jr. cobrissem apenas o período que corresponde ao sequestro e desaparecimento de Edgar Aquino Duarte, de 1971 a 1973. Ao depor, Tuma Jr. disse que nasceu em 1960 e, naquele período, tinha entre 10 e 13 anos. Afirmou também que entrou na polícia apenas em 1978. O ex-Secretário Nacional de Justiça do governo Lula se aposentou como “delegado classe especial” da polícia paulista em 2013. O pai dele, o falecido Romeu Tuma, foi senador por São Paulo. Antes, dirigiu o DOPS paulista entre 1977 e 1982 e a Polícia Federal entre 1982 e 1985, durante os governos ditatoriais de Ernesto Geisel e João Figueiredo. “No DOPS havia sim um delegado responsável pela carceragem”, respondeu Tuma Jr., que ingressou na polícia paulista como investigador quando seu pai dirigia o DOPS. Ele afirmou também ter trabalhado, posteriormente ao período investigado, próximo a Alcides Singillo, mas em departamentos diferentes. O mesmo advogado perguntou se Tuma conhecia o ex-preso político Ivan Seixas. Resposta: “apenas de nome”. A defesa se referiu a Ivan Seixas porque ele é uma das testemunhas de acusação na ação do MPF. Seixas estava preso no DOPS e conheceu Edgar Aquino Duarte. Na sessão realizada em dezembro de 2013, o ex-preso político disse ter escutado um comentário de Edgar, que ao ver Carlinhos Metralha — apelido de Carlos Alberto Augusto –, quando este passava em frente à cela, disse: “Esse foi um dos que me prenderam”. O procurador da República, Márcio Schusterschitz da Silva Araújo, também perguntou se Tuma Jr. sabia de alguma ligação entre o DOI-Codi e o DOPS de São Paulo. Romeu Tuma Jr. disse que não saber se havia conexão formal entre o DOI-Codi e o DOPS. O Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna foi criado pelo Exército para o combate aos grupos que se organizaram para resistir à ditadura. Foi antecedido pela Operação Bandeirante, a OBAN, que envolveu militares e policiais civis paulistas, financiados por empresários, num esforço conjunto que resultou no sequestro, prisão, tortura e morte de dezenas de militantes. A OBAN importou técnicas de tortura que haviam sido desenvolvidas por militares dos Estados Unidos na guerra do Vietnã e por militares franceses durante a guerra de independência da Argélia. O prédio onde o DOI-Codi funcionou em São Paulo, na rua Tutoia, foi recentemente tombado pelo patrimônio público. A delegacia de polícia que funciona lá deverá dar lugar a um museu. Vários presos que foram torturados no DOI-Codi foram posteriormente transferidos para o DOPS, segundo depoimento deles. Foi o caso de Ivan Seixas, por exemplo. Com a oitiva de Tuma, resta uma testemunha importante a ser ouvida: Michel Temer, atual vice-presidente da República, ex-secretário da Segurança Públlica de São Paulo. A pedido da juíza, as respostas de Temer serão enviadas por escrito. Após o recebimento, será possível marcar a data da sessão que ouvirá os réus. Estarão presentes Carlos Alberto Augusto e Alcides Singilo. Os representantes da defesa de Carlos Alberto Brilhante Ustra pediram que o depoimento dele seja dado através de videoconferência. A expectativa é de que a sessão seja realizada até dezembro. Edgar Aquino Duarte teve sua carreira de marinheiro interrompida em 1964 por participar da revolta ocorrida no calor do golpe militar. Foi expulso da corporação e teve que se exilar – primeiro no México, depois em Cuba. Edgar voltou ao Brasil em 1968, adotou outro nome e a função de corretor na

Tribunal Regional Federal do RJ deve julgar acusados da morte de Rubens Paiva

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) determinou ontem o prosseguimento de ação penal contra cinco militares reformados acusados da morte do ex-deputado Rubens Paiva, em janeiro de 1971, nas dependências do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do Exército, na Tijuca. Seu corpo nunca foi encontrado. A Justiça negou o habeas corpus impetrado pelos militares, que visava ao trancamento da ação. A defesa dos réus sustentou a prescrição das acusações e que os acusados seriam beneficiados pela Lei da Anistia, de 1979. O relator do caso, desembargador Messod Azulay, entendeu que se trata de um crime permanente, porque o corpo de Rubens Paiva ainda não foi localizado.   Em maio, o Zonacurva relatou em detalhes o processo na Justiça contra os militares acusados do assassinato e ocultação do cadáver do deputado Rubens Paiva. CLIQUE AQUI PARA SABER MAIS. Fonte usada: EBC

