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Neste vídeo, mergulhamos na vida e na trajetória política do presidente João Goulart, líder progressista que enfrentou desafios e lutou incansavelmente por justiça social no Brasil.
Conheça a história desse presidente popular e suas políticas transformadoras que buscavam garantir direitos trabalhistas e combater as desigualdades.
JANGO – Em Jango uma tragedya, texto teatral de Glauber Rocha de 1974, Jango é devorado pelo povo em ritual antropofágico no carnaval depois de sua morte. O delírio de Glauber embute o desejo do renascimento de um novo Jango, de corpo fechado para enfrentar os Antonios das Mortes, jagunço icônico do cineasta, que o derrubaram nos idos de 1964, e continuam à espreita.
Para entender nossa miséria, incluo por minha conta e risco a miséria cognitiva e intelectual, Glauber ia além da racionalidade e da luta de classes. A religiosidade e os meandros mágicos do inconsciente desse povo único que é o nosso eram o caminho para o entendimento de nossa mente ainda colonizada. Era como se o atávico complexo de inferioridade e a necessidade masoquista de auto-imolação pudessem ser expurgados por deuses negros e índios em rituais de libertação.
“Nas crenças religiosas e nas práticas mágicas, a que o negro se apegava no esforço ingente por consolar-se do seu destino e para controlar as ameaças do mundo azaroso em que submergia“ (Darcy Ribeiro, no livro “O Povo Brasileiro”).
Fascinado por Jango, Glauber escreve em suas andanças pelo mundo pedindo que o professor Darcy Ribeiro, que foi ministro da Educação e da Casa Civil de João Goulart, lhe esclarecesse os reais motivos da queda do presidente em 64. Darcy responde do Chile em 1972: “a política do governo Jango, sendo encarada pelas classes dominantes como revolucionária (porque a execução da Reforma Agrária e da Lei de Remessa de Lucros parecia inevitável se Jango se mantivesse no poder), provocou a contra-revolução, por parte dos interessados em manter a velha ordem” (trecho do livro Cartas ao Mundo, de Glauber Rocha, organizado por Ivana Bentes).
Após o golpe, o general Castelo Branco revogou a lei que controlava a remessa de lucros das multinacionais para o exterior. Em pesquisa IBOPE de março de 1964, 59% da população era favorável às reformas de Jango e 45% dos brasileiros cravavam bom e ótimo na avaliação do governo João Goulart.
Os dólares (agora euros também) que circulam para comprar políticos e diretores de estatais, cooptados por empresários sonegadores com expertise em maracutaias, já encheram em tempos idos o bolso do general Amaury Kruel, comandante do II Exército e militar de confiança de Jango. Kruel, um dos artífices do dispositivo militar que seguraria os avanços das forças da direita, trocou seu apoio por maletas de verdinhas, entregues pela burguesia paulista, que sempre soube proteger seus interesses. Se o jogo melar, a Suíça é logo ali.
https://www.zonacurva.com.br/como-o-general-lott-garantiu-a-posse-de-jk-e-jango-em-1955/
O filho de Jango, João Vicente Goulart defende o pai e questiona por que os outros agentes da esquerda do jogo político da época também não reagiram. “Eu acho uma grande injustiça histórica só perguntar por que Jango não resistiu, podemos perguntar também por que o Partido Comunista não resistiu, por que os sindicatos não resistiram, por que as organizações de base não resistiram e por que a Frente Nacionalista que pressionava tanto e queria as reformas de base na marra, fora da legalidade, não resistiu”. Ele próprio responde: “não havia condições de resistência… Nós teríamos um Brasil dividido em dois”.
Hoje estamos divididos novamente em dois e a esquerda perplexa assiste ao avanço da direita e da extrema-direita nos protestos em que PMs são subcelebridades cultuadas em selfies. A falência cognitiva dos humanos direitos vitaminou a polícia para o espancamento de professores e “vândalos” (identificados a critério dos interesses da velha mídia). A fórmula simplória do atual discurso de muitos que pulula nas redes antissociais: professor = vagabundo = drogado.
Marighella, o Che baiano, revoltou-se com a falta de reação de Jango ao golpe e desabafou com o filho que “Jango era frouxo”, conforme está escrito na ótima biografia de Marighella, do jornalista Mario Magalhães. Para o indignado Marighella, era inconcebível que Jango não lutasse contra os usurpadores de seu mandato. Imagino o guerrilheiro baiano vociferando contra a política praticada hoje em prol dos interesses do empresariado, do agronegócio e dos bancos. O guru do Méier, Millôr Fernandes dizia que “todos os países são difíceis de governar, só o Brasil é impossível”, tem horas que concordo, não quero, mas concordo.
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