Zona Curva

Já passou da hora de José Maria Marin pendurar as chuteiras

Quando José Maria Marin desceu do ônibus da seleção com uma reluzente gravata amarela no fatídico dia 8 de julho, antes da homérica surra de 7 a 1 para a Alemanha, foi impossível não sentir engulhos. Como pode alguém com a história política de Marin presidir a CBF, entidade que administra uma de nossas maiores paixões?

Péssimo de voto e sem carisma, Marin é o arquétipo do político que vive nas sombras para proteger interesses inconfessáveis. Companheiro de todas as horas de Paulo Maluf, na última eleição que participou em 2002, Marin tentou uma vaga no Senado pelo PSC (o mesmo do deputado Marco Feliciano) e conseguiu 0,2% dos votos, ficando em 17º lugar.

Em 1975, Marin era deputado pela ARENA, partido do governo militar, e pediu um aparte ao discurso do deputado do mesmo partido, Wadih Helu, futuro presidente do Corinthians, na Assembleia Legislativa de São Paulo e exigiu “providências aos órgãos competentes em relação ao que está acontecendo no canal 2 [TV Cultura…]”, que, segundo ele “sofria infiltração de elementos comunistas”.

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José Maria Marin todo pimpão no jogo do Brasil contra Camarões (foto: Ricardo Stuckert, CBF)

Na noite de 24 de outubro, 15 dias depois do discurso na Assembleia, os policiais chegaram à TV Cultura para levar o jornalista Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da rede. Colegas de Vlado intervieram e ele foi liberado para passar a noite em casa com a condição de se apresentar à polícia no dia seguinte. Após se apresentar no DOI-CODI no dia 25 de outubro, Vladimir Herzog foi preso e assassinado em tortura.

Em texto publicado na Folha de São Paulo, Marin defendeu-se: “é uma calúnia e difamação declararem que fui responsável pela tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog. Segundo o texto, ele só queria “chamar a atenção sobre o jornalismo parcial da TV Cultura”.

Um ano depois da morte de Vladimir Herzog, em outubro de 1976, Marin voltou à carga e discursou a favor do infame delegado Sérgio Fleury, um dos mais perversos assassinos do regime militar:

“Queremos prestar nossos melhores cumprimentos a um homem que, de há muito, vem prestando relevantes serviços à coletividade, embora nem sempre tenha sido feita justiça ao trabalho (…) Queremos trazer nossos cumprimentos e dizer do nosso orgulho em contar na polícia de São Paulo com o delegado Sérgio Paranhos Fleury”

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O discurso de Marin contra a TV Cultura afiou os caninos dos agentes da ditadura para o assassinato de Vlado (fonte: Instituto Vladimir Herzog)

Carreira política dantesca

Marin elegeu-se vereador pelo PRP, partido do fascista Plínio Salgado, em 1963 na cidade de São Paulo. Em 1971, foi eleito deputado estadual pela Arena, partido que deu suporte ao regime militar. Em 1978, foi indicado vice-governador biônico ao lado de seu amigo, Paulo Maluf, pelos delegados da Arena. O perdedor da convenção, Laudo Natel, acusou Marin e Maluf de fraude na contagem dos votos, mas o governo do presidente Geisel impediu a investigação.

Em 1985, Marin coordenou a campanha de Jânio Quadros para prefeito de São Paulo, infelizmente vitoriosa. Ele candidatou-se a senador em 1986 pelo PFL e ficou em quarto lugar. Em 2000, candidatou-se à prefeitura de São Paulo pelo PSC (o mesmo de Feliciano), e ficou em 9º lugar, dois anos depois, obteve o 17º lugar na eleição para o Senado.

O político também jogou futebol como atacante e chegou a vestir a camisa do São Paulo Futebol Clube entre 1950 e 1952. Marin também foi presidente da Federação Paulista de Futebol entre 1982 e 1986, chefe da Delegação Brasileira na Copa do Mundo de 1986 e vice-presidente da CBF para a região Sudeste.

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Maluf e seu fiel escudeiro Marin

Marin ainda foi protagonista de outro episódio surreal. Na final da Copa São Paulo de Juniores em 2012, ele simplesmente embolsou uma medalha.

Assista na íntegra a entrevista de Ivo Herzog, filho de Vlado, que chegou a entregar abaixo-assinado com 53 mil assinaturas contra Marin aos 20 clubes da série A e todas as federações estaduais de futebol: