Zona Curva

A resistência de Gal Costa à ditadura civil-militar

Faleceu na manhã de 9 de novembro (quarta), a cantora Gal Costa aos 77 anos

Nascida na Bahia, Gal Costa foi sinônimo de resistência durante a ditadura brasileira. Muito ativa nos movimentos contra o governo da época, ela lutou contra a censura e por pautas sociais como a defesa dos direitos LGBT.

Após o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, coube à cantora manter acesa a chama da contracultura no cenário musical brasileiro. Pouco tempo após o Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em dezembro de 68, Gil foi preso junto com Caetano. Liberados na quarta-feira de cinzas de 1969, os dois partiram em julho para o exílio em Londres.

Em outubro de 1971, aos 26 anos, Gal estreava o show “Gal a Todo Vapor”, conhecido também como “Gal Fa-Tal”, no Teatro Tereza Rachel no Rio, que se tornou um tapa na cara da caretice dos generais no poder.

Mais de 600 pessoas iam todos os dias assistir suas apresentações, divididas em dois atos, em um palco avermelhado, onde lia-se “FA–TAL” (palavra que nomeou o disco do show) no fundo, e “VIOLETO no chão, palavras retiradas de poema de Waly Salomão, diretor do espetáculo.

No primeiro ato, ela se apresentava com o violão em tom solitário, já no segundo, Gal surgia eufórica com sua banda. Em 1972, Gal a todo vapor foi apresentado em outras capitais pelo Brasil, como São Paulo, Salvador e Recife.

Enquanto nas ruas, os brasileiros viviam uma brutal repressão política, no show de Gal, o público crítico à situação do país encontrou a oportunidade de desbundar e respirar a liberdade da revolução tropicalista em um Brasil sufocado pela censura.

Após o show na capital pernambucana, Jomard Muniz de Britto publicou uma crítica poética, em setembro daquele ano, sobre o papel político da artista, no Jornal do Commercio: 

“Quem não viu a pérola negra de Gal?”

 “Não tenham medo de ouvir um grito (há muito tempo preso na garganta…), grito primal, grito liberado nestas águas de setembro que agora derramarei. Pela necessária impureza do terror lírico. Amor/terror. 

(…) Numa só noite, em menos de duas horas, Gal reviveu sete vezes sete seu itinerário como cantora mais que cantora. Como intérprete, como gracinha, como pessoa que não se assusta consigo própria. Como alguém que vem assumindo uma posição dentro da existência e da criação cultural brasileira.

 (…) Gal devorou sua plateia, que nem ao menos desconfiava que estava sendo comida, num dos maiores banquetes da música viva popular livre brasileira”.

Dez dias após a volta do exílio em 1972, em seu primeiro show, Caetano fez um aceno à imagem de Gal: um batom vermelho, cabelos ondulados repartidos ao meio e um colete justo. “Um retrato vivo de Gal, pensado como uma homenagem a ela ter encarnado os tropicalistas expatriados durante aqueles anos”, comentou o cantor, em 2011.

Em 1976, a artista realizou o show Doces Bárbaros, com Caetano, Gil e Maria Bethânia, pelo Brasil. Tamanho foi o sucesso que virou disco e documentário. Em sua longa carreira, Gal incorporou em sua essência tropicalista performances mais refinadas e abraçou outros ritmos brasileiros. 

Gal Costa fazendo o "L" em comemoração à vitória de Lula na eleição deste ano
Gal em um dos últimos posts em seu instagram. Na legenda, escreveu: “O amor venceu o ódio! @lulaoficial presidente!” – Foto: Reprodução/Instagram @galcosta

O longa “Meu nome é Gal”, protagonizado por Sophie Charlotte, tem lançamento previsto para 2023. A cinebiografia segue Gal desde sua ida da Bahia para o Rio de Janeiro e, em seguida, São Paulo, entre o fim dos anos 60 e início da década de 70.

Gal nos deixa um legado de canções marcantes. Confira seus maiores sucessos:

 

Meu nome é Gal

 

Divino Maravilhoso

 

Vapor Barato

 

Vaca Profana

 

Brasil (canção de Cazuza regravada pela cantora)

https://urutaurpg.com.br/siteluis/o-carnaval-da-tropicalia/

Julinho da Adelaide driblou a censura nos anos 70

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