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Perdi a chance de comprar livros das mãos de Plínio Marcos

O bendito maldito Plínio Marcos

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Ao longo deste vídeo, vamos mergulhar na história desse talentoso escritor, autor, ator, diretor de teatro e jornalista, o bendito maldito Plínio Marcos.

Vamos analisar o contexto histórico e cultural em que suas obras foram concebidas, conhecendo seus principais trabalhos e um pouco de sua vida pessoal.

 

Plínio Marcos – No comecinho dos anos 90, encontrei algumas vezes um barrigudo barbado vendendo seus livros em frente aos teatros do Bixiga. Intrigado e com vontade de conversar com o camelô literário de boina, me arrependo de ter ficado na minha. Naquela época, confesso que sabia pouco sobre ele. Algum tempo depois de perder a chance de comprar os livros de Plínio Marcos de suas mãos, fui caçando suas peças teatrais em sebos e, em catarse, me transportava de meu mundo classe média para a fodida realidade dos excluídos, maltrapilhos e presos.

Plínio não vendeu somente seus livros, para sobreviver, fez grana em troca de cigarro americano sem selo, maconha e bugigangas estrangeiras arranjadas pelos contrabandistas de Santos, sua cidade natal. Era o que dava para fazer para superar tempos que “estava duro como côco”, segundo o próprio contou em entrevista à revista Realidade em 1968.

15 anos sem plinio marcos
O escritor Plínio Marcos (fonte: site oficial de Plínio Marcos)

Plínio Marcos morreu no dia 19 de novembro de 1999. O dramaturgo nasceu em Santos no dia 29 de setembro de 1935.

Plínio Marcos foi um dos homenageados da Balada Literária de 2014, que acontece a partir de hoje em São Paulo. Saiba mais.

Nascido em Santos e filho de uma dona de casa e um bancário, Plínio Marcos foi estivador, tentou a sorte como jogador de futebol no juvenil da Portuguesa Santista e arrancou risadas como o palhaço Frajola no circo. Plínio Marcos cursou apenas o primário e teve 4 irmãos e uma irmã.

A primeira peça teatral escrita por ele foi Barrela, em 1958, baseada em uma história real de um conhecido preso e violentado por vários outros detentos. Quando libertado, o amigo que virou personagem perseguiu e matou um por um de seus algozes. Ele nomeou a peça de barrela (gíria de ‘curra’).

Plínio Marcos
Mostrando domínio de bola no juvenil da ‘Briosa’ (Portuguesa Santista) (fonte: site oficial de Plínio Marcos)

 “Sou o analfabeto mais premiado do País, no momento. Aliás, quando querem me ofender me chamam de analfabeto, quando querem me badalar dizem que sou gênio. O que sou mesmo é um cara de sorte. Tenho boa estrela e sei me virar. Aceito a regra do jogo na porcaria da vida. Ninguém me passa pra trás e se bobearem passo na frente dos outros, sou malandro, no duro” (em entrevista à revista Realidade, em 1968).

Plínio Marcos mostrou a peça para a mitológica escritora e jornalista Patrícia Galvão, a Pagu, em um bar de Santos. Eles se conheceram quando um dos atores da montagem realizada por Pagu de peça infantil Pluft, o Fantasminha, adoeceu e Plínio o substituiu. A escritora gostou do que leu e incentivou o novato.

Aos domingos, Plínio ouvia a leitura de conhecidas peças teatrais como Esperando Godot, de Samuel Beckett, e textos do dramaturgo espanhol Fernando Arrabal, pelo jornalista Geraldo Ferraz, marido de Pagu.

O primeiro contato com o meio artístico de Plínio tinha acontecido no circo. Sua aproximação com o circo surgiu pelo melhor dos motivos, uma paixão. Como a moça fazia parte da trupe circense e seu pai só permitia namoro se o pretendente fosse do circo, Plínio iniciou sua breve carreira como o Palhaço Frajola. O apelido veio do personagem de gibi, Frajola, que vivia perseguindo um passarinho. Como Plínio já havia sido preso roubando um passarinho, adotou o apelido.

Plínio escreve rápido. Uma de suas peças mais conhecidas, “Dois Perdidos em uma Noite Suja”, foi escrita em 24 horas. Na época, Plínio trabalhava como técnico da TV TUPI e com a ajuda de amigos conseguiu montar em 1966 na Galeria Metrópole, em São Paulo, considerada a primeira montagem profissional de um texto de sua autoria.

A peça Navalha da Carne (escrita em 4 dias) enfrentou problemas com a censura do regime militar. A classe teatral se mobilizou pela liberação da montagem, que consegue estrear em 1967. A atriz Cacilda Becker reunia artistas e intelectuais em seu duplex na Paulista e foi ali que nasceu a luta contra a censura da peça.

No Rio de Janeiro, militares foram enviados pelo governo ao Teatro Opinião para impedir a apresentação. A atriz Tônia Carrero ofereceu uma casa vazia de sua propriedade no morro de Santa Teresa para o espetáculo, que lotou. Com seu prestígio, Tônia conseguiu liberar a peça e passou a atuar na montagem que passou a ser dirigida por Fauzi Arap.

A partir daí, o trabalho de Plínio passou a ser visado pela censura e enfrentou problemas seguidos para ser liberado. Em 1968, ele foi preso e liberado por influência de Cassiano Gabus Mendes, diretor da TV Tupi à época. Em 1969, é novamente preso, agora em Santos e depois transferido para o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) em São Paulo. Foi libertado sob a tutela da atriz Maria Della Costa.

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Plínio Marcos com a atriz Tônia Carrero (fonte: site oficial de Plínio Marcos)

Plínio também atuou na imprensa. Foi cronista do jornal Última Hora, repórter da revista Realidade e colunista da Revista Caros Amigos, entre outras colaborações. Em 1996, o jornalista Ricardo Kotscho, diretor da rede CNT de televisão, o convidou para tecer comentários no telejornal. Segundo Plínio, sua demissão foi motivada às críticas ao ministro das comunicações Sérgio Motta, que fez ilações sobre a sexualidade da candidata à prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina.

Serjão, todo poderoso do governo tucano, declarou após o debate na época que “Erundina e o (Celso) Pitta (PPB) [parece que] iam se beijar, ia sair um caso em público. Seria talvez bom para os dois”. Kotscho negou o caráter político da demissão e afirmou na época que demitiu Plínio porque ele insistia na leitura dos poemas de sua mulher, Vera Artaxo, na TV, o que não funcionou.

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Plínio Marcos com o músico Adoniran Barbosa (fonte: site oficial de Plínio Marcos)

“Não acredito em Deus. Acredito em tudo o que os cristãos dizem significar Deus: amor, verdade, justiça, liberdade. Os Evangelhos eu li. Bacana. Mas acho também que só a minoria dos cristãos e dos padres são bacanas como Jesus Cristo. Mas o problema é deles. Deus não vê tudo? Se acreditam nele, então que se cuidem” (em entrevista à revista Realidade, em 1968).

Apesar do ceticismo dessa declaração do final dos anos 60, Plínio Marcos passou a estudar tarô e do-in e em 1997, dois anos antes de sua morte, passou inclusive a fazer a leitura do tarô profissionalmente. Segundo ele, o tarô ajudava as pessoas na busca do autoconhecimento.

Em 1985, Plínio tinha lançado o texto Madame Blavatsky, sobre a teóloga e mística ucraniana Helena Blavatsky e escreveu no programa da peça:

 “Sou um homem à procura da religiosidade. Dispensa-me dos rótulos, por favor, e eu te explico que a religiosidade nada tem a ver com seitas, igrejas, grupelhos carolas, fanáticos acorrentados a dogmas e superstições. A religiosidade nada tem de alienação, conformismo ou adaptação a um sistema político-social-econômico injusto. Aliás, a religiosidade é altamente subversiva. A religiosidade leva o homem ao autoconhecimento. E o autoconhecimento leva o homem à subversão.”

Saiba mais sobre a teóloga ucraniana Helena Blavatsky.  

O diretor Julio Calasso, que conheceu Plínio Marcos no Teatro Arena há 50 anos, lançou no ano passado o documentário “Nas Quebradas do Mundaréu – A Viagem de Plínio Marcos”.  O filme reúne depoimentos de atores como Tonia Carrero, Vera Fischer, Glauce Rocha, Jece Valadão, Emiliano Queiroz, Nelson Xavier, Sergio Mamberti e Walderez de Barros. Assista ao trailer:

Entrevista de Plínio:

Plínio Marcos debate com mulheres no Rio de Janeiro:

 Os filhos de Plínio, Ana Barros e Kico Barros, falam sobre o pai:

https://www.youtube.com/watch?v=6efH04tVFRA

 

Trecho do álbum “Plínio Marcos em prosa e samba: nas Quebradas do Mundaréu” com Geraldo Filme, Zeca da Casa Verde e outros, de 1974:

Peças de Plínio Marcos:

Barrela (1958)

Os fantoches (1960)

Jornada de um imbecil até o entendimento 

Enquanto os navios atracam (1963)

Quando as máquinas param 

Chapéu sobre paralelepípedo para alguém chutar

Reportagem de um tempo mau (1965)

Dois perdidos numa noite suja  (1966)

Dia virá(1967)

Navalha na carne (1967)

Homens de papel (1968)

O abajur lilás  (1969)

Oração de um pé-de-chinelo (1969)

Balbina de Iansã (musical) (1970)

Feira livre (opereta) (1976)

Noel Rosa, o poeta da Vila e seus amores– musical (1977)

Jesus-homem (1978)

Sob o signo da discoteque (1979)

Querô, uma reportagem maldita(adaptação para teatro do romance do mesmo título, escrito em 1976)  (1979)

Madame Blavatsky (1985)

Balada de um palhaço (1986)

A mancha roxa (1988)

A dança final (1993)

O assassinato do anão do caralho grande (adaptação para teatro da novela do mesmo título) (1995)

O homem do caminho (monólogo adaptado de um conto do mesmo título, originalmente intitulado Sempre em Frente) (1996)

O bote da loba (1997)

Chico Viola (inacabada) (1997)