Comissão da Verdade suspeita de plano da ditadura para matar Glauber Rocha

Acusado de difundir calúnias contra regime militar no Brasil e classificado como “um dos líderes da esquerda no cinema”, sendo o que “mais atuava na campanha contra o país, na Europa”, o cineasta Glauber Rocha foi vítima de espionagem e perseguição pela ditadura. Na última sexta (16), a Comissão Estadual da Verdade do Rio revelou documentos produzidos pelas Forças Armadas contra o diretor. A entrega do dossiê militar à família foi feita no Parque Lage, na zona sul do Rio de Janeiro, com uma série de atividades que marcaram os 50 anos do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, completados no último dia 10. Oficialmente, Glauber morreu de septicemia, uma infecção, em 22 de agosto de 1981. Em outubro de 1976, Glauber Rocha gravou o velório de seu grande amigo, Di Cavalcanti. Assista ao curta e leia o texto. Produzidos pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), os documentos compilam atividades do cineasta, declarações dadas aos jornais fora do país e lista artistas ligados a Glauber e que criticavam o regime militar, como, também o cineasta Luiz Carlos Barreto, apontado como “porta-voz da esquerda cinematográfica nacional”. Um dos documentos lembra que Glauber foi preso, por ter vaiado o presidente Castelo Branco, em 1965 e acusa o diretor de ter “difundido calúnias” ao denunciar a jornais ingleses torturas e perseguições no Brasil pela ditadura. O ator Othon Bastos, um dos personagens principais do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol é mencionado no dossiê do SNI como o favorito de Glauber e citado por “conhecido envolvimento político e ideológico”. Presente ao evento na Comissão da Verdade, Bastos disse que ficou surpreso com a revelação. “São tantas pessoas famosas aqui e estou entre um deles, eu não sabia de nada”. A presidenta da Comissão Estadual da Verdade, Nadine Borges, destacou que os documentos encontrados no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro contém marcas que expressam a intenção dos militares de eliminar Glauber. Ela se referia as palavras “morto”, em lápis, no alto do dossiê, na primeira página. “Recebemos a informação de um agente da repressão que atuou na época, que, em geral, era hábito escrever à mão um indicativo de ordem. Então, isso nos faz pensar que ele estava marcado para morrer. Por sorte, ele se exilou antes”, comentou. A presidenta cobra que o general José Antonio Nogueira Belham, que assina um dos documentos, preste depoimento para esclarecer esse e outros casos. Durante a revelação dos documentos, o cineasta Zelito Viana, parceiro de Glauber no filme o Dragão da Maldade, que venceu o Festival de Cinema de Cannes, e o Terra em Transe, que concorreu no mesmo festival poucos anos antes, lembra os tempos difíceis da ditadura. “Viver era arriscado no Brasil”, ressaltou. Ele levou Terra em Transe clandestinamente para participar do festival no França. Amigo de Glauber, Silvio Tendler destacou que a perseguição a Glauber, que se exilou em 1971, e às pessoas que contestavam o regime prejudicou o Brasil. “Aliás, prejudicou os artistas, os estudantes, os sindicalistas. A ditadura foi um preço muito alto para Nação. Sou de uma geração que desaprendeu a falar e estamos aprendendo a falar depois de velho. Antes, era tudo proibido”. Tendler lembrou também que Glauber foi um artista brilhante, mas não o único alvo da ditadura. “Eu e muito outros fomos perseguidos, como Joaquim Pedro de Andrade, que foi preso, e Olney São Paulo, barbaramente torturado”. No dossiê, estão transcritos ainda trechos de artigos de Glauber. Entre eles, uma justificativa para sua atuação, contra o regime. “O cinema não será para nós uma máscara, porque, o cinema não faz revolução – o cinema é um dos instrumentos revolucionários e para isto deve(-se) criar uma linguagem latino-americana, libertária e revelador”, disse à revista Cine Cubano, em 1971, segundo o SNI. Tribunal Regional Federal do RJ deve julgar acusados da morte de Rubens Paiva Ex-delegado Cláudio Guerra revela envolvimento de coronel da ditadura militar na morte de Zuzu Angel Decisão histórica da Justiça acata denúncia contra militares envolvidos na morte de Rubens Paiva Justiça barra ação contra militares acusados no caso Riocentro Instituto Vladimir Herzog denuncia Bolsonaro na ONU por comemorações do golpe de 64    

Ex-delegado Cláudio Guerra revela envolvimento de coronel da ditadura militar na morte de Zuzu Angel

Em depoimento prestado à Comissão Nacional da Verdade nesta quarta-feira (23 de julho), o ex-delegado do DOPS do Espírito Santo, Cláudio Guerra, afirmou que o coronel Freddie Perdigão Pereira provocou o acidente que resultou na morte da estilista Zuzu Angel, em 1976. O crime complementa o currículo de algoz a serviço do regime militar de Pereira. O coronel atuou no DOI-CODI de São Paulo e na Casa da Morte de Petrópolis e ainda coordenou o atentado no Riocentro. No ano passado, o ex-soldado do Exército Valdemar Martins de Oliveira revelou em depoimento à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo que o coronel executou o casal João Antonio dos Santos Abi Eçab, 25 anos, e Catarina Abi Eçab, 21 anos, militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), em 1968. Infelizmente, o militar não responderá por seus crimes, ele morreu em 1998. Estilista conhecida, Zuzu Angel era mãe de Stuart Angel, membro do MR8, que lutou contra o regime militar, e foi preso em 14 de maio de 1971. Seu corpo nunca foi encontrado. Zuzu mobilizou a opinião pública nacional e estrangeira em busca de seu filho e foi vítima de um acidente na madrugada de 14 de abril de 1976, na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro. O regime militar sempre foi acusado de ter forjado o acidente. O delegado Cláudio Guerra foi indiciado, entre outros, pelo Ministério Público pelo envolvimento no atentado do Riocentro, infelizmente a Justiça Federal barrou ação contra os acusados. SAIBA MAIS SOBRE O CASO RIOCENTRO.  Segundo Guerra, ele e Perdigão eram confidentes e frequentavam a casa um do outro. “Um dia ele me disse que havia planejado simular o acidente dela e estava preocupado, pois achava que havia sido fotografado na cena do crime pela perícia”, afirmou o delegado no depoimento à Comissão Nacional da Verdade. Em seu depoimento, Guerra afirmou que incinerou os corpos de 12 militantes políticos e que assassinou e incinerou em seguida um tenente de nome Odilon, numa queima de arquivo determinada pelo SNI (Serviço Nacional de Informações). O ex-delegado contou também que executou três militantes em São Paulo, um em Recife e “dois ou três” no Rio. Claudio Guerra forneceu a foto para a Comissão que comprova a presença do coronel Perdigão na perícia, ele está indicado pela seta: “Se cumprisse pena por tudo o que fiz nunca iria sair da cadeia”, afirmou Cláudio Guerra. Guerra foi condenado e cumpriu pena por três tentativas de homicídio, resultantes de um atentado à bomba do qual participou nos anos 80 no Espírito Santo. Na cadeia, tornou-se pastor da Assembleia de Deus e afirma querer fazer sua parte “para que uma página triste de nossa história seja passada a limpo”. Em 2012, Guerra relatou sua história como agente da repressão a Rogério Medeiros e Marcelo Netto no livro Memórias de uma Guerra Suja. – Fonte usada: Comissão Nacional da Verdade. Documentário Pastor Cláudio escancara a violência da Ditadura Relatório da Comissão da Verdade pode revelar localização do corpo de Stuart Angel

Justiça barra ação contra militares acusados no caso Riocentro

No dia 2 de julho, a Justiça Federal determinou o trancamento da ação de julgamento dos militares envolvidos no caso Riocentro, atentado à bomba frustrado na noite do dia 30 de abril  de 1981 em um show comemorativo ao Dia do Trabalho (1º de Maio). O objetivo de alguns militares linha dura, contrários à abertura política da época, era causar uma explosão no meio dos espectadores do show, estimado em 20 mil pessoas. O ato seria atribuído a grupos políticos que lutavam contra o regime militar. Uma das bombas explodiu em um carro Puma no estacionamento do Riocentro e vitimou o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário, de 35 anos, que a trazia no colo e feriu gravemente o motorista e dono do carro, o capitão paraquedista Wilson Luís Chaves Machado, de 33 anos. A decisão foi um balde de água fria na busca por punição aos envolvidos nos arbítrios da ditadura militar, depois da boa notícia, em dia 26 maio, em que a justiça acatou a denúncia contra os acusados no caso Rubens Paiva. Saiba mais.  Foram denunciados por envolvimento no caso pelo Ministério Público Federal os militares reformados Wilson Luiz Chaves Machado, Claudio Antonio Guerra, Nilton Cerqueira, Newton Cruz, Edson Sá Rocha e Divany Carvalho Barros. A defesa dos acusados pedia a concessão de habeas corpus e o trancamento da ação, sob alegação de que o julgamento era competência da Justiça Militar, e não da Justiça Federal, e de prescrição do crime. Votaram a favor da concessão do habeas corpus os desembargadores Abel Gomes e Ivan Athié. Paulo Espírito Santo votou contra. O representante do MPF, procurador Rogério Nascimento, disse que vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao próprio Supremo Tribunal Federal (STF).

