Zona Curva

Políticos continuam a se eleger com financiamento da elite

Em 2018, empresários de direita que financiaram casta política, “cão de guarda” dos interesses do 1% mais rico, afundam o país na desigualdade

Apesar da proibição do financiamento eleitoral por empresas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2015, empresários encontraram outra forma de investir em campanhas: a doação como pessoa física.

Com limitações jurídicas – como a doação máxima de 10% do rendimento bruto do ano anterior à eleição – cidadãos comuns podem apoiar financeiramente candidatos. Além da transferência direta por dinheiro, é possível doar ou oferecer temporariamente bens pessoais com valores que podem chegar ao máximo de R$40 mil por pessoa física.

Em 2018, o empresário bilionário Ruben Ometto, fundador e presidente do grupo Cosan, assegurou a eleição de 25 dos 64 candidatos apoiados por ele. Segundo o relatório “Democracia Inacabada”, da Oxfam, ele doou o total de R$7,55 milhões, a maior quantia individual cedida naquele ano. Dessa forma, o empresário garantiu a defesa de seus interesses privados por esses parlamentares.

Recentemente, o bilionário foi entrevistado pelo veículo “Isto É Dinheiro” e, em tom satírico, reclamou pelo Brasil não ter tomado ações mais duras sobre o protecionismo que ditava regras ao comércio brasileiro de açúcar: “O Brasil errou em não ter feito sua bomba atômica. Se a gente tivesse feito uma, vocês iriam nos respeitar”.

Outro doador, também empresário e fundador da Localiza, José Salim Mattar Junior, disse em reunião da Comissão Extraordinária das Privatizações da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no início de agosto, que a desestatização de todas as empresas seria o melhor para o país.

Em abril deste ano, Salim Mattar foi nomeado pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO) como o novo consultor para projetos estratégicos na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado. Em 2018, o empresário deixou de presidir a empresa de aluguel de carros e aceitou o convite do Ministro da Economia, Paulo Guedes, para assumir a Secretaria Geral de Desestatização, visando privatizar empresas estatais como os Correios.

Em sua agenda bolsonarista, Salim Mattar critica o uso de vacinas e defende medidas de privatização, se pautando em discursos de “defesa da liberdade”. Apesar do NOVO declarar que não apoia nenhum tipo de financiamento público em campanha, foi para o partido que o empresário doou R$1,2 milhão.

Empresário Salim Mattar Foto: Denio Simões / Valor

Além disso, apesar de Mattar ter assinado o manifesto de empresários contra a abordagem golpista de Bolsonaro sobre as manifestações do dia 7 de setembro, em sua conta do Twitter ele se manifestou, mais uma vez, alinhado ao presidente.

De acordo com o Supremo Tribunal Eleitoral (TSE), dos dez maiores doadores nas eleições de 2018, apenas uma era mulher. Lisiane Rocha, do Grupo Riachuelo, que direcionou bastante dinheiro a candidatos a deputados federais e estaduais, além de doação a um concorrente ao cargo de governador pelo MDB. Isso reflete fortemente na baixa participação de mulheres na política brasileira, impulsionada pela desigualdade financeira de gênero.

A PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) anual, do IBGE, mostra que quanto menor a renda, maior é o número de mulheres correspondente. Já entre os 10% da população com maior renda, mais de 60% são homens.

Essa desigualdade de renda aprofunda a dificuldade dos avanços pela luta pela equidade de gênero na política, além de mostrar como grandes empresários investem elevados valores a fim de aumentar as chances de determinados candidatos, com os quais simpatizam, serem eleitos.

Dessa forma, apesar da proibição do financiamento eleitoral por pessoas jurídicas, há investimento empresarial de forma indireta. Assim, empresários garantem maior poder sobre a lógica da política brasileira.

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