Na Copa de 78, o ‘conselho’ do ditador Geisel ao artilheiro Reinaldo

Bem-vindo ao Fatos da Zona, onde adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. ASSISTA:       Reinaldo – O ídolo do Atlético Mineiro, Reinaldo, sempre comemorava os gols reproduzindo o gesto do movimento Panteras Negras que lutava contra o racismo nos Estados Unidos: o artilheiro erguia o braço e cerrava o punho. Convocado para a Copa de 78, em reunião antes do embarque para a Copa na Argentina, o ditador Geisel, incomodado com o misto de protesto e comemoração de Reinaldo, o ameaçou no Palácio Piratini em Porto Alegre: “quem cuida da política é a gente, você cuida de jogar futebol, deixa a política pra gente”. O treinador Cláudio Coutinho convocou Reinaldo, de apenas 20 anos, para a seleção em 1977. A comissão técnica da Copa de 78 era composta de militares e o almirante Heleno Nunes (presidente da Confederação Brasileira de Desportos) e André Richer (chefe da delegação brasileira na Copa) diziam para Reinaldo não vibrar de tal forma e evitar comentários sobre política. Richer dizia que não era bom fazer o gesto, pois ele era “meio revolucionário”. Para piorar, a Copa foi realizada durante o assassino governo do general Jorge Videla. A ditadura militar argentina assassinou 30 mil opositores. No primeiro jogo da Copa contra a Suécia, Reinaldo marcou o gol brasileiro (o jogo terminou em 1 a 1) e não se intimidou com as ameaças: BRAÇO EM RISTE na comemoração. Mesmo tendo marcado, Reinaldo foi substituído por Roberto Dinamite nas partidas seguintes. Além dos problemas políticos, Reinaldo também não estava 100% fisicamente. O Brasil terminou a Copa em terceiro lugar, ficando fora da final pelo saldo de gols. Essa foi a única participação do jogador em uma Copa do Mundo. Assista ao gol e a comemoração de Reinaldo contra a Suécia em 78: LEIA TAMBÉM “Um gol inesquecível contra Pinochet”  Anos mais tarde, Reinaldo confessou que recebeu durante a Copa um envelope com informações sobre a Operação Condor (aliança entre ditaduras sul-americanas para oprimir opositores). O envolvimento político do jogador trouxe consequências. Em entrevista à Revista Placar em 2012, Reinaldo desabafou: “o corpo fascista do país começou a me minar. Não só moralmente, mas com assédio de todo o tipo. Falavam que eu era cachaceiro, maconheiro, viado. Inventaram que eu era gay por causa da amizade com o radialista Tutti Maravilha [radialista e produtor musical]. Linchamento moral. Eu não tinha partido, sindicato, nada. Fui massacrado sozinho”. Além disso, as lesões prejudicaram o jogador. Perseguido de forma impiedosa pelos zagueiros, Reinaldo sofreu muitas lesões, principalmente no joelho. Depois que parou de jogar, ele enfrentou problemas com a cocaína semelhante a outro ídolo rebelde dos gramados, Maradona. Na mesma entrevista, o jogador afirmou que não dava um tiro há mais de 15 anos e que não iria mais falar em drogas já que elas não faziam mais parte de sua vida. Outro craque que envolveu-se em assuntos políticos e também comemorava seus gols evocando a mensagem dos Panteras Negras, Sócrates popularizou ainda mais o gesto nos gramados. É assim que os torcedores lembram do Magrão, que morreu em dezembro de 2011. Fonte usada: Revista Placar Zico foi excluído da seleção pela ditadura A Copa do Mundo e suas perplexidades